28 de outubro de 2009

SANTA MISSA EXPLICADA - PARTE 3

A MISSA DE SÃO PIO V EXPLICADA


Fontes:
- Explicações sobre as partes da Missa: "Curso de Liturgia" - Pe.Reus;
- Citações: "Suma Teológica", de Santo Tomás de Aquino; e "Missal Quotidiano e Vesperal", de Dom Gaspar Lefebvre;

PARTE III - CATEQUESE



“Em segundo lugar, antecede à celebração uma instrução dos fiéis, pois este sacramento é um “mistério de fé”. Esta parte do ensinamento se faz de uma maneira preparatória pela doutrina dos Profetas e dos Apóstolos, que é lida na igreja pelos leitores e subdiáconos. Depois de tal “lectionem” (“leitura”), o coro canta o “graduale” (“gradual”), que simboliza o progresso da vida, e o “alleluia” (“aleluia”), que simboliza a alegria espiritual. Nos ofícios de luto, canta-se o “tractus” (“trato”), que simboliza o gemido espiritual. Tudo isso deve atingir o povo, graças ao ensinamento, de que se falava. Os fiéis são instruídos de maneira perfeita pelos ensinamentos de Cristo contidos no Evangelho, que é lido pelos ministros de ordens maiores, isto é, pelos diáconos” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q,83, a.4).

A leitura litúrgica em geral:
1) Muito tempo antes de Jesus Cristo, nas reuniões do culto liam-se, segundo certa ordem, os livros da escritura sagrada nos sábados e nas festas.
2) Os cristãos conservavam tão santo costume e acrescentavam os livros do novo testamento. (Col 4, 16; l Tess 5, 27.)
3) Nas vigílias liam-se 12 lições, que subsistem ainda nas funções do sábado santo. São Gregório reduziu as lições à metade, a 6. Assim a vigília de pentecostes tem 6 lições. Nos outros dias as lições da vigília foram ajuntadas às lições da missa, as quais algumas vêzes ainda hoje se notam, porquanto precedem o Dominus vobiscum e, em geral, tem Flectamus genua, p. ex., nas quatro têmporas de setembro.

Com poucas exceções, em cada missa há duas leituras, pelas quais Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote, Profeta e Pastor, fala aos corações das suas ovelhas, a fim de prepará-los para o sacrifício.

Na epistola fala pela boca dos seus ministros, dos profetas e apóstolos, no evangelho fala pessoalmente. Por isso o evangelho vem depois da epístola e o celebrante prepara-se para anunciá-lo pela humilde oração Munda cor meum. Na missa cantada, só o diácono é que pode cantar o evangelho com grande pompa: o subdiácono não o pode fazer.

Os trechos, pericopas (perikopai = secções) eram determinados nas festas principais pelo bispo, a fim de terem relação especial com o mistério celebrado, nos outros dias eram tomados dos livros inspirados em lição contínua, como ainda é uso na igreja oriental. Em geral, nota-se a tendência, e nas missas recentes é lei invariável, para relacionar as duas leituras entre si e com a idéia principal da missa, de sorte que uma prepare, explique, aperfeiçoe a outra. Assim, na missa do Sagrado Coração de Jesus, a epístola descreve o amor do divino Coração, o evangelho prova o abismo deste amor no Coração traspassado pela lança cruel.

I. Epístola

A epístola. A primeira leitura é a epístola, tirada dos livros santos, afora os s.evangelhos. É chamada epístola, porque, mormente nos domingos, portanto nos dias em que o povo assiste à missa, a leitura é tirada de uma das epístolas do novo testamento e começa pelo título: epistola beati N. Apostoli. Por isso também foi chamada apostolus. As leituras de outros livros sagrados principiam pelo título: Lectio. Responde-se: Deo gratias, para agradecer a Deus as doutrinas ouvidas; na missa cantada não é o coro que, cantando Deo gratias, responde, mas o acólito, sem canto. Pois antigamente a epístola não era cantada. Recitá-la é recomendado (satius est d.3350) ao celebrante, quando funciona sem clérigo ao menos tonsurado, que possa cantá-la. Uma proibição para o celebrante, de cantá-la, não há neste decreto.

Terminada a epístola, o subdiácono restitui o lectionário ao celebrante, o qual põe a mão no livro, para indicar que o recebe, e benze o subdiácono para despedi-lo. É esta a explicação natural. O celebrante, durante a leitura da epístola, põe a mão no livro, porque supre o subdiácono, que segura o livro na mão no ato de ler a epístola.

Razão mística. O subdiácono vai para o celebrante no fim da epístola, porque o antigo testamento, representado pela epístola, tem o seu fim em Jesus Cristo. O diácono vai no principio do evangelho, porque Jesus Cristo é a fonte do evangelho.

O subdiácono recebe a bênção depois de beijar a mão do celebrante e restituir-lhe o livro, porque a bênção é o salário do operário pago pela doutrina anunciada ao povo e o salário se paga no fim da obra. O diácono, como arauto, recebe a bênção antes de começar o canto do evangelho, para anunciá-lo com autoridade. (cf. Durandus IV c. 17.) Beija a mão do celebrante, a fim de significar a sua prontidão para obedecer: "Eis, manda-me." (Is 6, 8; Durandus IV, 24.)

II. Gradual e Aleluia

Depois da epístola o celebrante lê um trecho, que se chama gradual (Graduale, sc. Responsum) ou trato ou aleluia com versículo ou sequência, que se devem rezar,ora juntos, ora separados. Pois as várias leituras, desde os tempos antigos, foram interrompidas por salmos responsoriais, de sorte que a cada versículo do côro o povo respondia com o mesmo estribilho. Um exemplo disto oferece o trato no 1.° dom. da quaresma. Cada versículo está precedido do sinal V, e é cantado pelo côro. O estribilho, i. é, o primeiro versículo, não está notado com o sinal R, porquanto é sempre o mesmo. Talvez o gradual tenha sido reduzido à sua forma atual de um responso e um versículo no século IV. Tem por fim lembrar e aprofundar a idéia principal da missa, aliás conhecida pelo intróito, a oração e a epístola.

O nome gradual deriva-se do uso de cantá-lo não na plataforma do púlpito ou ambão, mas num degrau (gradus).Por ser solo e respondido pelo côro, a sua melodia é riquíssima e melismaticamente o ponto culminante musical da missa dos catecúmenos, exprimindo em inspirações jubilosas a alegria e a gratidão da Igreja. Muitas vêzes é reforçado pelo júbilo do aleluia e completamente substituído no tempo pascal pelo aleluia grande. As muitas notas do aleluia, segundo São Boaventura (expos. Miss. c. 2), significam a bem-aventurança inefável e interminável (gaudium sanctorum in coelis interminabile et ineffabile).

O gradual, o aleluia e o trato são elementos independentes e separáveis. Eram antigamente separados por uma leitura, que ainda existe nas quatro têmporas.

* Exemplo de Gradual, da Missa em honra do Sagrado Coração de Jesus:

“O Senhor é justo e bom e por isso deu um guia aos que erravam no caminho. V. Dirigirá os mansos na justiça e ensinará aos humildes os seus caminhos” (Sl XXIV, 8-9).

* Exemplos de Alleluia, ambos da Missa em honra do Sagrado Coração de Jesus:

“Aleluia, aleluia. Tomais sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de Coração, e encontrarei a paz para as vossas almas. Aleluia”.

“Aleluia, aleluia. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de Coração, e encontrareis a paz para as vossas almas. Aleluia. Vinde a Mim todos que trabalhais e andais carregados e Eu vos aliviarei. Aleluia” (no Tempo Pascal, substituindo o Gradual, o Tracto e o Aleluia).

III. Sequência

1) Origem. Seqüência (de sequor = seguir) significava a continuação em neumas longas da última nota do aleluia do Gradual, chamado jubilus alleluiaticus. Por ser de difícil execução, organizou-se um texto silábico, correspondente às notas e que se chamou seqüência. Às vezes faltava a simetria do texto, de maneira que este pouco se diferenciava da prosa; por isso davam à seqüência o nome de prosa. Finalmente se criaram seqüências independentes do aleluia, com melodias próprias, que ocuparam o lugar costumado depois do gradual.
2) Uso. Das muitas seqüências da Idade Média, Pio V conservou cinco: Victimae paschali (Páscoa; autor Wipo, capelão de Conrado II); Veni Sancte Spiritus (Pentecostes; autor: Langton, Arcebispo de Contuário, + 1288, o que consta de documento publicado em 1913); Lauda Sion (Corpo de Deus, autor: S.Tomás de Aquino); Stabat Mater (Nossa Senhora das Dores; autor: provavelmente S.Boaventura); Dies irae (Réquiem; autor: Tomás de Celano, OFM, + 1255).

*Exemplo de Seqüência, da Missa de Corpus Christi:

“Lauda, Sion, Salvatorem, lauda ducem et pastorem in hymnis et canticis.
Quantum potes, tantum aude: quia major omni laude, nec laudare sufficis.
Laudis thema specialis, panis vivus et vitalis hodie proponitur.
Quem in sacrae mensa coenae turbae fratrum duodenae datum non ambigitur.
Sit laus plena, sit sonora, sit jucunda, sit decora mentis jubilatio.
Dies enim solemnis agitur, in qua mensae prima recolitur hujus institutio.
In hac mensa novi Regis, novum Pascha novae legis, Phase vetus terminat.
Vetustatem novitas, umbram fugat veritas, noctem lux eliminat.
Quod in coena Christus gessit, faciendum hoc expressit in sui memoriam.
Docti sacris institutis, panem, vinum in salutis consecramus hostiam.
Dogma datur Christianis, quod in carnem transit panis et vinum in sanguinem.
Quod non capis, quod non vides, animosa firmat fides, praeter rerum ordinem.
Sub diversis speciebus, signis tantum, et non rebus, latent res eximiae.
Caro cibus, sanguis potus: manet tamen Christus totus sub utraque specie.
A sumente non concisus, non confractus, non divisus: integer accipitur.
Sumit unus, sumunt mille: quantum isti, tantum ille: nec sumptus consumitur.
Sumunt boni, sumunt mali: sorte tamen inaequali, vitae vel interitus.
Mors est malis, vita bonis: vide, paris sumptionis quam sit dispar exitus.
Fracto demum sacramento, ne vacilles, sed memento, tantum esse sub fragmento, quantum toto tegitur.
Nulla rei fit scissura: signi tantum fit fractura, qua nec status nec statura signati minuitur.
Ecce panis Angelorum, factus cibus viatorum: vere panis filiorum, non mittendus canibus.
In figuris praesignatur, cum Isaac immolatur: agnus paschae deputatur: datur manna patribus.
Bone pastor, panis vere, Jesus, nostri miserere: tu nos pasce, nos tuere: tu nos bona fac videre in terra viventium.
Tu, qui cuncta scis et vales: qui nos pascis hic mortales: tuos ibi commensales, cohaeredes et sodales fac sanctorum civium. Amen. Alleluia”.


“Louva, Sião, o Salvador, louva o guia e o pastor com hinos e cantares.
Quanto possas, tanto o louva, porque está acima de todo o louvor e nunca o louvarás condignamente.
É-nos hoje proposto um tema especial de louvor: o pão vivo que dá a vida.
O pão que na mesa da sagrada ceia foi distribuído aos doze, como na verdade o cremos.
Ressoem, pois, os louvores, sonoros, cheios de amor. Seja formosa e jovial a alegria das almas.
Porque celebramos o dia solene que nos recorda a instituição deste banquete.
Na mesa do novo rei, a páscoa da Nova Lei põe fim à páscoa antiga.
O rito novo rejeita o velho, a realidade dissipa as sombras como o dia dissipa a noite.
O que o Senhor faz na ceia mandou-no-lo fazer em memória Sua.
E nós, instruídos pelo mandado divino, consagramos o pão e o vinho em hóstia de salvação.
É dogma de fé para os cristãos que o pão se converte na carne e o vinho no sangue do Salvador.
O que não compreendes nem vês, diz-to a fé viva; porque isto se opera fora das leis naturais.
Debaixo de espécies diferentes, que são apenas sinais exteriores, ocultam-se realidades sublimes.
O pão é a carne e o vinho é o sangue; todavia debaixo de cada uma das espécies Cristo está totalmente.
E quem o recebe não o parte nem divide, mas recebe-o todo inteiro.
Quer o recebam mil, que um só, todos recebem o mesmo, nem recebendo-o podem consumi-lo.
Recebem-no os bons e os maus igualmente, porém com efeitos diversos: os bons para vida e os maus para a morte.
Morte para os maus e vida para os bons! Oh! Consideremos como são diferentes os efeitos que produz o mesmo alimento.
Não vacile a tua fé quando a hóstia é dividida; porque o Senhor encontra-se sempre todo, debaixo do pequenino fragmento ou da hóstia inteira.
Nenhum corte pode violar a substância: apenas os sinais do pão, que vês com os olhos da carne, foram divididos sem a menor alteração da realidade divina que esses mesmos sinais significam.
Eis pois que o pão de que se alimentam os Anjos foi dado em viático aos homens: pão verdadeiramente dos filhos, que não deve dar-se aos cães.
Foi já prefigurado nos ritos e nos acontecimentos do Testamento Antigo, na imolação de Isaac, no cordeiro pascal e no maná do deserto.
Ó bom Pastor e alimento verdadeiro dos que apascentas, ó Jesus, tende piedade de nós. Alimentai-nos e defendei-nos e fazei que mereçamos fruir da vossa glória na Terra dos vivos.
Vós que tudo conheceis e tudo podeis fazer, e nos alimentais aqui, na Terra, da mortalidade, admiti-nos, Senhor, lá no Céu, à vossa mesa e dai-nos parte na herança e na companhia dos que moram na cidade santa. Amém. Aleluia”.



IV. Tracto

1) Natureza. Trato se chama um texto composto de poucos versos, que substitui às vezes o aleluia do gradual (setuagésima) ou a este mesmo (quatro têmporas); nem sempre tem caráter de penitência (Jubilate, Quinquagésima).
2) Etimologia. Dizem uns que este texto se chama tractus, porque era cantado sem alternação, a seguir, de um trago. Alguns modernos recorrem a melodia semelhante da música grega antiga e dizem que é “continuação” (tractus) do gradual.

* Exemplo de Tracto, da Missa em honra do Sagrado Coração de Jesus, para o tempo depois da Septuagésima:

“(Sl CII, 8-10) O Senhor é paciente e bom; é generoso e cheio de misericórdia. V. A sua cólera é breve e, se ameaça, não é para sempre. V. Com efeito não nos tratou conforme nossos pecados, nem nos castigou pela medida das nossas iniquidades”.

V. Evangelho

O evangelho. O evangelho, mormente na missa cantada, é o ponto litúrgico culminante da missa dos catecúmenos e por isso cercado de uma pompa verdadeiramente real. Pois a Igreja vê no evangelho o próprio Filho de Deus, Rei da glória.

O diácono coloca o evangeliário no altar, como para indicar que a palavra do Verbo divino, contida no livro, é idêntica ao Verbo incarnado, representado pelo altar. Prepara-se (não assim o subdiácono) para o desempenho de sua missão pela humilde oração Munda cor, porque o evangelho é sacrossanto e a sua pregação é de suma importância. Sobe ao altar e tira o evangeliário de cima dêle, recebendo-o como da mão de Jesus Cristo mesmo, que o escolheu diácono. Ao depois busca a autorização do representante visível de Cristo, pedindo ao celebrante a bênção que lhe é dada para que dignamente (digne), i. é, com coração puro, e competentemente (et competenter), i. é, autorizado, anuncie o evangelho. O celebrante põe a mão sobre o evangeliário como para entregá-lo ao diácono. Organiza-se a procissão. À frente vão os acólitos com velas ao modo da cerimônia da côrte imperial romana, que prescreveu fosse o imperador precedido de círios ardentes, para indicar a majestade do soberano. Segue o clero.

O diácono canta completamente (C. E. II, 8, 44) voltado para o norte, símbolo do frio (Jer 1, 14) e do mau. Pois o evangelho é um exorcismo, afugentando o influxo do demônio sôbre as almas. Tôda a assembléia levanta-se em sinal de reverência e obediência às palavras divinas. O diácono saúda o povo e anuncia o evangelho respectivo. O coro responde com palavras jubilosas Gloria tibi, Domine, como aclamando-O a Ele, que pessoalmente se digna falar aos seus amados fiéis. O diácono faz o sinal da cruz sôbre o santo texto e persigna-se e o povo corn êle, porque todos professam o evangelho da cruz por pensamentos, palavras e obras. O diácono incensa o evangeliário, símbolo de Cristo, dando "glória", i.é, homenagem a Deus. No fim, em sinal de assentimento, o celebrante beija o santo texto, dizendo: "Pelas palavras do evangelho sejam perdoados os nossos pecados." Pois as palavras divinas destroem pecados, operando a conversão dos pecadores, esclarecendo a inteligência, fortalecendo a vontade por meio de ameaças e prêmios eternos, convidando para amar a Jesus Cristo pela descrição da sua santa Pessoa e de suas obras, dispondo a alma para a penitência e para a vida perfeita. Por isso, depois do evangelho explicam-se as palavras divinas (can. 1344, 1) "consueta homilia, praesertim intra Missam". Expor as palavras da sagrada escritura foi uso na sinagoga, e, em todos os séculos, costume da Igreja. Antes da homília fazem-se os anúncios relativos à freguesia. Também esta praxe é antiga. S. Agostinho, p.ex., convidou os fiéis para a celebração do aniversário da sagração do bispo diocesano. (Serm. 3.)

VI. Credo

“E porque cremos em Cristo, como a verdade divina, segundo o que está em João: “Se eu digo a verdade, por que não me acreditais?” (Jo VIII, 46), depois da leitura do Evangelho, canta-se o “symbolum fidei” (“símbolo da fé”), pelo qual os fiéis mostram sua adesão pela fé à doutrina de Cristo. O credo é cantado nas festas daqueles que são mencionados nele, como nas festas de Cristo, da Bem-aventurada Virgem, dos Apóstolos, que deram fundamento a esta fé e em festas semelhantes” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q,83, a.4).

O Credo. Profissão da fé pelo Credo nos primeiros séculos só se fazia no batismo. Quando, porém, se levantaram as heresias, mormente no Oriente, introduziu-se como medida de defesa a recitação do símbolo niceno-constantinopolitano na missa (V sec.). O concilio de Nicéia (325) tinha declarado a divindade do Filho, o de Constantinopla, a do Espirito Santo (381). O concílio de Calcedônia (451) prescreveu o Credo, que contém claramente êstes dogmas. Não se cantava, então, nem se canta ainda hoje. No Ocidente fazia parte da Liturgia moçarábica (589). Nos séculos VIII e IX achamo-lo na Gália e na Alemanha. A instâncias do imperador S. Henrique II, em 1014, foi admitido na Liturgia romana. Roma não o aceitara, porque "a Igreja romana nunca tinha sido manchada pela heresia", resposta esta dada aos clérigos do imperador.

O fim do Credo é o assentimento solene às doutrinas,ouvidas no evangelho e na homilia, e a preparação para os mistérios da fé a realizar-se na missa dos fiéis.

Reza-se o Credo naquelas festas "de que se faz alguma menção do símbolo", era a regra antiga; portanto, nos domingos, festas do Senhor, de Maria Santíssima, dos ss.anjos (creatorem caeli), dos apóstolos, dos doutôres que aprofundaram a fé, dos padroeiros da igreja (sanctam ecclesiam, saltem principalium Sanctorum), da dedicação das igrejas (festum Domini), de S. Maria Madalena (apostola apostolorum), de S. José, pai nutrício de Jesus. Não se reza na festa de São João Batista. Durandus (IV, c. 25, n. 13) observa que em algumas igrejas esta festa tinha Credo et non incompetenter, porquanto êle é profeta (locutus est per prophetas), é apóstolo (homo missus a Deo), e o nascimento de Jesus Cristo foi mencionado no nascimento de São João. Nem seria exato dizer-se que ele é um santo do antigo testamento e que por isso não tem Credo. Os motivos para recitar o Credo podem se resumir em três palavras: mysterium, doctrina, celebritas (solemnitas). (Guet, Carpo.)

Enquanto o côro canta passus et sepultus est, o diácono leva o corporal para o altar, pois que o corporal, em que o pousa o ss. corpo de Jesus eucarístico, lembra o lençol em que foi envolvido o sacrossanto Corpo de Nosso Senhor morto.


Credo in unum Deum. Patrem omnipoténtem, factórem caeli et terræ,
visibílium ómnium et invisibílium.
Et in unum Dóminum Jesum Christum, Fílium Dei unigénitum.
Et ex Patre natum ante ómnia saécula.
Deum de Deo, lumen de lúmine, Deum verum de Deo vero.
Génitum, non factum, consubstantiálem Patri: per quem ómnia facta sunt.
Qui propter nos hómines, et propter nostram salútem descéndit de caelis.

ET INCARNATUS EST DE SPIRITU SANCTO EX MARIA VIRGINE: ET HOMO FACTUS EST.

Crucifíxus étiam pro nobis: sub Póntio Piláto passus, et sepúltus est.
Et resurréxit tértia die, secúndum Scriptúras.
Et ascéndit in caelum: sedet ad déxteram Patris.
Et íterum ventúrus est cum glória judicáre vivos, et mórtuos: cujus regni non erit finis.
Et in Spíritum Sanctum, Dóminum et vivificántem: qui ex Patre, Filióque procédit.
Qui cum Patre, et Fílio simul adorátur, et conglorificátur: qui locútus est per Prophétas.
Et unam sanctam cathólicam et apostólicam Ecclésiam.
Confíteor unum baptísma in remissiónem peccatórum.
Et exspécto resurrectiónem mortuórum.
Et vitam ventúri saéculi. Amen.
CREIO em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra,
de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus,
nascido do Pai, antes de todos os séculos;
Deus nascido de Deus, Luz nascida da Luz, Deus verdadeiro nascido do Deus verdadeiro;
gerado, não criado, consubstancial ao Pai, e por quem tudo foi criado.
O qual, por amor de nós, os homens, e para nossa salvação, desceu dos céus.

E INCARNOU, POR OBRA DO ESPÍRITO SANTO, NO SEIO DE MARIA VIRGEM, E FEZ-SE HOMEM.

Também por amor de nós, foi crucificado, sob Pôncio Pilatos, padeceu a morte e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras.
Subiu aos Céus, e está sentado à direita do Pai.
De novo há-de vir, cercado de glória, julgar os vivos e os mortos;
e o seu reino não terá fim.

Creio no Espírito Santo, Senhor e vivificador, que procede do Pai e do Filho;
o qual é, com o Pai e o Filho, igualmente adorado e glorificado;
e falou pela boca dos profetas.

Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica.
Reconheço um só batismo para remissão dos pecados.
Espero a ressurreição dos mortos e a vida do século futuro. Ámen.

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