20 de outubro de 2009

Acta Martyrum Japonensium - Parte 1 de 2

VENERÁVEIS MÁRTIRES DOJAPÃO,

PROTEJEI-NOS, DEFENDEI-NOS, SALVAI-NOS

A HISTÓRIA DO MARTÍRIO CRISTÃO NO JAPÃO 

1597~1873
ALMAS PURAS
MARTYRES JAPONENSES
Pe. Antonio Sermenio
Desenhos: Subaru Yokomichi

Traduzido para o português por Marcos Morita




CENTÉSIMO ANIVERSÁRIO DOS 26 MÁRTIRES DO JAPÃO – 1962

A História do Cristianismo é um belo episódio dentro da História do mundo e, para o povo japonês, a mais preciosa e também, a mais patética.

Os Cristãos perseguidos por causa das incompreensões dos algozes, não obstante terríveis e cruéis torturas, entregaram-se de bom grado pela glória de Deus e salvação das almas.

Ao suportar com heroicidade as provações, a perda de bens e honras, eles deixaram a seus filhos e descendentes o maior bem que poderiam legar: a autêntica Fé. Eis o autêntico espírito Yamato.

Rainha dos Mártires

Somente Deus conhece o número exato de Mártires. Os nomes dos Mártires nos registros conhecidos chegam a 3125. Sabe-se que há um número incalculável de outros Mártires. Somente em 1624 duas mil pessoas foram martirizadas. Em 1638, mais de 4000 Cristãos foram lançados no mar. Segundo Hakuseki Arai, durante o domínio de Iemitsu Tokugawa, de 200000 a 300000 Cristãos pereceram de fome e penúria.

Gostaria de apresentar, aqui, algumas flores desse jardim de Mártires.

Logo após a chegada de S. Francisco Xavier em Kagoshima, em 1549, houve várias opressões contra os Cristãos, mas a perseguição oficial, em escala nacional, foi iniciada no reino de Hideyoshi Toyotomi em 24 de julho de 1587.

S. Francisco Xavier desembarca em Shimonoseki

Depois da inspeção da região Kyushu (sul do Japão) e estimulado pelo monge budista Tokuun-in, Hideyoshi decretou oficialmente a proibição do Cristianismo e uma das suas primeiras vítimas foi o famoso samurai Ukon Takayama.

Nove anos depois, com o episódio San Felipe, Hideyoshi ordenou o cadastro e prisão de todos os Cristãos da região Sul do Japão, mas graças à intervenção de Mitsunari Ishii, foram escolhidas 26 pessoas para servirem de exemplo.

Ukon Takayama e outros samurais Cristãos, vendo a prisão de Paulo Miki e seus 25 companheiros, se alegraram sinceramente por serem perseguidos por causa do Senhor e os encorajaram.

Por intervensão de Mitsunari Ishida, o sofrimento dos Mártires foi aliviado um pouco. Tiveram cortada uma parte da orelha esquerda e em Kyoto foram colocados em carros para iniciar a longa peregrinação à Nagasaki, passando pela Sakai, Osaka e outras cidades principais do Sul do Japão, num caminho de 1000 km.

Passaram por inenarráveis sofrimentos durante a viagem, pois era inverno, mas os Mártires cantavam e oravam com profunda devoção, encorajando-se mutuamente, influenciando com seus exemplos os futuros companheiros do martírio que encontravam pelo caminho.

O menino de 12 anos, Ludovico Ibaraki, foi gentilmente aconselhado pelo Hachizaburo Terazawa a deixar a Fé, prometendo-lhe um cargo de samurai.

Surpreendente foi a resposta do menino: “Senhor magistrado, és tu que deves te converter ao Cristianismo. Assim poderemos ambos entrar no Paraíso!” Amarrado à cruz no dia seguinte, Ludovico estava radiante de alegria.

Ludovico, Antonio, de 13 anos e Tomás Ozaki e seus companheiros foram amarrados às cruzes e se tornaram vítimas de expiação para Deus e para o Japão na colina de Nagasaki em 5 de fevereiro de 1597.

Após a morte de Hideyoshi, subiu ao poder Ieyasu Tokugawa. Era budista devoto e por causa do seu ódio aos Cristãos, ordenou a proibição do Cristianismo. Muitos senhores feudais começaram, então, a perseguir os Cristãos. Mouri, de Yamaguchi, executou o seu conselheiro Motonao Kumagaya e seus 100 súditos em Hagi, em 1605. Kiyomasa Kato obteve o domínio que pertenceu outrora a Yokinaga Konishie e iniciou dura perseguição aos Cristãos. Tadaoki Hosokawa, embora sua esposa Garasha (Graça) tenha sido Cristã devotíssima, se tornou duro perseguidor após o falecimento de Pe. Cespedes. Miguel Naosumi, filho de Harunobu, de Arima, temendo Ieyasu, matou Francisco e Mateus, seus meio-irmãos e condenou três conselheiros e familiares a serem queimados vivos em 1613: Leão Sukezaemon Hayashida e esposa Marta, seus filhos Magdalena e Tiago; André Mondonojo Takahashi e esposa Ana, Leão Kan-uemon Taketomi e seu filho Paulo.

No campo da execução concentraram-se mais de trinta mil pessoas, que receberam os Mártires com flores, velas e cânticos. Quando as chamas os envolveram, o pequeno Tiago, tendo as cordas desembaraçadas, correu ao encontro da mãe. Chamando os santos nomes de Jesus e Maria, caiu aos pés de sua mãe. Ela confortou-o dizendo, “Filhinho, veja!, o Paraíso se aproxima!”.

Sua irmã Magdalena, de 18 anos, ao sentir a aproximação da morte, tomou nas mãos as lenhas em brasa e colocou-as sobre sua cabeça como se estivesse se divertindo e, assim, adormeceu para a eternidade.

Sob Xogun Hidetada e, especialmente sob Iemitsu, as perseguições se itensificaram e nem os mortos eram poupados. Com a justificativa de que seus túmulos maculavam o “país de deuses”, Japão, os restos dos Cristãos eram queimados e jogados no mar. As mulheres grávidas, além de serem forçadas a se apostatar, eram obrigadas a prometer que seus filhos não se tornariam Cristãos. Dentre os maiores perseguidores de Cristãos que deixaram os registros de crueldade, destacam-se Bungonokami Arima, Gonroku Hasegawa, Kouchi Mizuno, Denshiro Imamura, Saburozaemon Baba, Matazaemon Kanda, etc., todos incentivados pelo Iemitsu. Ao saber que os padres Jeronimo de Angelis e Fancisco Galvez haviam sido presos, Iemitsu disse que o reconhecimento (das virtudes) deles era pior que suportar uma revolução geral no país.

Havia 7 crianças no Grande Martírio de Nagasaki em 1623. Elas percorreram o local da execução distribuindo ao público mechas de seus cabelos. Haviam nascido para buscar um Reino infinitamente mais nobre que este mundo, e, antes de oferecer o pescoço para serem decapitadas, rezaram com a multidão. Alguns Cristãos, em barcos, tocavam instrumentos e cantavam para celebrar a sua vitória final.

Um dos pequeninos era Ignacio. Pe. Spirano não o enxergando, perguntou a sua mãe Isabela, ”Onde está o pequenino?”. Ela, erguendo-o respondeu: “ele está aqui. É uma felicidade podermos morrer juntos”, e receberam a bênção do sacerdote. Logo, a mãe foi decapitada e Ignacio ofereceu também a sua bela flor da vida a Deus.

Uma outra criança chorava. Alguém lhe disse, “Assim, não te tornarás um Mártir”. Logo parou de chorar e começou a sorrir.

Fancisco, de 8 anos, chorava ao lado do corpo de seu pai. Algém disse, “Tu és filho de Magoemon Ishihara. Logo o reencontrarás no Paraíso”. Francisco repetiu, então, “Paraíso! Paraíso!” e acabou adormecendo nos braços do algoz. Este, sentindo pena da criança, deitou-o no chão. Chegou, então, um outro guarda e desferiu-lhe três estocadas de espada no coração.

A um outro menino diziam, “Apostata-te, apostate-te”. Ao ignorar essas palavras colocaram-lhe brasas sobre as mãos. Ele suportou até o fogo se extinguir. Disse então aos guardas, “Mesmo que vocês coloquem brasas sobre todo o meu corpo, não apostatarei!”. Um outro garoto de Sakai pediu aos pais para ser martirizado com eles. Estes lhe responderam, “Tu não és capaz de resistir ao menor calor de fogo. Como poderás ser queimado vivo?” O menino se levantou, foi até a cozinha e segurou uma barra de ferro em brasa. Os pais lhe ordenaram para soltar a barra, mas ele não o fez até eles concordarem em levá-lo junto para o martírio.

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