14 de setembro de 2013

Maria Santíssima é a esperança de todos.

In me omnis spes vitae et virtutis ― “Em mim há toda a esperança da vida e da virtude” (Ecclus. 24, 25).

Sumário. O Rei do céu deseja sumamente enriquecer-nos das suas graças; mas como da nossa parte é necessária a confiança, afim de aumentá-la em nós, nos deu por Mãe e Advogada a sua própria Mãe, a quem deu todo o poder para nos ajudar. Por isso quer o Senhor que nela ponhamos a esperança de nossa salvação e de todo o nosso bem. Qual não deve, pois, ser nossa gratidão para com a bondade divina! Qual a confiança que devemos ter em Maria!

I. De dois modos, diz Santo Tomás, podemos pôr a nossa esperança numa pessoa: como causa principal, ou como causa intermediária. Quem espera alguma graça do rei, espera alcançá-la do rei como senhor; ou espera alcançá-la do seu ministro ou valido, como intercessor. Se consegue a graça, consegue-a principalmente do rei, mas por intermédio do ministro. Pelo que, quem pretende obter a graça, tem razão de chamar àquele intercessor a sua esperança.

O Rei do céu, por ser a bondade infinita, deseja sumamente enriquecer-nos de suas graças; mas como da nossa parte é necessária a confiança, e com o fim de aumentá-la em nós, deu-nos por Mãe e Advogada sua própria Mãe, a quem deu todo o poder para nos ajudar. Por isso quer que ponhamos nela a esperança de nossa salvação e de todo o nosso bem. ― Aqueles que põem a sua esperança unicamente nas criaturas, independentemente de Deus, são sem dúvida amaldiçoados de Deus, como diz Isaías (1). Mas aqueles que esperam em Maria, como Mãe de Deus, poderosa para lhes alcançar as graças e a vida eterna, são bem-aventurados e agradam ao Coração de Deus, que assim quer ver honrada a excelsa criatura que mais que todos os homens e anjos O amou e honrou neste mundo.

É, pois, com razão que chamamos à Virgem a nossa esperança, esperando alcançar por sua intercessão o que não alcançaríamos só com as nossas orações. Oh, quantos soberbos, com a devoção a Maria, acharam a humildade! Quantos iracundos a mansidão! Quantos cegos a vista! Quantos desesperados a confiança! Quantos perdidos a salvação! Numa palavra, afirma Santo Antonino que todo verdadeiro devoto de Maria pode dizer: Venerunt mihi omnia bona pariter cum illa (2) ― “Com a devoção a Maria vieram-me juntamente todos os bens”.

II. É com razão que a santa Igreja aplica à Maria as palavras do Eclesiástico, chamando-a Mãe da santa esperança, Mater sanctae spei; e quer que quotidianamente todos os eclesiásticos e todos os religiosos, na egrégia oração da Salve Rainha, levantem a voz e em nome de todos os fiéis invoquem e chamem a Maria com este doce nome de esperança nossa. ― Tu também, meu irmão, seja qual for o teu estado, põe toda a tua confiança nesta Mãe amorosíssima e dize-lhe freqüentemente: Spes nostra, salve: Esperança nossa, salve!

Ó Mãe do santo amor, sabeis que, não contente de se fazer nosso perpétuo advogado junto do Pai Eterno, Jesus Cristo vosso Filho quer ainda que vós mesma intercedais junto dele, para nos obter as divinas misericórdias. Decretou que vossas orações nos ajudariam a salvar, e lhes deu tanta eficácia que são sempre atendidas. Dirijo-me então a vós, ó esperança dos miseráveis. Pelos merecimentos de Jesus Cristo e por vossa intercessão espero salvar a minha alma. Tal é minha esperança, e tão longe vai que, se minha salvação eterna estivesse nas minhas mãos, logo iria depô-la nas vossa, porque mais me fio de vossa misericórdia e proteção que em todas as minhas obras.

Ó minha Mãe e minha esperança, não me desampareis como o merecia. Confesso que, assaz de vezes, meus pecados puseram obstáculo às luzes e aos socorros que me obtínheis de Deus. Mas vossa compaixão para com os miseráveis e vosso poder junto de Deus transcendem o número e a malícia de minhas iniqüidades. O céu e a terra sabem que não é possível que se perca quem é vosso protegido. Esqueçam-se, pois, de mim todas as criaturas, mas vós nunca. Dizei a Deus que sou vosso servo, dizei-lhe que tomais minha defesa e salvo serei. ― Ó Maria, confio-me a vós; e na vida e na morte proclamarei sempre que sois toda a minha esperança depois de Jesus. Nesta esperança quero viver e morrer. (*I 51.)

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1. Is. 30, 2.
2. Sap. 7, 11.

(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p.113-115.)

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