7 de setembro de 2013

Confiança! - Pe. Thomas de Saint Laurent - 18

O Livro da Confiança

Pe. Thomas de Saint Laurent


Capítulo IV - A Confiança em Deus e as nossas necessidades espirituais

III - Deus concede-nos todos os socorros necessários para a santificação e a salvação da nossa alma 

Certas almas angustiadas duvidam da própria salvação. Lembram-se de faltas passadas; pensam nas tentações tão violentas que, por vezes, nos assaltam a todos; esquecem a bondade misericordiosa de Deus. Essa angústia pode tornar-se uma verdadeira tentação de desespero.
 
Quando jovem, São Francisco de Sales conheceu uma provação dessas: temia não ser um predestinado ao Céu. Passou vários meses nesse martírio interior. Uma oração heróica libertou-o: o Santo prostrou-se diante de um altar de Maria; suplicou à Virgem que o ensinasse a amar o seu Filho com uma caridade tanto mais ardente sobre a terra, quanto ele temia não poder amá-Lo na eternidade.
 
Nesse gênero de sofrimento, há uma verdade de fé que nos deve consolar imensamente. Só nos perdemos pelo pecado mortal.
 
Ora, sempre o podemos evitar, e, quando tivermos tido a desgraça de cometê-lo, poderemos sempre reconciliar-nos com Deus. Um ato de contrição sincera, feito logo, sem demora, nos purificará, enquanto esperamos a confissão obrigatória, que convém se faça sem demora.
 
Certamente a pobre vontade humana deve sempre desconfiar da sua fraqueza. Mas o Salvador nunca nos recusará as graças de que carecemos. Fará também todo o possível para ajudar-nos na empresa, soberanamente importante, da nossa salvação.
 
Eis a grande verdade que Jesus Cristo escreveu com o seu Sangue e que vamos agora reler juntos na história da sua Paixão.
 
Já tereis algum dia refletido como puderam os judeus apoderar-se de Nosso Senhor? Acreditareis, por acaso, que isso conseguiram pela astúcia ou pela força? Podeis imaginar que, na grande tormenta, Jesus foi vencido porque era o mais fraco?!
 
Seguramente não. Os inimigos nada podiam contra Ele. Mais de uma vez, nos três anos das suas pregações, haviam tentado matá-Lo. Em Nazaré, queriam atirá-lo de um precipício; por várias vezes tinham agarrado pedras para lapidá-Lo. Sempre, porém, a sabedoria divina desfez os planos dessa ímpia cólera; a força soberana de Deus reteve-lhes o braço; e Jesus afastou-se sempre tranqüilamente, sem que ninguém tivesse conseguido fazer-Lhe o menor mal.
 
Em Getsemani, ao dizer Ele simplesmente o seu nome aos soldados do Templo vindos para assenhorearem-se da sua pessoa sagrada, toda a tropa cai por terra tocada de estranho pavor. Os soldados só se podem levantar pela permissão que Ele lhes dá.
 
Se Jesus foi preso, se foi crucificado, se foi imolado, é que assim o quis, na plenitude da sua liberdade e do seu amor por nós. “Oblatus est quia voluit” (45).
 
Se o Mestre derramou, sem hesitar, o Sangue todo por nós, se morreu por nós, como poderia recusar-nos graças que nos são absolutamente necessárias e que Ele próprio nos mereceu pelas suas dores?
 
Jesus ofereceu essas graças misericordiosamente às almas mais culpadas durante a Paixão dolorosa. Dois Apóstolos haviam cometido um crime enorme: a ambos ofereceu o perdão.
 
Judas atraiçoa-O e dá-Lhe um beijo hipócrita. Jesus fala-lhe com doçura tocante; chama-lhe amigo; procura à força de carinho tocar esse coração endurecido pela avareza. “Amigo, a que vieste? - Judas, com um beijo entregas o Filho do homem?...” (46). É esta a última graça do Mestre ao ingrato.
 
Graça de tal força, que jamais lhe mediremos bem a intensidade, Judas, porém, repele-a: perde-se, porque assim formalmente o prefere.
 
Pedro julgava-se muito forte... Tinha jurado acompanhar o Mestre até à morte, e abandona-O, quando O vê nas mãos dos soldados. Só O segue então de longe. Entra a tremer no pátio do palácio do Sumo Sacerdote. Por três vezes renega o seu Senhor - porque receia os motejos de uma criada. Com juramento afirma que não conhece “esse homem”. Canta o galo... Jesus volta-se e fixa sobre o Apóstolo os olhos cheios de misericordiosas e doces censuras. Cruzam-se os olhares... Era a graça, uma graça fulminante que esse olhar levava a Pedro. O Apóstolo não a repeliu: saiu imediatamente e chorou com amargura a sua falta.
Assim como a Judas, como a Pedro, Jesus nos oferece sempre graças de arrependimento e conversão. Podemos aceitá-las ou recusá-las. Somos livres! A nós compete decidir entre o bem e o mal, entre o Céu e o inferno. A salvação está nas nossas mãos.
 
O Salvador não só nos oferece as suas graças, como faz mais: intercede por nós junto ao Pai do Céu. Lembra-lhe as dores sofridas pela nossa Redenção. Toma a nossa defesa diante dEle; desculpa-nos as faltas: “Pai — exclama nas angústias da agonia — Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!” (47)
 
O Mestre, durante a Paixão, tinha tal desejo de salvar-nos, que não cessava um instante de pensar em nós.
 
No Calvário, dá aos pecadores o seu último olhar; pronuncia em favor do bom ladrão uma das suas últimas palavras. Estende largamente os braços na Cruz para marcar com que amor acolhe todos os arrependimentos no seu Coração amantíssimo.

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45 ) “Foi oferecido (em sacrifício), porque ele mesmo quis e não abriu a sua boca; como uma ovelha que é levada ao matadouro, como um cordeiro nas mãos do tosquiador, guardou silêncio e não abriu sequer a sua boca” (Is. 53, 7).
46 ) Mt. 26, 50 e Lc. 22, 48.
47 ) Lc. 23, 34.

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