20 de setembro de 2013

Sermão 16º Domingo depois de Pentecostes - Padre Daniel Pinheiro - IBP.




[Sermão] A natureza do culto a Nossa Senhora: veneração, amor, gratidão, invocação, imitação.


Sermão para o 16º Domingo depois de Pentecostes

8 de setembro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém
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Ave Maria…


“Salve, ó Mãe Santíssima, que destes à luz o Rei que governa a terra e o Céu por todos os séculos.” (Introito da Missa da Natividade de Nossa Senhora).

No dia da Assunção de Nossa Senhora, falamos da necessidade da devoção a tão boa mãe para a nossa salvação. Aproveitemos que hoje é o dia da Natividade de Nossa Senhora para honrar Maria Santíssima e honrá-la tratando da natureza do culto que lhe deve ser tributado, para podermos ser bons e fiéis filhos dela. Trataremos, então, do tipo de culto que é devido a Nossa Senhora. Veremos que é um culto denominado de hiperdulia e que é um culto de veneração, de amor, de gratidão, de invocação, de imitação, de escravidão.

O culto, segundo a definição de São João Damasceno, é o reconhecimento da excelência de quem é cultuado, com a consequente submissão a ele. Nossa Senhora pode ser, então, cultuada religiosamente, pois possui grande excelência e nos é muito superior na ordem da graça. Cultuá-la, nada mais é do que reconhecer que Deus fez nela maravilhas, maravilhas que superam todas as maravilhas concedidas às criaturas.

A natureza do culto depende da natureza da excelência. Ora, Deus tem uma excelência infinita, Ele é o criador de todas as coisas, infinitamente perfeito. A Deus se deve o culto de latria, de adoração, de total submissão à sua onipotência. O culto de latria é exclusivo para Deus. Adorar uma criatura no sentido preciso da palavra é cometer um pecado de idolatria. Aos santos, consequentemente, é devido um culto de outra natureza, chamado culto de dulia, de veneração, em virtude da excelência sobrenatural que possuem, quer dizer, em virtude da santidade que possuem, da união profunda e definitiva que possuem com a Santíssima Trindade. Aos santos é devido tal culto pelo que possuem de Deus, pela graça que possuem, pelas virtudes que possuem, pela caridade que possuem. Com tal culto, não somente é lícito, mas é também muito útil e conveniente invocar e reverenciar os santos. Esse culto aos santos é doutrina de fé e mandado pela Igreja. Nossa Senhora tem, por um lado, uma excelência infinitamente inferior a Deus, a Nosso Senhor Jesus Cristo. Nossa Senhora é uma criatura, ainda que seja a criatura mais perfeita. A Nossa Senhora não se pode prestar, evidentemente, um culto de latria, de adoração. Fazê-lo seria uma desordem grave. Por outro lado, Nossa Senhora está muito acima dos outros santos e mesmo dos anjos. Sua excelência supera a excelência de todos os santos e anjos juntos. Portanto, a Maria Santíssima é devido um culto especial, particular, denominado de hiperdulia, que se distingue do culto de dulia aos santos pelo grau, em virtude da santidade e excelência particulares da Santíssima Virgem. Todavia, o culto a Nossa senhora é distinto do culto aos santos não somente em grau, mas também em sua natureza, pois a dignidade de Maria não é simplesmente a dignidade da santidade, mas é a dignidade de Mãe de Deus, o que a coloca na ordem da união hipostática, ainda que de modo relativo somente. Assim, o culto devido a Nossa Senhora é o culto de hiperdulia, um culto que é infinitamente inferior ao culto devido a Deus, mas que é muito superior ao simples culto de dulia devido aos santos. E isso em virtude da santidade extraordinária de Nossa Senhora e de sua Maternidade Divina. Nada mais falso, portanto, do que a acusação dos protestantes que dizem que os católicos adoram Nossa Senhora. Santo Epifânio já dizia: “Maria seja honrada. Deus, adorado.” (Adv. Haer., III, haer. 79, PG 42, 742)

Esse culto devido a Nossa Senhora deve se expressar com cinco atos principais: 1) atos de veneração, pela excelência e dignidade quase infinitas da Mãe de Deus; 2) atos de amor, porque, além de ser Mãe de Deus, é também nossa Mãe; 3) atos de gratidão, porque é nossa corredentora; 4) atos de invocação, porque ela é medianeira de todas as graças; 5) finalmente, o culto de Nossa Senhora deve incluir também a imitação, por causa da excelência de suas virtudes.  A esses cinco atos, devemos também a Nossa Senhora um singular culto de escravidão, pois ela é Rainha do Céu e da Terra. Desse culto de escravidão, porém, falaremos em outra oportunidade.

Com a veneração, reconhecemos a excelência e a superioridade de Nossa Senhora. Essa veneração deve ser interior, estimando as qualidades de Nossa senhora com a mente e honrando-a com a vontade, quer dizer, dando testemunho de sua excelência, como deve ser também exterior, com as práticas piedosas estabelecidas para esse fim, sejam elas públicas ou privadas, individuais ou sociais, litúrgicas ou extra-litúrgicas. Assim, poderemos nos associar à veneração manifestada pelo anjo Gabriel, por Santa Isabel, e a profecia feita por Nossa Senhora de que todas as gerações a chamariam bem aventurada se cumprirá. E sabemos bem que a honra do filho está em grande parte na mãe. Assim, quando veneramos Maria, seu Filho é também estimado e honrado.

Com o amor, retribuímos a Maria sua maternidade espiritual para conosco. Foi ela que nos trouxe ao mundo o princípio da graça, que é Nosso Senhor. O Espírito Santo usa Nossa Senhora como instrumento para nos transmitir as graças. Ela, portanto, nos gera para a graça, em certo sentido. Ela é realmente nossa Mãe. Ela também nos ajuda e nos conduz pelo bom caminho, como toda boa mãe. A Sagrada Escritura nos manda honrar pai e mãe naturais. Quanto mais honrada deve ser, então, nossa Mãe na ordem da graça. Devemos também reconhecer em Maria a mais santa das criaturas, e devemos amar em Maria esse bem imenso, essa grande santidade, essa profunda união com Nosso Senhor. O amor nos faz desejar o bem do amado. Ele nos manda fazer tudo o que agrada ao ser amado e nos proíbe tudo o que desagrada ao ser amado. Assim, esse amor filial profundo a Nossa Senhora deve traduzir-se em obras. A prova do amor são as obras, nos diz São Gregório Magno. Portanto, esse amor a Nossa Senhora deve nos levar à prática dos mandamentos, das virtudes e deve nos afastar de tudo o que ofende a Nossa Senhora, quer dizer, do pecado e daquilo que nos leva ao pecado. Amando assim Nossa Senhora, amaremos também Cristo, pois só é agradável a Nossa Senhora aquilo que é agradável ao seu Filho. Da mesma forma, tudo o que desagrada a Cristo, desagrada a Maria. Esse amor é o centro, o coração do culto a Nossa Senhora.

Com a gratidão, damos aquilo que é devido aos nossos benfeitores. A gratidão tem três graus. O primeiro é reconhecer o benefício recebido, o segundo é agradecer com palavras e o terceiro é retribuí-lo com obras. Depois da Santíssima Trindade, depois do Verbo Encarnado que nos redimiu, Maria Santíssima é a nossa maior benfeitora, a maior benfeitora do gênero humano, sobretudo por sua qualidade de corredentora ao pé da cruz. Quão grande deve ser nossa gratidão para com Maria, que ofereceu seu Divino Filho para o perdão de nossos pecados e que aceitou ter sua alma transpassada pela espada para que fôssemos redimidos. Com grande generosidade, Nossa Senhora nos entregou o maior bem que existe, ela nos entregou Nosso Senhor. Assim, devemos ser gratos a tão boa Mãe e Corredentora. Devemos ser gratos interiormente, considerando os incalculáveis benefícios que Maria nos fez e faz. Devemos ser gratos exteriormente com palavras, louvando-a, e agradecendo-lhe incessantemente, pois, dado o tamanho do benefício, nunca conseguiremos manifestar a nossa gratidão por completo. Devemos ser gratos externamente com as obras, retribuindo tantos benefícios e sacrifícios com alguns sacrifícios, sobretudo oferecendo a nós mesmos a Maria Santíssima, para que ela nos conduza com segurança até seu Filho. Devemos retribuir com uma vida de santidade. Muitas vezes nos esquecemos de agradecer devidamente a Maria por todos os benefícios que ela nos deu e dá.

Com a invocação, reconhecemos que Nossa Senhora é, por vontade divina, a medianeira de todas as graças. Assim, devemos a ela um culto de grande confiança, devemos recorrer a Maria e invocá-la em toda necessidade espiritual e material. E devemos recorrer a ela e invocá-la completamente seguros de que seremos sempre ouvidos, se a graça solicitada é necessária ou conveniente para nossa salvação. Devemos recorrer a ela sempre: nas dúvidas, para que nos esclareça; nos extravios, para que voltemos para o bom caminho; nas tentações, para que nos ajude; nas fraquezas, para que nos fortaleça; nas quedas, para que nos levante; nas desolações, para que nos anime; nas cruzes e trabalhos, para que nos console. Sempre e em todo lugar devemos recorrer a Maria, como à melhor das mães. Aquela que entregou seu próprio Filho para nos salvar não recusará interceder por nós. O Evangelho, nas Bodas de Caná, nos indica a confiança com que devemos nos dirigir a Maria. Ela intercede pelos noivos sem que eles tenham pedido, pois os noivos nem sabem que estava faltando vinho e não sabem que precisam daquela graça. Se Nossa Senhora nos ajuda quando não pedimos, imaginem o que faz quando recorremos a ela com grande confiança e humildade. Nossa Senhora conhece bem as nossas necessidades. Ela pode nos conceder sua ajuda e quer nos ajudar. Não precisamos de mais nada para correr a Nossa Senhora.

Com a imitação, reconhecemos na Mãe de Deus um modelo e exemplo perfeitíssimo de todas as virtudes. Para cultuar adequadamente Nossa Senhora devemos imitá-la, reproduzindo em nossa vida as virtudes de Maria no pensar, no falar, no agir, enfim, em todas as coisas. A imitação de uma pessoa é um verdadeiro culto a ela, porque a tomando como modelo reconhecemos sua excelência e superioridade moral e nossa submissão a ela. Toda a virtude de Maria está resumida naquela famosa frase: “fiat mihi secundum verbum tuum”. “Faça-se em mim segundo a vossa palavra.” A raiz das perfeições de Nossa senhora está na sua perfeita conformidade com a vontade de Deus. Devemos buscar essa conformidade total com a vontade divina. E Maria é um modelo sublime e acessível a todos, como diz Leão XIII. Diz o Papa (Enc. Magnae Dei Matris, 8 de setembro de 1892): “a bondade e a Providência divina nos deu em Maria um modelo de todas as virtudes, (um modelo) todo feito para nós. Porque, considerando-a e contemplando-a, as nossas almas já não ficam ofuscadas pelos fulgores da divindade, senão que, atraídas pelos vínculos íntimos de uma comum natureza, com maior confiança se esforçarão por imitá-la. Se, amparados pelo seu eficaz auxílio, nós nos dedicarmos com todas as nossas forças a esta obra (de imitá-la), certamente conseguiremos reproduzir em nós ao menos algum traço de tão grande virtude e santidade; e, depois de havermos imitado a sua admirável conformidade com as divinas vontades, poderemos juntar-nos a Ela no céu.” Assim, o culto perfeito a Nossa Senhora supõe o firme propósito de imitá-la.

A devoção a Maria deve ser, então, uma devoção de veneração, uma devoção de amor, uma devoção de gratidão, uma devoção de invocação, uma devoção de imitação. A devoção a Nossa Senhora nesses quatro atos e em todos os atos deve ser sempre uma devoção interior, quer dizer, que realmente brota do desejo de honrá-la, de reconhecer e de nos submeter à grandeza de Nossa Senhora. A devoção também deve ser terna, isto é, cheia de confiança, como uma criança confia em sua mãe. A devoção a Nossa Senhora deve ser uma devoção santa, que tem por objetivo evitar todo pecado e imitar as virtudes de Maria, principalmente sua humildade profunda, sua fé vivíssima, sua obediência; sua oração contínua, sua mortificação, sua pureza divina, sua esperança firmíssima, sua caridade ardente, sua paciência heroica, sua sabedoria celestial. A devoção a Nossa Senhora deve ser igualmente constante, quer dizer, deve ser uma devoção que consolida nossa alma no bem e que nos dá forças para não abandonarmos facilmente as práticas devocionais. Ela deve dar à alma a constância e o ânimo no combate contra o mundo, a carne, o demônio. A devoção a Nossa Senhora deve ser uma devoção desinteressada, tendo como principal motivo não os benefícios que recebemos, mas sim, as perfeições de Nossa Senhora, a excelência dela, a santidade dela, a sua profunda união com Cristo. O devoto de Maria deve amá-la e honrá-la sem buscar a si mesmo em primeiro lugar.

Portanto, caros católicos, já sabemos como praticar essa devoção a Nossa Senhora, devoção que é necessária para a nossa salvação. Devemos venerar Maria, amá-la profundamente, agradecer-lhe com imensa gratidão, invocá-la com grande confiança e imitá-la em todas as virtudes. E fica claro que se fizermos tudo isso, caminharemos rapidamente e com segurança para Nosso Senhor Jesus Cristo, para a união com Cristo, união que deve ser o fim de toda e qualquer devoção. Quem honra a Mãe, honra o Filho. Quem desagrada à Mãe e a ofende, desagrada ao Filho e o ofende. Quem agrada a Mãe, agrada o Filho. Quem ama a Mãe ama o Filho.

Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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