22 de setembro de 2013

DÉCIMO OITAVO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES.

A primazia de Pedro

Vemos hoje Jesus perdoando os pecados do paralítico e, como só Deus pode perdoar pecados, os judeus murmuram e acusam Jesus de blasfemar, porque se outorga um poder divino.

Para provar este poder, Jesus faz um milagre, cura o corpo do paralítico, como já havia curado a sua alma.

Jesus mostra e prova o seu poder, a sua autoridade suprema.

É esta mesma autoridade e poder que Ele transmitirá depois a seus Apóstolos: Do mesmo modo que meu Pai me enviou, eu vos envio, dando a Pedro a primazia sobre a Igreja inteira.

É esta primazia que vamos meditar hoje, considerando:

1º. Pedro, sempre o primeiro,
2º. A autoridade suprema de Pedro.

A primazia espiritual de Pedro, sendo o princípio da sua infalibilidade que já meditamos, convém destacá-la para melhor compreendermos como estas duas prerrogativas são inseparavelmente unidas na autoridade suprema da Igreja.

I. Pedro, sempre o primeiro

O Concílio de Florença e depois o do Vaticano esclarecem admiravelmente esta prerrogativa:

“Ensinamos e declaramos que esta primazia da Igreja romana, por uma disposição, é uma primazia de poder ordinário sobre todas as demais igrejas e que esta jurisdição do Pontífice romano é um poder verdadeiramente episcopal e imediato.

“Deste modo, conservando a união na comunhão e na profissão de uma mesma fé com o Pontífice romano, a Igreja de Cristo constitui um único rebanho sob a direção de um único Pastor. Tal é o ensino da verdade católica da qual ninguém pode afastar-se, sem perder a fé” ( Conc. Dogm. Eccl. Can. 3).

Estas palavras indicam claramente que a primazia de Pedro não é simplesmente de honra, mas sim de autoridade.

Para provar esta primazia de autoridade, basta abrir o Evangelho e os atos onde ela refulge com todo o brilho de uma verdade básica.

Pedro aparece como o primeiro em toda parte.

Nada se faz sem Pedro... tudo se faz sob as ordens e conforme o exemplo de Pedro.

É sempre o primeiro a ser nomeado pelos Evangelistas. O primeiro é Simão que se chama Pedro, diz S. Matheus (X. 2).

Foi o primeiro a confessar a fé: Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo. (Math. XVI. 16)

Foi o primeiro a proclamar o seu amor a Jesus: Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? Pergunta o divino Mestre. Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo, responde Pedro. (João XXI. 15)

Foi o primeiro entre os Apóstolos que viu o Salvador ressuscitado dos mortos. Na verdade o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão. (Luc. XXIV. 34)

Foi o primeiro que testemunhou perante o público a ressurreição do Salvador. Então Pedro apresentou-se com os onze e levantou a voz. (Act. II. 14)

Foi o primeiro a aparecer e falar quando foi necessário preencher o número dos Apóstolos. Naqueles dias levantando-se Pedro no meio dos Irmãos. (Act. I. 15)

Foi o primeiro a confirmar a fé pelos milagres. Mas Pedro disse: Não tenho prata nem ouro mas o que tenho, isso te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda. (Act. III. 6)

Foi o primeiro a receber os gentios. Então Pedro respondeu: Porventura pode alguém recusar a água para que não sejam batizados estes que receberam o Espírito Santo como nós? (gentios) (Act. X. 47)

Foi o primeiro a converter os judeus. Muitos daqueles que tinham ouvido a palavra (de Pedro) creram; e o número de homens elevou-se a cerca de cinco mil (Act. IV. 4)

Foi o primeiro a ser citado perante os tribunais. E chamando-os intimaram-lhes que absolutamente não falassem mais, nem ensinassem em nome de Jesus. (Act. IV. 18)

Foi o primeiro a castigar os prevaricadores da lei cristã. Pedro então disse para ela (Safira). Porque combinastes entre vós para tentar o Espírito do Senhor?... E imediatamente ela caiu a seus pés e expirou. (Act. V. 9)

Foi o primeiro a ser encarcerado em testemunho da fé. E (Herodes) vendo que isso agradava aos judeus mandou também prender Pedro. (Act. XII. 3)

Sempre em toda parte, encontramos Pedro como o primeiro, devemos tirar deste fato a lição que comporta, pois Nosso Senhor nada faz por acaso, sem premeditação.

II. A autoridade suprema de Pedro

Como acabamos de ver, Pedro é sempre nomeado e é em toda parte o primeiro. Tudo no Evangelho indica a sua primazia, até as suas próprias fraquezas; é esta primazia que Deus tem em vista e quer destacar claramente, pois infalibilidade e primazia estão necessariamente unidas inseparavelmente na pessoa do chefe da Igreja, ao ponto que se a infalibilidade doutrinal é a conseqüência necessária da sua primazia, esta própria primazia pode ser indicada como o princípio da infalibilidade.

O poder dado a diversas pessoas inclui necessariamente uma restrição na própria partilha.

O poder dado a um só e acima de todos, sem exceção, comporta a plenitude.

Todos os Apóstolos recebem o mesmo poder, pessoalmente, mas não o recebem no mesmo grau, nem com a mesma extensão. Cabe a Pedro a primazia e o ofício de confirmar os seus irmãos.

Jesus Cristo começa pelo primeiro e neste primeiro desenvolve tudo, para ensinar-nos que a autoridade em sua Igreja, primeiramente estabelecida na pessoa de um só, não se ramifica senão sob a condição de ficar ligada a este único tronco e de manter com ele uma completa unidade.

E esta primazia não é simplesmente de precedência e de honra, mas sim de autoridade e de jurisdição.

É a Pedro, e só a Pedro, que Jesus Cristo promete as chaves do reino do Céu com o poder de atar e desatar, isto é: de governar a Igreja Universal (Math. XVI. 19).

Deste modo, o Papa não está mais como os protestantes imaginam, perdido num longínquo inacessível, sentado num trono, onde recebe honras e manifestações de veneração: ele é o Pastor, ele é o Pai de cada alma, de cada sacerdote, de cada Bispo.

Entre o Papa e cada cristão, ninguém pode interpor-se como obstáculo.

É certo que devido à extensão imensa da Igreja, o Papa não pode em geral, comunicar-se pessoalmente com cada um, porém ele tem o direito e o poder de fazê-lo.

Sem dúvida ainda, a sua palavra passa geralmente pelo canal do Bispo, como a deste último passa pelo canal do sacerdote, para chegar aos fiéis; este canal, porém, é um meio e nunca pode tornar-se um obstáculo. O Papa é o Pai de todos, é o Pastor supremo do rebanho inteiro.

III. Conclusão

Infalibilidade de doutrina e primazia de autoridade tal é a dupla auréola que cinge a cabeça do sumo Pontífice.

Ele é o primeiro no poder; e é o único na infalibilidade.

Como conclusão, determinemos este último ponto.

A Igreja é infalível como já ficou provado acima.

A infalibilidade concedida à Igreja reside na pessoa do Papa e é ligado ao seu ofício de Doutor supremo desta Igreja.

“Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja... e as portas do inferno não prevalecerão contra ela!”

Tudo se refere à Igreja.

Mas, coisa curiosa, Jesus Cristo prometendo a sua assistência, não diz: Eis que estou com ela, mas sim, eis que estou convosco (Math. XXVIII. 18)

Ele promete estar com o chefe da Igreja, e não propriamente com a Igreja. Porque isso?

Pela razão que a primazia pertence a uma pessoa determinada e que a infalibilidade desta Igreja se concentra sobre a cabeça daquele que está revestido desta primazia.

Se tivesse falado só da Igreja, ter-se-ia podido concluir, como certos sectários concluíram, que a primazia e a infalibilidade residiam no corpo docente da Igreja, isso é, nos Bispos, nos concílios, mesmo separados do Papa, o que é um erro monstruoso.

O único primeiro e o único infalível é o Soberano Pontífice, é o Papa de Roma.

O corpo dos Bispos, unidos ao Papa, é infalível, não como corpo, mas como unidos ao Papa.

EXEMPLOS

1. A dinastia de Pedro

O tempo passava diante de mim... o terrível tempo, que, com a foice destruidora na mão, a tudo abate, destrói e faz desaparecer.

Que fizeste tu, ó terrível destruidor, destes impérios que pareciam encher o universo com o ruído de suas conquistas?

Onde está Tebas?
Onde está Babilônia?
Onde está Atenas?
Onde estão os palácios dos césares?

E o tempo, com um sorriso melancólico e desdenhoso, indicou com o dedo uns farrapos de púrpura, restos de coroas, colunas de mármore em ruína, sobre as quais se sentavam os pastores descuidados.

- Olha! Disse-me ele.
- E que farás tu dos impérios, das repúblicas que hoje dominam o mundo e destes cetros, destas coroas, destes tronos tão resplandecentes?...
- O que fiz dos outros: um pouco de pó que o vento dissipará.
- Que farás deste trono aparentemente fraco, que nenhum poder humano sustenta, deste trono, em que está sentado, na calma e na oração, aquele que o mundo católico chama o Papa.

O tempo ficou silencioso e irado, e a eternidade, indicando-o desdenhosamente com o dedo, respondeu-me com um acento que me arrepiou até no mais íntimo do meu ser: Nunca o destruirá – Non praevalebit!

É diante deste trono eterno, que venho inclinar-me, meu Deus!

2. O Papa carrega o mundo

Era em Roma no ano de 1870, durante o Concílio do Vaticano. Dom Berteaud, célebre Bispo de Tulle, tinha dado um passeio na Campanha romana, quando ali encontra o Papa Pio IX, que desceu de seu carro e foi entreter-se com ele.

Terminada a conversa, o Bispo ajudou o Papa a retomar o carro, sustentando-o vigorosamente com as duas mãos.

- Ó, exclamou sorrindo Pio IX, como o Bispo de Tulle é forte! Carrega o Papa!

O ilustre Prelado retorquiu com ternura:

- Ó, Santo Padre, é Vossa Santidade que é forte, pois carrega o mundo!

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 372 - 379)

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