29 de setembro de 2013

DÉCIMO NONO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES.

A parábola do banquete nupcial e a Igreja católica.

Simile factum est regnum caelorum homini regi, qui fecit nuptias filio suo — “O reino dos céus é semelhante a um rei que fez núpcias para seu filho” (Matth. 22, 2).

Sumário. Pelo banquete do qual fala o Evangelho de hoje, entende-se a doutrina católica, os sacramentos e a abundância das graças celestiais. Como filhos da Igreja católica, somos do número dos convidados, e portanto, agradeçamos sempre a Jesus Cristo tão grande favor que nos foi concedido com preferência a tantos outros. Cuidemos, porém, que estejamos vestidos da veste nupcial, isto é, da graça santificante, afim de não sermos, cedo ou tarde, lançados às trevas exteriores, no inferno. Quantos cristãos não se perdem, porque as obras não respondem à fé que professam!

I. “O reino dos céus, diz Jesus Cristo, “é semelhante a um rei que fez núpcias para o seu filho, e mandou seus servos chamarem os convidados para as bodas. Mas eles desprezaram o convite, e lá se foram, um para sua casa de campo, outro para o seu negócio. Os outros prenderam os servos que enviara, e, depois de os cobrirem de ultrajes, mataram-nos. Mas o rei, tendo ouvido isto, ficou indignado, e enviando os seus exércitos, exterminou aqueles homicidas, e pôs fogo à sua cidade. Disse então aos seus servos: As bodas estão preparadas; mas os que haviam sido convidados não foram dignos. Ide, pois, às embocaduras das estradas, e a quantos encontrardes, convidai-os para as bodas. E, tendo sabido os seus servos pelas ruas, reuniram todos os que encontraram, bons e maus, e a mesa do banquete ficou cheia de convidados: “Et impletae sunt nuptiae discumbentium.

Segundo a interpretação dos doutores, o rei da presente parábola é o Pai Eterno; o esposo é seu Filho Jesus Cristo; a e a esposa, a Igreja Católica. Pelo banquete nupcial entendem-se a doutrina evangélica, os santos sacramentos e a abundância de todas as graças celestiais. Para este banquete místico fez o Senhor convidar primeiramente os Hebreus, por meio dos profetas e dos apóstolos. Mas, eles, desprezando o convite, maltrataram e mataram os ministros de Deus, e por isso foram expulsos e pereceram na destruição de Jerusalém. E em lugar dos Hebreus foram chamados os gentios, que andavam no caminho largo que leva ao inferno.

Meu irmão, também tu, descendente de antepassados pagãos e sem algum merecimento próprio, pertences ao número destes felizes convidados. Considera, portanto, atentamente o amor especial que Deus te mostrou, agradece-lhe e repara como até agora lhe tens correspondido. Oh! Quantos se tornariam santos, e grandes santos, se lhes tivesse sido dada a mesma abundância de recursos espirituais como a ti! Ao passo que tu há muitos anos talvez estais dormindo na tibieza, e sabe lá Deus se talvez no pecado!

II. Diz ainda a parábola do Evangelho que “entrando o rei para ver os que estavam à mesa, viu aí um homem que não estava vestindo a veste nupcial. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo a veste nupcial? Mas ele emudeceu. Então disse o rei aos seus ministros: “Atai-o de mãos e pés, e lançai-o nas trevas exteriores: aí haverá choro e ranger de dentes.”

Explicando este trecho, São Gregório diz que “a veste nupcial significa a santa caridade. De modo que os cristãos que pela fé são membros da Igreja, mas não possuem a caridade (isto é, não estão na graça de Deus) são semelhantes àquele homem que quis assistir às bodas, mas sem vestir a veste nupcial”. Por isso, no dia do juízo universal será pronunciada contra eles a mesma sentença daquele infeliz, e serão lançados ao inferno para sofrerem no corpo e na alma o tormento do fogo. — E prouvesse a Deus que fosse pequeno o número desses cristãos insensatos que não põem as obras em harmonia com a fé! Mas o mal está grassando em toda a parte. E por isso o Senhor conclui o Evangelho com estas palavras: Multi sunt vocati, pauci vero electi — “São muitos os chamados e poucos os escolhidos”.

Meu amabilíssimo Jesus, agradeço-Vos o me haverdes chamado com tamanho amor ao banquete místico de vossa Igreja e me haverdes tolerado tanto tempo, apesar de não estar vestido com a veste nupcial. Vejo, ó meu Senhor, que enquanto eu me esquecia de Vós, Vós não Vos esquecíeis de mim. Pesa-me de Vos ter voltado as costas, e resolvido estou a dar-me todo a Vós e a levar uma vida conforme à santa fé que professo. Porque esperar mais? Esperarei porventura até que venha a morte e Vós me condeneis às trevas exteriores, a chorar juntamente com os réprobos?

Não, meu Jesus, não Vos quero mais desagradar; quero amar-Vos com todas as minhas forças para ter um dia parte em vossas núpcias celestiais na pátria bem-aventurada. Ó Deus onipotente e misericordioso, ajudai-me com a vossa divina graça e “apartai de mim, propício, todas as adversidades; para que, expedito na alma e no corpo, com liberdade de espírito eu cumpra o que é de vosso serviço” (1). † Doce Coração de Maria, sêde minha salvação.

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1. Or. Dom.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 152-154.)

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