[Sermão] A Cruz: altar, cátedra e trono de Cristo
Sermão para a Festa da Exaltação da Santa Cruz
14.09.2013 – Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Hoje festejamos a Exaltação da Santa Cruz e também a entrada em vigor do Motu Proprio Summorum Pontificum
(07/07/2007), de Bento XVI, documento que dá maior liberdade para a
Liturgia Tradicional. Devemos manifestar nossa gratidão ao Papa por esse
documento, pois convém reconhecer quando o bem é feito, ainda quando
esse bem realizado é uma questão de justiça. Em todo caso, o documento
vai na boa direção. Nele, o Papa afirma, com um argumento de fundo
teológico, que a liturgia Tradicional não foi jamais ab-rogada: “Aquilo
que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande
também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou
mesmo prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as riquezas que foram
crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar.” No
documento de aplicação do Motu Proprio, a Instrução Universae Ecclesiae,
temos o objetivo primeiro dessa liberdade reconhecida para a Missa
Tradicional: “oferecer a todos os fiéis a Liturgia Romana segundo o Usus Antiquior,
considerada como um tesouro precioso a ser conservado.” Portanto, o
objetivo é que a Liturgia Tradicional, tesouro precioso, seja oferecida a
todos os fiéis. E não é sem razão que a entrada em vigor desse
documento coincide com a Exaltação da Santa Cruz, já que pela Missa
Tradicional o sacrifício do calvário se renova de maneira sublime,
aplicando abundantemente as graças obtidas por Cristo na Cruz. Tal
aplicação sublime exalta a Cruz de Cristo.
“Nós, porém, devemos nos gloriar na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.”
A Festa de hoje nos lembra do fato
histórico ocorrido em 628, ano em que o Imperador Heráclio conseguiu
tomar de volta a Cruz de Cristo, que havia sido levada de Jerusalém
pelos Persas, que a profanaram enormemente. Tendo recuperado a Santa
Cruz, Heráclio quis entrar em Jerusalém carregando ele mesmo o Santo
Lenho em ação de graças pela vitória. Todavia, vestido com todas as
insígnias imperiais, não pôde entrar em Jerusalém, detido por uma força
invisível. O Patriarca de Jerusalém assinalou ao Imperador que não
convinha carregar com tanto aparato a Cruz que Nosso Senhor carregou com
tanta humildade. Despojado de todo o aparato imperial, Heráclio
conseguiu entrar em Jerusalém carregando a Cruz.
A Festa de hoje é a exaltação do
instrumento de nossa salvação, que é a Cruz. A Festa de hoje nos recorda
que é pela morte de NS, pela morte de Cruz de NS, que nós somos salvos.
É pela Cruz que nos vem a vida e a ressurreição. A única coisa que
importa nesse mundo é a Cruz, é a nossa salvação, caros católicos.
A cruz era antigamente um sinal de
opróbrio, de maldição, de horror. Maldito o homem que pende da cruz,
dizia a Sagrada Escritura. A Cruz era o suplício reservado aos maiores
criminosos e aos escravos. Depois, porém, que NS morreu sobre ela,
tornou-se sinal de glória, de bênção, de amor. Essa mudança se fez
porque Cristo, morrendo sobre ela, a consagrou. Ele fez da Cruz o altar
em que se imola, a cátedra de onde nos instrui, e o trono de onde reina
sobre o mundo.
Ele fez dela seu altar. Depois do pecado
original, o homem já não podia encontrar a salvação. Como reparar pelo
pecado, que ofendeu infinitamente a majestade divina? Seria impossível. O
homem poderia oferecer todos os sacrifícios, até a própria vida, e não
conseguiria obter perdão, não conseguiria satisfazer pelo seu pecado.
Para satisfazer plenamente por nossos pecados, o Verbo se Encarnou. Mas
não se contentou somente em vir ao mundo, o que já era suficiente. Sendo
Cristo homem e Deus, suas ações têm um valor infinito. A menor das
ações de Cristo já seria suficiente para satisfazer por todos os pecados
do mundo inteiro. Mas o Filho de Deus veio ao mundo para morrer na
Cruz. Para morrer na Cruz, a fim de satisfazer pelos nossos pecados e
para mostrar o tamanho de seu amor por nós. Ele amou os homens até a
morte e morte de Cruz. É na Cruz que Cristo se imola e que oferece seu
sacrifício para a nossa redenção. É do altar da Cruz que nos vem todo o
bem: o perdão de nossos pecados e todas as graças, que nos são aplicadas
pela Santa Missa, renovação do sacrifício da Cruz.
A Cruz é também a cátedra de onde NS nos
instrui. Santo Agostinho a chama Cátedra do Mestre que ensina (cathedra
magistri docentis). Na Cruz, NS nos ensina a santidade. Ali, elevado, NS
nos mostra o que realmente tem valor nesse mundo: fazer em todas as
coisas a vontade de Deus. Ali, elevado no madeiro, NS nos ensina todas
as virtudes: a conformidade com a vontade de Deus, a fortaleza, a
paciência, a mortificação, a caridade, enfim, todas as virtudes. No
madeiro, flagelado e coroado de espinhos, NS nos ensina as consequências
do pecado, Ele nos ensina a gravidade de nossos pecados. Consideremos,
caros católicos, em que estado nossos pecados deixam o Verbo Encarnado.
Na Cruz, Ele nos ensina que podemos obter misericórdia, com o exemplo do
bom ladrão. Mas nos ensina também que podemos, infelizmente, recusar a
graça, como o mau ladrão. Ali, Ele nos ensina o valor da graça e da
nossa alma, pois para nos alcançar a graça e alcançar a redenção de
nossa alma, NS, homem e Deus, pagou o preço de seu sangue derramado na
Cruz. Da Cruz, Nosso Salvador nos ensina que, para alcançar o céu, é
preciso segui-lo, carregando com a ajuda d’Ele as nossas cruzes,
suportando-as com paciência e, mais do que isso, abraçando-as com amor.
A Cruz de Cristo é o trono de onde Ele
reina. Ele reina, tendo agradado infinitamente à Santíssima Trindade com
seu sacrifício na Cruz. Ele reina sobre nós, tendo nos redimido e
resgatado com seu sangue. Ele reina sobre a morte e o inferno, tendo
ressuscitado em virtude de sua morte na Cruz. Ele reina sobre todas as
criaturas, e diante dEle, todo joelho deve se dobrar no céu, na terra e
no inferno. Pela Cruz, Cristo foi anunciado, conhecido, adorado amado
por toda a terra. O Senhor reinou a partir do madeiro.
Não sem razão – dizia eu antes de começar
o sermão – o documento papal reconhecendo a liberdade da Missa
Tradicional entrou em vigor no dia 14 de setembro, dia da Exaltação da
Santa Cruz. Não sem razão porque a Missa Tradicional expressa
perfeitamente esses três aspectos da cruz de Cristo: o altar, a cátedra,
o trono. Ela exprime o altar porque na liturgia Tradicional é
claríssimo que o que está ocorrendo sobre o altar é o sacrifício da Cruz
renovado de forma incruenta, sem sangue, e que ele se realiza em
particular para o perdão dos nossos pecados. Ela exprime perfeitamente a
cátedra, nos ensinando todas as virtudes, nos ensinando com toda
segurança a doutrina católica, sobretudo quanto à presença real de
Cristo em corpo, alma, sangue e divindade depois da consagração. Ela
exprime perfeitamente o trono de Cristo, pois aqui, tudo, absolutamente
tudo está orientado para NSJC e submetido a Ele, sem espaço para que nós
nos tornemos o centro da Missa.
Quanto a Cruz de Cristo deve ser
exaltada, caros católicos, Cruz de onde pendeu a nossa Salvação! Mas
quantos, infelizmente, são os inimigos da Cruz de Cristo. Quantos querem
tirar de nossa sociedade a Cruz de Cristo. Quantos querem tirá-la dos
locais públicos, dos tribunais, dos hospitais, das escolas. Quantos
querem tirar de nossa sociedade a salvação trazida por Cristo. Quantos
de nós, por nossos pecados, renegamos a Cruz de Cristo e a salvação que
ela nos traz. Mas a Cruz de Cristo permanecerá como o único meio de
salvação. Dum volvitur orbis, stat Crux. Enquanto o mundo gira e
muda, a Cruz permanece. Desde o início do mundo até o final dos tempos, é
Cristo crucificado que pode nos salvar. Não há ressurreição, não há
vida eterna sem a Cruz, sem a Cruz de Cristo e sem as nossas cruzes
carregadas no quotidiano em união com Cristo. Digamos e façamos como São
Paulo: gloriemo-nos somente na Cruz de Cristo. Dizia o Santo Apóstolo:
longe de mim o gloriar-me, a não ser o gloriar-me da Cruz de Cristo.
E Essa Cruz de Cristo está aqui diante de
nós, sobre o altar. Mas é no momento da consagração que essa Cruz se
fará presente, se renovará. Unamo-nos à Cruz de Cristo, unamo-nos a
Cristo na Santa Missa, para nos oferecermos inteiramente a Ele, com tudo
o que somos e temos.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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