O Livro da Confiança
Pe. Thomas de Saint Laurent
Capítulo VI - Frutos da Confiança
I - A Confiança glorifica a Deus
O melhor elogio que se possa fazer da confiança consiste em mostrar os seus frutos: será o assunto deste último capítulo.
Possam as considerações seguintes encorajar as almas inquietas e fazê-las vencer enfim a sua pusilanimidade, ensinando-as a praticar perfeitamente essa preciosa virtude.
A confiança não evolui nas esferas mais modestas das virtudes morais; ela eleva-se de um salto até ao trono do Eterno, até ao próprio Coração do Pai celeste. Rende uma excelente homenagem às suas perfeições infinitas: à bondade, porque só dEle espera o auxílio necessário; ao poder, porque despreza qualquer outra força que não seja a sua; à ciência, porque reconhece a sabedoria da sua intervenção soberana; à fidelidade, porque conta, sem hesitações, com a palavra divina.
Participa, pois, essa virtude, ao mesmo tempo, do louvor e da adoração.
Ora, nas diversas manifestações da vida religiosa, nenhum ato é mais elevado do que esses; são os atos sublimes em que se ocupam, no Céu, os Espíritos bem-aventurados. Os Serafins velam a face com as asas em presença do Altíssimo e os Coros angélicos repetem-Lhe, enlevados, a sua tríplice aclamação.
A confiança resume, numa luminosa e dulcíssima síntese, as três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade. Por isso o Profeta, deslumbrado pelo brilho dessa virtude, sente-se incapaz de conter a admiração e exclama com entusiasmo: “Bendito o homem que confia em Deus!” (60).
Ao contrário, a alma sem confiança ultraja o Senhor. Duvida da sua providência, da sua bondade e do seu amor. Vai procurar o amparo das criaturas; chega até por vezes, nos nossos dias, a entregar-se a práticas supersticiosas. A infeliz apóia-se sobre esteios frágeis que se quebrarão sob o seu peso e a ferirão cruelmente.
E Deus irrita-se com tal ofensa.
O 4ª Livro dos Reis conta que Ocosias, doente, mandou consultar os sacerdotes dos ídolos. Jeová encolerizou-Se; encarregou o Profeta Elias de transmitir terríveis ameaças ao Soberano: “Porventura, não haverá um Deus em Israel, para que consultes Belzebu, o deus de Acaron? Eis porque já não te levantarás da cama em que jazes, mas certissimamente morrerás” (61).
O cristão que duvida da bondade divina, e restringe as suas esperanças às criaturas, não merecerá a mesma censura? Não se expõe a justo castigo? A Providência não vela, por acaso, sobre ele, para que lhe seja preciso dirigir-se loucamente a seres débeis e fracos, incapazes de lhe vir em auxílio?
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60 ) Jeremias, 17, 7.61 ) II Reis, 1, 6.
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