8 de setembro de 2013

DÉCIMO SEXTO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES.

Centro da infalibilidade

O Evangelho de hoje nos faz assistir a uma Ceia em que Jesus tomou parte com os fariseus.

Um ponto de doutrina é logo levantado por estes censores farisaicos. É permitido ou não curar em dia de Sábado?

A pergunta era importantíssima para os judeus materialistas, escravos da letra, que mata; e entre eles havia discussões continuas a respeito.

Jesus vai resolver o problema. Ele é a autoridade suprema, o órgão da verdade infalível e o assunto da pergunta toca ao âmago da moral e da disciplina.

Temos aqui, diante de nós, os dois elementos que estamos a meditar para ter uma compreensão completa e nítida da infalibilidade.

1. O órgão desta infalibilidade.
2. O objeto da infalibilidade.

Aqui o órgão é Jesus Cristo e o objeto a santificação do Sábado. Na Igreja este órgão é o Papa, representante de Cristo e o objeto é tudo o que diz respeito à fé e à moral.

I. O órgão da infalibilidade

Qual é o órgão próprio a infalibilidade?

Este órgão é o próprio Papa.

Sempre a Igreja acreditou na existência desta prerrogativa, mas houve, às vezes, erros, no tocante ao órgão da infalibilidade.

Uns julgavam que ela estivesse como que difundida no corpo docente da Igreja.

Era uma opinião humana.

Mil ou dois mil Bispos dificilmente se enganam.

A infalibilidade, porém, sendo uma prerrogativa divina, não pode depender do número.

O que provém do número, provém da terra.

Nas coisas divinas, o número não tem valor.

Citando um texto dos livros sagrados, tanto prova este um, como provam vinte.

Se um bispo não é infalível, nem cinqüenta, ou mil o serão.

A infalibilidade é uma prerrogativa completa em si; quem a possui, possui-a inteira; quem a não possui inteira, nem tão pouco em parte.

Não pode haver o mais ou menos neste privilégio: é uma prerrogativa integral e completa.

Eis porque o Concílio do Vaticano proclamou solenemente que tal privilégio reside na pessoa do Papa.

Na pessoa do Papa, não como escritor, como pregador, legislador ou teólogo, pois tudo isso pode sê-lo, sem ser Papa, mas o que não pode ser sem ser Papa é: Doutor universal da Igreja.

É, pois, neste título, em outros termos, é na função de Doutor universal que o Papa é infalível.

Esta função exige que fale o Papa à Igreja inteira, definindo um ponto de doutrina ou de moral.

E para concentrar ainda mais o ponto essencial da infalibilidade, nos próprios decretos dogmáticos, é preciso destacar a decisão dogmática, pois é nesta decisão que está concentrada a sua infalibilidade.

As considerações que precedem, os diferentes argumentos que dispõem o espírito, não se encontram na decisão dogmática, mas preparam esta decisão; e não entrando na decisão, não pertencem à infalibilidade.

É infalível a decisão clara, solene, em que o Papa afirma que tal e tal verdade foi revelada por Deus, e que é preciso crer nela, sob pena de ser excluído do seio da Igreja.

Assim, bem determinada, a infalibilidade não é mais um privilégio vago, confuso, ligado à pessoa do Papa, de que pode usar ou não usar à vontade, quase sem que o saiba.

Nada disso: É um privilégio ligado à função solene e rara, e que interessa à Igreja inteira, pela qual o Papa determina que tal ponto de doutrina deve ser admitido por todos.

II. O objeto da infalibilidade

Já foi indicado várias vezes, porém é bom repetí-lo em síntese para mais clareza do assunto.

O Concílio do Vaticano indica claramente que o objeto próprio da infalibilidade é tudo o que diz respeito à fé ou à moral.

Santo Antônio, 14 séculos antes, já havia indicado teologicamente este objeto.

“É necessário admitir na Igreja, diz ele, um único Chefe, a quem pertence resolver as dúvidas em tudo o que diz respeito à fé, seja na ordem especulativa, seja na ordem prática”.

De fato, a Igreja foi fundada para iluminar o nosso espírito e dirigir a nossa consciência.

É, pois, absolutamente necessário que ela não possa exigir de seus súditos um ato de fé em um erro, ou um ato de obediência a um vício. O seu arbítrio é a verdade ou a santidade sobrenaturais.

No terceiro capítulo, o Concílio do Vaticano declara que o Papa possui pleno e soberano poder, não somente nas coisas que dizem respeito à fé e à moral, mas ainda nestas que se referem à disciplina e ao governo da Igreja.

Devemos agora fazer notar que estes dois últimos, embora dependentes do poder supremo do Papa, não são, entretanto, objeto da infalibilidade.

O próprio Concílio o faz notar no capítulo quarto das sessões, onde, deixando de lado a disciplina e o governo da Igreja, declara que o objeto próprio da infalibilidade é a fé e a moral.

Duas condições são essencialmente exigidas para o exercício da infalibilidade:

1. O objeto da decisão deve ser uma doutrina que se refira à fé e à moral.
2. O Papa deve declara, ex-cathedra, em virtude da sua suprema autoridade doutrinal que esta doutrina faz parte integrante da verdade revelada por Deus, que deve ser acreditada pela Igreja católica inteira e que aqueles que não a aceitam deixam de ser membros da Igreja.

Estas duas condições devem ser unidas; faltando uma, não haveria mais definição. Reunidas as duas, há definição dogmática infalível.

III. Conclusão

Concluamos agora claramente o órgão e o objeto da infalibilidade. Este conhecimento dá à nossa fé uma base bem determinada e firme, que não permite à dúvida penetrar em nosso espírito e nos dá uma resposta curta e decisiva para refutar os erros opostos.

A admirável organização da Igreja e a segurança da sua doutrina devem inspirar-nos uma confiança sem limites.

- Piloto, dizia César ao guia da embarcação que o transportava para Farsália, no meio de uma tempestade, Piloto, não tenhas medo, tu levas César e a sua fortuna.

Não tenhamos medo da sorte da barquinha da Igreja! Em redor dela a tempestade, o vício, os poderes, os falso sábios, a hipocrisia e a mentira acusam-na de retrógrada, de intransigente, de tirânica ou de relaxada. É uma verdadeira tempestade, que ruge ao seu redor; pouco importa. Na popa e na proa desta barquinha está gravada esta palavra que os séculos não desmentiram nem apagaram: - Eis que estou convosco até ao fim dos séculos... As portas do inferno não prevalecerão contra ela!

Deus não se desencaminha.
Deus não se engana.
Deus não morre.
É Ele que dirige a sua Igreja pela infalibilidade que lhe outorgou solenemente.

EXEMPLOS

1. Raciocínio de um protestante

Rudlfo Hafest era filho de um Bispo luterano, e converteu-se à religião católica em 1852 pela consideração da necessidade de uma autoridade suprema e infalível na Igreja de Jesus Cristo.

“A Sagrada Escritura é a palavra infalível de Deus, raciocinava ele, os leitores, porém são homens falíveis, de modo que, para conservar a própria infalibilidade de Deus, é preciso que haja uma autoridade viva, instituída por Deus, que esteja acima da Sagrada Escritura e a interprete no seu sentido autêntico.

Tal autoridade existe única e exclusivamente na Igreja Católica; ela é, pois, a única Igreja de Cristo, a única verdadeira. Eis porque desejo humilhar-me diante desta autoridade, ser o seu súdito para sê-lo do próprio Cristo e da sua palavra divina.

É a razão porque deixo de ser luterano e adiro plenamente à religião católica”.

2. A obra dos Papas

Herder, o grande filósofo alemão, escreve: Ninguém pode contestar que o Bispo de Roma ou o Papa, faz muito para o mundo cristão.

Se a extensão do Cristianismo é, em si, um mérito, a sua obra civilizadora é um mérito maior ainda, e o Papa tem este mérito; pois, se a Europa não foi tragada para sempre pelos Hunos, Sarracenos, Tártaros, Turcos, Mongolas, etc., devemo-lo à ação dos Papas.

3. Palavra de Schiller

Já vimos imperadores, reis, políticos ilustres e guerreiros valorosos pisarem com os pés os direitos dos fracos e dos pobres; nunca, porém, isto tem acontecido com os Papa.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 356 - 361)

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