29 de setembro de 2013

DÉCIMO NONO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES.

A primeira definição

O Evangelho nos mostra na narração de hoje, a autoridade de um rei desprezado.

O castigo não se faz esperar: o rei mandou seus exércitos exterminarem os homicidas e porem fogo à sua cidade.

Sente-se na narração e no tom da voz do rei uma autoridade que se impõe e que quer ser obedecida.

Transfiramos esta autoridade para o caso que nos ocupa atualmente, na parte apologética da doutrina, e como conseqüência da primazia outorgada por Jesus Cristo a Pedro, escutemos um instante como Pedro exerce a autoridade infalível com que acaba de ser revestido.

É uma cena tocante e instrutiva. Consideremos as suas duas fases:

1. A resposta de Pedro.
2. A confirmação de Jesus.

Teremos deste modo, o fato e o ensino doutrinal... o exercício do ofício da infalibilidade e a sua solene confirmação pelo próprio Jesus Cristo.

I. A resposta de Pedro

Jesus disse a Pedro, depois de o ter examinado demoradamente, como faz notar o Evangelista: intuitus eum: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

Eis Pedro constituído autoridade suprema na Igreja; tal é a sua função própria.

De fato, qual é a função do Papa?

É apresentar ao mundo o Cristo, Filho de Deus vivo, como centro e foco de toda verdade.

É uma cena evangélica de uma suavidade tocante.

Um dia os Apóstolos examinavam o conflito de opiniões que se cruzavam a respeito de seu divino Mestre.

Uns diziam que era Elias, outros que era João Batista, ou qualquer outro profeta.

Jesus interpela-os bruscamente: E vós, quem dizeis que eu sou? (Math. XVI. 15)

Cabe a Pedro, como Chefe da Igreja, dar a primeira definição de fé, da pessoa de Jesus Cristo.

Ele vai dogmatizar!

Sente-se a inspiração do Espírito Santo.

É o Papa dos séculos que vai falar... O Papa assistido por Deus... o Papa infalível... o Papa que lança através dos séculos, a convite de Jesus Cristo, a sua primeira definição doutrinal.

Jesus está ali presente. Os Apóstolos, primeiros Bispos, estão também ali presentes. Todos escutam. É a primeira vez que Pedro vai exercer a sua função oficial sob o olhar do Mestre divino.

- Quem ou eu? Pergunta Jesus.

E sem hesitação, refulgente como o relâmpago... majestoso como o trovão... fulminante como o raio... Deus fala pela boca de Pedro.

Pedro é o canal infalível da infalível verdade. Ele responde:

- Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo!

Está feito: a Igreja está fundada e em pleno exercício das suas faculdades divinas.

Deus escolheu Pedro como o primeiro Chefe desta Igreja; e na mesma ocasião este chefe lança a sua primeira definição dogmática, perante seus colegas, os Apóstolos.

Ele, Pedro, é a pedra fundamental e sobre esta pedra está colocado o trono de Cristo, Filho de Deus vivo.

Pela vez primeira, a proclamação do Papa ecoa através do mundo e continuará a ecoar através dos séculos.

Todos os Papas serão os continuadores deste brado de fé, todos serão o rochedo sobre o qual o Cristo, Filho de Deus vivo, fixará para sempre o seu trono.

Eis que estou convosco até a consumação dos séculos. (Math. XXVIII. 20)

II. A confirmação por Jesus Cristo

Eis agora a confirmação divina do primeiro decreto doutrinal do primeiro Papa.

Nada falta nesta sublime cena.

Pedro falou...

O Cristo confirma a sentença de Pedro, como confirmará as sentenças doutrinais de todos os Papas.

Bem-aventurado és tu, Simão, filho de João: porque não foi a carne nem o sangue que to revelaram, mas meu Pai que está no céu. (Mat. XVI. 17)

Pode haver coisa mais clara e mais positiva? É impossível.

Jesus Cristo não quer proclamar, Ele mesmo, esta verdade. Ele deixa, ou melhor, ordena, que o Chefe infalível da sua Igreja defina a verdade da sua divindade, e Ele mesmo aprova esta proclamação, declarando que não é ele, Pedro, composto de carne e sangue, que faz esta declaração, mas sim, o Pai celeste, que lho revelou, sendo ele, Pedro, o canal infalível da doutrina divina.

Para mostrar que esta proclamação não é um fato isolado na Igreja, o divino Mestre continua: Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela! (Math. XVI. 18)

Eis a perpetuidade da autoridade e da infalibilidade prometidas a Pedro.

Ele proclamará a verdade e as portas do inferno, isto é, os vícios, as paixões, as violências, as hipocrisias, as traições, nunca hão de prevalecer contra a proclamação doutrinal de Pedro e de seus sucessores.

Notem agora a conexão lógica, admirável, entre estas diversas partes, a sucessão divina entre estas partes, a sucessão divina entre cada parte da cena e das palavras.

E para completar a cena admirável e grandiosa, o Salvador, que acaba de construir a sua Igreja, comparando-a a um edifício, continua falando das chaves que fecham os edifícios.

- Eu te darei as chaves do reino dos céus. (Math. XVI. 19) Pedro tem as chaves!

Ninguém entrará senão por seu intermédio.

Ninguém terá autoridade, senão por ele!

Apresentam-se as chaves de uma fortaleza a um rei, para se reconhecer publicamente a sua soberana autoridade.

Entregam-se as chaves a um proprietário, para demonstrar que ele é o dono da casa.

E Jesus Cristo dá as chaves do reino dos céus a Pedro, só a Pedro, exclusivamente a Pedro, para mostrar que ele é o proprietário constituído, oficial, o dono do reino dos céus e que sem ele, contra a vontade dele, ninguém ali há de penetrar!

É claro e é irrefutável!

E para que não exista nenhuma dúvida, como que para refutar de antemão, qualquer falsa interpretação, Jesus completa:

Tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus; e tudo o que desatares sobre a terra, desatado será também nos céus. (Math. XVI. 19)

TUDO! Notai a repetição da palavra: TUDO.

O Mestre divino nada excetua.

Depois de ter feito Pedro, o fundamento da sua Igreja, depois de lhe ter dado as chaves que fecham e abrem soberanamente, Ele lhe dá a administração inteira e absoluta de todos os tesouros que nela estão depositados.

É manifestamente um desígnio de Jesus Cristo, que TUDO na Igreja repouse sobre Pedro só. Não pode haver nada mais claro, mais absoluto e mais sublime que esta divina investidura, seguindo-se à primeira definição doutrinal de Pedro.

III. Conclusão

Compreendeis agora a grandeza divina do trono de São Pedro, tão admiravelmente descrita nos Evangelhos?

O homem sincero e sem preconceitos, não discute tais verdades, pois são de uma evidência tão positiva, que ofuscam o olhar, prostram o homem diante desta obra prima do poder divino, que é o Papa.

Ubi Petrus, ibi Eclesia!

Todos querem conhecer a Igreja verdadeira. Ela é sumamente conhecível. Procurem Pedro. Pedro é a pedra fundamental da Igreja de Jesus Cristo; e encontrando Pedro, estarão no centro do edifício construído pelo divino Mestre.

A Igreja e o Papa são uma coisa só!

A Igreja não repousa simplesmente sobre o Papa, como sobre um alicerce: neste caso seria um edifício morto; mas é o Papa que constitui a Igreja.

É o Papa que faz a Igreja una, santa, católica e apostólica, marcando-a com estas quatro grandes propriedades, reservadas e incomunicáveis.

O Papa é o princípio da unidade da Igreja;
É o motor da sua catolicidade;
É a fonte da sua santidade;
É o tronco da sua apostolicidade.
Tudo repousa sobre ele.

Ó, Pedro! Ó, Papa! Em que creríamos nós, no meio das vacilações deste mundo senão em vós? Vós tendes as palavras da vida eterna.

O Papa é invencível, é imutável.

Tudo neste mundo pode desfalecer, exceto a fé e a doutrina de Pedro.

Os homens erram... os gênios mais profundos têm o seu lado fraco: só o Papa não erra, nem possui seu lado fraco. Ele é a luz do mundo, ele é o sal da terra, ele é o farol divino, que ilumina as trevas da terra!

Apoiemo-nos sobre Pedro.

Sigamos a Palavra do Papa.

Ele é homem, mas representa a verdade divina... Ele é o representante do Cristo Filho de Deus. (Joan. VI. 68)

EXEMPLOS

1. O ancião de Roma

Após estas considerações gerais, os protestantes podem e devem compreender a razão porque o Papa mora num palácio e cerca-se de majestade, sem, com isso, afastar-se dos exemplos e da doutrina do divino Mestre que disse: As raposas tem suas covas e as aves do céu os seus ninhos; porém o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. (Math. VIII. 20) Jesus Cristo nada possuía para si próprio, mas sempre achava um agasalho onde passar à noite e aí reunir os seus discípulos.

O Papa é tão pobre como o seu divino Mestre, e foi por ser ele pobre que a Igreja construiu-lhe um palácio, o Vaticano, que é o patrimônio da Igreja universal, mas este patrimônio não pertence a nenhum Papa em particular.

O Papa é pobre, mora em um palácio que não é propriedade sua, mas pertence à Igreja Católica; vive por assim dizer, da caridade de seus filhos que o sustentam.

O Papa aparece majestoso, mas com paramentos e adornos que são próprios à sua DIGNIDADE e não à sua pessoa CIVIL.

Ele vive no Vaticano, longe da família e dos amigos, unicamente cercado pelos seus auxiliares na administração, exercendo uma atividade que se pode chamar quase milagrosa.

O Papa é um cidadão venerável, pela idade, pelo saber, pela virtude e, muitas vezes, pelo sangue. Um ancião, já exausto pelos trabalhos do ministério das almas, que não vive mais para si, mas unicamente para o imenso rebanho que lhe foi confiado.

E este ancião, vestido de branco, descendente de uma estirpe imortal, anel vivo de uma corrente inquebrantável, coluna indestrutível, contra a qual se quebram os dentes das feras humanas, como os golpes dos tiranos; este homem está sempre sorridente, calmo, dominando os tempos, os séculos, e os impérios.

O mar das paixões, o oceano da corrupção, o vulcão do ódio, como os esgotos dos vícios lançam-lhe a lama e as suas lavas ferventes, e este ancião, com a mesma mão que abençoa os seus filhos fiéis, abençoa também os que o maldizem e blasfemam. (O Chr., o P. e a Igreja)

2. Réplica a Napoleão


Durante o desacordo do Papa Pio VII e Napoleão, este disse um dia a seu primo Dom Barral, Bispo de Tours:

- Não é, primo, a Igreja bem pode dispensar o Papa?
- Sim, Sire, respondeu o Prelado, como o exército pode dispensar Napoleão.

O Imperador sorriu... estava ao mesmo tempo vencido e contente.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 381 - 388)

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