11 de setembro de 2013

Confiança! - Pe. Thomas de Saint Laurent - 22

O Livro da Confiança

Pe. Thomas de Saint Laurent


Capítulo V - Razões da confiança em Deus

III - Sua Bondade

A verdade é que Nosso Senhor é adoravelmente bom: o seu Coração não pode ver sofrer, sem sangrar. Essa piedade fá-Lo operar alguns dos seus maiores milagres espontaneamente, antes mesmo de ter recebido qualquer súplica.

A multidão segue-O através das montanhas desertas da Palestina; durante três dias, esquece-se, para ouvi-Lo, da necessidade de comer e de beber. O Mestre chama, porém, os Apóstolos: “Vede essa pobre gente, diz-lhes: não os posso despedir assim: cairiam de inanição no caminho. Tenho pena dessa multidão” (56). E multiplica os poucos pães que restavam aos discípulos.
 
Outra vez, dirigia-se Ele à pequena cidade de Naim, escoltado por uma turba bastante numerosa. Quase ao chegar às portas, encontra um cortejo fúnebre. Era um jovem que levavam para a última morada: filho único de pobre mãe viúva. Nada esperando mais da vida, em profundo desalento, seguia, lamentavelmente, a triste mulher o corpo do seu filho. A vista dessa dor muda emocionou vivamente o Mestre. Tomou-se de misericórdia. “Pobre mãe aflita, disse, não chores!” (57). E, aproximando-se da padiola onde jazia o cadáver, restitui vivo o jovem à sua mãe.
 
Almas feridas pela provação: consciências perturbadas pela dúvida, talvez, ou pelo remorso: corações torturados pela traição ou pela morte; vós que sofreis, acreditais, por acaso, que Jesus não tenha piedade das vossas dores?... Isso seria não compreender o seu imenso amor. Ele conhece as vossas misérias; Ele as vê, e o seu Coração compadece-se delas. É por vós, hoje, que Ele lança o seu brado de compaixão; é a vós que Ele repete, como à viúva de Naim: “Não chores mais, Eu sou a Resignação, Eu sou a Paz, Eu sou a Ressurreição e a Vida!”.
 
Essa confiança, que naturalmente nos deveria inspirar a divina bondade, Nosso Senhor no-la reclama explicitamente. Faz dela condição essencial dos seus benefícios. Vemo-Lo, no Evangelho, exigir atos formais dessa confiança antes de operar certos milagres.
 
Porque é que Ele, sempre tão terno, se mostra assim duro na aparência para com a cananéia que Lhe pede a cura da filha? Repele-a por diversas vezes; mas nada a faz desanimar. Multiplica ela as suas súplicas tocantes; nada lhe diminui a confiança inabalável. Era isso justamente o que pretendia Jesus: “O, mulher, exclama com alegre admiração, grande é a tua confiança!” E acrescenta: “Faça-se como desejas” (58).
 
“Fiat tibi sicut vis”. A confiança obtém a realização dos nossos desejos: é Nosso Senhor, Ele próprio, quem o afirma.
 
Estranha aberração da inteligência humana! Cremos nos milagres do Evangelho, visto que somos católicos convictos: cremos que Cristo nada perdeu do seu poder subindo aos Céus; cremos na sua bondade, provada em toda a sua vida... E, no entanto, não sabemos abandonar-nos à confiança nEle!
 
Como conhecemos mal o Coração de Jesus! Obstinamo-nos a julgá-Lo pelos nossos fracos corações: parece em verdade que queremos reduzir a sua imensidade às nossas mesquinhas proporções: Custa-nos admitir essa incrível misericórdia para com os pecadores, porque somos vingativos e lentos em perdoar. Comparamos a sua infinita ternura com os nossos pequeninos afetos... nada podemos compreender desse fogo devorador que fazia do seu Coração um imenso braseiro de amor, dessa santa paixão pelos homens que O dominava completamente, dessa caridade infinita que O levou das humilhações do Presépio ao sacrifício do Gólgota.
 
Infelizmente, não podemos dizer com o Apóstolo São João, na plenitude da nossa fé: “Cremos, Senhor, no vosso amor!” - “Credidimus caritati” (59).
 
Mestre Divino, queremos doravante abandonar-nos inteiramente à vossa direção amorosa. Confiamo-Vos o cuidado do nosso futuro material. Ignoramos o que nos reserva esse futuro, sombrio de ameaças. Mas abandonamo-nos às mãos da vossa Providência.
 
Confiamos ao vosso Coração os nossos pesares. São por vezes terrivelmente cruéis. Mas Vós estais connosco para suavizá-los.
 
Confiamos à vossa misericórdia as nossas misérias morais. A fraqueza humana faz-nos temer todos os desfalecimentos. Mas Vós, Senhor, haveis de nos amparar e preservar das grandes quedas. 

Como o Apóstolo preferido que repousou a cabeça sobre o vosso peito, assim pousaremos nós sobre o vosso Divino Coração; e, segundo a palavra do Salmista, aí dormiremos em deliciosa paz, porque estaremos, Oh! Jesus, radicados por Vós numa confiança inalterável.

_______________________________________
56 ) Mc. 8, 2.
57 ) Lc. 7, 13.
58 ) Mt. 15, 28.
59 ) 1 Jo. 4, 16.

Nenhum comentário:

Postar um comentário