1 de setembro de 2013

DÉCIMO QUINTO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES.

Necessidade da infalibilidade

Tocante página a do Evangelho de hoje! Através de cada linha ouve-se como ressoar a voz suave do bom Mestre: Não chores... Moço, eu te ordeno, levanta-te... e Jesus o restitui à sua mãe.

Cena de tristeza e cena de alegria sucedem-se no intervalo de umas palavras.

O tom da voz de Jesus possui aqui um caráter especial; além da ternura que vem de seu coração, nota-se a firmeza, a convicção com que se dirige ao jovem falecido: Moço eu te ordeno, e a conseqüência desta convicção, que é a ressurreição do morto.

A Igreja Católica, continuação viva e eterna do poder de Jesus Cristo, possui esta mesma convicção de seu poder e as conseqüências são sempre as mesmas: consolar e consolidar as almas no bem.

Vejamos hoje este duplo aspecto na prerrogativa da infalibilidade que estamos meditando.

1. A convicção da Igreja ser infalível.
2. As conseqüências para cada fiel.

Eis dois pontos que vão fornecer-nos uma prova apologética da necessidade de a Igreja ser infalível, mostrando em plena luz: o fato e as conseqüências.

I. A convicção de ser infalível

A Igreja é infalível: ela sempre o acreditou, sempre o afirmou, teve sempre a plena convicção desta prerrogativa.

Esta convicção é uma prova de sua divindade.

Percorrei a lista das seitas religiosas: são muitas, de diversos credos, diversas concepções, desde o grosseiro fetichismo até o orgulhoso positivismo.

Examinai as suas doutrinas, em todas elas encontrareis pontos de contato, concordâncias parciais, pois todas elas tem por fim aproximar o homem de Deus.

Há, porém, um ponto, em que nenhuma seita concorda com a religião católica: é a infalibilidade de seu chefe.

Entre todas as religiões, só a Católica teve a ousadia, a simplicidade, ou então a sublimidade de acreditar na infalibilidade de seu chefe supremo.

É, de fato, muita ousadia... ousadia tão grande que só pode vir do céu ou do inferno, mas nunca dos homens.

O homem pode ser orgulhoso como quiser, mas nunca teve, nem terá a coragem de outorgar-se a infalibilidade. Porque isso?

Porque ele sente que está se enganando a cada instante... todos acreditam em seus erros, porque são palpáveis.

Tal palavra: infalibilidade, nem sequer foi conhecida pelos antigos.

Os velhos poetas, filósofos, como Platão, Sócrates, Cícero, Horácio, tinham fé na ciência em geral, mas desconfiavam da sua ciência em particular, sentindo-a fraca, falha, incompleta.

Jesus Cristo veio a este mundo e proclamou a infalibilidade da sua Igreja, e esta proclamação, através dos séculos, das nações, permanece sempre patrimônio exclusivo desta Igreja.

As heresias nascem, separam-se da Igreja de Cristo, formam seitas religiosas, conservam certas práticas e até sacramentos da mesma Igreja. Nenhuma seita, porém, teve a ousadia de pretender para o seu chefe o dom da infalibilidade.

Nem Lutero, nem Calvino, nem Henrique VIII, nem o Czar da Rússia, nem o rei da Inglaterra tiveram a coragem de se arrogar a infalibilidade.

Eles mesmos sentiam que se o fizessem, o mundo zombaria por demais de suas pretensões... todos ririam de tanta audácia.

A Igreja Católica acredita em sua infalibilidade e professa esta doutrina como dogma de fé... e ninguém zomba dela.

O protestante empalidece de raiva, faz mil objeções, mas sente-se vencido diante da autoridade do Papa!

E curioso é o fato de a Igreja ter tido a coragem de proclamar tal verdade.

É mais curioso ainda que nenhuma seita religiosa vendo a autoridade predominante que a Igreja adquire com esta prerrogativa, não tenha tido a coragem de imitá-la.

A ousadia da Igreja Católica neste particular é prova da sua divindade.

O medo que as seitas têm de recorrer a este poder é prova de seus erros.

A toda seita falta qualquer coisa de essencial: é a infalibilidade.

E não tem a coragem de reivindicá-la, porque sente que sendo da terra, não tem direito a um privilégio que vem do Céu.

A infalibilidade na constituição de uma religião divina é absolutamente necessária; senão o divino estaria sujeito ao humano, e tal religião não seria mais divina.

Tal privilégio só existe na Igreja Católica.

Só ela, pois, é divina e, por conseguinte: verdadeira.

II. Conseqüência para cada fiel

Eis um ponto pouco estudado e, entretanto, de imensa extensão.

Se dissesse que a ação católica, tão espalhada hoje e tão querida pelos Pontífices Romanos, é uma conseqüência direta da infalibilidade, diria uma grande verdade que muitos não compreenderiam à primeira vista.

Entretanto o fato é certo: e não será difícil compreender o fundo desta asserção.

Deus não semeou as verdades em sua Igreja como se depositam pedras inertes na construção de um monumento, mas sim, como germens vivos que devem desabrochar, como sementes de uma fecundidade inexaurível.

Estas verdades latentes devem ser cultivadas para que possam dar o seu fruto; e é o espírito humano que deve fazer esta cultura e fazê-la produzir frutos sazonados.

E como esta obra é de uma delicadeza infinita, Deus dá a um espírito humano o dom da infalibilidade, para que este homem possa guiar, sustentar a cultura das verdades divinas, como o jardineiro orienta os operários para que cada planta seja cultivada conforme as exigências da sua espécie.

Todos nós somos operários na vinha do Senhor; porém deve haver um mestre que dirija estes operários e indique a cada um a tarefa própria para alcançar o resultado comum do conjunto.

O homem, de fato, não entrou na Igreja de um modo passivo, inerte, mas sim ativo, porque fica encarregado de estudar os dogmas, de desenvolvê-los, de tirar deles conseqüências, de fazer aplicações na ordem da sua esfera. É a base e a razão de ser da ação católica.

Não é somente o Papa que pode e deve tirar conclusões novas dos princípios estabelecidos pelo Evangelho: ele é o orientador, o Mestre, mas cada fiel pode agir, meditar, estudar e tirar conclusões teológicas, que serão boas, desde que recebam a aprovação do orientador geral: o Papa.

É o que explica a origem de muitas devoções.

Santa Juliana é a fundadora da adoração das 40 horas. . .

Santa Margarida Maria é a operária do desenvolvimento do culto do Coração de Jesus.

O santo Padre Eudes é o promotor do culto do Coração de Maria, o Bem-aventurado de Montfort, da devoção da santa escravidão - Santa Terezinha, da prática da santa infância, etc, etc.

Eis a atividade dos simples fiéis. O orientador geral rejeita ou aprova estas práticas: e a sua palavra infalível é o tutor que os sustenta como é a sentença que lhes dá vida.

Sem esta palavra infalível a Igreja Católica tão una e unida, seria o que é o protestantismo: uma balbúrdia, um corpo sem cabeça ou uma cabeça sem mioleira.

Com esta palavra infalível, toda a cristandade, todo católico pode trabalhar, estudar, interpretar, mas deve submeter a sua obra ao guia supremo, ao Papa, e eis que na imensa variedade das ações aparece a unidade perfeita da doutrina.

É a grande maravilha da Igreja de Cristo: é um dos sinais característicos que a distinguem das demais seitas religiosas erradas.

III. Conclusão

Eis dois argumentos irrefutáveis, apologéticos que provam a existência e o exercício da infalibilidade da Igreja Católica.

A Igreja sempre acreditou nesta prerrogativa e sempre agiu nesta convicção.

A ação católica que permite a cada católico agir sob a orientação dos superiores eclesiásticos, sem que desta variedade de ação surja a ruptura da unidade perfeita da Igreja

É uma prerrogativa divina e esta prerrogativa pertence exclusivamente à Igreja Católica.

Logo, ela é a única Igreja de Jesus Cristo e todas as demais seitas são errôneas.

Sentimos a necessidade da infalibilidade como sentimos os imensos benefícios que nos traz da firmeza da nossa fé e da nossa ação.

EXEMPLO

Pesquisas de um protestante

A canonização dos Santos é um ato da infalibilidade do Papa, de modo que o Papa, declarando solenemente a heroicidade das virtudes de um Santo, tal declaração torna-se exercício da sua infalibilidade, devendo ser admitida pela Igreja inteira.

Há anos, um sábio professor protestante inglês da Universidade de Oxford quis examinar de perto e de visu o proceder das canonizações, para encontrar falhas nos exames e decisões.

Partiu para Roma com carta de recomendação, pedindo para examinar por si mesmo documentos das canonizações.

O cordial prefeito, encarregado das causas, entregou-lhe o processo completo, pró e contra de umas oitenta CAUSAS em julgamento.

O professor levou os documentos para o hotel, onde, durante um mês, examinou-os detidamente, confrontando as razões a favor, citadas pelo defensor e as razões contra, dadas pelo contraditor.

Examinou, confrontou, tirou as suas conclusões favoráveis e convenceu-se de que todos os fatos, a doutrina, as virtudes e os milagres eram incontestáveis, e que estes nomes mereciam toda a auréola dos santos.

Assim disposto, foi então ter com o cardeal para entregar-lhe os documentos e agradecer-lhe a nímia gentileza, manifestando o resultado positivo de seu inquérito e dizendo-se convencido da rigorosa exatidão dos processos e da certeza dos resultados.

- Ah, se todos os processos fossem deste modo, seguros e provados, exclamou o professor protestante, ninguém mais podia duvidar dos santos existentes na Igreja Romana.

Mas, qual não foi o seu espanto, quando o cardeal lhe respondeu:

- Pois bem, todas estas causas que o senhor julgou irrefutáveis e certas, foram rejeitadas pela Igreja como insuficientes; nenhum destes milagres foi aprovado pela comissão.

O professor caiu das nuvens... ou melhor, saiu do erro protestante, e hoje venera e invoca os santos com tanto mais fervor quanto mais os desprezara antes, enquanto protestante.

Convenceu-se o homem que as declarações do Papa tem base sólida e obedecem a todas regras da prudência e sabedoria, e são, mesmo humanamente falando, documentos de primeiro valor, sem falar da assistência divina que assiste o Papa, quando se dirige à Igreja inteira, proclamando que tal verdade deve ser admitida como dogma de fé.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 347 - 354)

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