[Sermão] A Igreja e sua doutrina
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Nosso Senhor, vindo ao mundo para nos
salvar com sua caridade e misericórdia infinita, caros católicos, nos
ensinou a verdade e nos instrui a amar a verdade, nos instruiu a aderir a
ela e a colocá-la em prática. Nosso Senhor veio nos trazer a salvação.
Todavia, sabendo que voltaria ao Pai, de onde veio, instituiu a Igreja,
sua esposa imaculada, a fim de que a Igreja pudesse nos transmitir
intactos seus ensinamentos, para que a Igreja prolongasse até o fim dos
tempos os frutos da encarnação e da paixão de Nosso Senhor. A Igreja com
sua doutrina é – como não poderia deixar de ser – fruto da misericórdia
de Cristo.
Algumas questões fundamentais, de grave
importância foram suscitadas, agitadas, durante a semana com relação à
Igreja e à sua doutrina. Convém muitíssimo deixar alguns pontos claros
com relação à Igreja e à sua doutrina. Como diz São Paulo a Timóteo, é
preciso pregar a palavra a tempo e fora de tempo, repreendendo,
suplicando, admoestando, com toda paciência e doutrina. (II Tim. 4, 2)
Nosso Senhor fundou a Igreja, caros
católicos. A Igreja, como nos diz o catecismo de São Pio X, é a
sociedade de todas as pessoas batizadas que, vivendo na terra, professam
a mesma fé e a mesma lei de Cristo, participam dos mesmos sacramentos, e
obedecem aos legítimos pastores, principalmente ao Romano Pontífice. A
Igreja não é algo vago, etéreo, nebuloso. A Igreja também não é
simplesmente, sem mais nem menos, o povo de Deus. A definição da Igreja
como simples povo de Deus resta imprecisa, e define melhor o povo judeu
do que a Igreja fundada por Cristo. O que caracterizaria esse povo de
Deus? Quais as especificidades desse povo? O que une esse povo? É
preciso ter bem presente que a Igreja é uma sociedade. Ela é a sociedade
de todas as pessoas batizadas que, vivendo na terra, professam a mesma
fé e a mesma lei de Cristo, participam dos mesmos sacramentos, e
obedecem aos legítimos pastores, principalmente ao Romano Pontífice. E a
Igreja é uma sociedade perfeita, isso quer dizer que ela possui em si
todos os meios para atingir o seu fim, que é a maior glória de Deus e a
salvação das almas pela aplicação dos méritos infinitos obtidos por
Cristo, pela transmissão do ensinamento de Cristo, pela celebração dos
sacramentos, pela incitação ao amor a Deus e aos seus mandamentos. A
Igreja é essa sociedade de que acabamos de falar, uma sociedade perfeita
porque tem todos os meios para atingir seu fim, que é a glória de Deus e
a salvação das almas. Claro, a Igreja é uma sociedade ao mesmo tempo
divina e humana, portanto, ela é um mistério, mas isso não faz com que
ela deixe de ser uma sociedade visível, externa, definida, para se
tornar algo puramente espiritual, interno e impreciso, sem limites
definidos, de forma que, no fundo, todo mundo faz parte dela. Não. A
Igreja é visível, também externa, uma sociedade bem definida, da qual
são membros os batizados que professam a fé católica, que partilham os
mesmos sacramentos e que obedecem aos legítimos pastores.
A Igreja foi fundada por Cristo. Ela
possui, portanto, uma constituição que lhe foi dada pela Segunda Pessoa
da Santíssima Trindade, por Deus Filho. A Igreja foi constituída por
Deus como Igreja hierárquica. Nosso Senhor escolheu doze homens que Ele
nomeou apóstolos (Marcos 3, 14-16), para que ficassem com Ele e
pregassem (Atos 5, 17). E Nosso Senhor deu aos doze a missão de
continuar a obra da redenção. Nosso Senhor diz aos apóstolos: “Assim
como o Pai me enviou também eu vos envio” (Jo 20, 21). Deus enviou Nosso
Senhor para governar, ensinar e santificar. São justamente os três
poderes que possuem os Apóstolos e seus sucessores, os Bispos: governar,
ensinar, santificar. Portanto, Nosso Senhor escolheu doze e conferiu a
esses doze poderes particulares: governar, ensinar, santificar. Nosso
Senhor constituiu uma hierarquia. A Igreja, por instituição divina é
hierárquica. Mas essa não é uma hierarquia colegial, é, antes, uma
monarquia. A Igreja é uma monarquia, pois Cristo deu a um dos Apóstolos,
São Pedro e aos sucessores de São Pedro, o poder pleno e supremo de
jurisdição e um poder supremo, pleno, ordinário e imediato sobre todas e
cada uma das Igrejas particulares e sobre todos e cada um dos pastores e
fiéis (Conc. Vat. I, Denz. 3064). Nosso Senhor disse a São Pedro: “Tu
és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Eu te darei as
chaves do reino dos céus. Tudo o que ligares na terra será ligado no
céu. Tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 16, 18).
Depois, Nosso Senhor dirá a São Pedro duas vezes: “apascenta os meus
cordeiros” (Jo 21, 15-17). E uma vez: “apascenta minhas ovelhas”
(Ibidem). Os cordeiros são só fiéis, as ovelhas são os Bispos e Padres.
São Pedro, o Papa, deve apascentar todos, deve governar, instruir e
santificar a todos. O que foi divinamente instituído ninguém pode mudar.
E Nosso Senhor assistirá a sua Igreja para que ela permaneça até o fim
dos tempos como ele a instituiu, pois Ele disse que as portas do inferno
não prevaleceriam contra ela e que Ele estaria com a Igreja até a
consumação dos séculos. A natureza da Igreja é, então, a de uma
sociedade hierárquica e monárquica. Nós sabemos que o bem de cada coisa é
agir conforme a sua natureza. Portanto, o bem da Igreja e
consequentemente dos fiéis e de todos os homens se verifica quando os
membros da Igreja agem conforme a sua natureza, respeitando a
instituição divina. Não se trata, em nenhuma hipótese de uma tirania –
como é claro -, pois o tirano governa para o seu próprio bem ou para o
bem de um grupo. O Papa deve governar para o bem dos fiéis, para que os
fiéis alcancem com maior facilidade a salvação. O Papa, sendo o soberano
chefe da Igreja, é, ao mesmo tempo e pelo próprio fato de ser o chefe
supremo, o servo dos servos. Sua função é servir a todos, promulgando
leis que nos levem a Deus, ensinando com clareza e fidelidade a doutrina
de Cristo, assegurando a boa administração dos sacramentos. Agindo
assim, ele espalhará a misericórdia divina sobre a terra e levará as
almas para Deus. Aquilo que muitos desejam, de ver o Papa praticamente
como mais um entre os bispos, de ver a democracia instalada na Igreja é
um grande prejuízo para a Igreja, para as almas. Agir desse modo é um
grande prejuízo para a Igreja e para os homens, é falta de fidelidade a
Cristo. O bem de uma coisa é agir em conformidade com sua natureza e a
natureza da Igreja é hierárquica, monárquica. Isso não significa que o
Papa deva governar sozinho. Não, ele pode e deve pedir conselho, ele
pode e deve ser auxiliado no governo da Igreja, mas jamais deve se
igualar aos outros bispos.
Como vimos, a Igreja tem como finalidade
última a glória de Deus e a salvação das almas. Para atingir esse fim, a
hierarquia recebeu de Cristo, como vimos, o poder de ensinar. Esse
poder de ensinar consiste em transmitir, guardar, declarar, defender,
explicar aquilo que Nosso Senhor ensinou. Aquilo que Nosso Senhor
ensinou não pode mudar. Ele manda que os apóstolos ensinam aquilo que
ouviram e aprenderam (Mt 28, 20; 10, 27) A Revelação feita por Cristo,
se encerrou com a morte do último Apóstolo, São João, no início do
século II. O Espírito Santo, como diz Nosso Senhor, ensinou aos
apóstolos toda as coisas e lembra a eles o que Cristo ensinou (Jo 14,
26). Não há, portanto, mais nada para ser revelado. Tudo o que a Igreja
ensina deve necessariamente estar contido no ensinamento dos Apóstolos. A
Igreja não pode, então, mudar aquilo que Cristo e o Espírito Santo
ensinaram, a Igreja não pode mudar as verdades reveladas, a Igreja não
pode inventar novas verdades reveladas, nem dizer que uma verdade deixou
de ser revelada. A Igreja não pode mudar a interpretação dada a uma
verdade revelada. A Igreja deve sempre interpretar a verdade revelada no
mesmo sentido, com o mesmo entendimento, ainda que mais profundo. Por
exemplo, a Igreja sempre afirmou que a presença de Cristo na Missa, após
a consagração, é uma presença real, substancial, em corpo, sangue, alma
e divindade. A Igreja não pode dizer hoje ou amanhã que a presença de
Cristo na Missa existe, mas que é uma presença simbólica, uma presença
só para os que creem, etc. A Igreja pode aprofundar-se no entendimento
de uma verdade revelada, mas nunca mudando o sentido ou interpretação
dessa verdade. Dessa forma, a Revelação (aqui se incluem as verdades de
fé e também a moral) não pode ser mudada para se adaptar aos tempos
modernos – nem aos antigos, nem a qualquer outro tempo – para se adaptar
à mentalidade do homem contemporâneo. As verdades a serem cridas e
praticadas não vêm do povo, dos fiéis, mas de Cristo e da hierarquia. A
Revelação – a doutrina da Igreja e sua moral – não deve ser lida à luz
da modernidade, a fim se adaptar a essa modernidade. É a modernidade que
deve ser lida à luz da Revelação, a fim de saber o que pode ser
aproveitado da modernidade para o nosso bem. A Igreja tem o dever de se
manter fidelíssima ao depósito da Revelação que ela recebeu de Cristo e
ela é fidelíssima e será fidelíssima. A Igreja guarda intactas e puras
as verdades que recebeu de seu Divino Mestre. Mais uma vez, não é a
Revelação que se adapta ao homem e aos seus gostos e caprichos – isso
seria divinizar o homem, colocá-lo acima de Deus – mas é o homem que
deve ser conformar inteiramente à Revelação. Portanto, a doutrina da fé e
da moral da Igreja não pode mudar, não pode evoluir.
Assim sendo, a Igreja não pode evoluir
quanto ao aborto, quanto ao homossexualismo, quanto à contracepção,
quanto à comunhão dos divorciados recasados, quer dizer, quanto à
comunhão daqueles que se casaram na igreja, se separam e depois se
juntaram com outra pessoa. A Igreja não pode mudar quanto a isso, pela
própria natureza das coisas. E a Igreja deve insistir nesses pontos
porque são pontos de suma importância para o indivíduo, mas, sobretudo,
para a sociedade. O aborto e o homossexualismo são dois pecados que
clamam aos céus por vingança justamente porque são pecados que corroem
os fundamentos da sociedade, causam um mal incomensurável à sociedade. O
primeiro, porque é suma injustiça, é o assassinato de um inocente
indefeso, assassinado por aqueles que mais deveriam protegê-lo e amá-lo.
O segundo, porque destrói inteiramente a base da sociedade, que é a
família, formada para a propagação do gênero humano e para povoar o céu.
É óbvio que a pregação da Igreja não pode nem deve se reduzir a isso.
Mas é preciso insistir nesses pontos, sem esquecer os outros principais,
a existência de Deus, a Trindade de Deus, a Encarnação de Deus Filho,
sua morte por nós na cruz, sua caridade, bondade e misericórdia para
conosco. Se os homens da Igreja insistissem um pouco mais sobre esses
assuntos, talvez a sociedade não estivesse nesse estado, tão afastada de
Deus. Se os homens da Igreja passarem a falar pouco desses assuntos, em
pouco tempo os católicos cederão quase completamente em todos esses
pontos, como já cederam quase completamente em alguns, como é o caso da
contracepção, por exemplo. É preciso falar com frequência sobre esses
assuntos, sem reduzir o catolicismo a eles, como é evidente. Todos esses
pecados – contracepção, aborto, prática homossexual, divórcio – são
pecados graves. Aquele que morrer neles, consciente da gravidade deles –
e mesmo um pagão consegue ver com certa facilidade a gravidade deles,
excetuando talvez a contracepção – será condenado. É a Igreja que os
condena? Não. Eles mesmos se condenam. A Igreja prolonga nesse mundo a
missão de Cristo em sua primeira vinda. Cristo veio condenar? Não. O
evangelho de São João nos diz (Jo 3, 17 – 21): “Deus não enviou seu
Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo
por Ele. Quem n’Ele crê não será condenado, mas quem não crê, já está
condenado, porque não crê no nome do Filho unigênito de Deus. E a
condenação está nisto: a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as
trevas do que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que
faz o mal aborrece a luz, e não se aproxima da luz, a fim de que não
sejam condenadas as suas obras.” Não é a Igreja que condena. É a própria
pessoa que se condena e se prepara para ser julgada como tal por Cristo
quando da sua segunda vinda, em que Ele virá glorioso – aí, sim – para
julgar os vivos e os mortos. O dever da Igreja e dos homens da Igreja é
alertar as pessoas, com caridade: você está se condenando, abandone as
trevas, venha para a luz, venha para Deus e sua Igreja. A Igreja deve
dizer ao pecador: Nosso Senhor morreu por sua alma, para salvar a sua
alma, abandone o pecado e prove e veja quão suave é o Senhor (Salmo 33,
9). A misericórdia da Igreja é tirar o homem de sua miséria. Qual é a
maior miséria? O pecado. Para tirar o homem do pecado, ela tem que dizer
que o pecado existe e que ele conduz à condenação. A Igreja tem que
dizer que pelo pecado grave a pessoa perde o céu e merece o inferno.
Quantas almas encontraram e encontram assim a misericórdia divina. Além
disso, é obra de misericórdia espiritual ensinar aos ignorantes e
corrigir os que erram, oportunamente. Como diz São Pio X, na carta
Apostólica Notre Charge Apostolique: “a doutrina católica nos
ensina que o primeiro dever da caridade não está na tolerância das
convicções errôneas, por sinceras que sejam, nem da indiferença teórica e
prática pelo erro ou o vício, em que vemos mergulhados nossos irmãos,
mas no zelo pela sua restauração intelectual e moral, não menos que por
seu bem-estar material.” A Igreja deve formar a consciência dos homens, é
da Igreja que depende a vida espiritual dos homens. Não basta seguir a
própria consciência para se salvar, é preciso seguir uma consciência bem
formada, que busque realmente a verdade e que a ame. Muitos seguem sua
consciência, mas uma consciência cupavelmente mal formada e relaxada, em
que se escolhe não se aproximar da luz para não ter que mudar de vida. A
Igreja deve formar as consciências. É grande obra de misericórdia
ensinar aos ignorantes e corrigir os que estão no erro, de modo
oportuno.
A Igreja e seus membros devem trabalhar
incessantemente para restaurar tudo em Cristo. A restauração de tudo em
Cristo era o que movia São Paulo, como ele disse aos Efésios (1, 10).
Restaurar tudo em Cristo era o que movia São Pio X. Restaurar tudo em
Cristo é o que deve mover todo católico. Restaurar tudo em Cristo é
direcionar tudo a Cristo, fazer tudo por Ele, e com Ele, e n’Ele. Mas,
como diz São Pio X, restaurar tudo em Cristo não é simplesmente levar as
almas para Deus, mas restaurar a civilização cristã em cada um dos
elementos que a compõem (Enc. Il fermo proposito). E isso não é
um restauracionismo ideológico, mas um restauracionismo indispensável
para todo católico. Mas como fazê-lo? São Pio X indica, na sua Encíclica
E Supremi Apostolatus, quatro meios principais, entre outros,
para restaurar tudo em Cristo: 1) a boa formação do clero, 2) o ensino
da doutrina católica (não é por acaso se São Pio X promulgou o catecismo
que leva o seu nome), 3) o fervor da vida cristã, e 4) a caridade
cristã, que não é um zelo amargo que mais afasta as almas do que as
atrai, mas que é uma verdadeira bondade, que não se confunde tampouco
com tolerância do erro ou do pecado. Nesses últimos tempos, nós vemos a
disciplina avançando, a liturgia avançando, os ensinamentos avançando e
tendendo a se conformar à mentalidade moderna. Ao mesmo tempo em que
tudo isso avança, nós vemos a prática real da religião recuando, o
número de fiéis caindo, etc. É preciso constatar que esses avanços não
têm contribuído para o avanço do Evangelho. Uma pessoa que vai avançando
em alto mar e que começa a se afogar deve voltar para a praia ou
continuar avançado em alto mar? Dou um exemplo prático na vida da
Igreja: a lei da abstinência da sexta-feira. No direito canônico atual, a
abstinência de carne pode ser substituída por outra penitência ou por
uma obra de caridade. O resultado é que ninguém faz praticamente mais
nada na sexta-feira. A penitência, tão necessária à vida cristã, é
negligenciada e o resultado são as paixões desordenadas. Não seria o
caso de se restabelecer a antiga disciplina, com uma lei clara que pede a
abstinência de carne nas sextas-feiras? Algumas conferências episcopais
já fizeram isso. Outro exemplo é a recepção da comunhão na mão. Essa
prática não tem prejudicado tanto a fé das pessoas na presença real de
Cristo na hóstia consagrada? Não seria o caso de se restabelecer uma
liturgia e prática provadas por séculos e séculos e centradas
completamente em Deus? Não seria o caso de se retornar à teologia
baseada nos fundamentos sólidos estabelecidos por São Tomás de Aquino,
capaz de responder às exigências de qualquer época? Não seria o caso de
se retomar uma pastoral centrada no bem das almas e menos burocrática ou
social? Tudo isso aqui é essencial. Não se trata aqui de voltar a um
passado por simples gosto romântico do passado ou por ideologia, quer
dizer, por uma vontade desconectada da realidade. Os que fazem isso são
aqueles que querem restaurar uma suposta liturgia primitiva, que querem
restaurar uma suposta caridade primitiva, que querem restaurar uma
suposta colegialidade da Igreja dos primeiros séculos, que querem
restaurar a disciplina primitiva do não celibato dos padres na igreja
latina, etc… Isso seria uma restauração ideológica, uma volta ideológica
ao passado. Nós estamos falando aqui de uma restauração que possa nos
centrar e centrar a sociedade em Cristo hoje e sempre, com a liturgia
tradicional que favorece imensamente a isso, com uma disciplina que nos
faz esquecermos de nós mesmos e que nos dirige para Deus, uma disciplina
que nos auxilia e facilita a prática do bem, uma disciplina que não é
um fim em si, mas um auxílio importante… Não se trata, nem é possível,
como diz São Pio X (Il fermo proposito), de restaurar todas as
instituições que se mostraram úteis e eficazes no passado. A Igreja sabe
se adaptar facilmente ao que é contingente e acidental sem prejudicar a
integridade ou a imutabilidade da fé, da moral e sem prejudicar seus
direitos sagrados. Todavia, muitos desses avanços prejudicaram de alguma
forma, infelizmente, a fé e a moral, em vez de favorecê-los. A liturgia
tradicional, uma disciplina mais tradicional, uma catequese e uma
pastoral mais tradicionais não são uma relíquia do passado. São coisas
que permanecem sempre jovens, pois fundadas na palavra de Deus, que não
passa e não envelhece.
Restaurar tudo em Cristo, caros
católicos. Esse deve ser o nosso programa de vida. A começar pela nossa
alma, mas sem esquecer nosso próximo, sem esquecer a sociedade.
Restaurar tudo em Cristo pelo ensino da religião, da doutrina católica. A
primeira e maior obrigação dos pastores, diz o Concílio de Trento, é a
de ensinar o povo cristão. E São Paulo diz o mesmo a Timóteo (I Tim. 5,
17): “os presbíteros que governam bem, sejam considerados dignos de
estipêndio dobrado, principalmente os que trabalham em pregar e
ensinar.” A conversão, o amor a Deus, a misericórdia, só podem vir com a
fé. E a fé, como diz São Paulo, vem pelos ouvidos. É preciso que alguém
ensine, com segurança e sem ceder às novidades, como diz São Paulo (I
Tim. 6, 20). Só se ama aquilo que se conhece. Só amará a Deus quem o
conhecer. Se o ensino é bem feito e seguro, isto é, baseado na Revelação
e não em conjecturas, e feito com a intenção de trazer as almas para
Deus, o resto seguirá como consequência. Façamos nossa parte, caros,
católicos, para restaurar tudo em Deus… isso é grande obra de
misericórdia.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário