5 de setembro de 2013

Confiança! - Pe. Thomas de Saint Laurent - 16

O Livro da Confiança

Pe. Thomas de Saint Laurent


Capítulo IV - A Confiança em Deus e as nossas necessidades espirituais

I - A misericórdia de Nosso Senhor para com os pecadores

A Providência, que alimenta o passarinho no seu ramo, cuida do nosso corpo. Que é, no entanto, este corpo de miséria? Uma criatura frágil, um condenado à morte e destinado aos vermes.

Na louca corrida da vida, pensamos todos caminhar para os negócios ou para os prazeres... cada passo dado aproxima-nos do fim; arrastamos, nós mesmos, o nosso cadáver para a beira do túmulo.
Se Deus assim se ocupa de corpos perecíveis, com que solicitude não velará pelas almas imortais? Prepara-lhes tesouros de graças, cuja riqueza sobrepuja tudo o que podemos imaginar; manda-lhes socorros superabundantes para a sua santificação e salvação.
Esses meios de santificação, que a Fé põe ao nosso dispor, não serão aqui estudados.
Quero falar simplesmente às almas perturbadas que se encontram por toda a parte. Mostrar-lhes-ei, com o Evangelho na mão, a inanidade dos seus temores. Nem a gravidade das suas faltas, nem a multiplicidade das suas reincidências no erro, nem as suas tentações as devem abater.
Pelo contrário, quanto mais sentirem o peso da própria miséria, tanto mais deverão apoiar-se em Deus. Não percam a confiança! Seja qual for o horror do seu estado, mesmo que tenham levado longamente vida desregrada, com o socorro da graça poderão converter-se e ser elevadas a uma alta perfeição.
A misericórdia de Nosso Senhor é infinita: nada a cansa, nem mesmo as faltas que nos parecem mais degradantes e criminosas. Durante a sua vida mortal, o Mestre acolhia os pecadores com bondade verdadeiramente divina; nunca lhes recusou o perdão.
Impelida pelo ardor do seu arrependimento, sem preocupar-se com as convenções mundanas, Maria Madalena entra na sala do festim. Ajoelha-se aos pés de Jesus, inunda-os de lágrimas. Simão, o Fariseu, contempla essa cena com ar irônico; indigna-se intimamente. “Fosse este homem profeta, pensa, e saberia bem o que vale essa mulher. Enxotá-la-ia com desprezo...” Mas o Salvador não a enxota. Aceita-lhe os suspiros, o pranto, todos os sinais sensíveis da humilde contrição. Purifica-a das suas máculas e a cumula de dons sobrenaturais. E o Coração Sagrado transborda de imensa alegria, enquanto que no alto, no Reino do seu Pai, os Anjos vibram de júbilo e louvor: perdida estava uma alma, e ei-la achada; era morta essa alma, e ei-la restituída à verdadeira vida!...
O Mestre não se contenta em receber com doçura os pobres pecadores; chega ao ponto de tomar-lhes a defesa. E não é essa de resto a sua missão? Não se constituiu Ele o nosso advogado (41)?
Trazem-lhe um dia à sua presença uma desgraçada, surpreendida em ato flagrante de pecado. A dura lei de Moisés condena-a formalmente: a culpada deve morrer no lento suplício da lapidação. Os escribas e fariseus, no entanto, esperam impacientes a sentença do Salvador. Se perdoar, os inimigos censurá-lo-ão por desprezar as tradições de Israel. Que fará Ele?...
Uma só palavra cairá dos seus lábios; e esta palavra bastará para confundir os fariseus orgulhosos e salvar a pecadora.
“Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra” (42).
Resposta cheia de sabedoria e misericórdia. Ouvindo-a, esses homens arrogantes enrubescem de vergonha... Retiram-se confusos, uns após outros; os velhos são os primeiros a fugir...
“E Jesus ficou só com a mulher”.
“Onde estão os teus acusadores? pergunta. Ninguém te condenou?” Ela responde: “Ninguém, Senhor”... E Jesus prossegue: “Eu também não te condenarei! Vai, e doravante não tornes a pecar!” (43).
Quando vêm a Ele os pecadores, Jesus lança-se ao seu encontro. Como o pai do pródigo, espera a volta do ingrato. Como o bom pastor, procura a ovelhinha tresmalhada; e, quando a encontra, põe-na sobre os seus ombros divinos e leva-a ensangüentada até ao redil.
Oh! Ele não lhe magoará as feridas; delas tratará como o bom samaritano, com o vinho e o óleo simbólicos. Derramará sobre as suas chagas o bálsamo da penitência; e, para fortificá-la, a fará beber do seu cálice eucarístico.
Almas culpadas, não tenhais medo do Salvador; foi para vós, especialmente, que Ele desceu à terra. Não renoveis nunca o grito de desespero de Caim: “A minha iniqüidade é muito grande, para que eu mereça perdão” (44). Como isso seria desconhecer o Coração de Jesus!...
Jesus purificou Madalena e perdoou a tríplice negação de Pedro; abriu o Céu ao bom ladrão. Em verdade, asseguro-vos, se Judas tivesse ido a Ele após o crime, Nosso Senhor tê-lo-ia acolhido com misericórdia. Como não vos há-de perdoar também?!...

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41 ) “Se alguém pecar, temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo. 2, 1).
42 ) Jo. 8, 7.
43 ) Jo. 8, 9-11.
44 ) Gn. 4, 13.

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