4/15 - A uma mãe a respeito da morte de seu filho na guerra.
Como a minha alma se compadece do vosso coração, minha querida mãe! Porque me parece ver esse coração maternal cheio desse excessivo pesar; pesar que contudo não devemos estranhar nem censurar se considerarmos como esse filho era amável. E o segundo afastamento dele é o assunto da vossa amargura. Minha querida mãe, é verdade, esse querido filho era um dos mais desejáveis que existiam; todos os que trataram o reconheceram e reconhecem ainda. Mas não é isto uma grande parte de consolação que devemos ter agora, minha querida mãe? Porque parece que aqueles cuja vida é mais digna de memória e de estima ainda vivem depois da morte, pois tanto prazer sentimos em os recordar e representar ao espírito dos que ficam.
Partiu deste mundo para ir para o que é mais desejável de todos e para o qual devemos ir cada um em ocasião própria e onde o vereis mais depressa do que se ficasse neste novo mundo, entre os trabalhos da conquista que ele queria fazer para o seu rei e para a igreja.
Em suma, terminou, seus dias mortais no seu dever e na obrigação do seu juramento. Esta espécie de fim é excelente, e não devemos duvidar de que o grande Deus lhe tenha tornado feliz pois que desde o berço o tinha favorecido continuamente com a sua graça para o fazer viver cristãmente. É preciso compreender esta admirável Providência de Deus e conformarmo-nos com suas ordens com uma santa confiança em que Ele terá cuidado daquela boa alma, que terá talvez purificado com este fogo para lhe evitar o do purgatório.
Em suma, é preciso dar passagem às aflições para dentro do coração; mas não convém deixá-las aí permanecer. Deus, o nosso anjo da guarda e a sabedoria que granjeastes com a experiência sugerir-vos-ão melhor tudo isso do que eu. Enfim eis-vos despojada e despida do precioso vestido que possuíeis. Bendizei a Deus, que vô-lo tinha dado e que vô-lo tirou, e a sua Majestade ocupará o lugar do vosso filho.
Consolai-vos pois, minha querida mãe, e aliviai o vosso espírito, adorando a divina Providência, que tudo faz com suavidade; e embora nos sejam ocultos os motivos de seus decretos, a verdade de sua bondade é nos manifesta e obriga-nos a crer que tudo faz por sua divina bondade. Dizer-vos-ei de boa vontade para remédio da vossa dor, que quem quer isentar o seu coração dos males da terra, precisa de o ocultar no céu; e como disse Davi: "É preciso ocultar o espírito no segredo da face de Deus e no fundo dos santos tabernáculos".
Considerai bem na eternidade onde ides; e achareis que tudo o que não pertence a esta infinita duração não deve morrer a vossa coragem. Esse filho querido passa deste mundo para o outro com bons auspícios, cumprindo o seu dever para com Deus e o rei; não contempleis esta passagem senão na eternidade.
Não nos aflijamos por isso, minha filha; em breve nos reuniremos. Caminhamos incessantemente e dirigi- mo-nos para onde estão os nossos falecidos e em dois ou três instantes lá estaremos; pensemos só em caminhar bem e em seguir todo o bem que neles tivermos notado. Colocai o vosso coração, eu vô-lo peço minha filha, ao pé da cruz e aceitai de bom grado a morte ou a vida de todos os que amais por amor d'Aquele que deu a sua vida e recebeu a morte por vós. Estais quase a partir para onde esta o vosso amável filho; mas esperando a hora de navegar, apaziguai o vosso coração maternal pela consideração da santa eternidade na qual ele esta e da qual vós vos aproximais; e em lugar de lhe escreverdes algumas vezes, falai a Deus por ele e ele saberá prontamente tudo o que quiserdes que saiba, e receberá todo auxílio que lhe prestardes por vossos votos e orações logo que as fizerdes e vos entregardes nas mãos da divina Majestade.
Reprimi o desejo violento que tendes de saber onde esta o vosso falecido na outra vida, e quando encontrardes o vosso espírito nisto entretido convém que de repente e mesmo por palavras, vos volteis para o lado de Nosso Senhor, e lhe digais: Oh! Senhor! como é doce a vossa Providência e quanto é boa a vossa misericórdia! Ah! como é feliz este filho, por ter caído em vossos braços paternais, nos quais só pode estar bem, seja em que lugar for!
Sim, porque não devemos senão pensar que esta no paraíso ou no purgatório, pois que, graças a Deus, não podemos pensar outra coisa. Retirai-vos pois assim o vosso espírito e depois ocupai-vos em ações de amor para com o Nosso Senhor crucificado.
Quando recomendardes esse filho à divina Majestade, dizei-lhe simplesmente: Senhor, recomendo o filho de minhas entranhas, mas ainda com mais razão filho das entranhas da vossa misericórdia gerado pelo meu sangue, mas regenerado pelo vosso.
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