26 de agosto de 2014

Sermão do XI Domingo depois de Pentecostes - Pe. Luiz Fernando Pasquotto, IBP

Sermão do XI Domingo depois de Pentecostes


"Ide e ensinai todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas aquelas coisas que vos mandei".
(S. Mateus 28, 19-20)
Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria...
Já vimos o que é a virtude da fé e algumas visões falsas do que seria esta virtude. Prosseguiremos hoje um pouco mais, e veremos aquelas coisas que parecem ser fé, mas não são.
Se alguém não crê em qualquer artigo ou ponto de nossa fé católica ou, advertidademente, duvida que seja verdade, dizendo-se que é afirmação que pode não ser verdade, então não tem fé. Primeiramente, porque o motivo de crer em todas as verdades de fé, a autoridade de Deus que revela, vale para cada uma delas. Não crendo em uma só, ou duvidando dela, joga fora a autoridade de Deus que afirma a veracidade dela e, com isso, o motivo que sustenta o ato de fé em todas as outras verdades juntamente. Deus, que revelou uma verdade de fé, revelou as outras também. Quem diz crer na Trindade, mas não na presença real de Cristo na Eucaristia, mostra que defende a Trindade não porque Deus revelou, mas por vontade própria. O mesmo Deus que disse: "Eu e o Pai somos um", também disse: "Isto é o meu corpo". Se crê em uma, mas não em outra, é porque se fundamenta não na autoridade de Deus, mas na própria vontade. Consequentemente, não tem fé, que se fundamenta na autoridade de Deus que revela, e não no capricho próprio.
Muitos católicos, atualmente, querem acreditar simplesmente no que eles querem acreditar, e não em todas as coisas que Deus revelou. A fé não está submissa aos nossos desejos. A fé é uma virtude que nos faz crêr precisamente em tudo o que Deus nos revelou. É uma das principais coisas que distinguem um modernista, porque o modernista aceita o que acha que pode aceitar, e não no que o magistério da Igreja ensina como sendo verdade de fé.
Quem crê nas verdades da fé só porque acha que constituem a religião mais perfeita dentre as que existem, e porque é defendida pelos homens mais eruditos e dignos de respeito, ou porque é a religião mais espiritual dentre todas, ou porque é a religião que construiu o Ocidente e por isso merece respeito e admiração, não tem fé. Não são estes os motivos que nos levam a crer com fé verdadeira e sobrenatural. O motivo é a autoridade de Deus que revela. É muito comum encontrar pessoas, muito influentes e admiradas até, entre a chamada direita, que têm essa posição: defende-se a fé católica e a Igreja católica somente porque construiram o Ocidente, a Europa. Encontramos pessoas assim até entre os que dizem formar a chamada direita católica.
Na França ou na Itália, por exemplo, e o Brasil não está imude deles, há direitistas que se dizem católicos não porque têm fé verdadeira, mas porque foi a religião que construiu a Europa, a França ou a Itália, a religião de Clóvis e dos povos que formaram a França ou a Itália, por exemplo. Nenhum desses motivos faz com que tenham fé verdadeira. Quer dizer que se fosse o islamismo ou o budismo que tivessem formado a Europa, então seriam estas as religiões que deveríamos estimar e admirar, e deveríamos aceitar as falsidades que ensinam? Quer dizer que aqueles que vivem no Irã ou na Arábia Saudita devem defender o islamismo e abraçá-lo, porque foi a religião que formou a cultura desses países? Então os recentes mártires católicos de Mosul não tinham, finalmente, porque morrer? Muitas pessoas que se dizem tradicionalistas defendem o rito romano tradicional somente por esses motivos. Muitos católicos que frequentam a missa no rito romano tradicional e que o defendem pelos motivos corretos, não vêem esses defeitos em certos "tradicionalistas", frequentemente pela inocência com que consideram as coisas que ouvem e os artigos que lêem. Porém, a simplicidade de análise pode ser bonita numa criança, mas não é nenhuma virtude em um adulto. Finalmente, não se crê baseado somente no fato de ser a religião recebida dos pais ou avós ou familiares, que podem enganar-se e nos enganar, sendo homens que são. Não é esse o motivo que nos faz crer nas verdades reveladas.
A fé-confiança protestante não é fé verdadeira. Lutero ensinava que a natureza humana está totalmente corrompida depois do pecado original. Nenhuma obra boa pode ser feita pelo homem. Todos os atos do homem são pecados. Um bom padeiro, que faz um bom pão, peca; aquele que dá uma esmola peca; quem ensina o catecismo peca. Como o homem é um animal corrompido, não pode fazer nada por si mesmo para se salvar. É inútil dedicar-se às boas obras. A salvação só é obtida quando o homem põe toda a sua fé, ou seja, uma confiança cega, em Cristo. Pecar ou não pecar não têm importância. O que importa é crer, isto é, ter uma confiança tão firme quanto cega.
Haveria muito a se comentar sobre estas teorias de Lutero. É evidente que se baseiam sobre os escrúpulos de consciência que tinha. Sedento de segurança moral, se livra dos escrúpulos que tem dizendo que tanto faz pecar ou não pecar; o que importa é crer, isto é, confiar cegamente em Cristo, de que Ele já carregou nossos pecados e não precisamos fazer nada por nós mesmos para nos salvar. Mas o que nos interessa aqui é que confiar em Deus não é um ato da virtude da fé, mas da virtude de esperança. Lutero erra no conceito que tem da virtude de fé. Além disso, os hereges não podem ter confiança sobrenatural em Deus. Vimos que a fé é o fundamento de todas as virtudes sobrenaturais. Não tendo fé verdadeira e sobrenatural, não podem ter esperança verdadeira e sobrenatural, e não podem exercer a virtude de esperança que não têm, confiando em Deus. A confiança de Lutero é uma constante ginástica mental, pela qual o pecador busca se consolar dizendo-se a si mesmo que tudo está certo e de que tudo está bem entre ele e Deus, ao mesmo tempo em que vê que as coisas não estão bem entre ele e Deus, que não cumpre os mandamentos livremente. A fé de Lutero é uma quimera que busca acalmar os remorsos da consciência por meio de um princípio errôneo. É um sentimento voluntariamente, violentamente e constantemente produzido. Não é nem virtude de fé, nem pode ser sustentado por muito tempo sem que a pessoa perda o equilíbrio psicológico, pela desordem interna que tem e mantém.
Não tem fé verdadeira quem diz que os dogmas são somente símbolos aproximativos, que exprimem imperfeitamente a experiência pessoal dos membros de uma comunidade. Os dogmas seriam "verdades" temporárias, vindas do interior do homem, emanando da "consciência" pelo sentimento. A comunidade cristã se formou sobre essa experiência que Cristo teria tido com o divino, e essa experiência seria o fundamento da fé. Essa experiência que Cristo teve com o divino pode ser tida por qualquer homem, seja ele muçulmano, protestante, budista. Não há motivos racionais para o ato de fé, somente o sentimento de cada um. Todas as religiões seriam expressões diferentes de diferentes experiências sentimentais e pessoais com a divindade. Por isso, não existe nada, finalmente, que separe as religiões entre si e devemos buscar a união delas, que se faz no amor entre os homens. Uma religião não é válida por ser verdadeira, mas porque produz um sentimento de piedade. Todas são assim, finalmente, e todas as religiões devem coexistir para formar um mundo melhor, fraterno, justo, solidário. Não creio porque Deus revelou, mas porque sinto Deus em mim.
Por isso as crianças não devem aprender os dogmas nas aulas de catecismo, mas devem ser levadas a encontrar Jesus. Pecado não é um ato ou omissão contrários à lei de Deus, mas tudo aquilo que impede o homem de sentir Deus por uma experiência pessoal. Infelizmente são noções extremamente difundidas hoje, em muitos casos por uma verdadeira má compreensão do que é a virtude da fé. Estas noções não são sem consequências. As crianças, ignorando as verdades de fé e as obrigações que têm, primeiramente não dão valor para a religião, que se apresenta a elas como algo nebuloso, vago, sem inteligência e terminam, muitas vezes infelizmente, afastando-se da prática religiosa. As diversões e os programas modernos são tão mais divertidos e mais concretos! Sem princípios, e colocando o critério da verdade no sentimento, elas estão desarmadas diante dos ataques do mundo e do demônio. Além disso, julgarão que a fé é algo incompatível com o estudo, com o conhecimento racional das coisas que Deus criou. Ao ingressar na faculdade, ao crescer em conhecimento, o jovem não somente se desinteressará pela religião, mas verá nela algo oposto à razão, ao que é ensinado pela mais alta matemática ou pela biologia ou pela física, ouvindo as aulas de professores ateus dadas em universidades governadas por maçons. Para piorar a situação, a vida fácil e cheia de liberdades que se tem na faculdade, longe de casa e sozinho, leva muitos a aumentar os pecados, com o consequente afastamento de Deus, que repreende a má vida que passam a levar. Tem-se uma diminuição da prática religiosa, a extinção do espírito combativo e de apostolado que os jovens deveriam ter para difundir a fé católica e converter os que não são católicos, uma diminuição do número de jovens interessados em ingressar nos seminários e conventos. Essa diminuição será ainda maior entre as moças, que são o alvo mais visado pelo mundo atualmente, com a moda imodesta, o feminismo, a superficialidade e a impulsividade no comportamento, o sentimentalismo. Fala-se muito da queda de vocações sacerdotais, mas o problema é ainda maior no que diz respeito às ordens e congregações femininas.
Os professores de catecismo, e os pais que o ensinam aos seus filhos quando ainda são bem novos, não devem pensar que é coisa sem valor. Cito aqui as palavras de um filósofo francês do século XIX, Théodore Jouffroy. Tinha recebido uma educação muito religiosa, mas depois foi influenciado pela leitura de Rousseau e Voltaire. Atravessou uma crise espiritual, da qual deixou um relato. Abandonou o catolicismo. As palavras dele que se seguem são, portanto, insuspeitas: "Existe um livrinho que é imposto às crianças, e a respeito do qual elas são interrogadas na Igreja. Leiam este livro, que é o Catecismo. Nele encontram-se todas as soluções para as questões que em coloco, digo de todas, sem excessão. Perguntai ao cristão de onde vem a espécie humana, e ele o saberá; a finalidade do homem, e o saberá; para onde vai, e o saberá. Perguntai para esse menininho, que ainda não pensou, porque ele está aqui nesta terra, e o que lhe acontecerá depois de morto, e ele o saberá, dando uma resposta sublime... A origem do mundo, de nossa espécie, para onde vai o homem nesta vida e na outra, o que o homem deve fazer com relação a Deus, consigo mesmo e seu próximo, o direito dos homens sobre as criaturas, o cristão sabe todas estas coisas. Quando essa criança crescer, quando for um adulto, conhecerá o direito natural, compreenderá a política, e o direito que deve governar os povos, e os verá com clareza. Eis o que chamamos uma grande religião; eu a reconheço assim, como algo que não deixa nenhuma questão humana sem resposta". Sabemos o que pensar desse modo como vê o Catolicismo, pelo que explicamos acima. Mas até ele, que deixou a Igreja, reconhece o valor do catecismo na formação das crianças.
É um trabalho que vale a pena ser feito. O Cardeal São Roberto Bellarmino, São José de Anchieta, São Francisco Xavier, São Domingos, todos eles e todas as almas apostólicas se deram as maiores penas e sacrifícios para ensinar o catecismo às almas, por amor a Deus. No catecismo, as verdades mais profundas são ensinadas com expressões precisas, densas em doutrina e que serão o fundamento sobre o qual nossos filhos regrarão a formação intelectual e o comportamento que terão, e muitas vezes suspeitarão que algo parece não ser correto, e irão atrás de esclarecimentos. Se se desviarem, terão essas verdades como ponto de partida de um arrependimento sincero e sobrenatural.
As crianças devem conhecer as respostas de cor. É uma pedagogia que foi abandonada há algumas décadas, sendo considerada como grotesca, mas que agora volta a ser defendida por pedagogos modernos baseados em estudos neurológicos sérios sobre as crianças, nos quais se mostra que com elas deve-se proceder na base da aprendisagem pela memória. Só mais tarde elas saberão lidar mais livremente com o que já sabem de cor (é impressionante como o homem moderno se acha tão mais sábio e genial do que os antigos e seus métodos seculares, que duraram tanto justamente porque funcionam bem). A formação doutrinária não é uma perda de tempo e ela faz bem mesmo para os que não têm fé, ao menos pelo bom odor das virtudes que os cristãos exalam. Foi formando os doze Apóstolos que Nosso Senhor ensinou o mundo inteiro.
Em nome do Pai e do Filho + e do Espírito Santo. Amém.
Escrito por Padre Luiz Fernando Pasquotto em Terça Agosto 26, 2014 
Link permanente -

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.