6/15 - Consolações a uma senhora a respeito da morte de seu marido.
Meu Deus! Quanto é frágil esta vida, e como são curtas as suas consolações! Aparecem em um momento, e outro momento as leva; e se não fora a santa eternidade, para qual os nossos dias se dirigem, teríamos rezão para lastimar a nossa condição humana.
Os pensamentos dos homens são vãos e inúteis em si mesmos para consolar um coração como o vosso. Deus só é consolador e Senhor dos corações, é só Ele que apazígua as almas de boa vontade, isto é as que nele esperam. As palavras interiores que Deus dirige ao coração aflito, que recorre à sua bondade, são mais doces do que o mel e mais salutares do que o bálsamo mais precioso.
O coração que se une ao coração de Deus, não pode deixar de amar e aceitar amorosamente as setas que sua mão sobre ele dirige.
Há tempo que servis a Deus e que aprendestes na escola da cruz que não só deveis aceitá-la pacientemente, mas ainda com doçura e amor em consideração daquele que levou a sua e sobre ela foi pregado até a morte; e daquela que, não tendo senão um Filho de amor incomparável, o viu morrer sobre a cruz, com os olhos cheios de lágrimas e o coração cheio de dor, mas dor doce e suave em favor da nossa salvação e da de todo o mundo.
Ora esta bondade soberana sem dúvida se inclinará para nós e virá ao nosso coração, para o ajudar e socorrer desta tribulação se nos lançarmos em seus braços e nos resignarmos em suas paternais mãos.
Foi Deus que vos deu este esposo; foi Ele que o chamou e retirou para si; é obrigado a favorecer-vos nas aflições.
Considerando tudo isto, é preciso sujeitarmos os nossos corações à condição da vida em que estamos. É uma vida perecível e mortal, e a morte, que domina nesta vida, não tem marcha regrada: toma ora aqui ora ali, sem nenhuma escolha nem método, os bons entre os maus e os jovens entre os velhos.
Oh! como são ditosos os que, vivendo com a continua desconfiança da morte, se acham sempre prontos para morrer, para que possam reviver eternamente na vida em que não há mais morte!
Sem dúvida, minha senhora, o maior desejo que o vosso falecido teve à sua partida, foi que vós não vos magoásseis muito com a ausência que ele vos causava, mas que procurásseis moderar por amor dele a paixão que o seu amor vos causava; e agora, na felicidade de que goza, ou espera com confiança, deseja vos uma santa consolação, e que, suavizando a vossa tribulação, conserveis os vossos olhos para um objeto melhor do que as lágrimas, e o vosso espírito para ocupações mais desejáveis do que a tristeza.
E visto que a amizade verdadeira se compraz em agradar as justas recreações do espírito, para agradar a vosso marido, consolai-vos, alegrai o vosso espírito e reanimai a vossa coragem. Porque se o conselho que vos dou, com uma sinceridade sem igual, vos é agradável, praticai-o prostrando-se ante Nosso Senhor, conformando-vos com as suas ordens considerando a alma deste querido defunto, que deseja à vossa uma resolução cristã e verdadeira, e abandonando-vos completamente à celeste Providência do Salvador da vossa alma, vosso protetor, que vos ajudará e socorrerá, e enfim vos unirá ao vosso falecido, não na qualidade de esposa com seu marido, mas na de herdeiro do céu com seu co-herdeiro.
A pouco e pouco Deus nos aparta dos contentamentos deste mundo; é preciso pois aspirar ardentemente aos da imortalidade e de ter os nossos corações elevados para o céu onde estão as nossas pretensões e onde presentemente temos uma parte das almas que amamos.
Seja para sempre bendito o nome de Nosso Senhor, e viva e reine sempre o seu amor em nossas almas.
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