20 de agosto de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

9/15  -  O agrado divino, única consolação dos aflitos.

Embora eu não tivesse a felicidade de conhecer quando recebi a primeira noticia de vossa aflição não deixei por isso de me compadecer muito do vosso coração, imaginando como devia ser forte o abalo inesperado; e se os mesmos desejos fossem tão eficazes como são sinceros, afetivos e ternos, creio que logo sentireis algum alívio.
Mas os pensamentos dos homens são vão e inúteis em si mesmos; só Deus é o consolador e o senhor dos corações; é só Ele que alivia as almas de boa vontade. Ora, as de boa vontade são aquelas a quem Deus mostra o seu agrado; e mostra o seu agrado às que segundo a sua boa vontade esperam nele. Foi um bom aviso que recebestes da sua inspiração, propondo-vos a retirar-vos por um pouco do tumulto da consolação do mundo, embora bom consolador, para em repouso entregardes a chaga do vosso coração aos cuidados do médico e operador celeste, pois que os próprios médicos da terra confessam que nenhuma cura se pode efetuar senão com inquietação e tranquilidade! As palavras interiores que Deus dirige ao coração aflito que recorre à sua bondade são mais doces do que o mel, mais salutares do que o bálsamo precioso para curar toda a qualidade de úlceras. O coração que se une ao de Jesus Cristo não pode deixar de aceitar suavemente as setas que a mão de Deus lhe dispare. A vossa santa Blandina não achava maior alívio para as feridas do seu martírio do que no doce pensamento que exprimiu suspirando estas três doces palavras: "Eu sou cristã". Bem aventurado o coração que emprega bem este suspiro! 
Eu vos direi de boa vontade, para remédio da vossa dor que quem quer isentar o coração dos males da terra deve transportá-lo ao céu e como diz Davi: "É preciso ocultar o nosso espírito no segredo da face de Deus e no fundo do seu santo tabernáculo".
Considerai bem a eternidade para onde tendeis e achareis que tudo o que não pertence à sua infinita duração não deve mover a nossa coragem. O esposo amado passou deste mundo para o outro sob bons auspícios, cumprindo o seu dever para com Deus e para com o rei; não contempleis esta passagem senão na eternidade.
Que vos direi, filha minha, vendo-vos nesta amargura? Oh! coragem, eu vô-lo rogo: o esposo que escolhestes depois que separastes do que vos tinha dado, é um feixe de mirra; todo o que o ama não pode deixar de amar a amargura; e os que Ele favorece com o mais apertado amor, estão sempre feridos pela tribulação. Como poderíamos apertar ao peito Nosso Senhor crucificado sem que os cravos e os espinhos que os traspassaram não nos firam?

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