22 de agosto de 2014

Sermão para o 9º Domingo depois de Pentecostes – Diácono Pedro Henrique Gubitoso, IBP.

[Sermão] A esperança, o desespero e a presunção

Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Reverendo padre Daniel, caro confrade seminarista, caríssimos fiéis !
A nossa vida sobre esta terra é uma sucessão de alegrias e tristezas, de contentamentos e decepções. Nossa vida espiritual é dividida entre consolações e desolações. O bom católico é aquele que, com a ajuda da graça de Deus, vive esses momentos com uma santa indiferença e mantém, apesar da agitação do quotidiano, um ânimo firme e constante. O exemplo por excelência dessa constância na Fé é o mártir, que apesar de todas as adversidades não abandona sua Fé. Um capitão que deixasse seu navio ir para lá e para cá junto com o movimento das ondas seria um péssimo capitão pois não levaria seu barco até o seu fim.
A este propósito justamente, São Paulo nos deixa hoje na sua epístola um precioso ensinamento. Há especialmente dois conselhos nesta epístola que devemos gravar profundamente em nossas inteligências e corações para que nos sirvam de guia seguro na nossa batalha quotidiana pela santidade. Estão indicados aí dois excessos que devem ser absolutamente evitados : a presunção e o desespero. Eis as primeiras tentações que enfrentamos quando começamos a busca pela perfeição cristã.
Pois bem. Em primeiro lugar, São Paulo nos adverte contra toda forma de orgulho e de presunção dizendo : “aquele que julga estar de pé, que tome cuidado para que não caia.” A presunção é um vício oposto à virtude teologal de Esperança. A presunção pode ser de dois tipos : o primeiro tipo de presunção é a presunção de salvação, mais grave, que consiste em acreditar que podemos nos salvar sem o arrependimento pelos nossos pecados e obter a bem-aventurança eterna sem nenhum mérito. Os téologos a chamam de pecado contra o Espírito Santo. Já o segundo o tipo de presunção, bem mais comum, não tão grave quanto o primeiro mas mesmo assim muito perigoso, consiste em acharmos que não precisamos da graça divina e que podemos cumprir os mandamentos de Deus somente com nossas próprias forças. Isso é evidentemente um absurdo. Entretanto, infelizmente, nossa soberba pode nos levar até uma tal presunção. O católico que entra por este caminho só encontrará decepção e tristeza quando se der realmente conta da sua fraqueza. Nosso Senhor bem nos disse em outra ocasião: “Sem mim nada podeis fazer”. São Tomás de Aquino nos ensina que sem a graça de Deus é impossível ao homem cumprir a integridade dos mandamentos.  Nossa natureza humana, machucada pelo pecado original, se tornou extremamente inconstante e volúvel. “Aquele que julga estar de pé, que tome cuidado para que não caia.” Por mais que sejamos grandes e importantes, podemos cair extremamente baixo. Lembremo-nos do rei Salomão, que, mesmo tendo sido escolhido por Deus para escrever o santo livro dos Provérbios e mesmo tendo reinado com extrema sabedoria, entregou-se por fim às paixões mais baixas e caiu na mais grosseira idolatria. Quantos cedros do Líbano que caíram por terra. De fato, naquele em que a graça de Deus fez grandes coisas, é grande a tentação de subverter todo mérito para si mesmo esquecendo-se de todos os bens que Deus lhe dera.
Se por um lado a presunção nos dá uma falsa segurança sobre nosso estado de graça, por outro lado o desespero nos faz desconfiar de Deus e acreditar que mesmo com a graça de Deus não podemos nos salvar. É por isso que após nos ter exortado a uma extrema vigilância, São Paulo nos ensina que Deus nunca permite uma tentação mais forte do que nossas forças podem suportar. Com efeito, São Paulo nos diz: “Deus, por seu lado, é fiel, e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças; ao contrário, até fará que tireis proveito da tentação, podendo-a aguentar.” Deus é fiel. Segundo São Paulo, essa fidelidade de Deus se manifesta de duas maneiras: primeiramente, não permitindo que sejamos tentados acima de nossa forças; em segundo lugar, dando-nos sempre a graça suficiente para superarmos a tentação. É muito normal, sobretudo na sociedade atual, diante dos preceitos da Lei de Deus, ser tentado pelo desencorajamento e acabar considerando impossível a prática desses preceitos. Quando nos sobrevier um tal desânimo lembremo-nos de que se “até mesmo de pedras Deus pode suscitar filhos de Abrãao”, Ele pode também fazer algo com nossas pobres almas; o Espírito Santo através de seus dons nos faz realizar obras que sozinhos nunca poderíamos realizar.
Entre esses dois excessos – presunção e desespero – encontra-se a atitude católica, nem presunçosa nem desesperada, mas confiante. Assim como Deus é fiel, nós devemos também ser fiéis.  Quando no evangelho de hoje, Nosso Senhor chora diante de Jerusalém profetizando sua destruição pelos romanos, ele está chorando por causa da infidelidade do povo judeu que desperdiçou tantas graças. Quando não cumprimos as promessas feitas no nosso batismo, somos como o povo judeu que recusou os ensinamentos e milagres de Jesus Cristo.
O modelo perfeito de uma tal confiança em Deus é Nossa Senhora, que responde ao anjo Gabriel: “Faça-se em mim segundo a vossa palavra”. A Encarnação do Verbo estava suspendida nos lábios da Virgem Maria. Ela sabe que aquilo que vai se operar nela é um milagre da graça e uma obra do Espírito Santo. Ela sabe que aquilo que vai se realizar está além das suas forças, entretanto sua resposta é confiante. Além disso, Nossa Senhora não somente não se deixou levar por um falso entusiasmo na Anunciação como também não se deixou abater e desencorajar no momento da Paixão de seu Filho; pelo contrário, permaneceu de pé junto à cruz com uma Fé inabalável.
Enfim, para concluir, ter confiança em Deus não quer dizer poupar todo e qualquer esforço esperando que Deus faça todo o trabalho… muito pelo contrário. Deus exige nossa cooperação. Como diz Santo Agostinho : « Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti ». Como essa cooperação entre Deus e o homem se dá concretamente? É o que Santo Inácio de Loyola resume com muita sabedoria e simplicidade: “Rezemos como se tudo dependesse de Deus, e trabalhemos como se tudo dependesse de nós.”
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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