[Sermão] O combate pela virtude da castidade
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por Ele graças a Deus Pai.”
Na parábola de hoje, NS diz que, enquanto
os homens dormiam, veio o inimigo e semeou cizânia no meio do trigo e
foi-se. Entre a cizânia semeada, podemos destacar o pecado da impureza,
que tão grande mal faz às almas e à sociedade e que abunda na sociedade,
em todos os meios. Diz o Santo Cura d’Ars que nenhum pecado destrói tão
rapidamente a alma quanto esse pecado vergonhoso que nos tira da mão de
Deus e nos joga na lama. São Tomás de Aquino diz algo semelhante: pela
luxúria ou impureza somos afastados ao máximo de Deus. Os santos não
estão dizendo aqui que o pecado da impureza é, em si mesmo, o pecado
mais grave. O pecado de ódio a Deus ou um pecado contra a fé são em si
mais graves, por exemplo. Todavia, os santos dizem que a impureza afasta
mais de Deus que outros pecados em virtude da dificuldade em emendar-se
quando se contrai o mau hábito de cair nesses pecados vergonhosos.
Levado pela ferida do pecado original, o ser humano se deixa escravizar
facilmente por esse pecado. E daí vêm consequências gravíssimas. Sobre
as consequências drásticas desse pecado para uma alma e para a
sociedade, sobre as filhas da luxúria ou impureza, falamos em um
importante sermão nos dias do carnaval. Não custa enumerar essas
consequências novamente. O vício da impureza gera: cegueira de espírito,
precipitação, inconsideração, inconstância, amor desordenado de si
mesmo, ódio a Deus, apego à vida presente, desespero com relação à
salvação. A luxúria, por tudo isso, leva também a pessoa a perder a fé, a
desprezar as verdades reveladas e a se obstinar no pecado, esquecida do
juízo e do inferno. Para fazer uma alma perder a fé, é muitas vezes
mais eficaz fazê-la se afundar na luxúria do que combater a fé
diretamente. As músicas sensuais pelas letras e ritmos, filmes, roupas
indecentes, etc., contribuem muitíssimo para a perda da fé sem atacá-la
diretamente. Os que combatem a Igreja sabem muito bem disso. Podemos
citar ainda, entre as filhas da luxúria, o aborto, que é assassinato, e a
eutanásia, que é suicídio ou assassinato. A luxúria leva ao aborto
porque as pessoas querem satisfazer suas paixões desordenadas sem
responsabilidade. Leva à eutanásia porque se a pessoa já não pode
aproveitar a vida, melhor que morra. Quantos males gravíssimos e quantas
calamidades espirituais são causados pela busca de um prazer
desordenado instantâneo, passageiro. Se de nada vale ao homem ganhar o
mundo inteiro, se ele vier a perder a sua alma, o quanto vale ao homem
cometer tão vergonhoso e torpe pecado, que lhe faz perder o céu e
merecer o inferno? Diz Santo Afonso que, entre os adultos, poucos se
salvam por causa desse pecado. Ele dizia isso no século XVIII. Podemos
imaginar a situação em nossos dias… Por tão pouca e vergonhosa coisa.
Tendo, então, uma breve ideia das
consequências desse pecado, procuremos os meios para adquirir ou avançar
na virtude oposta a esse vício, quer dizer, na virtude da castidade. A
virtude da castidade é a virtude derivada da virtude de temperança que
nos faz ordenar o apetite venéreo conforme a razão iluminada pela fé,
que reconhece que isso se reserva aos cônjuges no bom uso do matrimônio,
isto é, sem que a procriação seja impedida, podendo, nesse caso, ser
verdadeiramente um ato meritório diante Deus. Nossa razão reconhece que
esse ato é ordenado à procriação e subsequente educação dos filhos, que
se deve fazer dentro de um matrimônio indissolúvel.
Para que possa haver castidade, é preciso
que haja primeiro, nos diz São Tomás, a vergonha e a honestidade. A
vergonha é o sentimento louvável de temer a desonra e a confusão que são
consequência de um pecado torpe. A honestidade é o amor à beleza que
provém da prática da virtude. Devemos ter essa vergonha e essa
honestidade. Outra raiz da pureza é a modéstia no nosso exterior, no
falar, nos modos, no vestir, etc. Sem a modéstia, a pureza será
impossível para nós e seremos também causa da queda dos outros.
Colocadas essas bases, para alcançar a
castidade, é preciso também rezar muitíssimo, pedindo essa graça. Rezar,
sobretudo, para Nossa Senhora, Mãe Castíssima, que sabe ensinar a seus
filhos a castidade. A devoção das três Ave-Marias quando se acorda e
antes de dormir, pedindo a graça da pureza é muito eficaz para se
adquirir a pureza ou para perseverar nela. Também a devoção a São José é
muito eficaz no combate pela pureza, pela castidade, sobretudo para os
homens. São José ensina aos homens a verdadeira virilidade, que consiste
em ter o domínio sobre suas paixões. O homem que se deixa levar pelas
paixões, pela impureza é considerado em nossa sociedade decadente como
viril. Ora, esse homem é, ao contrário, efeminado, pois efeminado,
tecnicamente, é aquele que se deixa levar pelas paixões, pelas más
inclinações, que não tem força para combatê-las e vencê-las, em virtude
da tristeza e das dificuldades que existem na prática da virtude.
Portanto, a devoção a São José vai nos ensinar a verdadeira virilidade,
que consiste na castidade. Como diz o Salmo (30, 25): Agi com virilidade
e fortalecei o vosso coração, vós que esperais no Senhor. Viriliter
agite et confortetur cor vestrum qui speratis in Domino. Invocar o nome
de Jesus, Maria e José é de uma eficácia particular para se obter a
pureza.
Para sermos castos, é preciso também
mortificar os sentidos, sobretudo os olhos. Jó fez um pacto com seus
olhos para não olhar para as moças e, assim, se manteve casto. Evitar a
vã curiosidade, não parar os olhos em algo que possa suscitar maus
pensamentos ou imaginações. E, justamente, é preciso mortificar nossa
imaginação, controlando-a, ordenando-a.
É preciso evitar também as ocasiões de
pecado, isto é, os ambientes, as pessoas, as coisas, as circunstâncias
que podem levar a pecados contra a pureza. Muito cuidado é necessário no
namoro ou no noivado. Namorados e noivos devem estar sempre em locais
públicos que lhes impeçam de cometer pecados contra a pureza. Devem
evitar andar de carro sozinhos, por exemplo. Namoro e noivado devem
durar entre um e dois anos, tempo suficiente para conhecer a alma do
outro, e que impede o surgimento de familiaridades indevidas. Bastaria
um beijo apaixonado para haver um pecado grave entre namorados e noivos
(conforme decreto do Santo Ofício de 1666, sob o Papa Alexandre VII). Os
pecados contra a pureza aqui prejudicam também o correto juízo que se
deve fazer da alma do outro, de suas qualidades e defeitos, a fim de
saber se é possível ou não viver uma vida inteira com a pessoa… Levada
pelos sentimentos e paixões, o julgamento será falseado.
Outra ocasião de pecado muito séria hoje é
o computador, a internet. Deve-se usar a internet com um objetivo
preciso, definido, fazendo uma oração antes ou depois. Quem navega à toa
na internet dificilmente se preserva de pecado nessa matéria. Redes
sociais também são grande fonte de perigo. Se uma pessoa já caiu várias
vezes por meio de internet, reze antes de usá-la, coloque uma imagem de
Nosso Senhor ou Nossa Senhora perto, para lembrar a presença de Deus,
utilize o computador em local público, a que outras pessoas têm acesso.
Se nada disso adianta, a solução é simples: renunciar à internet, ao
menos temporariamente: mais vale entrar no céu sem internet do que com a
internet ser condenado eternamente. O mesmo vale para TV, filmes e
coisas do gênero. É preciso lembrar-se sempre de que o mais oculto dos
pecados são conhecidos por Deus e serão conhecidos por todos no dia do
juízo. É preciso fugir das ocasiões de pecado. Como diz São Felipe Neri,
na guerra contra esse vício, os vitoriosos são os covardes, quer dizer,
aqueles que fogem das ocasiões de pecado.
Além da oração, da mortificação dos
sentidos e da fuga das ocasiões, é preciso evitar a ociosidade. A
ociosidade é mãe de inúmeros pecados, a começar pela impureza. O Rei
Davi pecou cometendo adultério e homicídio porque em um momento de
ociosidade olhou para a mulher do próximo.
É preciso também mortificar-se, fazendo
penitências, jejuns, abstinência de carne. Devemos começar observando a
penitência da sexta-feira imposta pela Igreja, procurando fazê-la do
modo tradicional, quer dizer, nos abstendo de carne. As mortificações
facilitam o domínio da razão e da vontade sobre as paixões. É preciso
mortificar-se em coisas lícitas para aprender a vencer a si mesmo na
hora da tentação. É preciso, de modo particular, ter muita sobriedade no
beber álcool.
No combate pela castidade, é preciso se
aproximar dos sacramentos com assiduidade. É preciso se confessar com
frequência não só depois da queda, mas também para evitá-la. Aqueles que
têm o vício da luxúria ou impureza devem procurar a confissão uma vez
por semana, ou pelo menos uma vez a cada duas semanas. É preciso
comungar com frequência, estando em estado de graça, para evitar quedas
futuras. Com o método preventivo e não só curativo, se impede que o
pecado lance raízes mais profundas.
É preciso também pensar no inferno, na
condenação eterna que se merece por tão pouca coisa, por algo tão
passageiro e instantâneo. Perde-se o céu, se merece o inferno, se
crucifica NS novamente por pecado tão torpe. Usar dessa faculdade fora
do matrimônio, nos assemelha aos animais brutos, irracionais. Como diz
São Tomás, o impuro não vive segundo a razão. Portanto, é preciso pensar
no inferno e na nossa morte, da qual não sabemos o dia nem a hora. Não
devemos adiar nossa conversão. Pode ser que Deus não nos dê a graça da
conversão depois. É preciso aproveitá-la agora.
Na hora da tentação propriamente dita, é
preciso rezar, em particular invocando o nome de Jesus, Maria e José e
pensar em outra coisa, distrair o pensamento com algo bom, lícito, ainda
que sem importância, como enumerar as capitais dos estados, por
exemplo. O importante é que ocupemos a imaginação e o pensamento com
outra coisa. É preciso cortar a tentação imediatamente. Se cair,
procurar levantar-se imediatamente, buscando a confissão com verdadeiro
arrependimento e propósito de emenda. Existe uma tendência em desmoronar
depois da primeira queda, cometendo outros pecados. Isso agrava
muitíssimo as coisas, multiplicando os pecados, as penas, solidificando o
mau hábito, dificultando tremendamente a conversão.
Quem tem o vício da impureza não deve
desesperar, mas deve se apoiar em Deus, em Nossa Senhora, nos anjos e
santos e aplicar os meios que mencionamos com muita determinação. Não
basta um eu quisera, um eu gostaria. Não, tem que ser um eu quero firme,
disposto a empregar os meios necessários para atingir o fim buscado,
que é a pureza. Ao ser humano pode parecer impossível livrar-se de tal
pecado uma vez que se contraiu o vício e, de fato, não é fácil. Mas com
Deus é perfeitamente possível. Quem realmente quer se livrar desse vício
e se apoia em Deus, consegue ter uma vida pura. Aqueles que não têm o
vício devem continuar vigiando e orando, desconfiando de si, pois se
acharem que estão imunes a tais pecados, cairão.
Combater pela pureza é necessário.
Devemos fazê-lo com determinação e rezando muito. Diz Santo Agostinho
que nessa espécie de pecado a batalha é onipresente, mas que a vitória é
rara. Mas bem determinados, vigiando, rezando, empregando os meios que
citamos, é plenamente possível. E que grande liberdade nos dá a
castidade, que grande alegria viver segundo a razão e a fé.
Dirijo-me agora aos pais e aos que ajudam
na educação das crianças. Os pais devem vigiar e favorecer a pureza dos
filhos desde a mais tenra idade, para que adquiram a vergonha e a
honestidade, para que sejam modestos no falar, nos modos, nas vestes…
Cabe aos pais evitar que os filhos adquiram maus hábitos nesse campo,
ainda que os filhos não entendam a malícia do que estão fazendo, pois
depois não conseguirão se livrar do vício. Cuidado pais, cuidado com as
crianças. Vejamos o que diz Pio XII: “Por desgraça, diz o Papa, às vezes
acontece que pais cristãos com tantos cuidados na educação de um filho
ou de uma filha, que são mantidos sempre longe dos perigosos prazeres e
das más companhias, de repente vêem os filhos, com a idade de 18 ou 20
anos, vítimas de miseráveis e escandalosas quedas: o bom grão que
semearam foi arruinado pela cizânia. Quem foi o inimigo do homem que fez
tanto mal? O que ocorreu, continua o Papa, foi que no próprio lar,
nesse pequeno paraíso, se introduziu furtivamente o tentador, o inimigo
astuto, e encontrou ali o fruto corruptor para oferecer a mãos
inocentes. Um livro deixado por acaso na mesa do pai foi o que destruiu
no filho a fé de seu batismo, um romance abandonado no sofá ou no quarto
pela mãe foi o que ofuscou na filha a pureza de sua primeira comunhão.”
Até aqui o Papa. A cizânia pode entrar ao se folhearem revistas de
notícias ou jornais largados na casa. A cizânia pode entrar pela
televisão por um trecho do jornal televiso a que a criança assistiu por
acaso. Vigiem, pais, vigiem pela alma dos filhos. Por favor,
mantenham-nos longe da internet e de tablets e ipads, em que podem
acessar verdadeiramente qualquer coisa. Eles já vêem tanta coisa ruim
fora de casa. Que ao menos dentro dela eles possam encontrar a pureza e a
virtude, a começar pelo exemplo dos pais.
De que vale ganhar o mundo inteiro se
viermos a perder a nossa alma? De que vale uma satisfação instantânea,
fugaz, e que nos faz perder o céu, merecer o inferno e que crucifica
novamente NS? Confiando em Deus, desconfiando de nós mesmos, com uma
determinação muito determinada, sejamos castos e puros conforme o nosso
estado de vida.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo Amém.
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