13 de novembro de 2013

Sermão 25º Domingo depois de Pentecostes ( Quinto Domingo Remanescente depois da Epifania ) – Padre Daniel Pinheiro IBP

[Sermão] O combate pela virtude da castidade


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…

“Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por Ele graças a Deus Pai.”
Na parábola de hoje, NS diz que, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo e semeou cizânia no meio do trigo e foi-se. Entre a cizânia semeada, podemos destacar o pecado da impureza, que tão grande mal faz às almas e à sociedade e que abunda na sociedade, em todos os meios. Diz o Santo Cura d’Ars que nenhum pecado destrói tão rapidamente a alma quanto esse pecado vergonhoso que nos tira da mão de Deus e nos joga na lama. São Tomás de Aquino diz algo semelhante: pela luxúria ou impureza somos afastados ao máximo de Deus. Os santos não estão dizendo aqui que o pecado da impureza é, em si mesmo, o pecado mais grave. O pecado de ódio a Deus ou um pecado contra a fé são em si mais graves, por exemplo. Todavia, os santos dizem que a impureza afasta mais de Deus que outros pecados em virtude da dificuldade em emendar-se quando se contrai o mau hábito de cair nesses pecados vergonhosos. Levado pela ferida do pecado original, o ser humano se deixa escravizar facilmente por esse pecado. E daí vêm consequências gravíssimas. Sobre as consequências drásticas desse pecado para uma alma e para a sociedade, sobre as filhas da luxúria ou impureza, falamos em um importante sermão nos dias do carnaval. Não custa enumerar essas consequências novamente. O vício da impureza gera: cegueira de espírito, precipitação, inconsideração, inconstância, amor desordenado de si mesmo, ódio a Deus, apego à vida presente, desespero com relação à salvação. A luxúria, por tudo isso, leva também a pessoa a perder a fé, a desprezar as verdades reveladas e a se obstinar no pecado, esquecida do juízo e do inferno. Para fazer uma alma perder a fé, é muitas vezes mais eficaz fazê-la se afundar na luxúria do que combater a fé diretamente. As músicas sensuais pelas letras e ritmos, filmes, roupas indecentes, etc., contribuem muitíssimo para a perda da fé sem atacá-la diretamente. Os que combatem a Igreja sabem muito bem disso. Podemos citar ainda, entre as filhas da luxúria, o aborto, que é assassinato, e a eutanásia, que é suicídio ou assassinato. A luxúria leva ao aborto porque as pessoas querem satisfazer suas paixões desordenadas sem responsabilidade. Leva à eutanásia porque se a pessoa já não pode aproveitar a vida, melhor que morra. Quantos males gravíssimos e quantas calamidades espirituais são causados pela busca de um prazer desordenado instantâneo, passageiro. Se de nada vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele vier a perder a sua alma, o quanto vale ao homem cometer tão vergonhoso e torpe pecado, que lhe faz perder o céu e merecer o inferno? Diz Santo Afonso que, entre os adultos, poucos se salvam por causa desse pecado. Ele dizia isso no século XVIII. Podemos imaginar a situação em nossos dias… Por tão pouca e vergonhosa coisa.
Tendo, então, uma breve ideia das consequências desse pecado, procuremos os meios para adquirir ou avançar na virtude oposta a esse vício, quer dizer, na virtude da castidade. A virtude da castidade é a virtude derivada da virtude de temperança que nos faz ordenar o apetite venéreo conforme a razão iluminada pela fé, que reconhece que isso se reserva aos cônjuges no bom uso do matrimônio, isto é, sem que a procriação seja impedida, podendo, nesse caso, ser verdadeiramente um ato meritório diante Deus. Nossa razão reconhece que esse ato é ordenado à procriação e subsequente educação dos filhos, que se deve fazer dentro de um matrimônio indissolúvel.
Para que possa haver castidade, é preciso que haja primeiro, nos diz São Tomás, a vergonha e a honestidade. A vergonha é o sentimento louvável de temer a desonra e a confusão que são consequência de um pecado torpe. A honestidade é o amor à beleza que provém da prática da virtude. Devemos ter essa vergonha e essa honestidade. Outra raiz da pureza é a modéstia no nosso exterior, no falar, nos modos, no vestir, etc. Sem a modéstia, a pureza será impossível para nós e seremos também causa da queda dos outros.
Colocadas essas bases, para alcançar a castidade, é preciso também rezar muitíssimo, pedindo essa graça. Rezar, sobretudo, para Nossa Senhora, Mãe Castíssima, que sabe ensinar a seus filhos a castidade. A devoção das três Ave-Marias quando se acorda e antes de dormir, pedindo a graça da pureza é muito eficaz para se adquirir a pureza ou para perseverar nela. Também a devoção a São José é muito eficaz no combate pela pureza, pela castidade, sobretudo para os homens. São José ensina aos homens a verdadeira virilidade, que consiste em ter o domínio sobre suas paixões. O homem que se deixa levar pelas paixões, pela impureza é considerado em nossa sociedade decadente como viril. Ora, esse homem é, ao contrário, efeminado, pois efeminado, tecnicamente, é aquele que se deixa levar pelas paixões, pelas más inclinações, que não tem força para combatê-las e vencê-las, em virtude da tristeza e das dificuldades que existem na prática da virtude. Portanto, a devoção a São José vai nos ensinar a verdadeira virilidade, que consiste na castidade. Como diz o Salmo (30, 25): Agi com virilidade e fortalecei o vosso coração, vós que esperais no Senhor. Viriliter agite et confortetur cor vestrum qui speratis in Domino.  Invocar o nome de Jesus, Maria e José é de uma eficácia particular para se obter a pureza.
Para sermos castos, é preciso também mortificar os sentidos, sobretudo os olhos. Jó fez um pacto com seus olhos para não olhar para as moças e, assim, se manteve casto. Evitar a vã curiosidade, não parar os olhos em algo que possa suscitar maus pensamentos ou imaginações. E, justamente, é preciso mortificar nossa imaginação, controlando-a, ordenando-a.
É preciso evitar também as ocasiões de pecado, isto é, os ambientes, as pessoas, as coisas, as circunstâncias que podem levar a pecados contra a pureza. Muito cuidado é necessário no namoro ou no noivado. Namorados e noivos devem estar sempre em locais públicos que lhes impeçam de cometer pecados contra a pureza. Devem evitar andar de carro sozinhos, por exemplo. Namoro e noivado devem durar entre um e dois anos, tempo suficiente para conhecer a alma do outro, e que impede o surgimento de familiaridades indevidas. Bastaria um beijo apaixonado para haver um pecado grave entre namorados e noivos (conforme decreto do Santo Ofício de 1666, sob o Papa Alexandre VII). Os pecados contra a pureza aqui prejudicam também o correto juízo que se deve fazer da alma do outro, de suas qualidades e defeitos, a fim de saber se é possível ou não viver uma vida inteira com a pessoa… Levada pelos sentimentos e paixões, o julgamento será falseado.
Outra ocasião de pecado muito séria hoje é o computador, a internet. Deve-se usar a internet com um objetivo preciso, definido, fazendo uma oração antes ou depois. Quem navega à toa na internet dificilmente se preserva de pecado nessa matéria. Redes sociais também são grande fonte de perigo. Se uma pessoa já caiu várias vezes por meio de internet, reze antes de usá-la, coloque uma imagem de Nosso Senhor ou Nossa Senhora perto, para lembrar a presença de Deus, utilize o computador em local público, a que outras pessoas têm acesso. Se nada disso adianta, a solução é simples: renunciar à internet, ao menos temporariamente: mais vale entrar no céu sem internet do que com a internet ser condenado eternamente. O mesmo vale para TV, filmes e coisas do gênero. É preciso lembrar-se sempre de que o mais oculto dos pecados são conhecidos por Deus e serão conhecidos por todos no dia do juízo. É preciso fugir das ocasiões de pecado. Como diz São Felipe Neri, na guerra contra esse vício, os vitoriosos são os covardes, quer dizer, aqueles que fogem das ocasiões de pecado.
Além da oração, da mortificação dos sentidos e da fuga das ocasiões, é preciso evitar a ociosidade. A ociosidade é mãe de inúmeros pecados, a começar pela impureza. O Rei Davi pecou cometendo adultério e homicídio porque em um momento de ociosidade olhou para a mulher do próximo.
É preciso também mortificar-se, fazendo penitências, jejuns, abstinência de carne. Devemos começar observando a penitência da sexta-feira imposta pela Igreja, procurando fazê-la do modo tradicional, quer dizer, nos abstendo de carne. As mortificações facilitam o domínio da razão e da vontade sobre as paixões. É preciso mortificar-se em coisas lícitas para aprender a vencer a si mesmo na hora da tentação. É preciso, de modo particular, ter muita sobriedade no beber álcool.
No combate pela castidade, é preciso se aproximar dos sacramentos com assiduidade. É preciso se confessar com frequência não só depois da queda, mas também para evitá-la. Aqueles que têm o vício da luxúria ou impureza devem procurar a confissão uma vez por semana, ou pelo menos uma vez a cada duas semanas. É preciso comungar com frequência, estando em estado de graça, para evitar quedas futuras. Com o método preventivo e não só curativo, se impede que o pecado lance raízes mais profundas.
É preciso também pensar no inferno, na condenação eterna que se merece por tão pouca coisa, por algo tão passageiro e instantâneo. Perde-se o céu, se merece o inferno, se crucifica NS novamente por pecado tão torpe. Usar dessa faculdade fora do matrimônio, nos assemelha aos animais brutos, irracionais. Como diz São Tomás, o impuro não vive segundo a razão. Portanto, é preciso pensar no inferno e na nossa morte, da qual não sabemos o dia nem a hora. Não devemos adiar nossa conversão. Pode ser que Deus não nos dê a graça da conversão depois. É preciso aproveitá-la agora.
Na hora da tentação propriamente dita, é preciso rezar, em particular invocando o nome de Jesus, Maria e José e pensar em outra coisa, distrair o pensamento com algo bom, lícito, ainda que sem importância, como enumerar as capitais dos estados, por exemplo. O importante é que ocupemos a imaginação e o pensamento com outra coisa. É preciso cortar a tentação imediatamente. Se cair, procurar levantar-se imediatamente, buscando a confissão com verdadeiro arrependimento e propósito de emenda. Existe uma tendência em desmoronar depois da primeira queda, cometendo outros pecados. Isso agrava muitíssimo as coisas, multiplicando os pecados, as penas, solidificando o mau hábito, dificultando tremendamente a conversão.
Quem tem o vício da impureza não deve desesperar, mas deve se apoiar em Deus, em Nossa Senhora, nos anjos e santos e aplicar os meios que mencionamos com muita determinação. Não basta um eu quisera, um eu gostaria. Não, tem que ser um eu quero firme, disposto a empregar os meios necessários para atingir o fim buscado, que é a pureza.  Ao ser humano pode parecer impossível livrar-se de tal pecado uma vez que se contraiu o vício e, de fato, não é fácil. Mas com Deus é perfeitamente possível. Quem realmente quer se livrar desse vício e se apoia em Deus, consegue ter uma vida pura. Aqueles que não têm o vício devem continuar vigiando e orando, desconfiando de si, pois se acharem que estão imunes a tais pecados, cairão.
Combater pela pureza é necessário. Devemos fazê-lo com determinação e rezando muito. Diz Santo Agostinho que nessa espécie de pecado a batalha é onipresente, mas que a vitória é rara. Mas bem determinados, vigiando, rezando, empregando os meios que citamos, é plenamente possível. E que grande liberdade nos dá a castidade, que grande alegria viver segundo a razão e a fé.
Dirijo-me agora aos pais e aos que ajudam na educação das crianças. Os pais devem vigiar e favorecer a pureza dos filhos desde a mais tenra idade, para que adquiram a vergonha e a honestidade, para que sejam modestos no falar, nos modos, nas vestes… Cabe aos pais evitar que os filhos adquiram maus hábitos nesse campo, ainda que os filhos não entendam a malícia do que estão fazendo, pois depois não conseguirão se livrar do vício. Cuidado pais, cuidado com as crianças. Vejamos o que diz Pio XII: “Por desgraça, diz o Papa, às vezes acontece que pais cristãos com tantos cuidados na educação de um filho ou de uma filha, que são mantidos sempre longe dos perigosos prazeres e das más companhias, de repente vêem os filhos, com a idade de 18 ou 20 anos, vítimas de miseráveis e escandalosas quedas: o bom grão que semearam foi arruinado pela cizânia. Quem foi o inimigo do homem que fez tanto mal? O que ocorreu, continua o Papa, foi que no próprio lar, nesse pequeno paraíso, se introduziu furtivamente o tentador, o inimigo astuto, e encontrou ali o fruto corruptor para oferecer a mãos inocentes. Um livro deixado por acaso na mesa do pai foi o que destruiu no filho a fé de seu batismo, um romance abandonado no sofá ou no quarto pela mãe foi o que ofuscou na filha a pureza de sua primeira comunhão.” Até aqui o Papa. A cizânia pode entrar ao se folhearem revistas de notícias ou jornais largados na casa. A cizânia pode entrar pela televisão por um trecho do jornal televiso a que a criança assistiu por acaso. Vigiem, pais, vigiem pela alma dos filhos. Por favor, mantenham-nos longe da internet e de tablets e ipads, em que podem acessar verdadeiramente qualquer coisa. Eles já vêem tanta coisa ruim fora de casa. Que ao menos dentro dela eles possam encontrar a pureza e a virtude, a começar pelo exemplo dos pais.
De que vale ganhar o mundo inteiro se viermos a perder a nossa alma? De que vale uma satisfação instantânea, fugaz, e que nos faz perder o céu, merecer o inferno e que crucifica novamente NS? Confiando em Deus, desconfiando de nós mesmos, com uma determinação muito determinada, sejamos castos e puros conforme o nosso estado de vida.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo Amém.

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