1 de novembro de 2013

O Coração de Jesus, modelo de conformidade com a vontade de Deus.

Sicut mandatum dedit mihi Pater, sic facio — “Faço tudo o que meu Pai me ordenou” (Io. 14, 31).

Sumário. Oh! Em que chamas de amor para com seu Pai abrasou-se o Coração de Jesus! Um dos maiores sinais de amor que se pode dar a alguém, é fazer em tudo e sempre a sua vontade. Ora, tal foi a disposição contínua do Coração de Jesus: Ele não buscou em toda a vida senão a vontade do seu eterno Pai. A conformidade com a vontade de Deus nos tornará semelhantes a Jesus Cristo e nos fará atingir o cimo da perfeição.

I. Oh! Em que chamas de amor para com seu Pai abrasou-se o Coração de Jesus! Um dos maiores sinais de amor que se pode dar a alguém, é fazer em tudo e sempre a sua vontade, ainda quando seja preciso para isto perder tudo, até a vida. Ora, tal foi a disposição continua do Coração de Jesus: Ele não buscou em toda a sua vida senão a vontade do seu eterno Pai. Apenas encarnado no seio de sua Mãe, Ele diz: “Ó meu pai, Vós rejeitastes as vítimas que os homens Vos ofereciam; quereis que eu os sacrifique o corpo que me destes: pois sim! Aqui estou pronto para fazer a vossa vontade.” (1)

 Quantas vezes, protestou que “descera do céu não para fazer a sua vontade, mas a do Pai que o enviava”! (2) Para fazer conhecer ao mundo o amor imenso que tinha a seu Pai, Jesus lhe obedeceu até fazer o sacrifício da sua vida pela salvação dos homens. É precisamente o que dizia ao sair ao encontro dos inimigos que vinham prendê-Lo para O conduzirem a morte: “A fim de que o mundo saiba que amo a meu Pai, e faço tudo o que Ele me ordenou, levantai-vos, vamos.” (3)

Deus nos promete a glória celeste, mas com uma condição: é que o nosso coração se torne conforme o coração de Jesus. Ora, a união da vontade do homem com a vontade de Deus, é que produz esta conformidade. Como o ódio divide as vontades, assim o amor as une; de sorte que duas pessoas se amam verdadeiramente quando uma quer o que a outra quer. “As almas fiéis a amar a Deus”, diz o Sábio, “submetem-se a tudo o que Ele quer” — Fideles in dilectione acquiescent illi”. (4) São Crisóstomo diz que toda a perfeição de amor consiste na santa resignação à vontade de Deus. Quando uma alma faz morrer a sua vontade própria para não deixar viver senão a vontade de Deus, atinge o cimo da perfeição.

II. Há pessoas que fazem consistir a sua santidade em fazer muitas peniências, comungar muitas vezes, rezar muitas orações vocais; mas nisto não consiste a perfeição: consiste em submeter-se à vontade de Deus. Tudo o que o Coração de Jesus deseja de nós, é que cumpramos a vontade divina. “Meu filho”, diz Ele, “dá-me o teu coração”, isto é, a tua vontade. Praebe, fili, cor tuum mihi (5). Mas nunca se poderá chegar a esta suprema felicidade senão por meio da oração mental e contínuas súplicas, com sincero desejo de ser sem reserva do Coração de Jesus.

Coração de meu amadíssimo Jesus, vossa ternura tem atrativos irressitíveis para arrebatar os corações. Ah! Tocai o meu pobre coração; ele também deseja apegar-se a Vós e viver nas suaves cadeias do vosso amor. Desde este momento, ó meu Jesus, deponho todos os meus interesses, todas as minhas esperanças, todos os meus afetos,  a minha alma, o meu corpo, tudo, enfim, entre as mãos da vossa bondade; aceitai-me, Senhor, e de mim disponde segundo o vosso beneplácito.

Ó meu amor, não quero mais me queixar das disposições da vossa Providência; sei que, procedendo todas do vosso Coração tão terno, elas são sempre cheias de amor e vantajosas para mim. basta que Vós a queirais; eu também as quero sem restrição no tempo e na eternidade. Ó vontade de meu Deus, quanto me sois cara! Quero viver e morrer estreitamente unido a Vós: o que Vos agrada, me agrada; os vossos desejos serão os meus desejos. Meu Deus, meu Deus, ajudai-me; fazei com que de ora em diante eu não viva mais senão para querer o que Vós quereis, para amar a vossa amável vontade. Quem me dera morrer por vosso amor, ó Vós que morrestes por amor de mim e Vos fizestes o meu alimento! — Ó Maria, alcançai-me de vosso divino Filho uma perfeita conformidade com a vontade de Deus.

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1. Hebr. 10, 5.
2. Io. 6, 38.
3. Io. 14, 31.
4. Sap. 3, 9.
5.  Prov. 23, 26.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 405- 407.)

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