Venite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos — “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Matth. 11, 28).
Sumário. Enquanto vivermos sobre a terra, nunca nos faltarão angústias, tribulações e trabalhos; aliás ela não seria para nós um vale de lágrimas. Se, porém, quisermos sentir menos o peso das cruzes, amemos muito a Jesus, e habituemo-nos a recorrer freqüentemente a Ele no seu Santíssimo Sacramento. Imaginemos vê-lo ali coroado de espinhos, coberto de chagas, aflito e chorando a ingratidão dos homens. Unamos as nossas lágrimas com as de Jesus. Oh, quanto é doce chorar com o nosso divino Consolador!
I. Quando o nosso Divino Redentor estava na terra, convidava todos a que a Ele recorressem para serem consolados, dizendo-lhes: Vinde todos a mim. E os factos correspondiam às palavras: pois, como diz São Lucas: Jesus andou de lugar em lugar, fazendo bem e sarando a todos os oprimidos do demônio (1) — Ora, no Santíssimo Sacramento do Altar o nosso amabilíssimo Jesus exerce continuamente o mesmo oficio de Consolador das almas. Ali está noite e dia, cheio todo de misericórdia, esperando, chamando e acolhendo todos os que o vêm visitar.
Vendo que são tão poucos os que querem gozar das suas consolações e movido pelo seu amor e pelo desejo de nos fazer bem, chega a queixar-se pela boca do Profeta: Num quid resina non est in Galaad, aut medicus non est ibi? (2) — Não há bálsamo em Galaad, e não se encontra aí medico algum? Galaad é uma montanha da Arábia, rica em ungüentos aromáticos; segundo o venerável Beda, ela é figura de Jesus Cristo, que nos preparou na Eucaristia todos os remédios para as nossas enfermidades. — Porque então, parece nos dizer o Divino Redentor, porque vos queixais das vossas misérias, ó filhos de Adão? Pois, quaisquer que sejam os vossos males, neste Sacramento achareis o médico e os remédios. Oh! Se recorresseis sempre a mim, certamente não serieis miseráveis como sois.
Falem aqui aqueles corações venturosos que fizeram a experiência. Convence-te, dizem eles, de que a alma que se detém, embora pouco recolhida, diante do Santíssimo Sacramento, recebe de Jesus mais consolações do que as que o mundo pode dar com todos os seus festins e divertimentos. Oh, que delícias sentimos, estando com fé perante um altar, e entretendo-nos familiarmente com Jesus, que está ali expressamente para ouvir e atender os que O invocam; pedindo-Lhe perdão das penas que Lhe temos causado; expondo-Lhe as nossas necessidades, como faz o amigo ao amigo; pedindo-Lhe as suas graças, o seu amor, o seu paraíso! E, acima de tudo, que alegria celeste se sente ao fazer atos de amor para com esse amável Senhor que está sobre o altar, inflamado em amor por nós! Mas a que vêm tantas palavras? Gustate et videte, quoniam suavis est Dominus (3) — “Experimentai e vêde como o Senhor é suave”.
II. Meu irmão, enquanto viveres sobre a terra, sofrerás angústias, tribulações e aflições; aliás, a terra não seria para ti um vale de lágrimas. Habitua-te, pois, a recorrer a Jesus sacramentado, à imitação de tantas almas desoladas, que em suas maiores necessidades a Ele recorreram e acharam aquela paz que excede qualquer gozo dos sentidos. Roga-Lhe que no teu coração aumente o amor, e sofrerás com alegria os desprezos e todas as contrariedades. — Quando te sentires perturbado por causa de alguma falta cometida, vai logo pedir-lhe perdão; quando passares por algum desgosto ou por algum encontro menos agradável, oferece-lh´o logo e pede-Lhe que te ajude a aceitá-lo com resignação.
Para alimentar a tua devoção podes imaginar que o estás vendo sobre os altares, o rosto todo amável e as mãos cheias de graças, e que te diz: “Meu filho, não chores. Não te sou mais do que todas as consolações?... Não te posso aliviar todos os sofrimentos?” — Ou então imagina vê-Lo coroado de espinhos, todo coberto de chagas, a chorar a ingratidão dos homens, e convidando-te a unir as tuas lágrimas com as suas. Ah! Acredita-me, meu irmão: o chorar com esse divino Consolador é de uma doçura que excede todas as delícias do mundo.
Ó meu doce Redentor Jesus! Vós sois a fonte de todo o bem, o remédio contra todos os males, o tesouro de todos os pobres. Eis aqui a vossos pés o pecador entre todos o mais pobre, o mais enfermo, que implora a vossa piedade: tende compaixão de mim! Não quero que me desanime a minha miséria, já que neste Sacramento Vos vejo descido do céu sobre a terra, tão somente para me fazer bem. Adoro-Vos, agradeço-Vos e amo-Vos; se desejais que Vos peça alguma esmola, escutai o que Vos peço: Não quero mais ofender-Vos, e quero que me comuniqueis luz e força para Vos amar com todas as minhas forças, e para sofrer com paciência as adversidades da vida. Senhor, amo-Vos com toda a minha alma; amo-Vos com todo o meu afeto. Fazei que o diga sinceramente e o diga durante toda a minha vida e por toda a eternidade. — Maria Santíssima, meus santos Protetores, vós todos, anjos e santos do paraíso, ajudai-me a amar o meu Deus todo amável. (*I 384.)
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1. Act. 10, 38.
2. Ier. 8, 22.
3. Ps. 33, 9.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 308- 311.)
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