XXIV - Tudo por Deus
Nós temos sempre dois secretários: o demônio, que inscreve as nossas más ações para nos acusar, e o nosso bom anjo, que escreve as boas para nos justificar no dia do juízo. Quando todas as nossas ações nos forem apresentadas, quão poucas haverá agradáveis à Deus, mesmo entre as melhores! Tantas imperfeições, tantos pensamentos de amor próprio, tantas satisfações humanas, tantos prazeres sensuais, tantos retornos egoístas que se acham misturados a elas! Elas tem boa aparência: como esses frutos que parecem mais amarelos e mais maduros porque um verme os picou.
Sim, haverá poucas boas obras recompensadas, porque em vez de as fazermos por amor a Deus, as fazemos por hábito, rotineiramente, por amor de nós mesmos... Como é pena!
Tudo sob os olhos de Deus, tudo com Deus, tudo para agradar a Deus... oh! como é belo!... Eia, minha alma, tu vais conversar com o bom Deus, trabalhar com ele, andar com ele, combater e sofrer com ele. Trabalharás, mas ele abençoará o teu trabalho; andarás, mas ele abençoará os teus passos; sofrerás, mas ele abençoará as tuas lágrimas. Como é grande, como é nobre, como é consolador fazer tudo na companhia e sob os olhos do bom Deus, pensar que ele vê tudo, que conta tudo!... Digamos pois, cada manhã: "Tudo para vos agradar, ó meu Deus! todas as minha ações convosco!..." Como o pensamento da santa presença de Deus é doce e consolador!... A gente nunca se cansa, as horas correm como minutos... Enfim, é um antegozo do céu.
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