7 de novembro de 2013

Sermão para a Solenidade Externa da Festa de Todos os Santos – Padre Daniel Pinheiro IBP


[Sermão] O culto dos santos, das relíquias e imagens

Sermão para a Solenidade Externa da Festa de Todos os Santos

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…

Fazemos hoje a Solenidade externa da Festa de Todos os Santos, celebrada no dia 1º de novembro.
Altar das Relíquias
                  Altar das Relíquias
“Laudate Dominum in sanctis ejus.” Louvai o Senhor em seus santos, nos diz o Salmo 150 na Vulgata. Esse versículo da Sagrada Escritura descreve com precisão a natureza da veneração prestada aos santos pelos católicos, desde os primeiros séculos. Ao venerar os santos glorificamos a Deus, louvamos a Deus em seus santos. Veremos porque é possível cultuar os santos, os benefícios que derivam do culto dos santos, de suas imagens e relíquias.
É bem conhecida a objeção dos protestantes ao culto prestado aos santos. E, em geral, quanto mais ignorante um protestante, mais virulento será seu ataque ao culto dos santos. A heresia protestante diz que o culto dos santos não pode se realizar em virtude de três objeções, basicamente. A primeira delas consiste em afirmar que o culto dos santos se contrapõe ao fato de que NSJC é o único mediador. São Paulo na sua 1ª Epístola a Timóteo afirma: “há um só Deus e só há um mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem, que se deu a si mesmo para redenção de todos.” Não resta dúvida de que São Paulo estabelece NS como o único mediador. Ele faz isso nos versículos 5 e 6 do capítulo 2. Nos versículos precedentes, ele escreve a Timóteo: “Eu te rogo, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, petições, ações de graças por todos os homens.” Em seguida, diz: “Isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e que cheguem a ter o conhecimento da verdade.” São Paulo recomenda a Timóteo que interceda por todos e diz que isso é agradável diante de Deus. Estaria São Paulo em contradição, ordenando a Timóteo que reze pelos outros ao mesmo tempo em que diz que só há um mediador. É claro que não. Nosso Senhor é o único mediador de redenção, Ele é o único que nos redime e nos salva. Isso não impede que haja mediadores de intercessão, que com suas orações pedem para que Cristo nos aplique a sua redenção. Portanto, NS é o único mediador de redenção, mas ele estabeleceu mediadores de intercessão subordinados a Ele.
É possível, então, haver mediadores de intercessão sem que NS deixe de ser o único mediador de redenção. Mas os protestantes dizem – e é a segunda objeção – que os santos no céu não tomam conhecimento de nossas orações, não podendo, assim, nos ajudar. Isso é falso. É claro que os santos conhecem as nossas orações, pois podem ver tudo em Deus, no Verbo de Deus, ainda que nossas orações sejam meramente internas, sem nada exterior. Os santos no céu têm uma caridade perfeita, inflamada, um amor perfeito por Deus e pelo próximo. Eles querem o bem do próximo e querem agir para o bem do próximo. Seria um contrassenso se no momento em que mais são movidos pela caridade, se no momento em que mais querem e podem ajudar o próximo, os santos não pudessem auxiliar aqueles que mais precisam, que somos nós. Portanto, os santos no céu, ao verem Deus face a face, conhecem também os nossos pedidos e nos ajudam, movidos pela caridade perfeita que possuem.
Finalmente, dizem os protestantes que Deus é tão bom que não precisa de intercessores para nos dar o que necessitamos. Estritamente falando, é óbvio que não haveria necessidade absoluta de intercessores. Todavia, Deus é tão bom que quis que tivéssemos intercessores e modelos, para o nosso próprio bem, para que pudéssemos pedir as coisas com maior confiança, sabendo que somos representados por pessoas que agradam mais a Deus do que nós, pobres pecadores. Diz Santo Agostinho que Deus deixa de conceder muitas coisas, se não houver a intervenção de um mediador e advogado digno. Vemos isso na Sagrada Escritura com os amigos de Jó (Jó XLII, 8) e com Abimelec (XX, 17). Deus só perdoou os pecados dos primeiros pela intercessão de Jó e só perdoou a Abimelec pela intercessão de Abraão. Vale também destacar que Cristo enalteceu a fé do centurião com grandes elogios, apesar de o homem ter enviado ao Salvador os anciãos dos Judeus, em vez de ir pessoalmente, para que pedissem ao Senhor a cura de um servo doente (Lc VII, 2-10). E fez isso por acreditar que o pedido vindo dos anciãos dos Judeus seria mais agradável do que o seu pedido feito diretamente. Recorrer aos santos não é falta de fé. Deus é tão bom que faz os santos cooperarem de modo especial na salvação das almas pela intercessão deles. Assim, a intercessão dos santos em nada diminui a bondade divina, mas a manifesta ainda mais perfeitamente.
A invocação dos santos é lícita e boa. Ela está incluída no culto de dulia que é devido aos santos e que consiste em reconhecer internamente e externamente a excelência dos santos com relação às virtudes sobrenaturais, com relação à união íntima deles com Deus. Esse reconhecimento vai acompanhado de certa submissão a eles. Não se trata, portanto, de culto de latria, que é devido somente a Deus. Ao venerarmos os santos, louvamos e veneramos a obra de Deus neles, louvamos a graça divina que atuou de modo particular e excelente neles. Ao elogiar a obra de um artista, elogiamos também e principalmente o artista que é causa da obra. Ao venerar os santos, louvamos verdadeiramente a Deus em seus santos, como nos diz o salmo.
Veneramos os santos louvando suas excelências, celebrando as festas deles, fazendo obras de caridade ou de mortificação em honra deles, expondo e venerando as imagens e relíquias deles. Veneramos os santos também imitando os exemplos deles. E como eles são imitadores de Cristo, ao imitar os santos, imitamos Cristo. É o que diz são Paulo (1 Cor XI, 1): “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.” Mas para imitá-los é preciso ler as vidas de santos. O exemplo deles nos faz muito bem, pois são, de fato, o Evangelho colocado em prática por pessoas como nós. A vida dos santos não é só para ser admirada, mas para ser imitada. Não imitada naquilo que tem de extraordinário, milagres, etc., mas no essencial, na conversão a Deus. E veneramos os santos recorrendo à intercessão deles.
Vimos que entre os meios de honrar os santos está a veneração de imagens e relíquias. Relíquia quer dizer resto. As relíquias são, então, um pedaço do corpo de um santo (relíquia de primeira classe) ou algum objeto que lhe pertenceu (relíquia de segunda classe) ou ainda alguma coisa que tocou uma relíquia de primeira classe (e teremos uma relíquia de terceira classe). Ao venerar as relíquias de um santo veneramos, antes de tudo, a pessoa do santo e também aquele corpo que foi templo do Espírito Santo e membro vivo de Cristo, o corpo que junto com a alma praticou tantas virtudes, o corpo que vai ressurgir glorioso um dia. Vemos na Sagrada Escritura como a fímbria do vestido de NS opera prodígios (Mc VI, 54-56), vemos a sombra de São Pedro curar os doentes (At V, 12-16) e vemos lenços e aventais tocados por São Paulo afugentar os espíritos malignos e curar doenças (At XIX, 11 e 12) . Grande deve ser a nossa veneração pelas relíquias dos santos, imitadores de NS, relíquias que nos remetem aos santos e que são também sacramentais.
As imagens dos santos também podem e devem ser veneradas. “As imagens de Cristo, da Santíssima Virgem e de outros Santos, se devem ter e conservar especialmente nos templos e se lhes deve tributar a devida honra e veneração, não porque se creia que há nelas alguma divindade ou virtude pelas quais devam ser honradas, nem porque se lhes deva pedir alguma coisa ou depositar nelas alguma confiança, como outrora os gentios, que punham suas esperanças nos ídolos (cfr. Sl 134, 15 ss), mas porque a veneração tributada às Imagens se refere aos protótipos que elas representam, de sorte que nas Imagens que osculamos, e diante das quais nos descobrimos e ajoelhamos, adoremos a Cristo e veneremos os Santos, representados nas Imagens.” Assim ensina o Concílio de Trento. A proibição de fazer imagens no AT não é mais válida, pois o risco de idolatria que existia para os judeus, rodeados de pagãos idólatras, adoradores de imagens, já não existe. E mesmo no Antigo Testamento, vemos Deus abrir algumas exceções para a proibição das imagens, pois ele ordena que se façam querubins na arca da aliança e manda que Moisés faça uma serpente de bronze, prefiguração de Cristo crucificado, para que os judeus não perecem pelas picadas das serpentes no deserto. Portanto o culto às imagens se dirige ao original.
O culto aos santos, às relíquias e imagens está de pleno acordo com a obra da salvação e com nossa natureza humana. Nós vivemos em sociedade, a Igreja é uma sociedade instituída por Cristo. Nada mais natural que uns membros da sociedade prestem auxílio a outros, nada mais natural que os membros da Igreja triunfante, no céu, socorram os membros da Igreja militante, que somos nós. Nada mais natural que peçamos a ajuda deles. Pela nossa natureza, somos corpo e alma. Nós precisamos de coisas sensíveis que ajudem a nossa inteligência e a nossa vontade a se elevarem às coisas espirituais. Assim, os sacramentos são sinais sensíveis da graça, as cerimônias da Igreja são sensíveis, a Igreja é uma sociedade visível com um chefe visível, etc. As imagens e relíquias nos ajudam muitíssimo a manter a nossa concentração, a considerar o exemplo e as virtudes de Cristo, de Nossa Senhora, dos Santos. Tirar as imagens das igrejas prejudica a vida de oração, diminui o apelo aos santos, nos privando de muitas graças. Dessa forma, a vaga iconoclasta que atingiu muitas das nossas igrejas nas últimas décadas, prejudica a oração do povo. O que corrobora tudo isso é o fato de o próprio Deus ter se encarnado. Nossa religião não é uma religião de anjos, mas uma religião fundada por Deus para nós homens, feitos de corpo e alma. As duas coisas devem estar unidas e devidamente ordenadas, sendo a alma a principal parte de nosso ser.
 O culto aos santos, de tradição apostólica, nos faz venerar os santos como amigos de Deus, nos faz venerar os santos pelos dons que receberam de Deus. O culto dos santos nos traz grandes benefícios, pois nos ajudam a obter graças que sozinhos não conseguiríamos e nos dão um exemplo e vida em conformidade com Cristo. Grandes benefícios nos trazem também o culto das relíquias e das imagens.
Recorramos aos santos e peçamos a eles que nos ajudem a alcançar o céu onde já se encontram

. Laudate Dominum in sanctis eius. Louvai o Senhor em seus santos.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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