28 de novembro de 2013

Sermão para o último domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro IBP.

[Sermão] Considerações sobre o juízo universal e a utilidade dele



Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…

Agradeço a todos pelas orações em prol do apostolado, orações cujos frutos vocês podem constatar. Está à disposição um folheto para nos ajudar a construir coisas maiores para nosso apostolado. As imagens no folheto não são meramente ilustrativas. Com a autorização de Dom José Aparecido, Bispo Auxiliar de Brasília, e responsável pela liturgia tradicional na Arquidiocese, me dirijo aos senhores, para que o apostolado possa avançar na boa direção, no bom sentido.
No domingo daqui a duas semanas será a Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, dia 8 de Dezembro. Gostaria, então, de fazer uma confraternização após a Missa. Aqueles que puderem ajudar, trazendo alimento ou bebida, por favor, entrem em contato comigo, para nos organizarmos. É bom marcar as festas importantes com comemorações também desse tipo. Elas nos ajudam a reconhecer a importância da data.
“E então aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu e todos os povos da terra chorarão e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade.”
Caros católicos, estamos hoje no último domingo do ano litúrgico, estamos no último domingo depois de Pentecostes. O ano litúrgico nos apresenta toda a história da salvação. Não poderia, portanto, se concluir de outro modo, a não ser pelo relato do fim dos tempos, do juízo final, quando NS virá com glória julgar os vivos e os mortos como cantamos no Credo.   NS no Evangelho de hoje nos fala de duas coisas. Ele nos fala primeiramente da destruição de Jerusalém e, em seguida, do fim do mundo. Pouco antes no Evangelho, ao constatar mais uma vez a recusa de Jerusalém em se converter, NS havia anunciado a sua destruição, com a destruição do Templo também. Os discípulos, diante dessa profecia de Cristo e diante da maravilha que era o Templo de Jerusalém, tentam comover NS, para que ao menos o Templo seja poupado. Ao que NS responde: não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.
NS fala da destruição de Jerusalém primeiramente para que reconheçamos o castigo devido quando nos negamos a receber o Salvador pela conversão de nossas almas. Jerusalém ficou desolada e destruída porque não recebeu Deus feito homem. NS fala da destruição de Jerusalém para que reconheçamos sua Missão divina depois de realizada a profecia da destruição da cidade santa. NS fala da destruição de Jerusalém para que saibamos que mesmo as coisas mais sublimes desse mundo passam: “céus e terras passarão, mas as minhas palavras não passarão”, nos diz NS. A única coisa que não passa e que tem consequência eterna é a amizade com Deus, pela fidelidade aos seus ensinamentos ou a inimizade com Ele, pela infidelidade à sua palavra. NS fala da destruição de Jerusalém para que aceitemos mais facilmente aquilo que Ele fala sobre o fim do mundo. Já sabemos que Jerusalém e o Templo foram completamente destruídos no ano 70, tendo acontecido tudo exatamente como NS disse. Portanto, acontecerá também exatamente como NS disse quanto ao final dos tempos.
Como acabamos de dizer, NS virá julgar os vivos e os mortos. Trata-se do juízo universal ou juízo final, que será realizado após a ressurreição. O juízo universal não é uma revisão, mas uma confirmação pública do juízo particular, feito no instante de nossa morte. A primeira pergunta que pode surgir com relação ao juízo universal diz respeito à sua utilidade justamente. Se ele não vai mudar nada, por que fazê-lo?  A primeira razão é a natureza social do homem. O homem pode ser considerado como indivíduo ou como membro de uma sociedade e a esses dois aspectos correspondem os dois juízos. As nossas ações têm sempre, em maior ou menor escala, uma repercussão na sociedade, pois uma ação prejudica ou aperfeiçoa ao menos a própria pessoa e ao afetar para o bem ou para o mal um membro da sociedade, toda a sociedade é afetada. No juízo universal, que diz respeito ao aspecto social do homem, terá importância particular o juízo daqueles que por seu ofício tiveram maior responsabilidade sobre os outros: o papa, os bispos, os padres, os governantes, os pais, os professores, por exemplo. O juízo universal é útil pela natureza social do homem.
Ele é útil também porque manifestará perfeitamente a sabedoria infinita de Deus e sua admirável providência. Pelo juízo universal, os segredos mais íntimos dos corações, a conduta dos povos e das nações, os mistérios mais profundos serão revelados por Deus diante do mundo inteiro. No dia do juízo compreenderemos o porquê de Deus ter permitido os males, compreenderemos perfeitamente porque Deus muitas vezes permite a perseguição dos justos e o triunfo dos maus. Compreenderemos os bens enormes que Deus tirou desses males permitidos. No dia do juízo universal, a justiça divina será também plenamente e publicamente manifestada, com o prêmio pleno da virtude perseguida e o castigo completo do pecado triunfante.
O juízo universal ocorrerá também para que fique claro diante de todos os homens reunidos que NSJC é o Filho de Deus, que Ele é o redentor dos homens e que Ele é o rei do céu e da terra. É Ele quem vai nos jugar. E esse juízo Ele o faz porque é Deus, mas também enquanto homem, porque nos redimiu, sendo, assim, verdadeiramente nosso Rei e exercendo sobre nós o poder judiciário. Jesus virá nos julgar com sua humanidade gloriosa, pois é preciso que o juiz se sobressaia aos julgados, manifestando a sua autoridade. Os justos já estarão com seu corpo glorioso, mas com glória infinitamente inferior à de Cristo.
O juízo universal servirá igualmente para a exaltação do inocente, para a confusão do pecador. Quantas vezes o inocente e justo aparece diante dos homens como pecador e culpado. Quantas vezes ele é caluniado, quantas vezes há virtudes heroicas que são desconhecidas dos outros homens. No juízo particular, o justo será recompensado, mas é preciso esse juízo público e universal para que a justiça seja plena. Por outro lado, quantos pecadores parecem aos olhos dos outros virtuosos e justos, mas cometem pecados ocultos, como se pudessem se esconder de Deus, achando, talvez, que Deus que criou os olhos e os ouvidos não pode ver e ouvir (Salmo 93,9). No dia do juízo universal, serão confundidos e todos compreenderão porque não se salvaram.
No juízo universal, comparecerão todos os homens diante do tribunal do justo juiz e cada um dos julgados verá em sua consciência todas as obras que realizou durante a sua vida terrena, sejam elas boas ou más, mesmo as esquecidas. E cada um verá claramente a consciência de todos os outros com todas as sua obras boas ou más. “Nada há de escondido que não venha a ser revelado”, nos diz NSJC. Serão conhecidas, portanto, integralmente as obras boas e más, tanto dos justos como dos pecadores. Essa é a opinião de São Tomás e da maioria dos teólogos. Isso ocorrerá porque em um julgamento justo deve aparecer o bem e o mal operado por cada um e se fosse omitido o pecado dos justos, seria omitido também o bem do arrependimento, da penitência que fizeram pelo pecado cometido e, com a omissão desse arrependimento e penitência, os justos teriam uma menor glória no céu. Com a omissão dos pecados dos justos, seria também menos perfeitamente manifestada a misericórdia divina. Portanto, todas as obras boas e más de todos os homens serão conhecidas por todos. É mais um motivo para evitarmos um pecado, um motivo menor diante da bondade divina que ofendemos pelo pecado, mas um motivo válido para evitarmos o pecado. Essa revelação dos pecados não causará aos justos vergonha, da mesma forma que Maria Madalena não se envergonha que sejam publicados seus pecados quanso se lê o Evangelho, por exemplo. A vergonha é o temor de perder a consideração e estima dos outros. Isso não pode ocorrer para os justos, eles já não podem perder o céu, a honra. Essa publicação aumentará a glória deles e a estima diante dos outros, pelo arrependimento, pela conversão, pela penitência que fizeram. Da mesma forma, o confessor se alegra quando alguém confessa pecados graves com profundo arrependimento e humildade.
Todo o processo do juízo final deverá ocorrer de modo puramente intelectual, mental, e de maneira que a visão mútua dos méritos e deméritos de cada um se realizará em um tempo brevíssimo, por virtude divina. Um juízo oral de todos os homens de Adão até o último levaria um tempo fabuloso, como diz Santo Agostinho (De Civitate Dei, XX, 14). A execução da sentença será instantânea.
No dia do juízo estará presente o sinal do Filho do Homem, que é a cruz. E diz São João Crisóstomo que ela aparecerá mais radiante que o sol, ao ponto de obscurecê-lo. A cruz será grande consolo para os justos e grande confusão para os ímpios. Principalmente serão confundidos os judeus e os pagãos, que, nas palavras de São Paulo, consideram a cruz um escândalo e uma loucura. A simples presença da cruz mostrará a justiça da condenação dos maus, por terem rechaçado tanta e tamanha misericórdia.
Segundo muitos Santos Padres e teólogos, o juízo universal ocorrerá no vale de Josafá, que quer dizer Deus julga. Quanto ao tempo, não sabemos absolutamente nada. Apesar de todos os sinais que Nosso Senhor dá, Ele diz: “vigiai, pois, porque não sabeis a que hora virá o Senhor… Por isso, estai vós preparados, porque não sabeis a que horas virá o Filho do homem.”
Eis, então, prezados católicos, algumas considerações sobre o juízo universal, nesse fim de ano litúrgico, e que devem nos levar a nos preparar para a nossa morte, para que tenhamos uma boa morte. Devemos nos preparar para o juízo universal vivendo bem nesse mundo, tendo uma fé viva, praticando os mandamentos, carregando as nossas cruzes, evitando os pecados, buscando a confissão. Vale mais se envergonhar um pouco agora diante do sacerdote que é obrigado ao segredo do que se envergonhar diante de todos os homens no dia do juízo. Vale mais ser desprezado agora pelo mundo por praticar a religião verdadeira do que se envergonhar no dia do juízo. Se queremos alcançar o céu e amar verdadeiramente a Deus, infinitamente bom e amável, é preciso que voltemos a meditar sobre os novíssimos, sobre a morte, sobre o juízo particular e o universal, sobre o paraíso e o inferno. Os céus e a terra passarão, mas as palavras de NSJC não passarão.

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