29 de novembro de 2013

Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo - Parte 2 - Meditação 2

MEDITAÇÃO II.

Et Verbum caro factum est.
E o Verbo se fez carne (Jo 1,14).

O Senhor mandou S. Agostinho escrever no coração de S. Maria Madalena de Pazzi estas palavras: O Verbo se fez carne. Ah! peçamos também ao Senhor ilumine o nosso espírito e nos faça compreender por que excesso e prodígio de amor o Verbo eterno, o Filho de Deus, se fez homem por amor de nós!
A Santa Igreja fica como que atônita ao contemplar esse grande mistério: Considerai as vossas obras, exclama ela com o profeta, e fiquei estupefata. Se Deus houvesse criado mil outros mundos, mil vezes maiores e mais belos que este, essa obra seria certamente infinitamente menor do que a Encarna-ção do Verbo. Ele manifestou o poder de seu braço. Na obra da Encarnação foi necessária a onipotência e a sabedoria infinita dum Deus, para fazer que a natureza humana se unisse a uma pessoa divina, e que uma pessoa divina se humilhasse até to-mar a natureza humana. Assim, Deus fez-se homem, e o ho-mem tornou-se Deus; e estando a divindade do Verbo unida à alma e ao corpo de Jesus Cristo, todas as ações desse Ho-mem-Deus foram divinas; divinas foram suas preces, divinos os seus sofrimentos, divinos seus vagidos, divinas as suas lágri-mas, divinos os seus passos, divinos os seus membros, divino o seu sangue, esse sangue do qual queria fazer um banho de salvação para nos purificar de todos os nossos pecados, e um sacrifício de valor infinito para aplacar a justiça do Pai irritado com os homens.
E que são esses homens? Criaturas miseráveis, ingratas, rebeldes. E para salvar esses indignos, um Deus se faz homem, sujeita-se às misérias humanas! Ele sofre, morre! Humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte, até a morte da cruz. Ó santa fé! Se a fé não no-lo garantisse, quem poderia jamais acreditar que um Deus de infinita majestade se humilhou ao ponto de tornar-se um verme da terra como nós, para nos sal-var a custo de tantas penas e ignomínias, a custo duma morte tão cruel e vergonhosa?
Ó graça! ó poder do amor! exclama S. Bernardo. Ó graça que homem algum jamais poderia imaginar, se Deus mesmo não pensasse em no-la fazer! Ó amor divino, que ninguém ja-mais poderia compreender! Ó misericórdia! ó caridade infinita, que só podem nascer duma bondade infinita!
Afetos e Súplicas.
Ó alma, corpo e sangue de meu Jesus, eu vos adoro e a-gradeço; vós sois a minha esperança, vós sois o preço pago para resgatar-me do inferno que tantas vezes mereci. — Ah! e que vida infeliz e desesperada me esperaria na eternidade, se não tivésseis pensando em salvar-me com vossos sofrimentos e a vossa morte! Como pois almas remidas por vós com tanto amor, sabendo isso, podem viver sem amar-vos, e desprezar essa graça que lhes alcançastes a custo de tantas penas? E eu não sabia tudo isso? e pude ofender-vos, e ofender-vos tantas vezes? Mas, repito, o vosso sangue é a minha esperança. Re-conheço, meu Salvador, a grandeza do mal que vos fiz. Oh! oxalá tivesse morrido antes mil vezes! Oxalá vos tivesse sem-pre amado! Agradeço o tempo que me dais ainda para o fazer . Espero empregar o resto da minha vida e toda a eternidade em louvar sem cessar as vossas misericórdias a meu respeito. A-pós os meus pecados, eu merecia mais trevas, e me destes mais luzes; merecia ser abandonado por vós, e correstes atrás de mim chamando-me com voz mais terna; merecia que meu coração ficasse mais endurecido, e vós o enternecestes e tocastes de compunção. Sim, por vossa graça sinto uma grande dor das ofensas que vos fiz, sinto em mim um vivo desejo de vos amar, e estou firmemente resolvido a antes perder tudo do que a vossa amizade, sinto por vós um amor que me faz detestar tudo o que vos desgosta; e essa dor, esse desejo, essa re-solução, esse amor, quem mos dá? sois vós que mos dais por vossa misericórdia; é isso por um sinal, ó Jesus, de que me tendes perdoado, um sinal de que me amais e quereis a todo o custo a minha salvação. Quereis que me salve, e eu quero sal-var-me, quero-o sobretudo para vos agradar. Vós me amais e eu também vos amo. Mas amo-vos pouco, dai-me mais amor: estou obrigado a amar-vos mais do que os outros, porque tenho recebido de vós graças mais especiais; aumentai pois em mim as chamas do vosso santo amor.
SS. Virgem Maria, fazei por vossa intercessão que o amor de Jesus consuma e destrua em mim todos os afetos estranhos a Deus. Atendeis a todos, atendei também a mim: obtende-me o amor e a perseverança.

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