11 de novembro de 2013

Sermão para o dia de Finados – Padre Daniel Pinheiro IBP

[Sermão] Dia de Finados


Morte
Cripta de ossos dos capuchinhos em Roma

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

“Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.”
Nesse dia da comemoração dos fiéis defuntos, a Igreja quer que nos voltemos para a as almas do purgatório, para que possamos, por meio de nossas súplicas, aliviar essas almas que sofrem enormemente pelo adiamento da visão beatífica. As almas que morreram em pecado venial ou que não expiaram completamente sobre a terra a pena devida por seus pecados já perdoados, encontram-se em grande sofrimento no purgatório. No pecado, há a culpa e a pena. A culpa é perdoada na confissão, se se trata de um pecado mortal, ou também fora da confissão, se se trata de um pecado venial. Mas, além da culpa, há a pena pelo pecado. Mesmo depois de perdoado o pecado, é preciso expiar por ele, satisfazer pelo pecado, para que a ordem lesada pelo pecado seja restabelecida. No purgatório, encontram-se, então, as almas que morreram em pecado venial ou que não expiaram inteiramente as suas penas.  O sofrimento no purgatório advém primeiramente do adiamento da visão beatífica, como dissemos. As almas do purgatório sabem que ainda não vêem Deus face a face somente por culpa delas, pela negligência em se desapegar dos pecados veniais quando estavam aqui na terra, pela negligência em reparar pelos pecados de que já tinham sido perdoadas. Sofrem também com uma pena sensível, com um fogo semelhante ao do inferno. A diferença com o inferno é justamente que essas penas são passageiras e a alma que está no purgatório sabe disso. Ao mesmo tempo, então, que é grande o seu sofrimento, grande é o seu consolo, pela certeza de poder chegar ao céu. O purgatório é fruto da justiça divina que exige satisfação pelos nossos pecados. Mas o purgatório é também fruto da misericórdia divina, pois sem essa purificação não poderíamos ver Deus face a face, já que Ele não pode admitir diante de si uma alma que tenha relíquias do pecado. Portanto, só podemos ser admitidos diante de Deus depois de expiar todas as penas devidas pelas nossas faltas. Sem o purgatório só iriam ao céu os que morreram sem nenhum pecado venial e que expiaram, aqui na terra, por todas as suas culpas, o que é raro. Assim, o purgatório é fruto também da misericórdia divina.
É um dever do cristão ajudar essas almas na medida do possível. Esse dever pode ser um dever de justiça, se alguém se encontra no purgatório por nossa culpa, por exemplo, devido aos nossos escândalos ou à nossa cooperação em um pecado. Ele é um dever de piedade filial quando se trata de parentes. Pode ser um dever de gratidão quando se trata de alguém que nos fez bem. Ou pode ser um dever de caridade, que nos faz desejar e agir para o bem do nosso próximo. Portanto, devemos rezar constantemente pelas almas dos fiéis defuntos, em particular pelos nossos parentes já falecidos e por aqueles que, eventualmente, lá estão por nossa culpa. E, claro, o melhor meio de fazê-lo é encomendando Missas e aplicando-lhes as indulgências que podem ser aplicadas a eles. Uma indulgência plenária aplicada a uma alma do purgatório a leva diretamente ao céu, pois a indulgência plenária serve justamente como satisfação de todas as penas. Ao se fazer a obra prescrita na indulgência, nas condições prescritas, os méritos de Cristo, de Nossa Senhora e dos Santos são aplicados à alma, satisfazendo pela sua pena. Nas indulgências, a Igreja aplica os tesouros que lhe pertencem para satisfazer a pena pelos pecados já perdoados. A indulgência não perdoa um pecado, ela não perdoa a culpa do pecado. Isso só com o arrependimento e, se for pecado mortal, é preciso também a confissão. A indulgência paga a pena. Portanto, para lucrar uma indulgência, é preciso já ter os pecados perdoados. Não se trata de comprar o céu, mas de chegar mais rapidamente a ele, pela prática de uma boa obra, como visitar uma Igreja, um cemitério, fazer certas orações, etc. Muito importante, então, ajudar as almas do purgatório, pelas Missas, pelas indulgências, mas também pelas orações no dia-a-dia, etc…
A Igreja, na Missa de Requiem , na Missa de Defuntos, nos dá algumas lições para esse dia de finados. Nas cerimônias das Missas de Defuntos, ela está mais preocupada com as almas dos fiéis defuntos do que com os vivos. Assim, o salmo 42, recitado ao pé do altar é omitido. Esse salmo diz que nossa alma não deve estar triste. Todavia, como na Missa de Defuntos temos razão de possuir uma certa tristeza, a Igreja omite esse salmo. Em seguida, quando o Padre recita o Introito na Missa de Réquiem, ele faz o sinal da cruz sobre o Missal e não sobre si mesmo, como que abençoando os fiéis defuntos, para o alívio deles. A Igreja omite também o Gloria Patri no Intróito e no lavabo. Também o Gloria in Excelsis Deo é omitido, bem como o aleluia. Antes do Evangelho o Padre não recita a oração que pede para si mesmo a bênção, pois a leitura do Evangelho, que é um sacramental que nos perdoa as faltas veniais, se estamos arrependidos, e pode nos perdoar também as penas, deve beneficiar aqui somente aos fiéis defuntos. Pela mesma razão, ao fim do Evangelho, o Padre não beija o livro e não pede que nossas faltas sejam perdoadas. Não o faz porque tudo isso deve ser aplicado em benefício das almas do purgatório. Na hora do ofertório, o Padre não faz o sinal da cruz para abençoar a água, pois a água aqui significa os fiéis vivos, sobre quem a Igreja ainda tem jurisdição. E como a Missa está sendo oferecida pelo repouso das almas dos fiéis defuntos, ela omite essa bênção da água. No Agnus Dei, não pedimos a misericórdia e a paz para nós, para pedirmos o descanso para as almas do purgatório. A primeira oração depois do Agnus Dei, que é também um pedido de paz, é omitida nas Missas de Réquiem, pois pedimos a paz para eles e não para nós. No final, não se diz o Ite Missa est, mas Requiescant in Pace, outro um pedido para que os fiéis defuntos descansem em paz. Não há a bênção final, pois, assim como no Introito, a bênção, na Missa de Réquiem, deve ser para eles e não para nós. E hoje, depois da Missa, faremos a benção sobre a essa, essa espécie de caixão vazio e que representa todos os fiéis defuntos. E durante a Missa, quantas vezes a Igreja clama: réquiem aeternam dona eis domine. Dai-lhes senhor, o descanço eterno.
Imitemos a Santa Igreja e, no dia de hoje e na próxima semana, reforcemos as nossas orações pelos fiéis defuntos, sobretudo nossos familiares.
Se podemos fazer bem aos fiéis defuntos, eles também podem nos fazer algum bem. Em particular, eles nos ajudam lembrando-nos o fim de todos nós nessa vida, que é a morte. Do túmulo eles nos dizem: hodie mihi, cras vobis. Hoje, a morte é para mim. Amanhã, será para vocês. Eles nos lembram que a morte há de chegar, e por mais que ela tarde, ela chega rapidamente, em 70, 80, 90 anos. Eles nos alertam também ao dizer: hic iacet pulvis, cinis, nihil, aqui jaz pó, cinza, nada. É tudo o que temos nesse mundo: pó, cinza, nada.
Tumba de Antônio Barberini na Igreja dos Capuchinhos em Roma
Tumba de Antônio Barberini na Igreja dos Capuchinhos em Roma

A única coisa que não passa é a morte em estado de graça ou em pecado mortal. Todo o resto será devorado pelo tempo. Portanto, ao rezar pelos mortos, lembremo-nos de que nós também vamos morrer e que não sabemos o dia de nossa morte. Precisamos sempre estar preparados. Não deixar nossa conversão para mais tarde em nossas vidas, não deixar para o ano que vem ou para o mês que vem ou para amanhã. Não, precisamos estar preparados agora. São dois os momentos mais importantes da nossa vida, em que pedimos para que Nossa Senhora reze por nós: agora e na hora de nossa morte. É preciso que a gente considere sempre que o agora pode ser a hora de nossa morte.
Nesse dia, devemos fazer o bem às almas dos fiéis defuntos e convertermo-nos a Deus.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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