Gloria filiorum patres eorum — “A glória dos filhos são seus pais” (Prov. 17, 6).
Sumário. São Joaquim e Santa Ana são as pessoas venturosas a quem, depois de Deus, Maria Santíssima é devedora de tudo quanto possui. Infiramos disso quanto lhe deve agradar o nosso amor e veneração para com eles. Se amas a divina Mãe, sê também devoto a seus santos pais. Agradece muitas vezes à Santíssima Trindade os dons, as graças e os privilégios que lhes concedeu, e invoca-os em tuas necessidades. Procura sobretudo imitar as suas virtudes, especialmente o amor que tinham a sua santíssima filha.
I. Considera quão agradável deve ser à Santíssima Virgem a devoção a seus santos pais, a quem se reconhece de mil modos obrigada. Conforme uma tradição antiquíssima, São Joaquim e Santa Ana ficaram muitos anos sujeitos à provação da esterilidade. Se finalmente da sua santa união nasceu essa filha celestial, foi porque pelas suas orações, vigílias, jejuns e esmolas fizeram violência a Deus. De modo que com razão se pode dizer que aqueles santos esposos foram duplamente os progenitores de sua filha santíssima.
São Joaquim e Santa Ana foram os primeiros que aqui na terra começaram a amar Nossa Senhora, e, como afirmam São Jerônimo e Santo Epifânio, foi por ordem da Santíssima Trindade que lhe puseram o nome de Maria o qual, pelas suas sublimes significações, já prognosticava os altos ofícios a que era destinada. Foram eles igualmente que lhe deram a primeira educação, e ah, quão esmerada!
Quando depois a virgenzinha chegou a completar três anos, tomaram-na nos braços, e carregando-a alternadamente na longa viagem de Nazaré a Jerusalém, apresentaram-na no Templo, em cumprimento da promessa feita. Este sacrifício custou bastante a seu coração paternal; fizeram-no todavia para se conformarem com a vontade de Deus e para o grande bem que disso devia resultar para a sua amada filha.
Finalmente, quando esses santos personagens morreram, deixaram à Bem-aventurada Virgem todos os seus haveres, e particularmente a casa de Nazaré, na qual o Redentor passou a maior parte de sua vida em submissão a São José e à sua casta esposa. Numa palavra, depois de Deus, é a São Joaquim e Santa Anna que Maria Santíssima é devedora de tudo que tem, e daí se infere quanto lhe deve ser agradável se a ajudarmos no seu tributo de gratidão, praticando a devoção a esses grandes Santos.
II. Se é tão agradável à Santíssima Virgem a devoção para com seus amados pais, procuremos ser-lhe particularmente devotos a fim de darmos à nossa Mãe maior satisfação. Cada ano, no dia que lhes é consagrado, recebe os santíssimos sacramentos em sua honra, e desde hoje toma a resolução de os amar com o mesmo amor com que os amam e amarão eternamente Jesus e Maria. Agradece muitas vezes à Santíssima Trindade os dons, as graças e as prerrogativas que lhes concedeu, e em todas as tuas necessidades corre a eles com inteira confiança. — Esforça-te sobretudo por imitares os exemplos de virtude que nos deixaram, em particular o amor que tiveram a Maria Santíssima. Como diz Santo Agostinho, a devoção verdadeira consiste exatamente na imitação: Vera devotio est imitari quem colimus.
Ó progenitores digníssimos de Maria sempre Virgem, São Joaquim e Santa Ana, eu, vosso servo humilde, cheio de confiança em vossa bondade, ofereço-me hoje todo a vós e proponho honrar-vos sempre o mais possível, para contentar o coração de vossa santíssima filha, minha rainha Maria. Não vos dedigneis de me aceitar por vosso servo e de me ajudar em todas as necessidades, tanto da alma como do corpo. Obtende-me especialmente uma terníssima devoção para com vossa filha e minha amadíssima Mãe.
Ó meus santos protetores, quisera eu amar a Maria assim como vós a amastes. Mas este desejo é superior às minhas forças, meu coração está demais apegado às criaturas para se elevar tão alto. A vós recorro, portanto, e rogo-vos, pelo amor da mesma Virgem, me alcanceis a graça de a amar, honrar e servir com todas as minhas forças; e juntamente com a devoção à Maria, obtende-me um amor ardentíssimo para com Jesus Cristo, seu divino Filho e vosso descendente segundo a carne.
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 238- 240.)
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