Jesus Se deixou Sacramentado para ser remédio das Almas e medicina dos corpos.
Pelo pecado, diz o Apóstolo, entrou a morte no mundo, porque seu veneno de tal sorte infectou o gênero humano que, roendo-lhe as entranhas, privou-o da vida eterna que havia de gozar no estado de inocência. Infelicidade verdadeiramente digna de ser chorada com lágrimas de sangue! Com um só bocado tragaram a morte todos os homens, nascidos e por nascer. Jazia todo o universo no horrendo sepulcro de uma culpa, que só se tinha cometido pela vontade do autor de tantos males. Porém, onde abundou o pecado, superabundou a graça. Pode mais um bocado delicioso Que nos deu Jesus, novo Adão, do que aquele com que o velho Adão envenenou todos os mortais. Pode mais a puríssima Carne de Jesus Sacramentado, da Qual fez um eficaz antídoto contra o contágio universal do mundo.
Muito proporcionado foi o remédio ao mundo, morto pela culpa ao pé de uma árvore, quando em outra árvore da Cruz lhe deu a vida o Redentor. Porém não achou menos proporção seu amor, vendo que o mesmo mundo pereceu por um bocado, em dar-lhe n'Este Sacramento outro bocado, Que o livre da morte eterna. Tirara de Suas entranhas aquela Alma, quando com seu divino alento a infundiu no primeiro homem; porém, vendo-a depois morta, dispôs uma medicina Que também Lhe saiu do coração.
Não ignoro que os teólogos chamam a Sagrada Eucaristia Sacramento de vivos, e não de mortos. Porém digo que, se os ossos do profeta Eliseu, tocando um cadáver na sepultura, lhe restituíram a vida, que não fará o Corpo de Jesus? Se Ele, só tocando com Sua mão o féretro do filho da viúva, ressuscitou-o, e se só com um olhar de Seus olhos converteu Pedro em um mar de lágrimas, no qual se afogou sua culpa, quantas almas, já cadavéricas pelo pecado, ressuscitaram para uma vida nova, tocando, não só os ossos, mas toda a Sacratíssima Carne de Jesus? Quantos corações endurecidos se abrandaram lavados n'Aquele Sangue, Que, ao golpe de divinas inspirações, lhe farão brotar sangue de arrependimento, melhor do que das pedras fez a vara de Moisés.
Eu considero muitas vezes o amante Jesus Sacramentado dentro de uma Alma, que jaz na miserável sepultura do pecado, e ali compadecido dela, diz-lhe: Ego sto ad ostium et pulso. Aqui Me tens a tua porta, fechada só para Mim, Que sou a verdadeira chave do Paraíso. Deixa-Me entrar dentro de ti, e tomarás o pulsar do meu coração, que está enfermo de amor, porque tu estás morta. Aqui Me tens posto aos pés de um Satanás pelo vil interesse de um apetite, o que ele não pôde conseguir por todos os reinos do mundo. Este príncipe das trevas tiraniza teu coração, que Eu, Rei pacífico, desejo para Meu Trono. Estas cadeias com que te retém feito seu escravo, ainda que sejam mais duras que diamantes, se amolecerão com o Sangue d'Este Cordeiro.
Ah! quantos Lázaros mortos ressuscitam hoje no mundo ao som e eco dessas vozes! Quantas conversões se fazem por virtude d'Este inefável Sacramento! Tocou Tomé com o dedo o peito de Jesus, e recebeu a fé. Tocou Longuinho o Sangue com a lança e recebeu a luz. E se das mãos de Midas houve quem dissesse que convertiam em ouro tudo quanto tocavam, quem duvidará que o Corpo Sacramentado de Jesus mudará no metal mais precioso de finíssima caridade o mais duro ferro de nossos corações? Dizem os naturai que as víboras da Arábia carecem totalmente de veneno, devido ao bálsamo de que frequentemente se alimentam. E se assim é, que preservativo não será para as feridas do pecado o Corpo e Sangue de Jesus? Assim o entendeu São Bernardo, quando disse: Sabes, Católico, porque não são tão fortes as tempestades de tuas rebeldes paixões? Porque comes d'Este Pão Sacramentado. O Corpo de Jesus é quem põe em calma aquelas ondas que te fariam sem dúvida naufragar num mar de fogo: Hoc Sacramentum in magnis impedit consensum, in minimis sensum.
Mas já me lembro de que vos prometi mostrar como Este admirável Sacramento não só é alimento para as Almas, mas támbém eficaz medicina para os corpos. Já sabeis que, quando o amoroso Jesus andava no mundo, só a orla de Seus vestidos estancava fluxos de sangue; só a saliva de Sua boca restituía a vista aos cegos. Pois qua fará, não o vestido, senão Sua carne? Não a saliva de Sua boca, senão o Sangue de Suas veias? São Gregório Nazianzeno afirma que seu pai quase como ressuscitou da morte à vida recebendo a Sagrada Comunhão. A Seráfica Madre Teresa dá testemunho de que, todas as vezes que recebia Este Divino Sacramento, sentia-se em um momento aliviada das dores que cruelmente a atormentavam.
Mas não há de que se maravilhar, porque se ao orvalho do céu, do qual dizem que se alimenta a fênix, atribuem os naturais o muito tempo que vive, que efeitos tão saudáveis não experimentarão aqueles corpos orvalhados com o Sangue de Jesus, Que é a fonte original da própria vida? É certo que Este adorável Sacramento, melhor que o fruto daquela árvore, fará imortais nossos corpos, e por isso o Concílio geral Niceno O chama Symbolum resurrectionis, e o Mártir Santo Inácio o apelida Pharmacum immortalitatis, afirmando com ele graves Doutores que aqueles que nesta vida se alimentaram do Corpo Sacramentado de Jesus, tenderão mais direito que os outros à universão ressurreição dos corpos. Ó divino e inefável Sacramento, Pão vivo e que dás vida! Infeliz quem de Vós se priva, porque desde agora já está morto.
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