17 de dezembro de 2009

Quarta Fineza de Jesus Sacramentado para com os homens

Jesus se deixou Sacramentado para renovar de algum modo Sua Encarnação

Eu não ignoro que o Verbo Divino está de tal sorte satisfeito com aquela Sacratíssima Humanidade que uma vez uniu à sua naturezza, que nunca a apartou de Si por toda a eternidade, nem se uniu a outra com hipostático vínculo. Mas quando contemplo o adorável Sacramento do Altar, me parece que não Se contentou Deus com vestir-Se uma só vez da humana carne e fazer só um desponsório com nossa natureza no puríssimo tálamo da Virgem Maria. Poquanto inventou Seu amor um maravilhoso modo de renovar Sua Encarnação, unindo-Se infinitas vezes a nossos corações nesta Divina Eucaristia, à qual chama o Doutor Angélico: Extensio incarnationis. Extensão da Encarnação.
Prodigioso foi, sem dúvida, o decreto que saiu daquele Divino Real Conselho, de que o Divino Verbo tomasse uma vez carne humana. Mas naquele Tribunal de amor se determinou que o mesmo humanado Verbo Se sacramentasse para unir-Se inúmeras vezes aos homens. A primeira Encarnação se fez em um só lugar e com uma só humanidade, de sorte que em uma só parte do mundo estava Deus-Homem. Porém, não satisfeito o amor Divino, fê-l'O unir n'Este Sacramento, e como que encarnar em tantas naturezas e em tantos lugares quantos são os homens que comungam e os Altares em que Se consagra Seu Corpo.
Não quis o amantíssimo Jesus que só Belém fosse testemunha de Seus desponsórios com nossa frágil e terrena natureza; porque de tal sorte ficou enamorado dela Seu ardente Coração, desde o primeiro ponto, que Se desposou com ela no puríssimo Seio de Maria, que logo inventou novos modos de uni-la mais vezes aos amorosos peitos de Sua Divindade. Eu pasmo quando considero como depois que Deus criou o homem e lhe infundiu uma perfeita alma intelectual, cuja admirável e espiritual substância tirou do íntimo de suas entranhas, quis destruí-lo totalmente! O homem, viva imagem de Deus, para cuja formação concorrera toda a Santíssima Trindade, com tanto zelo e cuidado que chegou a dizer Tertuliano que foi esse todo o empenho de seu engenho: Fuit divini cura ingenii, quer Deus aniquilá-lo em um ponto, arrependido de tê-lo criado?
Mas não o fez assim Deus depois de ter unido a Si esta nossa caduca humanidade; pois tão longe esteve de arrepender-Se que instituiu um Sacramento no Qual milhões de vezes Se une à nossa natureza. Quis o Divino Verbo tomar uma natureza criada para sair já daquele Paterno peito onde estava encerrado desde o princípio sem princípio de toda a Eternidade. E, sendo a natureze angélica mais perfeita e nobre que a humana, não quis ser Anjo, senão homem. E se isso é algo digno de admiração, que será ver o mesmo Rei da Glória unir-Se a cada dia a esta vil natureza, e incorporar-Se de tal sorte com ela que não hesitou o grande Padre São Cirilo em afirmar que no Sacramento do Altar nos fazemos um mesmo corpo e sangue com Jesus!
Creio verdadeiramente que todos os Angélicos Espíritos estão admirados aos pés de nossos Altares vendo os excessos de amor que usa seu Monarca com esta frágil massa humana. E que se sua natureza fosse capaz de invejar, esta só lhes atormentaria o coração, vendo que não mereceram nunca tais finezas de amor de seu Criador. Aquele Anjo que levou o pão a meu Pai Santo Elias no deserto, não diz a Escritura que lho deu, senão que, estando o Profeta dormindo, lho lançou. Sobre isso, refletindo engenhosamente Santo Hilário, diz que a causa foi que, sendo aquele pão figura do Eucarístico, quis mostrar o Anjo que invejava a felicidade de Elias, a quem o trazia para comer.
Agora, que conceitos formariam aqueles Príncipes da Glória, vendo comido na realidade este Divino Pão, e não em figura, não por só um Elias, senão por cada um dos mortais? Quantas vezes diriam uns aos outros: ó, como se renovam agora aqueles prodígios que nós vimos no Portal de Belém, quando, baixando milhares do Ceu à terra, anunciamos a paz aos homens. Então adorávamos a nosso Rei vestido de carne mortal, reclinado e chorando entre brutos, mas nos braços de nossa Divina Princesa, e acariciado pela mais amante e melhor Mãe que teve nem pode ter no mundo. E agora O vemos transformado em manjar dos homens, habitando dentro de uns pobres e imundos corações, e comido por ingratos e sujos pecadores. A nós, Cortesãos mais íntimos do Altíssimo, que por Ele ardemos em um contínuo incêndio de amor, uma só vez não se nos concedeu o Que a cada dia, espontaneamente, Se oferece à vileza humana. Ó se nos fosse possível receber também o Corpo de Jesus em nossos seráficos corações! É verdade que nossa imaterial natureza está perpetuamente engolfada naquela Divina essência, que sem interposição de outra espécie se une a nosso entendimento, para que gozemos da vista de nosso Criador. Mas, dessa nova e amorosa união Sacramental com Sua carne e com Seu sangue, não quis Ele favorecer nossa natureza. Estes admiráveis desponsórios, esta inefável Eucarística Encarnação só foi reservada aos homens. Ah! povo e raça humana, favorecida, elevada e divinizada por Deus! Ó amor infinito de Jesus, Que, não satisfeito de ter-Se encarnado uma só vez no Seio puríssimo de Maria, o fazes Sacramentalmente todos os dias, encarnando no peito de miseráveis criaturas!

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