2 de dezembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - I Domingo do Advento - Parte 4 de 6

1º Domingo do Advento

De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Lc. XXI, 25-33.


4- O JUÍZO, PARA OS ELEITOS, SERÁ UMA CONSOLAÇÃO.

Austera é a verdade do juízo universal.
Ainda soam ao nosso ouvido as palavras aterradoras que lemos, domingo passado, no Evangelho; na nossa mente ainda repassam as tristes imagens de um mundo em chamas e de um firmamento desfeito.
Hoje, o Evangelho retorna ao mesmo assunto, porém não mais para nos oprimir de pavor, e sim para nos elevar a uma grande esperança. O sol, a lua, as estrelas darão tristes sinais, e a consternação passará sobre os povos; o mar rugirá, e os homens morrerão de medo na expectação do que sucederá. E virá de lá das nuvens, em poder e em glória, o Filho do homem.
Quando sucederem estas coisas, vós – que sois bons – levantai a fronte, pois está próxima a vossa redenção. Levate capita vestra: quoniam appropinquat redemptio vestra.
Jesus dirige-nos estas boas palavras justamente no I Domingo do Advento. Preparemo-nos para o Santo Natal, que é a recordação da primeira vinda de Jesus ao mundo; preparemo-nos bem, e achar-nos-e- mos contentes na segunda vinda de Jesus ao mundo, para o juízo universal.
O mundo se desfará. Porém nós não seremos do mundo, e olhá-lo-e-mos desmoronar-se, seguros, como se desmoronasse a casa de outro; antes, como se desmoronasse a prisão onde tanto padecemos e choramos. Então levantaremos com alegria a nossa cabeça para os céus, aguardando a redenção; virá trazer-no-la Jesus.
E Ele;
Redimir-nos-á do mundo.
Redimir-nos-á da morte.
Redimir-nos-á da dor.

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1- Redimir-nos-á do mundo.
A Sagrada Escritura diz muitas vezes que Deus fez todas as coisas para os bons.
Contudo, se considerarmos somente a vida presente, os bons estão constrangidos neste mundo, como emigrados numa terra estrangeira, onde são mal vistos pelos habitantes, mal tolerados pelas leis, perseguidos.
De fato, aos justos, o mundo não oferece senão seduções, perseguições, desprezo.

a) O juízo final livra os eleitos das seduções do mundo.
Muitas são as seduções que o mundo põe por obra para arruinar os bons: gravuras, modas, as conversas obscenas nas ruas, nas praças, nos locais de trabalho; os maus exemplos dos escandalosos. E a nossa natureza, já corrompida pelo pecado, nestas ocasiões quotidianas sente-se fraca, e treme. “Oh! Infeliz de mim! - exclamava por isso S. Paulo – quem me livrará deste corpo de morte?” livrar-me-á Jesus Cristo, no dia do juízo, quando aparecer a cruz como estandarte de vitória. Bem-aventurados, então, os que houverem vencido as seduções do mundo.

b) O juízo final livra os eleitos das perseguições do mundo.
Além disto,nesta vida os justos são condenados a viver como os iníquos, são confundidos com eles; são chamados hipócritas mais do que eles; são perseguidos de mil modos. No dia do juízo os bons serão vingados: haverá a separação, e ver-se-ão as perfídias e as injustiças dos maus.
Quando Deus mandou Josué tirar do meio do povo Acan, homem escandaloso, e faze-lo morrer, disse: “Levanta-te, e santifica o povo”. Surge et sanctifica populum. (Jos., VII, 13).
Quando Judas saiu do cenáculo, para executar o seu detestável intento, Jesus sentiu-se aliviado de uma angústia mortal, e exclamou: “Finalmente o Filho do homem é glorificado”. Nunc clarificatus est Filius hominis. (João, XIII, 31).
Esta santificação, esta glorificação será dada aos bons no dia final, quando os anjos separarem os justos dos injustos.

c) O juízo final livra os eleitos do escárnio do mundo.
Enfim , nesta vida as pessoas humildes são escarnecidas; as que suportam as ofensas são vis; as que não se dão aos prazeres são chamadas tolas; e as que se consagram a Deus através da vida religiosa são chamadas loucas. Mas será um momento de brusca admiração quando os mundanos virem essas pessoas num trono de glória.
“Ei-los lá – exclamarão eles com raiva – aqueles que nós considerávamos o refugo do mundo, aqueles que nós ridicularizávamos; agora eles estão na luz e na alegria dos filhos de Deus. Nós os pensamos estúpidos, e os estúpidos éramos nós”. Nos insensati! Vitam illorum aestimabamus insaniam. (Sap., V, 4).

2- Redimir-nos-á da morte.
Soberana única do mundo é a morte. Assalta-nos desde o primeiro dia de vida, e, lentamente como uma lima ou de um golpe como uma lâmina, mata-nos.
É verdade: a nossa alma não desce para sob as pedras frias e a terra fértil do cemitério; sobe ao céu, se está em graça;mas a alma é uma parte de nós, não é todo o nosso ser, e, por isto mesmo, no Paraíso ela ficará sempre incompleta enquanto não tornar a juntar-se ao corpo. Pois bem: no juízo final seremos redimidos da morte. Ressoarão as trombetas para a ressurreição, e onde quer que o nosso corpo esteja, ou em terra ou no mar ou espalhado no vento como leve pó, ressurgirá. Cristo, que morreu para vencer a morte, redimir-nos-á da morte, restituindo aos bons a sua própria carne, tornada luminosa, impassível, bela pela glória do Paraíso.
Aquele corpo que tanto padeceu para resistir ao demônio, é justo que seja premiado. Aqueles olhos que se fecharam com violência diante das vaidades mundanas, dos livros, das figuras perigosas, é justo que tenham de se reabrir para verem toda a glória de Deus. Aqueles ouvidos que se tornaram surdos a certas murmurações, a certas palavras, ímpias contra a fé ou sórdidas contra a virtude, é justo que escutem a harmonia dos anjos e o coro universal dos santos.
Aquela garganta e aquela língua que se haviam proibido o abuso no comer, no beber, no falar, justo é que entoem um cântico eterno e beatíssimo.
E aqueles pobres joelhos que souberam como é duro o pavimento das igrejas, ou a madeira dos bancos, ou os ladrilhos do próprio quarto junto ao leito, porque não hão de ter a sua parte de glória?
Vede então como não devem os bons temer o dia do juízo, mas esperá-lo como o camponês espera a primavera. E acaso não é todo primaveril o prognóstico que o Senhor nos deu para reconhecermos o tempo do juízo final?
Olhai a figueira, antes todas as plantas: quando vedes os gomos umedecer-se de visco, entumescer-se, romper a casca para porem ao sol um olho de tenríssimo verde, dizeis: está próxima a primavera. Pois bem: quando começarem os sinais no sol e nas estrelas, alegrai-vos! Pois está às portas o reino de Deus”.
Como uma árvore que acorda do inverno, nós acordaremos da morte.
Com estes sentimentos morria, queimado vivo, o mártir S. Piônio. Enquanto as chamas, crepitando por debaixo, ascendiam para lhe lamber os membros contraídos no espasmo atroz, enquanto a fogueira o envolvia numa tormentosa bandeira de fogo, ele gritava: “Morro assim por gosto; para que todo o povo saiba que depois da morte há a ressurreição da carne”. Depois a fumaça e o fogo atingiram-lhe a boca, e ele não falou mais.

3- Redimir-nos-á da dor.
A terra é um vale de lágrimas: a miséria, o trabalho, as ilusões, as desgraças, as doenças, a morte. . . Todos sofrem, porém os bons mais do que todos, por haverem recusado as ilícitas consolações do mundo.
Mas assim não será sempre. Quando começarem os sinais do fim do mundo, vós, ó bons, levantai a fronte, porque esta próxima a redenção da dor: e não mais sofrereis. Levate capita vestra: quoniam appropinquat redemptio vestra.
Não mais haverá choro; ou, se chorarmos, será de alegria. Toda tristeza será convertida em gáudio. Toda lágrima será enxugada no rosto.
O Paraíso! Alguma vez já pensastes bem no Paraíso? Imaginai aquela imensa região de toda beleza, dos cantos e das harmonias, de luz, de sorriso, de alegria: e nós lá estaremos. Lá, com o nosso corpo, nós em pessoa, e todos nos amarão; porém, mais do que todos amar-nos-á Deus.
“Ó Senhor! Como é belo estarmos aqui. . .” (Mt, XVII, 4), exclamava S. Pedro no auge da alegria; e, no entanto, não via o Paraíso. No Tabor não havia mais do que uma pálida revelação da infinita beleza do Senhor. Que será, então, no Paraíso, quando virmos todo o Senhor? Quem sabe o que diremos?. . . Não diremos nada: amaremos. O que mais importa é ai chegarmos.
Jônatas, contra a proibição do rei, em tempo de batalha provara um pouco de mel. Agora era condenado à morte. O infeliz lamentava-se no desespero: “Desgraçado que fui1 Saboreei uma gota de mel, e eis que devo morrer. . .” Mais desgraçados nós, se, por saborearmos a venenosa doçura do pecado, devêssemos perder para sempre a doçura eterna do Paraíso.

Conclusão.
Levate capita vestra; quoniam appropinquat redemptio vestra.
Santa Catarina de Sena, ouvindo falar do juízo universal, enquanto todos tremiam ela sorria feliz.
“Por que?”, perguntaram-lhe.
“Porque penso que Aquele que virá julgar-me é esse Jesus a quem tanto amo, por quem sacrifiquei a minha juventude e toda a minha vida”.
Amemos nesta vida Jesus Cristo, e o seu juízo não nos infundirá pavor.

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