19 de dezembro de 2009

Quarto Domingo do Advento: Dai frutos dignos de penitência!

Da Homilia 20 sobre os Evangelhos, do Papa São Gregório Magno.

O tempo em que tomou o ofício da pregação o Precursor do nosso Redentor é designado mencionando-se o príncipe da república romana e os reis da Judeia. Visto que ele vinha pregar Aquele Que havia de redimir alguns da Judeia e muitos das Nações, o tempo da sua pregação é indicado pelo rei das Nações e os príncipes dos judeus. E visto que Ele haveria de congregar as Nações, e dispersar a Judeia, devido à culpa da perfídia, o Evangelista dá essa descrição do principado terreno, citando um só na república romana, e, no reino da Judeia, vários: um para cada quarta parte.
Diz-se, pois, pela voz do nosso Redentor: Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Provado, portanto, que o reino da Judeia chegara ao fim, sob tantos reis se encontrava dividida. Observa-se também que, além dos reis, os sacerdotes são mencionados. Porque João Batista pregava Aquele Que é, ao mesmo tempo, Rei e Sacerdote, Lucas Evangelista designa o tempo de sua pregação pelos reinos e sacertodes.
Veio, pois, a toda a região do Jordão, pregando um batismo de penitência em remissão dos pecados. Fica provado para todos os que lerem que João não apenas pregou um batismo de penitência, senão que de fato também o deu; porém, um seu batismo em remissão dos pecados, não o poderia dar. A remissão dos pecados só nos é dada no batismo de Cristo. Deve-se reparar também no que é dito: Pregando um batismo de penitência em remissão dos pecados: aquele que não podia dar o batismo que perdoa os pecados, pregava-o. Pois, quanto o Verbo do Pai superava o pregador, tando o Seu batismo, pelo qual os pecados são perdoados, supera o batismo de João, que não podia perdoar os pecados.
Dizia João às turbas que saíam para ser batizadas por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? A ira vindoura é a punição da vingança final, da qual, naquele tempo, não conseguirá fugir o pecador que agora não recorrer aos lamentos da penitência. Note-se que a a raça má, dos que imitam os males dos pais, é chamada gênero de víboras, porque, invejando os bons e perseguindo-os, retribuíam males com males, procurando modos de lesar os próximos, nisso tudo seguiam os caminhos de seus pais carnais, do mesmo modo que filhos venenosos nascem de pais venenosos.
Mas, porque temos pecado, porque estamos envolvidos pelo hábito dos maus costumes, que ele nos diga o que devemos fazer para conseguir fugir da ira vindoura. Segue-se: Dai, pois, frutos dignos de penitência. Nessas palavras percebe-se como o amigo do Esposo não só frutos de penitência, mas dignos de penitência, admoesta que se façam. Porque uma coisa é fazer frutos de penitência, e outra e fazer frutos dignos de penitência. Quando se fala em frutos dignos de penitência, deve-se entender que: Quem não se empenha em nenhum prazer ilícito, por isso tem o direito de fazer uso dos lícitos - assim também faça as obras de piedade, sem deixar de fazer justamente as coisas do mundo. Porém, quem está em culpa de fornicação ou, o que é muito pior, de adultério, este, na mesma medida em que perpetrou as coisas ilícitas, deve se abster dos prazeres lícitos. Portanto, os frutos de boas obras não devem ser na mesma quantia para aquele que pecou mais e aquele que pecou menos, ou para aquele que em nenhum, e aquele que em alguns crimes caiu, e aquele que teve muitos tropeços. Por isso que ele diz: Fazei frutos dignos de penitência: cada qual, de acordo com a consciência, tanto maiores lucros de boas obras adquira pela penitência, quanto mais graves danos retraiu pela culpa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.