4 de dezembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - I Domingo do Advento - Parte 6 de 6

1º Domingo do Advento

De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Lc. XXI, 25-33.


6- PREVINAMOS O JUÍZO DE DEUS.
No céu o sol, a lua e as estrelas empalidecerão; na terra, os homens tremerão na expectação. E eis que o Filho do Homem virá sobre nuvens com poder e glória, a julgar os vivos e os mortos.
Com estas palavras cheias de mistério e de pavor, Jesus nos anuncia o juízo universal. Alguns, quiça muitos,pensarão: “Quem sabe quantos milênios ainda deverão passar até que chegue o fim do mundo?” Contudo, embora esteja longe o último dia de todo o gênero humano, porventura daí se segue que esse último dia esteja longe também para cada um de nós? Em verdade, para cada um de nós o mundo acaba no dia da nossa morte; então, para esse, o sol se apagará, e a lua findará de pratear os telhados, os hortos e os campos, e as estrelas desaparecerão todas juntas na imensa treva que pesará sobre as suas pupilas extintas; então o divino Juiz virá julgar.
De nós, ninguém conhece o dia e a hora do seu juízo, e no entanto ele é inevitável, e não está longe. A verdadeira sabedoria consiste em preveni-lo, praticando os três conselhos repetidos muitas vezes pelo Senhor.
Estai alerta, porque não sabeis quando virá.
Não julgueis, e não sereis julgados.
Fazei misericórdia, e achareis misericórdia.

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1- Estai alerta.
No Evangelho, é uma sucessão incessante de advertências à vigilância, à preparação, na espera fiel de Cristo que volta.
Será como um ladrão que chega de noite, quando ninguém o suspeita. Será como um laço que vos prende pelo caminho quando menos pensais.
Será como um grito fulmíneo que estronda ao ouvido e rompe os sonhos lisonjeiros da vida longa, de ganhos, de prazeres: “Estulto, esta noite morrerás”.
Será como um rei que de improviso aparece no meio do salão dos convidados, perscruta como a pupila severa, e descobre aquele que esta sem veste nupcial. “Pegai-o, e lançai-o fora, nas trevas!”
será como o esposo que chega no meio da note, enquanto todos dormem, toma consigo quem tem a lâmpada provida de óleo, e aos outros que batem para entrar responde: “Não vos conheço e não vos abro”.
Será como o proprietário que volta quando quer, e chama os seus súditos para prestarem conta dos talentos que,em partindo, lhes confiara. Ai do servo iníquo que os não houver feito render!
Será, enfim, como um pai de família que partiu para uma viaem misteriosa, deixando sua casa e sua fazenda em mãos dos servos, fixando a cada um a sua obra, e recomendando ao porteiro vigiar.
‘Diga-nos quando voltará”.
“Não posso dizê-lo. Talvez uma manhã ao canto do galo, ou talvez ao meio dia, enquanto se esta comendo. E quiça uma noite, acordando, ouvireis o meu passo na estrada. O que digo a vós, digo-o a todos: vigiai!” (Mc., XIII, 33-37).
O patrão foi-se para longe.
Algum servo prudente e fiel começou logo a executar as ordens recebidas, preparando sem desperdício e distribuindo com pontualidade, no momento oportuno, a comida aos familiares. Feliz o servo que, à sua chegada, o patrão achar fazendo assim! Em verdade vos digo, ele o porá à testa de tudo quanto possuí.
Ao invés, algum outro servo indolente e mau, passado algum tempo disse consigo mesmo: “Meu patrão esta demorando... quem sabe quando virá?... Talvez nem venha mais”. E começou a descuidar o seu trabalho, a litigar e a espancar os companheiros de serviço, a comer e a beber com os bêbedos. Desgraçado do servo que o patrão achar fazendo assim! Sobrevindo num dia em que não será esperado, numa hora que o servo não sabe, o patrão mandará matá-lo, expulsá-lo-á para entre os hipócritas malignos; para lá onde haverá pranto e ranger de dentes. (Mt., XXIV, 45-51).
portanto, cristãos, toda a nossa vida neste mundo é uma espera, é um tempo de advento. Mas, especialmente, deve ser uma espera fervorosa nesta parte do ano litúrgico que se chama justamente “Advento”.
Ninguém se engane, dizendo consigo: “O meu patrão esta demorando... quem sabe quando virá?... tenho tempo”. Ninguém ouse ficar em pecado mortal: ponde-vos todos na graça de Deus; vivei sempre em graça de Deus.
“Estejam vossos flancos cingidos e vossas lâmpadas acesas: sede semelhantes aqueles que esperam o seu patrão...”. (Lc., XII, 35-36).

2- Não julgueis.
Outro conselho do Juiz divino para prevenir nosso bem é o de nunca julgarmos o próximo. “Não julgueis, e não sereis julgados”. Eis aqui alguns motivos que nos persuadirão melhor a pratica-lo.
a) Não devemos julgar, porque ninguém nos constituiu no encargo de juiz para com o nosso próximo. Todos estamos no mesmo plano, todos somos irmãos; só um esta acima de nós, superior e juiz de todos: a seu tempo Ele virá. Entrementes, ninguém usurpe esse oficio, que é seu só.
b) Não devemos julgar, porque cada próximo nosso é súdito e servo de Deus. Quer ele caia, quer fique em pé, isto é lá com o seu patrão, e não conosco. (Rom., XIV, 4-10).
c) Não devemos julgar, porque somos incapazes de ser imparciais: no olho do próximo nos incomoda até a palha, e no nosso suportamos até uma trave. “Quantos homens – escreve S. João Crisóstomo – caem neste defeito! Se veem um padre que tem duas vestes, repreendem-no opondo-lhe a palavra do Senhor; e eles passam o dia trabalhando por avareza, e fraudam. Se veem que come bem, acusam-no; e eles continuam a passar bem e a embriagar-se. Não pensando que assim acumulam os pecados e preparam para si um juízo inescusável e duríssimo”. (Hom., XXIII, 2).
Cristãos, neste tempo do Advento, cada um de nós deve estar tão ocupado em se corrigir dos seus defeitos, graves e numerosos, que não perceba os alheios. Não devemos achar nem gosto nem tempo para qualquer palavra de critica ou de murmuração.


3- Fazei misericórdia.
Já desde agora nós sabemos exatamente como se desenrolará o juízo, e que palavras serão pronunciadas pelo Juiz.
Quando o Filho do Homem vier na sua glória com todos os seus anjos, então sentar-se-á no trono, e dirá aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos esteve preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; fui estrangeiro e me acolhestes; estive nu e me vestistes;doente, e me assististes; em prisão, e viestes visitar-me”.
E, admirados, os justos responderão: “Senhor, quando foi que te encontramos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber?. . . Prisioneiro e te visitamos?”
e o rei lhes responderá; “Em verdade vos digo; todas as vezes que fizestes isso a qualquer um de vossos irmãos, a mim o fizestes”.
À admiração dos maus o rei dará ainda a mesma resposta, porém invertida: “Em verdade vos digo: todas as vezes que não fizestes isto a qualquer um de vossos irmãos, a mim o recusastes”. E estes irão para o castigo eterno. . . (Mt., XXV, 31-46).
muitos que agora se julgam cristãos perfeitos porque observam exteriormente as praticas religiosas, porque assistem às cerimônias oficiais, então ver-se-ão repelidos; e, ao contrário, muitos que agora fazem humildemente o bem e se julgam pecadores, ouvirão então as palavras que lhe abrirão as portas da alegria: “Era eu, aquele órfão; era eu aquele surdo-mudo, aquele idiota; era eu aquele velho do asilo; era eu aquele operário a quem dava trabalho honesto e recompensa suficiente, era eu que chorava naquele leito de hospital lá no fundo do corredor; era eu aquele prisioneiro na sua cela, quando tu o consolavas”.
Onde quer que há uma miséria, um sofrimento, uma humilhação, uma necessidade, ó cristãos, aí há oculto e mascarado o nosso Juiz. Usemos de misericórdia com esses, e Ele nos fará misericórdia.

Conclusão.
Para concluir, ouvi como é sábio este outro conselho que esta no Evangelho de S. Mateus: “Enquanto ainda estas a caminho, põe-te de acordo com o teu adversário. Do contrário, no instante em que chegares, ele te entregará aos guardas e serás encarcerado”.
Enquanto ainda somos peregrinos neste mundo, ponhamo-nos, pois, em paz com o Senhor, a quem havemos ofendido. Não esperemos para quando chegarmos à morte.
Corre tu, antes, a apresentar-te perante ele com o arrependimento, com a confissão. Corre a apresentar-te a Ele, antes que ele te faça comparecer perante si. Previne para não seres prevenido.

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