Jesus Se deixou no Sacramento para fazer-nos da terra Céu.
Entre as inumeráveis infelicidades a que nós, miseráveis habitantes da terra, somos condenados neste mundo, considero que a maior este longo desterro que padecemos, daquela Celestial Pátria, para a qual somos todos criados. Porque verdadeiramente não pode haver maior infortúnio para uma criatura do que viver ausente e separada de seu Criador, e não poder fixar os olhos em seu último fim, ao Qual todas as coisas desejam unir-se perfeitamente. Mas assim é. Todos, por disposição Divina, estamos sentenciados a viver gemendo neste vale de misérias, com rigoroso preceito de não entrar em nossa pátria senão depois de uma longa e penosa peregrinação.
Porém, alegrai-vos, desterrados no mundo! Enxugai vossas lágrimas e alegrai vossos corações, pois vos asseguro que, vivendo na terra, sois também Cidadãos do Céu. Foi o imenso amor de Jesus tão fino para convosco, que Se deixou Sacramentado, para que a terra fosse para vós Céu, e o desterro, pátria. Não sou eu quem vos anuncia tão feliz nova. A grande Madre Santa Teresa é quem do Céu vem desterrar vossas penas. Ela é quem, vestida já de glória imortal, disse a um filho seu, e no-lo diz a todos: Nós, no Céu, e vós, na terra, somos uma mesma coisa. Nós servindo a Divina Essência, e vós possuindo e gozando o Santíssimo Sacramento. Ó palavras dignas de esculpir-se no coração de todos os Católicos! Depois que o amantíssimo Redentor Se nos deu no Sacramento, não existe mais diferença entre viandores e compreensores, nos ensina aquela Mestra de Celestial Sabedoria. É verdade que esses estão perpetuamente gozando daquela mesa da Divina Essência, que é e será seu alimento por toda a eternidade. Mas também nós aqui na terra comemos e nos sustentamos com Este Pão Angélico, Que é o mesmo Que os alimenta felizmente na Glória.
Aquelas admiráveis palavras de Teresa fazem eco a outras da boca de Ouro de Crisóstomo, que, encendido de amor por Este Sacramento, perguntava a seus discípulos: Sabeis a fim de que se deixou Nosso Redentor Sacramentado? Pois foi para que o desterro se converta em pátria, e a terra vos seja Céu: Ut nobis terra sit cœlum, instituit hoc Sacramentum. Não quis o finíssimo Amante que as criaturas peregrinassem tanto tempo longe de sua pátria sem provar as delícias de Sua Glória. Não quis tanta desigualdade entre viandores e compreensores, que uns reinassem Príncipes de Seu Sólio, e outros arrastassem as cadeias do Egito. A todos dá o mesmo caminho, a todos a mesma herança.
Isso fazia desfazer-se em lágrimas a um Davi, quando, em nome de todos os mortais, dizia: Dominus pars hereditatis meæ, et Calicis mei. Ah! Deus e Senhor meu! Neste Cálica já me dais minha herança e a posse de todos os vossos bens. Criando o homem, fizeste-lo Príncipe de todo o mundo; mas se vós mesmo não lhe désseis também Este Sacramento, ele com o domínio se tornaria escravo, e com as riquezas, mendigo. Agora dizei-me, atribulados e aflitos do mundo, tendes dentro de vós toda a alegria e glória dos Serafins, e suspirais? Tendes naqueles Sacrários abreviada toda a Bem-Aventurança, e estais aflitos? Crede-me, pois, que, depois que Jesus ficou Sacramentado entre vós, mudou-vos o desterro em pátria, comunicando-vos de certo modo aqueles dotes com que veste a Seus Bem-Aventurados na Glória.
E se não, dizei-me como não gozaria da mesma impassibilidade dos Bem-Aventurados uma Santa Catarina de Sena, que, por quarenta dias contínuos, não tomou outro alimento que o Pão Eucarístico do Altar? Como não participaria da agilidade daqueles felizes Cortesãos do Céu uma Maravilhosa Cristã, que depois de receber Este Augusto Sacramento, voava em um instante sobre as mais altas torres? Que direi de um Domingos, flor belíssima do Carmelo! Não tinha ainda neste mundo a sutileza de Bem-Aventurado quando, acabando de celebrar o Sacrifício da Missa, suspendeu no ar, e como um débil sopro se movia como uma pluma? Quem poderá negar a um São Felipe Neri, raro portento do Divino amor, que não resplandecesse na terra com a claridade dos Cortesãos da Glória, quando no Altar soltava de seu rosto e de todo seu corpo raios de luz inacessível?
Mas se esses são os dotes com os quais Jesus Sacramentado enriquece os corpos daqueles que O recebem, quais serão os dotes das suas Almas, donde derivam aqueles? Quem poderá explicar o estado de uma Alma que, bem disposta, acaba de receber a Sacratíssima Carne de Jesus? Então me parece ver já efetuada aquela ditosa troca e mudança que, ensina o Doutor Angélico, se faz no Império da Fé em visão; da Esperança em compreensão; e da Caridade em possessão. Porque n'Este adorável Sacramento a alma já logra e possui seu Deus, e não poucas vezes sucede que descubra algum raio de Sua Divindade. Também premia sua esperança com a perfeita posse de Si mesmo, galardoa seu amor com a participação de Seus atributos, e com os resplendores de Seu Corpo lhe paga os merecimentos de sua Fé.
Então, que dizeis, mortais, desta fineza do amor de Jesus Sacramentado? Pode Ele fazer mais do que trocar a terra em Céu por vosso amor? Imensa foi a caridade com que criou o Céu para nossa habitação; porém não veremos aquela feliz terra de promissão senão depois que, com infinitos trabalhos, caminharmos muitos anos pelos desertos deste mundo. Excessivo foi o amor que O fez dizer a uma Teresa que, se Ele não tivesse fabricado o Céu, só por ela o criaria de novo. Mas que amor se pode comparar com o que n'Este Sacramento fez da terra Céu, e do desterro, pátria? Porem não param aqui as finezas de Jesus Sacramentado...
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