21 de julho de 2014

Pensamentos consoladores de São Francisco de Sales.



4/5  -  Pensamentos consoladores acerca da rapidez do tempo.


Os anos temporais passam; os seus meses reduzem-se em semanas; as semanas em dias, os dias a horas; as horas a momentos, que são os únicos que possuímos, mas que não gozamos senão à medida que acabam e tornam a nossa natureza mortal, a qual no entanto deve para nos ser amável; e visto esta vida estar cheia de miséria, não poderíamos ter consolação mais sólida do que a de estarmos certos de que aquela se vai dissipando para dar lugar à santa eternidade, que nos esta preparada na abundância da misericórdia de Deus, e à qual a nossa alma aspira incessantemente por contínuos pensamentos que sua própria natureza lhe sugere, embora não possa esperar senão por outro pensamento mais elevado que o autor da natureza sobre ela derrama.
Eu não estou atento a eternidade senão com muita suavidade; porque, digo eu, como é que a minha alma poderá estender o seu pensamento a este infinito se não tivesse alguma proporção com ele? Porém, quando conheço que o meu desejo corre com o meu pensamento para esta mesma eternidade, a minha alegria cresce sobremaneira; porque sei que não desejamos com um verdadeiro desejo senão coisas possíveis. O meu desejo certificar-me pois de que posso ter a eternidade; que me resta pois senão esperar possuí-la? E isto concede-me pela infinita bondade daquele que não criaria uma alma capaz de pensar e tender para a eternidade se não quisesse dar-lhe os meios de a conseguir.
Digamos pois muitas vezes: tudo passa, e após poucos dias desta vida mortal que nos restam, virá a infinita eternidade. Pouco nos importa que tenhamos aqui comodidades ou não, contanto que sejamos felizes por toda a eternidade.Seja esta eternidade santa que nos espera, a nossa consolação, e o sermos cristãos, membros de Jesus Cristo, regenerados com o seu sangue, porque só consiste a nossa glória em este divino Salvador ter morrido por nós.
Uma alma grande eleva os seus melhores pensamentos, afetos e desejos ao infinito da eternidade, e visto que é eterna, reputa em pouco o que não é; tem por pequeno o que não é infinito, e elevando-se acima de todas as delícias, ou antes dos vís joguetes que esta vida nos apresenta, tem os olhos fixos na imensidade dos bens e anos eterno.
Oh! quanto é desejável a eternidade comparada com estas miseráveis e perecíveis vicissitudes! Deixemos correr o tempo, com o qual corremos a pouco e pouco para sermos transformados na glória dos filhos de Deus. Ah! quando penso como empreguei o tempo de Deus, afligi-me o pensar que ele não me queira dar a sua eternidade, pois que só a dará aos que empregaram bem o tempo.
Oh! Deus! - os anos correm imperceptivelmente uns após outros; e terminando a sua duração, terminam a vossa vida mortal, e acabando, acabam a nossa vida.
Oh! como é incomparável mais amável a eternidade, visto que a sua duração tem fim e que os seus dias são sem noite, e os seus contentamentos invariáveis!
Possais vós possuir este bem admirável da santa eternidade em tão alto grau quanto eu vos desejo! Que felicidade para a minha alma se Deus concedendo-lhe misericórdia, lhe patenteasse esta doçura.

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