9 de julho de 2014

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - 20ª Parte

16. “Ele foi ferido por causa das nossas iniqüidades e quebrantado por causa dos nossos crimes” (Is 53,5). Bastaria uma só bofetada suportada por este Homem-Deus, para satisfazer pelos pecados de todo o mundo. Com isso, porém, não se contentou Jesus Cristo: ele quis ser ferido e quebrantado por nossas perversidades, isto é, ferido e dilacerado da cabeça aos pés, de modo que não ficou uma parte sã no seu corpo sacratíssimo. E assim o mesmo profeta o vi todo chagado como um leproso: “E nós o julgamos como um leproso e ferido por Deus e humilhado” (Is 53,4). Ó chagas do meu atormentado Jesus, vós sois os penhores do amor que este meu Redentor me consagra. Vós, com mui delicados convites, me obrigais a amá-lo por tantos tormentos que ele quis sofrer por meu amor. Ó meu querido Jesus, quando me entregarei todo a vós, que vos destes todo a mim? Eu vos amo, meu sumo bem. Amo-vos, ó Deus amante de minha alma. Ó Deus de amor, dai-me amor. Fazei que com o amor compense as amarguras que vos causei no passado. Fazei que eu arranque de meu coração tudo o que não tende ao vosso amor. compense as amarguras que vos causei no passado. Fazei que eu arranque de meu coração tudo o que não tende ao vosso amor. Pai eterno, olhai para a face de vosso Cristo, olhai para as chagas de vosso Filho, que vos imploram misericórdia para mim e, por elas, perdoai-me os ultrajes que vos fiz: apossai-vos por completo de meu coração, para que eu não ame, não busque, não suspire senão por vós. Digo-vos com S. Inácio: “Dai-me unicamente o vosso amor com a vossa graça e serei bastante rico”. Eis tudo o que vos peço, ó Deus de minha alma, dai-me o vosso amor juntamente com a vossa graça e nada mais desejo. Ó Mãe de Deus, Maria, intercedei por mim.

17. “Salve, rei dos judeus!” Assim saudavam por escárnio ao nosso Redentor os soldados romanos. Depois de o terem tratado como rei impostor e coroado de espinho, ajoelhavam-se diante dele, saudando-o como rei dos judeus e em seguida, levantando-se com gritos e risos, davam-lhe bofetadas e escarravam-lhe no rosto. É o que nos contam S. Mateus (27,29) e S. João (19,3). Ó Jesus meu, essa cruel coroa que vos cinge a cabeça, esse vil caniço que tendes na mão, essa veste de púrpura dilacerada que vos serve de ludíbrio, declaram suficientemente que sois rei, mas rei de amor. Os judeus não vos querem reconhecer por seu rei e dizem a Pilatos: “Não temos outro rei além de César” (Jo 19,15). Meu amado Redentor, se os outros não vos querem por seu rei, eu vos aceito e quero que sejais o único rei de minha alma. Consagro-me a vós por completo, disponde de mim como vos aprouver. Para conseguir isto, sofrestes tantos desprezos, dores e até a morte, para conquistar os nossos corações e neles reinar com vosso amor. “Por isso Cristo morreu... para dominar sobre os vivos e os mortos” (Rm 14,9). Apossaivos, pois, de todo o meu coração, ó meu rei querido, e aí reinai e dominai para sempre. No passado, rejeitei-vos como meu senhor, para servir às minhas paixões; agora eu quero ser todo vosso e a vós só servir. Ah, prendei-me a vós com vosso amor e fazei-me lembrar sempre da morte cruel que por mim sofrestes. Ah, meu rei, meu Deus, meu amor, meu tudo, que mais desejo senão vós, Deus de meu coração e minha herança por toda a eternidade? Ó Deus de meu coração, eu vos amo, vós sois a minha herança, vós meu único bem.

18. “E levando a cruz às costas, saiu para aquele lugar que se chama Calvário” (Jo 19,17). Eis o Salvador do mundo já em caminho com a cruz às costas para morrer condenado por amor dos homens. O cordeiro divino, sem se queixar, deixa-se conduzir ao sacrifício da cruz pela nossa salvação. Levanta-te, minha alma, acompanha e segue o teu Jesus, que vai sofrer a morte por teu amor, para pagar por teus pecados. Dizei-me, ó meu Jesus e meu Deus, que pretendeis dos homens, dando vossa vida por amor deles? S. Bernardo responde:“ Quando Deus ama, nada mais quer do que ser amado”. Quisestes, pois, ó meu Redentor, por esse preço conquistar o nosso amor. E haverá homens que creiam em vós e não vos amem? Consola-me o pensamento de que vós sois o amor de todos os santos, o amor de Maria, o amor de vosso Pai. Mas, ó meu Deus, quantos há que não querem vos conhecer e quantos que vos conhecem não querem vos amar. Ó amor infinito, fazei-vos conhecer e fazei-vos amar. Oh! pudesse eu com meu sangue e coma minha morte fazer-vos amar de todos. Mas, ai de mim que passei tantos anos no mundo e apesar de vos conhecer não vos amei. Vós, porém, com tanta delicadeza me atraístes para vosso amor. Infeliz do tempo em que perdi a vossa graça: a dor que agora sinto, o desejo que experimento de ser todo vosso e em especial a morte que sofrestes por mim dão-me uma firme confiança, ó meu amor, de que já me haveis perdoado e de que presentemente me amais. Ó meu Jesus, pudesse eu morrer por vós como morrestes por mim. Ainda que não houvesse castigo para quem não vos ama, não quereria deixar de amar-vos e fazer todo o possível para vos contentar.Vós, que me inspirastes este bom desejo, dai-me a força de o pôr em prática. Meu amor, minha esperança, não me abandoneis; fazei que eu corresponda na vida que me resta ao amor particular que me consagrais. Vós quereis que eu seja vosso e eu quero ser todo vosso. Eu vos amo, meu Deus, meu tesouro, meu tudo. Eu quero viver e morrer, repetindo sempre: eu vos amo, eu vos amo, eu vos amo.

19. “E como um cordeiro diante do tosquiador, se calará e não abrirá sua boca” (Is 53,7). Era esse o texto que estava lendo o eunuco da rainha Candace, sem compreender de quem se falava, quando S. Filipe, inspirado pelo Senhor, subiu ao coche em que ele se achava e explicou-lhe que isso se referia ao nosso Redentor Jesus Cristo (At 8,32). Jesus foi denominado cordeiro, porque, à semelhança do cordeiro, foi primeiramente dilacerado no pretório de Pilatos e em seguida conduzido à morte. Assim João Batista exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira os pecados do mundo”. Ele é o Cordeiro que padece e que morre como vítima na cruz pelos pecados dos homens. “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas fraquezas e carregou com as nossas dores” (Is 53,4). Infelizes aqueles que não tiverem amado a Jesus Cristo durante a sua vida. No dia do juízo, a vista deste cordeiro irado os fará dizer aos montes: “Montes, caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que está assentado sobre o trono e da ira do cordeiro” (Ap 6,6). Ó meu divino Cordeiro, se até agora não vos amei, quero dora em diante amar-vos sempre. Eu estava cego, mas agora que me iluminastes e me fizestes conhecer o grande mal que fiz, voltando-vos as costas, e o amor infinito que mereceis por vossa bondade e pelo amor que me mostrastes, arrependo-me de todo o coração de vos haver ofendido e vos amo sobre todas as coisas. Ó chagas, ó sangue de meu Redentor, vós, que haveis abrasado em amor tantas almas, inflamai também a minha alma. Ó meu Jesus, fazei que eu sempre me recorde de vossa paixão e das penas e ignomínias que nela sofrestes por mim, a fim de que eu desprenda meus afetos dos bens terrenos e os ponha todos em vós, único e infinito bem. Eu vos amo, Cordeiro de Deus, sacrificado e morto sobre a cruz por amor de mim.Vós não recusastes sofrer por mim e eu não recuso padecer por vós quanto quiserdes. Não quero queixar-me mais das cruzes que me enviardes. Eu deveria há tantos anos estar no inferno, como posso, pois lamentar-me? Dai-me a graça de amar-vos e fazei de mim o que vos aprouver. “Quem me há de separar da caridade de Cristo?” Ah, meu Jesus, só o pecado pode separar-me do vosso amor, por isso não permitais que eu peque novamente: dai-me antes a morte; peço-vos por vossa paixão. E a vós suplico, ó Maria, que me livreis da morte do pecado por vossas dores.

20. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46). Ó Deus, quem não se compadecerá do Filho de Deus que está morrendo sobre a cruz? Ele é atormentado exteriormente no seu corpo por inúmeras chagas e interiormente estão tão aflito e triste que procura alívio a seus tormentos junto de seu eterno Pai. Este, porém, para satisfazer a justiça divina, abandona-o e deixa-o morrer em desolação e privado de todo o conforto. Oh! morte desolada de meu amado Redentor, vós sois minha esperança. Ó meu Jesus abandonado, vossos merecimentos dão-me a esperança de não viver abandonado e separado de vós para sempre no inferno. Não pretendo viver em consolações nesta terra, abraço todas as penas e desolações quem mereceu os tormentos eternos, ofendendo-vos. Basta-me o amar-vos e viver na vossa graça. Peço-vos unicamente que não permitais que me veja ainda uma só vez privado de vosso amor. Ainda que todos me abandonem, não me abandoneis vós, condenando-me a esta suma desgraça. Eu vos amo, meu Jesus, que morrestes abandonado por mim; eu vos amo, meu único bem, minha única esperança, meu único amor.

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