4/26 - A LIBERDADE DO PECADO E DO DEMÔNIO
Digam-me, ó irmãos, se verdadeiramente todos já estão livres por aquela nobre liberdade "com que Cristo os quer libertar" (Gl 4, 31). Parece-me ver - perdoem-me ao meu amor este passo avançado - alguns de vocês ainda entre as ignóbeis correntes da sua servidão; enquanto outros - que se crêem livres - os vejo ainda entretidos por uma vã ilusão dos seus próprios adversários, os quais todavia
os rodeiam e os apertam, embora mais de longe.
Agora eu lhes pergunto: Quem são vocês? Não olhem ao redor e fora de vocês. Entrem dentro: na sua parte mais sublime. Não são talvez uma imagem claríssima da Divina Face? Os patrões constituídos por Deus sobre a terra a fim de que todas as criaturas os sirvam? Os próprios céus com sua luz brilhante estão em seu obséquio; e isto pela própria natureza.
Pelas graças - vocês foram elevados à própria ordem da natureza divina que vocês participam. Sejam filhos de Deus. Cristo é seu irmão. São declarados herdeiros de Deus. Suas almas são esposas do Espírito Santo. Não lhes deu ele um penhor riquíssimo de preciosos dons? Não foram destinados Príncipes sublimes do céu para cortejá -las aqui na terra? Que mais? O próprio Filho de Deus não desceu talvez do Céu vestindo sua natureza, para conviver com vocês? E eu poderei ver
com olhos indiferentes, com coração tranqüilo, os patrões da terra, os príncipes dos céus, os filhos de Deus, os herdeiros de Deus, as esposas de Deus, aviltados debaixo da torpe escravidão de seus vis escravos, feitos senhores e tiranos?
2. - O pecado e o demônio
E quem são estes tiranos que subjugaram sua natural liberdade? O pecado, o
demônio.
O que mais horrível que o pecado? Ele se contrapõe às próprias perfeições de Deus, que bem pode dizer que quanto Deus é belo, bom, amável, tanto o pecado é disforme, péssimo, abominável.
O demônio é o eterno inimigo de Deus confirmado no mal, condenado a arder perpetuamente nas chamas, desterrado, banido do céu em que foi criado e galardoado pela divina magnificência do mais sublime lugar entre aquelas celestes delícias. Ingrato, soberbo, voltou-se contra Deus, arrastando na sua ruína, a terça parte daquele belíssimo exército de espíritos tão sublimes; e não domada ainda a sua soberba pela altíssima humilhação da sua pena, continua a fazer guerra a Deus,
depois de tantas derrotas sempre obstinado, com os impotentes esforços de sua ira, para contrastar na terra o soberano domínio e a glória.
É implacável inimigo, também do homem, que substituído para ocupar
aqueles lúcidos tronos dos quais ele foi deposto, tornou se o objeto mais queixoso
da sua inveja, do seu desespero.
Tentou no primeiro homem, com um só golpe, precipitar todos nós da bema venturada sorte na sua condenação; e se fomos pela Benignidade do nosso salvador recuperados para futuras esperanças, perdemos porém a felicidade terrena, inundando a terra uma formidável cheia de males. "Pela inveja do Demônio entrou a morte no mundo"' (Sab 2, 34).
Não satisfeito com isto, rodeia cada um de nós com particulares insídias, renova a cada momento seus assaltos, reforça os assédios; e intolerante no seu vergonhoso destino - pelo qual sua fronte soberba deve um dia ser pisada pelos
nossos pés - se esforça com artes, ilusões, violências para nos envolver no mesmo opróbrio, nos arrastar à sua perdição.
3. - A escravidão do pecado e do demônio
E se poderá ver sem lágrimas um mostro tão horroroso de malícia, um inimigo tão injusto de Deus e das nossas almas, assumir orgulho, subir no trono, exercer tirania? E onde mais? No seu coração. Naquele mesmo coração onde antes, quase um templo eleito, habitava Deus com nobre cortejo de seus dons e de santas virtudes. Oh! terrível mudança que se fez em vocês! Antes, sua alma decorada com a presença do Senhor dos Céus; agora, deturpada pela habitação infame dos escravos mais vis do inferno. Antes, reverenciada, amada pelos Anjos como filha e esposa do seu Rei, agora, abominada, confundida como serva, como prostituta.
4. - Degradação da alma no pecado
Mas isto é pouco. Considerem, ó míseros escravos do pecado e do demônio, a ignominiosa maneira com que os trata o seu patrão. Não só os faz servir ao seu fausto quase como bestas as mais vis de sua estrebaria, mas - isto que é inaudito e quase incrível se não se visse com os olhos - os transforma e os muda em bestas; aliás os desnatura tanto que os coloca mais embaixo.
Julguem vocês mesmos. Olhem aquele avarento, aquele iracundo. Enquanto os próprios animais respeitam os da sua espécie e vivem em paz com eles, o avarento, o iracundo, justamente com seus próximos, usam as maiores ferocidades.
Olhem aquele homem libidinoso, se é mais que um jumento! Olhem aquele jovem impudico, seus atos, sua feição; olhem aquela mulher impudente, aquela donzela lasciva... Vocês ficam envergonhados e quase enfadados contra mim. E não ficam aliás envergonhados ao reconhecer em você a sua vergonha? Ficam envergonhados pelas minhas palavras; não ficam envergonhados pelas suas ações!
Onde está a generosa e nobre índole do seu ânimo? Onde está o amor inato da sua natural liberdade?
5 - Deus está com vocês; basta só um "quero" para reconquistar a liberdade.
Eia pois! Reconheçam quem lhes fala; reconheçam em mim um ministro de Sua divina Majestade à qual indignamente sirvo e em cujo nome cumpro solene embaixada junto de vocês. Eis quanto Sua divina Majestade se compraz em prometer por meu intermédio a quantos entre você estão confundidos e arrependidos de sua ignominiosa escravidão, eficazmente desejam a restituição do
seu grau, da sua glória, da sua liberdade.
Irmãos, basta só um "quero" que cada um de vocês diga com toda eficácia do coração; e vocês ficarão livres, acorrendo em seu auxilio a própria onipotência de Deus. Não temam seus adversários que Deus está com vocês. Não temam suas fraquezas, se Deus está com vocês. Não temam suas fraquezas, se Deus está com vocês. Resolvam, determinem, proponham. Já o glorioso triunfador, Cristo Jesus, ressuscitou depois de haver vencido com sua morte o pecado, e o demônio.
Acrescentem a glória do seu triunfo fazendo que Ele vença o pecado, o demônio, também em cada um de vós em particular.
Oh! a festa solene que se fará no Céu! Oh! a paz que passará a gozar na terra a vossa boa vontade! Oh! as abundantes consolações que o seu amoroso Senhor lhes preparou! Oh! as doces congratulações que nós também faremos com vocês!
Eia pois, acompanhem-me com o coração, que eu lhes precederei com a língua: Maldito pecado, eu o detesto! Maldito demônio, eu o renuncio! Malditas correntes de modas desonestas, de imodestos vestidos, de devassidões, de embriaguez, de lascívias, de danças imorais, de amores infames, de avarezas, de fausto, de ambições, de vaidades! Malditas correntes, odiosos vínculos, abomináveis grilhões, eu os rompo neste dia, eu os rompo para sempre, e a Vós, meu Jesus, meu Deus, me submeto, me entrego, me abandono.
Nenhum comentário:
Postar um comentário