11 de julho de 2014

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - 22ª Parte

26. “Ele se humilhou a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte da cruz” (Fl 2,8).Terão feito os santos mártires uma ação muito grande dando a vida por Deus, quando se considera que ele se humilhou até a morrer na cruz por amor deles? Para se retribuir condignamente a morte de um Deus, não é suficiente o sacrifício das vidas de todos os homens, mas seria necessário que um outro Deus morresse por seu amor. Deixai-me, pois, dizer-vos, meu amado Jesus, com vosso servo S. Francisco de Assis: “Morrerei, Senhor, por amor de vosso amor, que vos dignastes morrer por amor de meu amor”. É verdade, meu Redentor, que no passado eu infelizmente renunciei ao vosso amor por minhas indignas satisfações; agora, porém, iluminado e mudado por vossas graça, estou pronto a dar a vida mil vezes por vosso amor. Oh! antes tivesse eu morrido e não vos tivesse ofendido! Oh! tivesse eu vos amado sempre! Agradeço-vos o tempo que me dais para amar-vos nesta vida, possibilitando-me o amar-vos depois para todo o sempre, na eternidade. Recordai-me sempre, ó meu Jesus, a morte ignominiosa que sofrestes por mim, para que eu não me esqueça mais de amar-vos à vista do amor que me consagrastes. Eu vos amo, bondade infinita, eu vos amo, meu sumo bem, a nós todo me dou e vós, por aquele amor que vos obrigou a morrer por mim, aceitai-me e fazei que antes eu morra e seja destruído do que deixar de vos amar. Dir-vos-ei com S. Francisco de Sales: Ó amor eterno, minha alma vos procura e vos escolhe para sempre. Vinde, Espírito Santo, e inflamai os nossos corações com vosso amor. Ou amar, ou morrer. Morrer a todo outro amor para viver só para amor de Jesus.

27. “A caridade de Cristo nos impele” (2Cor 5,14). Muito ternas e cheias de unção são as palavras que escreve S. Francisco de Sales sobre este texto no seu livro do amor de Deus: Ouvi, Teótimo, nenhuma coisa constrange e solicita o coração do homem como o amor. Se alguém se sente amado por quem quer que seja, vê-se obrigado a amá-lo; quando, porém, um rústico é amado por um grande senhor, fica-lhe ainda mais obrigado, e quando é por um monarca, torna-se maior a sua obrigação. Sabendo, pois, que Jesus, verdadeiro Deus, nos amou até sofrer por nós a morte e a morte da cruz, não é isto sentir os nossos corações como num torniquete que os comprime e os força, a tresvazar amor com uma violência que é tanto mais forte quanto mais amável? Ó meu Jesus, desde que quereis ser amado por mim, fazei que me lembre sempre do amor que me mostrastes e das penas que sofrestes para patentear-me esse amor. Fazei que a sua recordação não se afaste mais de minha mente e da mente de todos os homens, pois não é possível crer que vós padecestes para nos obrigar a vos amar e não amar-vos. No passado foi esse estado de minha vida tão desregrada e celerada, por não ter considerado, ó meu Jesus, o afeto que tínheis por mim. Eu conhecia, entretanto, o grande desgosto que vos causava com os meus pecados e, não obstante isso, os cometi e repeti. Todas as vezes que disso me recordo desejaria morrer de dor e não teria coragem de pedir-vos perdão se não soubesse que morrestes para me perdoar.Vós me suportastes para que, à vista do mal que vos fiz e da morte que sofrestes por mim, eu sinta maior dor e amor para convosco. Eu me arrependo, meu caro Redentor, de todo o meu coração, de vos haver ofendido e vos amo com toda a minha alma. Depois de tantos sinais de vosso amor e de tanta misericórdia usada para comigo, prometo-vos que não quero mais amar outra coisa fora de vós e quero amar-vos com todas as minhas forças. Vós sois, ó meu Jesus, o meu amor, o meu tudo. Vós sois o meu amor, porque em vós pus todos os meus afetos. Vós sois o meu tudo, porque não quero outra coisa senão vós. Fazei, portanto, que eu sempre vos chame na vida e na morte por toda a eternidade, meu Deus, meu amor, meu tudo.

28. “A caridade de Cristo nos impele” (2Cor 5,14). Consideremos mais uma vez a força destas palavras. O Apóstolo quer dizer que não é tanto o que Jesus Cristo sofreu por nós na sua paixão que nos deve obrigar a amá-lo, quanto o amor que ele nos demonstrou, querendo padecer tanto por nós. Este amor levava nosso Salvador a dizer durante sua vida que se sentia morrer de desejo de ver chegar logo a hora de sua morte, para fazer-nos conhecer o imenso amor que nos dedicava: “Eu devo ser batizado com um batismo e em que ansiedade me sinto eu até que ele se cumpra” (Lc 12,50). E esse amor ainda o fez exclamar na última noite de sua vida: “Eu desejei ardentemente comer esta páscoa convosco” (Lc 22,15). Tão grande, pois, ó meu Jesus, foi o desejo que tínheis de ser amado por nós, que durante toda a vossa vida não desejastes outra coisa senão padecer e morrer por nós, para nos obrigar a amar-vos ao menos em agradecimento de tão grande amor.Vós tanto anelais o nosso amor e nós tão pouco desejamos o vosso! Infeliz de mim, no passado fui tão louco que não só não desejei o vosso amor, mas provoquei mesmo a vossa ira, perdendo-vos o respeito. Meu caro Redentor, reconheço o mal que fiz e o detesto sobre todas as coisas e me arrependo de todo o meu coração. Agora só desejo o vosso amor mais do que todos os bens do mundo. Sumo e único tesouro meu, eu vos amo sobre todas as coisas, vos amo mais do que a mim mesmo, vos amo com toda a minha alma e nada mais desejo senão amar-vos e ser amado por vós. Esquecei-vos, ó meu Jesus, das ofensas que vos fiz e amai-me muito para que eu também muito vos possa amar.Vós sois o meu amor, vós sois a minha esperança. Já sabeis como eu sou fraco, ajudai-me, Jesus, meu amor, ajudai-me, Jesus, minha esperança. Socorrei-me também vós com as vossas súplicas, ó grande Mãe de Deus, Maria.

29. “Ninguém tem mais amor que o daquele que dá a própria vida por seus amigos” (Jo 15,13). E que mais podia fazer o teu Deus, ó minha alma, do que dar a vida para fazer-se amar de ti? Dar a vida é o maior sinal de afeto que um homem pode dar a um outro seu amigo. Que afeto, porém, não foi aquele de nosso Criador, querendo morrer por nós, suas criaturas? É o que nos faz considerar S. João, quando escreve: Nisso conhecemos a caridade de Deus, porque ele deu sua alma por nós (Jo 3,16). Se a fé não nos ensinasse que um Deus quis morrer para nos provar o seu amor, quem jamais o creria? Ah, meu Jesus, eu creio que vós morrestes por mim e por isso me confesso digno de mil infernos, por ter pago com injúrias e ingratidões o amor que me mostrastes, dando a vossa vida por mim. Agradeço a vossa misericórdia, que prometeu perdoar àquele que se arrepende. Confiado, pois, nessa doce promessa. espero de vós o perdão e entretanto me arrependo de todo o meu coração de haver tantas vezes desprezado o vosso amor. Mas visto que o vosso amor não me abandonou ainda, vencido por vosso amor, consagro-me inteiramente a vós.Vós, meu Jesus, consumistes a vossa vida morrendo de dores numa cruz. Que vos posso oferecer em agradecimento, eu, miserável criatura? Consagro-vos a minha vida, abraçando todos os sofrimentos que me vierem de vossas mãos, tanto na vida como na morte. Enternecido e confundido com tão grande misericórdia usada para comigo, abraço com a vossa cruz os vossos pés e assim quero viver e morrer. Ó meu Redentor, pelo amor com que me amastes, morrendo por mim, não permitais que eu me separe jamais de vós. Fazei que eu viva sempre e morre abraçado convosco. Meu Jesus, meu Jesus, eu o repito, fazei que eu viva sempre e morra abraçado convosco.

30. “Eu, quando for exaltado da terra, atrairei tudo a mim.” (Jo 12,32).Vós dissestes, meu Salvador, que uma vez na cruz, atrairíeis a vós todos os corações. Como então o meu coração viveu por tantos anos longe de vós? Ah, a culpa não é vossa. Quantas vezes não me chamastes ao vosso amor e eu me fiz surdo? Quantas vezes me perdoastes e advertistes amorosamente com os remorsos da consciência a não mais vos ofender e eu tornei a ofender-vos? Ah, meu Jesus, não me envieis ao inferno, porque lá maldirei para sempre todas essas graças que me concedestes, pois essas graças todas, as luzes que me destes, os convites feitos, a paciência com que me suportastes, o sangue derramado para salvar-me serão o tormento mais cruel de todo o inferno. Sinto, porém, que novamente me chamais e me dizeis com tanto amor, como se eu nunca vos tivesse ofendido: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração”.Vós me mandais que eu vos ame e eu vos amo de todo o meu coração. Mas se não mo mandásseis, ó meu Jesus, poderia eu viver sem vos amar, depois de tantas provas de vosso afeto? Sim, eu vos amo, meu sumo bem, eu vos amo de todo o meu coração. Amo-vos porque o mandais, amo-vos porque sois digno de amor infinito; amo-vos, e não desejo nada mais senão amar-vos e nenhuma coisa temo senão ver-me separado de vós e viver sem vosso amor. Ó meu amor crucificado, não permitais que eu cesse jamais de vos amar. Recordai-me sempre a morte que por mim sofrestes. Recordai-me as finezas que me tendes demonstrado e fazei que a sua lembrança me inflame sempre mais a amar-vos e a consumir-me por vós, que vos consumistes como vítima de
amor por mim sobre a cruz.

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