24 de julho de 2014

Arquitetura sacra católica tradicional - Pe. Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Arquitetura sacra católica tradicional

Sermão para o VI Domingo depois de Pentecostes
20 de julho de 2014 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“Se morrermos com Cristo, cremos que viveremos também juntamente com Cristo.”
A Epístola de São Paulo de hoje nos mostra, caros católicos, mais uma vez como Cristo é o centro de tudo. É somente com ele que podemos e devemos morrer para o pecado. É somente com Ele que podemos viver para a vida eterna. No centro de tudo, está Cristo. Nós saímos de Deus, a partir do nada, pela criação. E voltamos para Deus por Jesus Cristo (se cooperamos com a sua graça) que nos alcançou o perdão de nossos pecados pela sua vida na terra, em particular por sua morte de Cruz. Nossa vida nada mais é do que uma saída de Deus pela criação e um afastamento dEle pelo pecado original e por nossos pecados atuais,  e uma volta a Deus por Cristo, pela cruz de Cristo. Só podemos chegar ao céu, por Cristo. E tudo na Igreja sempre demonstrou claramente e sem ambiguidades essa centralidade e essa necessidade de Cristo crucificado na sua doutrina perene e na sua liturgia tradicional. Todavia, a expressão límpida dessa centralidade não se restringia a isso. Essa centralidade transbordava para todos os aspectos da vida cristã. Um desses aspectos é o da arquitetura sacra. A arquitetura sacra tradicional da Igreja Católica demonstra a centralidade e a necessidade de Cristo, bem como mostra a centralidade e a necessidade da própria Igreja para a salvação. Aproveitando que ainda estamos sob a graça da bênção da Capela, gostaria de considerar alguns poucos aspectos relevantes da arquitetura sacra católica tradicional, para nossa edificação, para podermos melhor rezar e aderir ao que a Igreja ensina de maneira tão sublime e suave, mas também com precisão e firmeza.
Antes de tudo, é preciso que conheçamos alguns termos de arquitetura sacra.Comecemos pelo exterior. Antes de entrar na Igreja propriamente dita, nós temos aquela parte coberta, chamada de galilé ou de nártex. Entrando na Igreja ou ainda fora dela, nós temos o batistério com uma pia batismal. Em seguida, temos essa parte retangular e comprida da igreja, onde fica a maior parte dos fiéis. Essa parte da igreja se chama nave. Os braços que se abrem no final da nave se chamam transeptos. Temos o transepto sul e o transepto norte. Ao final da nave, e marcando claramente uma divisão, nós temos a mesa de comunhão, que, como diz o nome, é onde os fiéis recebem a sagrada comunhão, de joelhos e na boca. Depois da mesa de comunhão, há o presbitério, onde fica o presbítero, o clero em geral, e aqueles que se associam ao clero durante a cerimônia – os coroinhas, sempre do sexo masculino, como requer a proximidade com o ofício sacerdotal. O presbitério é, às vezes, chamado também de santuário, pois é o local onde ocorre o que há de mais santo na terra, o local onde Cristo se faz realmente presente na Eucaristia e onde se renova o sacrifício da Cruz. São esses os elementos, então, que nos interessam hoje para compreender um pouco a arquitetura de uma igreja: galilé, batistério, nave, transepto, mesa da comunhão, presbitério.
Na arquitetura católica de uma igreja, a forma mais comum e mais própria para o edifício é a forma de cruz. Aqui nós temos essa forma de cruz. Os transeptos formam os braços da cruz. A nave e o presbitério formam a parte vertical da cruz. A arquitetura é em forma de cruz, pois é pela cruz que nos vem a salvação. Mas não se trata, simplesmente, de uma cruz. A igreja em cruz representa, na verdade, Cristo crucificado. Assim, na nave e nos transeptos temos o corpo de Cristo com seus braços. No presbitério, temos a cabeça de Cristo crucificado. Os fiéis ficam na nave e nos transeptos. O sacerdote fica no presbitério. Os fiéis ficam na nave porque formam os membros do Corpo Místico de Cristo.  O sacerdote, que age na pessoa de Cristo e que é outro Cristo em virtude de sua ordenação, fica no presbitério, pois exerce a função de Cristo, cabeça do Corpo Místico. A correta arquitetura da Igreja demonstra a verdade de que a Igreja é hierárquica. Cada um deve ocupar seu devido lugar na Igreja, tanto no edifício físico quanto no edifício espiritual.  Além disso, essa arquitetura coloca Cristo no centro. O principal é a cabeça e não o corpo. O principal é Cristo e não nós. É da cabeça que vem todas as ordens para o corpo. É do presbitério, é da Santa Missa que vêm todas as graças para nós.
A arquitetura tradicional de uma Igreja representa também a vida de Cristo. Para entender melhor isso, precisamos lembrar um pouco de geografia. Na medida em que as circunstâncias o permitirem, convém muitíssimo que a entrada da Igreja se faça pelo ocidente, enquanto o presbitério aponta para o oriente. Convém, então, que uma igreja seja, na medida do possível, orientada, isto é, que o presbitério esteja voltado para o oriente. Aqui, nessa Capela, a providência ajudou. O presbitério aponta quase milimetricamente para o leste, enquanto a entrada está voltada para o ocidente. Convém que a entrada da igreja esteja no oeste porque no oeste o sol se põe, ele desce. A entrada da Igreja, é a entrada de Cristo no mundo, é a descida dele do seio do Pai para nos salvar, é a descida do Sol de justiça para nos redimir. Cristo veio ao mundo e foi batizado por São João Batista. Temos, então, depois da entrada da igreja, o batistério. Em seguida, Cristo viveu entre os homens, ele passou pelo mundo, dissipando as trevas, expulsando os demônios, pregando o Evangelho, convertendo as almas a Deus, até chegar ao Calvário. Essa vida de Cristo entre os homens, essa passagem de Cristo da encarnação à crucificação está representada pela nave, onde estão os fiéis. A palavra nave nada mais é do que navio. Portanto, um meio de transporte na água, água que simboliza o pecado, a instabilidade do mundo entregue às coisas passageiras. Cristo passou pelo mundo fazendo verdadeiramente o bem, chegando à Cruz. A Cruz, o Calvário, o sacrifício de Cristo estão no altar, no presbitério. Após a sua morte na Cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscita, ele sobe ao céu. A Ressurreição e a Ascensão estão representadas pelo oriente, que é o nascer do sol, é o sol que se levanta. Além disso, é do oriente que Cristo voltará no final dos tempos para julgar os vivos e os mortos, como Ele mesmo diz (Mt 24, 27): “como o relâmpago parte do oriente e ilumina até o ocidente, assim será a volta do Filho do Homem.” Devemos, então, ter nossos olhos voltados para Cristo, para o oriente.  A igreja nos mostra, assim, do poente ao oriente, a vida de Cristo.
Finalmente, nessa nossa breve meditação sobre a arquitetura sacra, é preciso afirmar que ela representa a vida do próprio católico. O poente significa que a luz está prestes a desaparecer, que as trevas dominam. Esse é o exterior da Igreja. Fora da Igreja, estão as trevas do mundo hostil à verdadeira religião. Fora da Igreja, estão as trevas do pecado. Ao entrar na Igreja pelo batismo, deixamos as trevas do pecado. Portanto, o batistério está logo no início ou por vezes até fora do templo sagrado, porque é pelo batismo que entramos na Igreja Católica, pelo batismo pertencemos ao Corpo Místico de Cristo. Pelo batismo, nos encontramos na nave, no navio, na barca de Pedro, que é a Igreja Católica. Para chegar ao oriente, à ressurreição, devemos ir dentro da barca de Pedro, se não permaneceremos nas trevas do pecado. Às vezes, porém, podemos ter a tentação de pular da barca e voltar para as águas do mundo e do pecado. Temos, então, os botes salva-vidas, que são os confessionários, para nos trazer de volta à vida da graça. Nessa barca, fundada e edificada por Cristo, e dirigida visivelmente por Pedro, encontramos todo o necessário para essa árdua travessia que é nossa vida. São os sete sacramentos, as práticas piedosas, etc… Todos os tesouros da Igreja.
Na arquitetura sacra tradicional, três coisas estão no centro, não no centro geográfico, mas realmente destacadas das outras, como foco: a cruz, o altar e a eucaristia. Na igreja, não se trata de todos verem a todos. Trata-se de todos, inclusive o padre, se dirigirem à Cruz, à Missa ou ao altar e à Eucaristia. Esse é o foco de uma igreja. Tudo deve levar nosso olhar, de algum modo, para essas três coisas. O altar deve, realmente, estar em local elevado, como o Calvário. Ele deve estar elevado e com degraus em número ímpar, sempre permitindo que sobre um , o que significa a unidade de Deus. O altar está em lugar alto, indicando que, para encontrar Deus, devemos nos desapegar das coisas desse mundo e elevar a nossa alma. Foi no alto do Monte Sinai que Moisés encontrou Deus, por exemplo. Em geral, entre os elementos da arquitetura sagrada está também o púlpito, como esse de onde lhes dirijo a palavra. O púlpito é elevado, para significar de onde vêm as palavras nele proferidas: elas vêm do alto e não da terra, e elas vêm de alguém que tem autoridade. Cristo, com frequência, pregava de um lugar elevado, como no Sermão da Montanha.
Eis aqui, caros católicos, algumas lições que nos são dadas pela arquitetura sacra tradicional da igreja. Arquitetura que corresponde à doutrina católica e que conduz o homem a elevar a sua alma às coisas do alto.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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