11. “O desprezado e o último dos homens” (Is 53,3). Eis o que foi a vida do Filho de Deus feito homem: “o último dos homens”; foi tratado como o mais vil e desprezível deles. E a que maior baixeza poderia reduzir-se a vida de Jesus Cristo do que nascer numa gruta? viver como artífice numa oficina, desconhecido e desprezado? ser preso como réu? flagelado como escravo? esbofeteado, tratado como rei de burla, escarrado na face? e finalmente morrer justiçado como malfeitor num patíbulo infame? S. Bernardo exclama: “O último e altíssimo”. Ó Deus, sois o senhor de todos e como vos contentais de ser o mais desprezado de todos? E eu, ó meu Jesus, vendo-vos assim humilhado por mim, como pretendo ser estimado e honrado de todos, pecador e soberbo? Ah, meu Redentor desprezado, fazei que pelo vosso exemplo eu ame os desprezos e a vida obscura. De agora em diante, espero com vosso auxílio abraçar todos os opróbrios que me forem feitos, por amor de vós que suportastes tantos por amor de mim. Perdoai-me o orgulho de minha vida passada e dai-me vosso amor. Eu vos amo, meu Jesus desprezado. Ide adiante com vossa cruz, que eu quero acompanhar-vos com a minha e não vos abandonar mais até morrer crucificado por vós, como vós morrestes crucificado por mim. Meu Jesus, meu Jesus desprezado, eu vos abraço e abraçado convosco quero viver e morrer.
12. “Varão das dores” (Is 53,3). Qual foi a vida de Jesus Cristo? vida de dores. Vida cheia de dores internas e externas, desde o começo até ao fim. Mas o que mais afligiu a Jesus Cristo em toda a sua vida foi a vista dos pecados e das ingratidões com que lhe haviam os homens de pagar as penas que ele com tão grande amor sofreu por nós: tal vista fez dele o homem mais aflito que jamais existiu nesta terra. Ó meu Jesus, também eu concorri para vos afligir com os meus pecados, durante toda a vossa vida. E por que não digo com S. Margarida de Cortona que, exortada por seu confessor a tranqüilizar-se e não chorar mais porque Deus já lhe havia perdoado os pecados, respondeu com mais copioso pranto: Ah, meu padre, e como poderei deixar de chorar, se os meus pecados infligiram meu Jesus durante toda a sua vida? Oh! pudesse eu morrer de dor, ó meu Jesus, todas as vezes que me recordo de vos haver causado tantas amarguras nos dias de minha vida! Ai de mim, quantas noites eu dormi privado da vossa graça. Quantas vezes me perdoastes e eu tornei a voltar-vos as costas? Meu caro Senhor, arrependo-me sobre todas as coisas de vos ter ofendido e vos amo de todo o meu coração, amo-vos com toda a minha alma. Ah, não permitais que eu ainda viva separado de vós. Meu dulcíssimo Jesus, não permitais que eu me separe de vós. Meu Jesus, ouvistes-me: não permitais que eu me separe de vós. Fazei que eu antes morra que trair-vos novamente. Ó Mãe da perseverança, Maria, impetrai-me a santa perseverança.
13. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13,1). O amor dos amigos cresce na ocasião da morte, pois que estão para separar-se das pessoas amadas e por isso procuram mais do que nunca testemunhar-lhes o seu afeto e demonstrar-lhes o amor que lhes consagram. Jesus durante sua vida inteira testemunhou-nos o seu afeto, mas nas vésperas de sua morte quer dar-nos as mais convincentes provas de seu amor. E que prova mais evidente nos poderia dar este amante Senhor, que dando-nos o seu sangue e a sua vida em prol de cada um de nós? e ainda não satisfeito com sacrificar-nos seu próprio corpo na cruz, no-lo quis deixar em alimento, a fim de que cada um, que o recebesse, se unisse inteiramente com ele e assim de sua parte crescesse no amor. Ó bondade infinita, ó amor infinito, ó meu amado Jesus, enchei meu coração de vosso santo amor, para que eu me esqueça do mundo e de mim mesmo, para não pensar senão em vos amar e agradar. Eu vos consagro o meu corpo, a minha alma, a minha vontade e a minha liberdade. No passado procurei minhas satisfações com desgosto vosso; arrependendo-me sumamente, meu amor crucificado, e de agora em diante não quero buscar outra coisa senão vós: Meu Deus e meu tudo. Quero só a vós e nada mais. Ah, se eu pudesse consumir-me todo por vós como vós vos consumistes todo por mim, meu único bem, meu único amor. Eu vos amo e me entrego inteiramente à vossa santa vontade. Fazei que eu vos ame e depois fazei de mim o que vos aprouver.
14. “Minha alma está triste até à morte” (Mt 26,38). Eis as palavras que saíram do coração magoado de Jesus Cristo no jardim de Getsêmani, antes de ele morrer. Mas onde nascia essa tristeza tão grande que bastava para dar-lhe a morte? Talvez na visão dos tormentos que devia sofrer? Não, porque esses tormentos já os viu desde a sua encarnação, viu-os e aceitou-os de livre e própria vontade: “Foi oferecido porque ele mesmo o quis” (Is 53,7). A sua tristeza foi motivada pela vista dos pecados que os homens iriam cometer depois de sua morte. E nessa hora viu todas as culpas particulares de cada um de nós, diz S. Bernardino de Sena. Não foi, ó meu Jesus, a vista dos açoites, dos espinhos e da cruz que tanto vos afligiu no jardim das Oliveiras; foi a vista de meus pecados, cada um dos quais vos oprimiu de tal modo o coração com dor e tristeza, que vos fez suar sangue e entrar em agonia. Eis aí a recompensa com que paguei o amor que me mostrastes morrendo por mim. Oh! fazei-me sentir parte dessa dor que sofrestes no horto pelas minhas culpas, para que essa dor me conserve na tristeza durante minha vida inteira. Ah, meu doce Redentor, pudesse eu consolar-vos tanto com minha dor e com o meu amor quanto eu vos afligi. Arrependo-me, meu amor, de todo o meu coração, de vos haver posposto a todas as minhas miseráveis satisfações. Arrependo-me e vos amo sobre todas as coisas. Percebo que vós, apesar de ofendido por mim, ainda me pedis o meu amor e quereis que eu vos ame de todo o coração.“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma” (Mt 22,37). Sim, meu Deus, eu vos amo de todo o coração, eu vos amo com toda a minha alma, dai-me o amor que desejais de mim. Se pelo passado busquei a mim mesmo, agora não quero buscar senão a vós. E vendo que me amastes mais do que aos outros, quero também amar-vos mais do que os outros. Atraí-me sempre mais, ó meu Jesus, ao vosso amor com o odor de vossos perfumes, que são os amorosos atrativos de vossa graça. Dai-me, em suma, força para corresponder a um afeto tão grande de um Deus, demonstrado a um verme ingrato e traidor. Maria, Mãe de misericórdia, ajudai-me com as vossas súplicas.
15. “Aprisionaram a Jesus e o ligaram” (Jo 18,12). Um Deus preso e ligado. Que deveriam dizer os anjos, vendo seu Rei passar pelas ruas de Jerusalém com as mãos ligadas e ao meio de soldados! E que deveríamos dizer nós, vendo nosso Deus que se deixa, por nosso amor, prender como malfeitor, para ser apresentado aos juízes que o condenarão à morte? “Que tendes vós com as cadeias?” pergunta S. Bernardo. Que relação pode haver entre vós e as cadeias dos malfeitores, ó meu Jesus, majestade e bondade infinita? Elas nos pertencem a nós, pecadores e réus do inferno, não a vós, que sois inocente e santo dos santos. E S. Bernardo, contemplando Jesus declarado réu de morte, continua: Que fizestes, inocentíssimo Jesus, para que assim vos condenem? Ó meu caro Salvador, sois a inocência mesma; por que delito sereis condenado? Ah, eu vo-lo direi: o delito que cometestes foi o amor excessivo que consagrastes aos homens: O vosso pecado é o vosso amor. Beijo essas cordas que vos prendem, ó meu amado Jesus: elas me livram das cadeias que eu mereci. Mísero que sou, quantas vezes renunciei à vossa amizade e me fiz escravo de Lúcifer, desonrando-vos, ó majestade infinita. Arrependo-me sobre todas as coisas de vos haver injuriado assim tão gravemente. Ah, meu Deus, prendei aos vossos pés esta minha vontade com os dóceis laços de vosso amor, para que ela nada mais queira senão o que vos agrada. Fazei que eu tome o vosso querer pelo guia único de minha vida inteira. Fazei que eu não tenha outro cuidado senão o de vos agradar, pois que vos empenhastes tanto por meu bem. Eu vos amo, meu sumo bem, eu vos amo, único objeto de meus afetos. Reconheço que só vós me amastes em verdade e só a vós quero amar. Renuncio a tudo, vós só me bastais.
12. “Varão das dores” (Is 53,3). Qual foi a vida de Jesus Cristo? vida de dores. Vida cheia de dores internas e externas, desde o começo até ao fim. Mas o que mais afligiu a Jesus Cristo em toda a sua vida foi a vista dos pecados e das ingratidões com que lhe haviam os homens de pagar as penas que ele com tão grande amor sofreu por nós: tal vista fez dele o homem mais aflito que jamais existiu nesta terra. Ó meu Jesus, também eu concorri para vos afligir com os meus pecados, durante toda a vossa vida. E por que não digo com S. Margarida de Cortona que, exortada por seu confessor a tranqüilizar-se e não chorar mais porque Deus já lhe havia perdoado os pecados, respondeu com mais copioso pranto: Ah, meu padre, e como poderei deixar de chorar, se os meus pecados infligiram meu Jesus durante toda a sua vida? Oh! pudesse eu morrer de dor, ó meu Jesus, todas as vezes que me recordo de vos haver causado tantas amarguras nos dias de minha vida! Ai de mim, quantas noites eu dormi privado da vossa graça. Quantas vezes me perdoastes e eu tornei a voltar-vos as costas? Meu caro Senhor, arrependo-me sobre todas as coisas de vos ter ofendido e vos amo de todo o meu coração, amo-vos com toda a minha alma. Ah, não permitais que eu ainda viva separado de vós. Meu dulcíssimo Jesus, não permitais que eu me separe de vós. Meu Jesus, ouvistes-me: não permitais que eu me separe de vós. Fazei que eu antes morra que trair-vos novamente. Ó Mãe da perseverança, Maria, impetrai-me a santa perseverança.
13. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13,1). O amor dos amigos cresce na ocasião da morte, pois que estão para separar-se das pessoas amadas e por isso procuram mais do que nunca testemunhar-lhes o seu afeto e demonstrar-lhes o amor que lhes consagram. Jesus durante sua vida inteira testemunhou-nos o seu afeto, mas nas vésperas de sua morte quer dar-nos as mais convincentes provas de seu amor. E que prova mais evidente nos poderia dar este amante Senhor, que dando-nos o seu sangue e a sua vida em prol de cada um de nós? e ainda não satisfeito com sacrificar-nos seu próprio corpo na cruz, no-lo quis deixar em alimento, a fim de que cada um, que o recebesse, se unisse inteiramente com ele e assim de sua parte crescesse no amor. Ó bondade infinita, ó amor infinito, ó meu amado Jesus, enchei meu coração de vosso santo amor, para que eu me esqueça do mundo e de mim mesmo, para não pensar senão em vos amar e agradar. Eu vos consagro o meu corpo, a minha alma, a minha vontade e a minha liberdade. No passado procurei minhas satisfações com desgosto vosso; arrependendo-me sumamente, meu amor crucificado, e de agora em diante não quero buscar outra coisa senão vós: Meu Deus e meu tudo. Quero só a vós e nada mais. Ah, se eu pudesse consumir-me todo por vós como vós vos consumistes todo por mim, meu único bem, meu único amor. Eu vos amo e me entrego inteiramente à vossa santa vontade. Fazei que eu vos ame e depois fazei de mim o que vos aprouver.
14. “Minha alma está triste até à morte” (Mt 26,38). Eis as palavras que saíram do coração magoado de Jesus Cristo no jardim de Getsêmani, antes de ele morrer. Mas onde nascia essa tristeza tão grande que bastava para dar-lhe a morte? Talvez na visão dos tormentos que devia sofrer? Não, porque esses tormentos já os viu desde a sua encarnação, viu-os e aceitou-os de livre e própria vontade: “Foi oferecido porque ele mesmo o quis” (Is 53,7). A sua tristeza foi motivada pela vista dos pecados que os homens iriam cometer depois de sua morte. E nessa hora viu todas as culpas particulares de cada um de nós, diz S. Bernardino de Sena. Não foi, ó meu Jesus, a vista dos açoites, dos espinhos e da cruz que tanto vos afligiu no jardim das Oliveiras; foi a vista de meus pecados, cada um dos quais vos oprimiu de tal modo o coração com dor e tristeza, que vos fez suar sangue e entrar em agonia. Eis aí a recompensa com que paguei o amor que me mostrastes morrendo por mim. Oh! fazei-me sentir parte dessa dor que sofrestes no horto pelas minhas culpas, para que essa dor me conserve na tristeza durante minha vida inteira. Ah, meu doce Redentor, pudesse eu consolar-vos tanto com minha dor e com o meu amor quanto eu vos afligi. Arrependo-me, meu amor, de todo o meu coração, de vos haver posposto a todas as minhas miseráveis satisfações. Arrependo-me e vos amo sobre todas as coisas. Percebo que vós, apesar de ofendido por mim, ainda me pedis o meu amor e quereis que eu vos ame de todo o coração.“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma” (Mt 22,37). Sim, meu Deus, eu vos amo de todo o coração, eu vos amo com toda a minha alma, dai-me o amor que desejais de mim. Se pelo passado busquei a mim mesmo, agora não quero buscar senão a vós. E vendo que me amastes mais do que aos outros, quero também amar-vos mais do que os outros. Atraí-me sempre mais, ó meu Jesus, ao vosso amor com o odor de vossos perfumes, que são os amorosos atrativos de vossa graça. Dai-me, em suma, força para corresponder a um afeto tão grande de um Deus, demonstrado a um verme ingrato e traidor. Maria, Mãe de misericórdia, ajudai-me com as vossas súplicas.
15. “Aprisionaram a Jesus e o ligaram” (Jo 18,12). Um Deus preso e ligado. Que deveriam dizer os anjos, vendo seu Rei passar pelas ruas de Jerusalém com as mãos ligadas e ao meio de soldados! E que deveríamos dizer nós, vendo nosso Deus que se deixa, por nosso amor, prender como malfeitor, para ser apresentado aos juízes que o condenarão à morte? “Que tendes vós com as cadeias?” pergunta S. Bernardo. Que relação pode haver entre vós e as cadeias dos malfeitores, ó meu Jesus, majestade e bondade infinita? Elas nos pertencem a nós, pecadores e réus do inferno, não a vós, que sois inocente e santo dos santos. E S. Bernardo, contemplando Jesus declarado réu de morte, continua: Que fizestes, inocentíssimo Jesus, para que assim vos condenem? Ó meu caro Salvador, sois a inocência mesma; por que delito sereis condenado? Ah, eu vo-lo direi: o delito que cometestes foi o amor excessivo que consagrastes aos homens: O vosso pecado é o vosso amor. Beijo essas cordas que vos prendem, ó meu amado Jesus: elas me livram das cadeias que eu mereci. Mísero que sou, quantas vezes renunciei à vossa amizade e me fiz escravo de Lúcifer, desonrando-vos, ó majestade infinita. Arrependo-me sobre todas as coisas de vos haver injuriado assim tão gravemente. Ah, meu Deus, prendei aos vossos pés esta minha vontade com os dóceis laços de vosso amor, para que ela nada mais queira senão o que vos agrada. Fazei que eu tome o vosso querer pelo guia único de minha vida inteira. Fazei que eu não tenha outro cuidado senão o de vos agradar, pois que vos empenhastes tanto por meu bem. Eu vos amo, meu sumo bem, eu vos amo, único objeto de meus afetos. Reconheço que só vós me amastes em verdade e só a vós quero amar. Renuncio a tudo, vós só me bastais.
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