15 de julho de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

1/5  -  Sentimentos de São Francisco de Sales acerca do número dos escolhidos.

A extrema doçura de São Francisco de Sales, diz o Bispo de Belley, de quem copiamos este capitulo leva-vá-o muitas vezes às opiniões mais suaves por pouca probabilidade que tivessem. Falava-se um dia, em conversa, desta terrível passagem do Evangelho: "São muitos os chamados e poucos os escolhidos"; dizia-se que o número dos escolhidos se chamava pequeno rebanho; que o dos insensatos, isto é, dos réprobos, era infinito, e em coisas idênticas. Ele então respondeu: "que julgava que haveria poucos cristãos (falava dos que pertenciam à verdadeira Igreja, fora da qual não há salvação) que se condenasse, porque, dizia ele, tendo as raízes da verdadeira fé cedo ou tarde ela produziria os seus frutos, que eram a salvação, e que de morta se tornava viva e operante pela caridade".
E quando lhe perguntavam o que significava pois esta frase evangélica do pequeno número dos escolhidos, respondia que, em comparação com o resto do mundo e das nações infiéis, o número dos cristãos era diminuto, mas deste pequeno número poucos se perdiam, segundo esta notável sentença: "Não há condenação para os que estão com Jesus Cristo" (Rom. 7, 1) o que em verdade se entende da graça justificante; mas esta graça não se separa da fé viva e animada pela caridade.
Sendo que o que dá o princípio dá também a conclusão, é crível que a vocação ao cristianismo que é uma obra de Deus, é uma obra perfeita e conduz ao fim de toda a consecução, que é a glória.
Eu ajuntei esta razão e ele gostou dela; é que a misericórdia de Deus, sendo superior a todas as suas obras sobrenadando à justiça como o azeite ao vinagre, sendo a sua natureza ter piedade e perdoar, visto ser tão abundante a redenção do Salvador, não era crível que Deus começasse a edificar a salvação do cristão verdadeiro pela fé, que é o fundamento, sem terminar o remate, que consistia na caridade. Esta doutrina consola muito, contanto que não nos torne negligentes em praticarmos o bem, porque não é bastante dizer com os antigos: O Templo do Senhor, o Templo do Senhor, a Igreja, a Igreja: eu estou no seio da verdadeira Igreja.
Já que a Igreja é santa e coluna da verdade, cumpre-nos viver santamente assim como crermos fielmente; porque cometer crimes na casa de Deus, é como manchar o santuário e tornar-se duplamente culpável. E quem não sabe que o servo que sabe a vontade do Senhor e não se importa com ela merece um duplo castigo?
E preciso, dizia São Francisco de Sales, temer os juízos de Deus, mas sem desânimo, e convém animar-mo-nos à vista da sua misericórdia, mas sem presunção.
Os que têm um temor excessivo e desordenado de se condenarem, mostram ter muita necessidade de humildade e submissão. Convém sem dúvida que nos abatamos, aniquilemos e percamos, mas deve ser para ganhar a alma, guardá-la e salvá-la. Toda a humildade que prejudica a caridade é seguramente uma humildade falsa. Tal é a que conduz ao temor, ao desânimo à desesperação; porque é contrário à caridade, que mandando-nos atender à salvação com temor e tremor, proíbe-nos ao mesmo tempo que desconfiemos da bondade de Deus, que quer a conversão e salvação de todos.

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