16 de julho de 2014

Páginas de Vida Cristã - Pe. Gaspar Bertoni.


PÁGINAS DE VIDA CRISTÃ



do Venerável Servo de Deus

Pe. Gaspar Bertoni

FUNDADOR DOS PADRES DOS SAGRADOS
ESTIGMAS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Edição e adaptação para o Idioma Italiano moderno:
Pe. Giuseppe Stofella, CSS – 1947

Edição Eletrônica – 4 de Julho de 2005
Com última revisão em 23/07/2005

1/26 -  O DESAPEGO DO CORAÇÃO DOS FALSOS BENS TERRENOS 

1. - "Quanto é grande a insensatez de quem quer gozar os bens presentes, mesmo a custo de uma irreparável perda dos futuros"

Ó meu irmão pecador, finjamos um pouco que nos fosse dado escolher uma destas duas coisas: ou gozar por uma noite um sonho feliz, e depois despertardes pela manhã encontrar uma série de males que devam durar toda a vida; ou privar-se daquele breve e aparente prazer, até mesmo, se quisermos, sentir um sonho um pouco triste, com a segurança, porém, de ter em nossas mãos até a morte todos os bens que a terra pudesse dar.
Se houvesse alguém que iludido pela vã felicidade de um breve sonho, se contentasse de perder uma vida inteira de felicidade, não sei se em uma escolha tão extravagante mereceria ser lamentado como imprudente ou antes ser escarnecido como louco. 
Mas o que é a vida presente - diante da eterna, se não um sonho fugaz, uma fumaça, uma sombra, um vapor que se dissipa?
Agora lhe é oferecida a escolha: ou gozar neste breve sonho algum deleite arrancado quase a força das criaturas, ou gozar uma vida feliz sem fim.
Que lhe foi dada esta escolha, você pode ouvir de Cristo: "O mundo se há de alegrar - diz Ele -, e vocês hão de lamentar e chorar, mas sua tristeza se há de transformar em alegria (Jo 16, 20). E você resolve gozar agora com o mundo, e perder assim uma alegria eterna?
Conheça bem a qualidade dos bens terrenos e dos celestes, e tanto mais
discernirá a loucura de uma tal determinação: entretanto você não só escolhe um bem e um prazer brevíssimo diante de um eterno, mas ainda mais um bem só aparente em confronto com o verdadeiro.
2. - Os bens deste mundo não são senão bens aparentes
Que são de fato os bens que se gozam no breve sonho desta vida senão justamente bens sonhados?
O avarento sonha ter as mãos repletas de ouro e prata; mas ao raiar o novo dia, quando acredita ainda ter em mãos aquela riqueza, encontra-se com as mãos totalmente vazias.
Assim são os bens deste mundo, diz o Espírito Santo, que porém - falando daqueles homens que são muitos - assim se exprime: "Dormiram seu sono e depois nada encontraram em suas mãos" (Sl 75, 6).
E como a ilusão do sonho não acrescenta nada ao estado daquele pobre que sonhou ser rico - aliás aumenta-lhe a tristeza vendo-se dolorosamente privado daquilo que com tanto prazer havia imaginado possuir, - assim nem os bens presentes satisfazem o nosso coração: sinal evidente que eles não são o que parecem ser.
Diga-me. E o que quer dizer a amargura que você prova depois de haver satisfeito suas paixões, depois de não haver negado a seus sentidos todo prazer proibido? O que é aquela ânsia sempre ávida de novos bens, de novos prazeres, que quando depois de muito esforço se consegue, percebe com seu desprazer que o coração não ficou satisfeito, enquanto aumentam as inquietações e mais desejos?
Como um febricitante, que acredita com um pouco de água acabar com o ardor da febre, quando na realidade mais a aumenta.
3. - Os bens deste mundo não são proporcionais ao coração humano.
Mas eu quero dizer que estes bens embora verdadeiros: não são, porém, adequados ao nosso coração: por isso é que não podem jamais saciá-lo.
O deleite de fato e o prazer em que repousa o espírito movimentado por seus desejos nasce da aplicação das potências aos objetos que lhe são convenientes.
Mas o objeto de um coração nos seus desejos quase infinitos não pode ser senão um bem infinito.
Como queremos, pois, que bens tão pequenos, tão limitados o satisfaçam?
Se o nosso coração é tão vasto como um outro mar, como poderão pequenos regatos preencher a imensidão de suas ânsias? Ah! no Céu, no Céu encontraremos um objeto conveniente ao nosso coração, um Deus totalmente infinito.
Ah meu Deus, então, "então serei saciado, quando aparecer a vossa glória".
Sim, só Vós podeis "com a torrente dos vossos deleites matar a sede das minhas ânsias" (Sl 16, 15). E para isso me haveis dado um coração insaciável: a fim de que eu entenda que só para Vós foi feito o meu coração, e que "ser sempre inquieto até que em Vós repouse". (3)
Coração humano, conheça sua loucura; para gozar um sonho perde uma felicidade eterna. Você corre atrás da sombra, da vaidade, e deixa a verdadeira.
Bondade, a Beleza não criada, perde aquele Deus que é tudo.
4. - Não se pede a renúncia de todos os bens desta vida.
Estes argumentos que eu trouxe até agora provam por si mesmo que quando se tratasse de renunciar a todos os bens desta vida para assegurar-se dos eternos, seria grande loucura preferir a presente alegria à futura: mas não se exige tanto.
Deus não proibiu a Adão todos os frutos do Paraíso terrestre; mas só uma árvore. E quanto era fácil a Adão a condição de poder assegurar a si mesmo e a todos os seus descendentes a felicidade, tanto mais deplorável foi sua loucura em havê-la perdido por tão pouco.
Assim é o nosso caso. São honestos os bens, inocentes os prazeres que você desfruta? Continue a desfrutá-los em paz. Se por más intenções de sua mente, ou por um desregrado modo com que os usa e os ama, se tornaram ilícitos o que, ligado a outras circunstâncias, pode se tornar lícito, nada mais se exige de você senão que reforme o coração e regularize o uso.
Porque também depois de haver gozado nesta vida dos dons e prazeres que ou são honestos em si, ou tais se podem tornar pelo modo de usá-los, pode-se passar deles à felicidade eterna do Céu como do imperfeito ao mais perfeito. Tudo se resume na necessidade de privar-se dos falsos bens e prazeres que em si são torpes, de tal modo que nada pode mudar-lhes a natureza que intrinsecamente é má.
Quando se trata somente de privar-se de um prazer péssimo que desonra a razão com sua malícia, enquanto se pode com abundância gozar de outros bens permitidos, tanto maior será sua loucura em querer perder os eternos, os quais lhe prometem uma compensação incomparavelmente vantajosa. Antes, sem esperar tanto, nesta mesma vida será recompensado com superabundância de alegria.
5. - O desapego dos falsos bens terrenos é recompensado com superabundância de alegria mesmo nesta vida
E de fato assim como o vício se torna aqui na terra aos seus sequazes um grave tormento de amargura e de aborrecimento antes ainda do inferno, assim ao contrário, a virtude não demora a premiar os que a seguem, não esperando o céu para coroá-los com glória imortal; mas antecipadamente esparge delícias em toda sua vida, nutrindo-a com suaves esperanças e prazeres puros. (4)
Você talvez, que está acostumado a ver a vida mortificada e virtuosa como melancólica e triste, não acredite em minhas palavras. Eu não fico espantado. Quem está doente acredita que o vinho seja amargo e a música enjoativa, enquanto o são sente o gosto e a satisfação.
Enquanto Agostinho permanecia na imundície dos seus prazeres, ele mesmo confirma que lhe parecia impossível poder viver - e nem mesmo achar conforto - fora deles; mas depois que conseguiu com generosa resolução privar suas paixões daquela vida imunda: "Oh, quanto - é ele quem fala - oh, quanto me senti aliviado de estar livre daquelas vãs suavidades! E aquilo que pouco antes temia perder, já me era prazer deixar; pois o Senhor, ó meu Deus, verdadeira e suma suavidade, as afastou de mim; o Senhor mesmo as afastou e entrou em seu lugar, mais doce que
qualquer prazer. (8)
Neste santo você pode acreditar, pois, após ter provado do mal da doença,
tornou-se-lhe mais evidente a doçura da saúde.
Concluamos, pois. Se a privação de um bem e de um prazer péssimo é recompensada não só com um excesso imenso de felicidade lá no Céu, mas com superabundância de alegria também aqui na terra; qual será a loucura de quem prefere não livrar-se deles, mesmo a custo de perder para sempre sua perfeita e última felicidade?
6. - Calorosa exortação ao coração do pecador
E eis, então, ó pecador, que todos esperam sua resolução. A esperamos com desejo impaciente, pois a salvação de sua alma é tão importante para nós, como a nossa. Deus sabe com quanto afeto, prostrados em espírito diante do trono de Sua misericórdia, pedimos a sua conversão, e não cessamos ainda com as instâncias mais fervorosas para obtê-la.
Espera-o o Céu, que eu "vejo aberto sobre sua cabeça, e Jesus sentado à direita de Deus" (At 7, 55), tendo nas mãos uma coroa convida-o a conquistá-la com a vitória sobre suas paixões.
Vejo os pontos que desejam vê-lo onde eles já estão: "Não tema - dizem - não desconfie. A nós também parecia um dia difícil esta subida; mas a Graça, na qual colocamos toda nossa confiança, no-la tornou fácil, agradável, carregando ela mesmo em seus braços amorosos a nossa fraqueza. Muitos de nós, ainda na terra, pecamos como você e até mais ainda; mas porque afortunadamente ainda em tempo renunciamos os vãos prazeres do mundo, confiados na misericórdia de Deus, eis que agora estamos aqui a louvá-Lo eternamente.
Vejo os Anjos que se preparam para colocar em festa todo o Paraíso pela próxima conversão que esperam do seu coração.
Que mais? O inferno também espera, com frêmitos de indignação e de temor, suas resoluções: e já parece-me vê-lo por isso aberto debaixo de seus pés. Este é o momento que decide talvez para sempre de vê-lo perdido: temem muito, seus inimigos tentadores, que a vista do Céu e de tantos bens eternos e incomparáveis que aqui lhe são prometidos, não o façam finalmente desprezar estes bens terrenos e vãos, que até agora iludiram seu coração.
O que pensa, então? O que delibera? O que resolve? Está ainda incerto? Ainda duvidoso?
Mas se você quer seguir vivendo como vive, não é preciso resolver outra coisa. O inferno é seu. E já vejo que os demônios se esforçam para apertar cada vez mais suas correntes enquanto você se demora em resolver escapar de suas mãos.
Vamos, pois, se você resolver, resolva agora: "a graça de Deus não reconhece preparativos tardios".
Você resolveu esmagar suas paixões desregradas? sim: eu não duvido mais; seria coisa estulta se não o houvesse feito antes; impossível totalmente que não o faça neste ponto.
Levante pois seus olhos livres para o Céu. Sim: o Céu é seu. Desde este momento os santos do Céu o reconhecem como seu concidadão. Jesus já preparou o lugar que você deve ocupar, a glória com que o quer recompensar; já dispõe as graças para ajudá-lo até a feliz consecução.

7. - Oração
Ah meu Deus, meu Jesus, se é assim; se é realmente firme - como eu não duvido mais - o propósito dessa alma que se rende ao Senhor ; se as palavras dum miserável pecador como eu, ajudadas pela Sua graça, pela intercessão das orações de tantas almas piedosas, ajuntaram ainda que uma só alma à companhia daquelas almas eleitas, que como prisioneiras felizes na conquista da Sua graça formam a pompa mais solene de Sua gloriosa Ascensão ao Céu; eu não lhe peço para mim outras consolações, outros confortos nas angústias da minha vida e do meu espírito; somente esta me basta, unida à esperança confiante de que me são perdoados meus inumeráveis pecados, estarei juntamente com todos meus piedosos irmãos, depois destes breves dias, gozando a sua glória por todos os séculos.

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