1 de setembro de 2013

Confiança! - Pe. Thomas de Saint Laurent - 12

O Livro da Confiança

Pe. Thomas de Saint Laurent


Capítulo III - A Confiança em Deus e as necessidades temporais

II - Ele o faz segundo a situação de cada um

Deveremos tomar essas palavras ao pé da letra, e compreendê-las no seu sentido mais restrito? Dar-nos-á Deus somente o estrito necessário: o pedaço de pão seco, e o copo d'água, a nesga de tecido de que a nossa miséria precisa urgentemente? Não, o Pai celeste não trata os filhos com avarenta parcimônia. Pensar assim, seria blasfemar contra a Divina Bondade; seria, se assim posso dizer, desconhecer os seus hábitos. No exercício da sua Providência, como na sua obra criadora, Deus usa, com efeito, de grande prodigalidade.
 
Quando lança os mundos através dos espaços, tira do nada milhares de astros. Na Via Láctea, essa praia imensa das noites luminosas, cada grão de areia não é um mundo?
 
Quando alimenta os pássaros, convida-os à mesa opulentíssima da natureza. Oferece-lhes o trigo que enche as espigas, os grãos de todas as espécies que nas plantas amadurecem, as bagas que o Outono enrubesce nos bosques, as sementes que o lavrador deita nos sulcos do arado. Que ementa variada ao infinito para esses humildes bichinhos!
 
Quando cria os vegetais, com que graça enfeita as suas flores! Ele cinzela as suas corolas como jóias preciosas; nos seus cálices lança deliciosos perfumes; tece-lhes as pétalas com uma seda tão brilhante e delicada, que os artifícios da indústria nunca lhes igualarão a beleza.
 
E, então, tratando-se do homem, a sua obra-prima, o irmão adotivo do seu Verbo encarnado, não haveria Deus de se mostrar de uma generosidade ainda maior? Tornar-se-ia Ele avarento só para connosco? Evidentemente tal não é possível.
 
Consideremos, pois, como verdade indiscutível que a Providência provê largamente às necessidades temporais do homem.
 
Sem dúvida, haverá sempre na terra ricos e pobres. Enquanto uns vivem na abundância, outros devem trabalhar e observar uma sábia economia. Porém, o Pai celeste fornece, a todos, meios de viver com certo bem-estar, segundo a condição em que os colocou.
 
Voltemos à comparação que Jesus emprega. Deus vestiu o lírio esplendidamente, mas esta veste branca e perfumada era reclamada pela natureza do lírio. Mais modestamente foi trajada a violeta; Deus deu-lhe, porém, o que convinha à sua natureza particular. E essas duas flores desabrocham docemente ao sol, sem que nada lhes falte.

Assim Deus faz com os homens. Colocou a uns nas classes mais altas da sociedade; pôs outros em condições menos brilhantes: a uns e a outros dá, no entanto, o necessário para dignamente manterem a sua posição.
 
Levanta-se aí uma objeção, a respeito da instabilidade das condições sociais. Na crise presente, não será mais fácil decair do que elevar-se ou mesmo manter-se em igual nível social?
 
Sem dúvida. Mas a Providência proporciona exatamente o auxílio às necessidades de cada um: para os grandes males manda os grandes remédios. O que as catástrofes econômicas nos tiram, podemos readquirir com a nossa indústria ou trabalho. Nos casos muito raros em que a atividade própria se vê de todo reduzida à impossibilidade, temos, então, o direito de esperar de Deus uma intervenção excepcional.
 
Geralmente, pelo menos assim penso eu, Deus não faz decaídos. Ele quer, pelo contrário, que nos desenvolvamos, que subamos, que cresçamos com prudência. Se, às vezes, permite uma decadência de nível social, não a quer senão por uma vontade posterior à ação do nosso livre arbítrio. O mais freqüente é provir tal decadência de faltas nossas, pessoais ou hereditárias. São conseqüências naturais da preguiça, da prodigalidade, das paixões.
 
E, ainda assim, pode o homem, mesmo decaído, levantar-se e, com o auxílio da Providência, reconquistar, pelos seus esforços, a situação perdida. 

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