21 de maio de 2017

Retratos de Nossa Senhora - Juan Rey, S. J.

RETRATOS DE NOSSA SENHORA


Apresentação

"Que a vida dos cristãos se assemelhe o mais possível à da Santíssima Trindade".
Segundo Sua Santidade Pio XII, este devia ser o fim do Ano Mariano, em que se celebrava o primeiro centenário da definição dogmática da Imaculada Conceição: reproduzir na nossa vida a vida da Santíssima Virgem; copiar em nós a sua imagem.
Porém não é só no Ano Mariano; em todos os anos da nossa vida deveríamos ter esse ideal. Imitá-la a Ela é imitar a Jesus Cristo, que é caminho, verdade e vida.
Para facilitar esse trabalho diário ofereço-te estes Retratos da Santíssima Virgem, retratos de todos os estados da sua vida, pois todos santificou para poder ser imitada.
O retrato é o que melhor supre a ausência de uma pessoa. Por isso os que querem perpetuar a sua memória mandam fazer o seu retrato. Por isso conservamos com o maior cuidado os retratos das pessoas que nos foram queridas e morreram já. Desde que se inventou a fotografia os retratos multiplicaram-se. Tiram-se fotografias dos atos mais importantes da vida. De certo conservas em casa muitos retratos da tua mãe: quando era pequenina, quando era jovem, com o vestido de noiva, quando já era mãe e te tinha pequenino em seus braços. Conservas com carinho esses retratos. Olhas para eles muitas vezes com emoção. Mostra-los muitas vezes às pessoas que te visitam.
Porém além dessa mãe da terra, tens outra Mãe que vive agora no Céu e que há vinte séculos viveu na terra.
Não queres saber como era essa tua Mãe?
Um orfãozinho que não tenha conhecido a sua mãe pergunta com interesse aos que viveram com ela: Como era a minha mãe? E ouve com ternura as coisas boas que lhe dizem dela e até pensa no seu intimo: Eu quero ser como a minha mãe.
Os que acorriam a Fátima ao lugar das aparições perguntavam com vivo interesse aos pequeninos que viam a Santíssima Virgem: Como é Nossa Senhora? E tu, não queres saber como era a tua Mãe do Céu quando vivia na terra? Não queres saber como é agora que vive na glória e espera que vás viver com Ela?
Quanto mais amares a tua Mãe, mais desejarás saber como era.
Para que satisfaças esses desejos ofereço-te esta coleção de retratos da tua Mãe. São de todas as épocas da sua vida.
São da sua alma e do seu corpo.
Para os fazer não quis pedir cores às flores, aos crepúsculos e às auroras, como fazem os poetas.
Não quero que sejam retratos idealizados, quero que sejam reproduções o mais exatas possível da realidade. Para isso pedi cores à teologia e à história.
O retrato tem que ter ambiente e também o cenário onde a figura da Santíssima Virgem pareça real.
Não a vou pintar sobre a esfera do mundo, entre o céu e a terra, em clarões de luz e de glória. Não a vou colocar em palácios de mármore e de jaspe com vitrais policromos. A figura da Santíssima Virgem terá o cunho palestinense em que decorreu a sua vida.
Interessa saber como era a Santíssima Virgem, nossa Mãe, o que fazia quando vivia na terra. Não nos interessa tanto saber como a idealizaram Frei Angélico, Murilho, Ribera e Rafael.
O bom retrato não só reproduz as feições do corpo; através destas deixa transparecer as qualidades da alma.
Ao retratar a Santíssima Virgem não nos devemos contentar com dizer como era fisicamente e como vivia, temos que adivinhar como pensava e como sentia. Em que vou pintar esses retratos?
Não os vou pintar em tela nem em tábua, nem em cobre, vou pintá-los em ti mesma.
Quero que sejas um retrato vivo da Santíssima Virgem; por isso não me contentarei com dizer-te como era tua Mãe, dir-te-ei também o que tens que fazer para te assemelhares a Ela. O que tens que evitar. O que tens que praticar.
 És mulher e apaixona-te a beleza. A Santíssima Virgem é um ideal de beleza.
Oxalá eu tivesse tanta habilidade para pintar os seus retratos que exclamasses deslumbrada: Que formosa é minha Mãe do Céu! Posso parecer-me com Ela. Quero parecer-me com Ela.
Toma o livro, lê-o com frequência. Supre com o teu coração e com a tua imaginação o que nele falte.
Medita. Reproduz em ti os traços formosos da Santíssima Virgem.
Procura ser um retrato vivo da tua Mãe.
Para que a tua vida se assemelhe o mais possível à da Santíssima Virgem tens que trabalhar como o escultor ao modelar um busto.
Tem diante de si o modelo e o tronco de madeira.
Um olhar ao modelo e um golpe ao tronco.
A princípio os pedaços de madeira que tira são grossos.
À medida que se vão aperfeiçoando as feições do rosto, os golpes são mais suaves, os pedacinhos de madeira mais finos.
Nos últimos detalhes é que se mostra o artista: nos olhos, nos lábios, em toda a anatomia.
Assim deves fazer para reproduzir em ti a imagem de Maria.
Um olhar à Virgem e um golpezito em ti, para tirar o que não se assemelhe à imagem da Virgem SS.ma.
Os nossos grandes artistas meditavam muito para moldar as estátuas e pintar os quadros religiosos. Por isso as suas imagens têm algo de sobrenatural, o que não lograram outros artistas estrangeiros embora mais geniais.
Diz-se que Juan de Juanes, antes de pintar a Imaculada meditava como seria a Santíssima Virgem e orava e pedia para poder reproduzir na tela toda a beleza que ele imaginava.
Por fim, pegou nos pincéis e pintou o quadro maravilhoso que se conserva na igreja da Companhia de Jesus de Valência: a Imaculada vestida de sol, pisando a lua, coroada pela Santíssima Trindade; e à volta da Virgem os símbolos com que a Igreja invoca a Maria: rosa mística, torre de David, fonte selada, horto cerrado, espelho sem mancha.
Como se dissesse o pintor: tudo isto e muito mais é Maria, ainda que eu não o tenha sabido expressar na sua imagem.
Murilho, o pintor da Imaculada, meditou muitas horas e muitos dias na formosura da Virgem; queria reproduzir na sua imaginação toda a beleza de Maria ao sair das mãos de Deus e encontrar a imagem que reproduzisse toda essa beleza.
Com esse fim meditava, orava e comungava.
Ensaiou, tateou, até que um dia se sentiu inspirado.
Pegou nos pincéis e pintou a Imaculada com rosto de menina inocente, cabelos de ouro, as mãos juntas diante do peito em atitude de orar, a túnica de neve, o manto de azul celeste flutuando no ar como que agitado por uma brisa celestial, entre nuvens de luz e suspensa por anjos que levam palmas, ramos de oliveira, rosas e açucenas.
O quadro era encantador; porém Murilho não estava satisfeito.
Continuava orando, comungando, tenteando.
Outro dia sentiu de novo a inspiração e pintou outro quadro.
A Virgem estava sobre nuvens, elevando-se suavemente como se não sentisse o peso do corpo de barro, que a nós se apega à terra. Tinha a lua a seus pés; as mãos cruzadas sobre o peito como guardando o tesouro de graça que Deus havia depositado em seu coração, com os olhos fixos no céu, em Deus; toda ela tão formosa, que a legião de espíritos celestiais que a rodeiam formando uma coroa, deixam cair de suas mãos as palmas e as rosas, extasiados ao contemplarem tanta beleza.
Ora, medita, comunga, para que reproduzas em ti com a maior exatidão a imagem da Santíssima Virgem.
Para ajudar-te, ofereço-te este livrinho - Retratos de Nossa Senhora - que te apresentamos em duas séries. Na primeira verás o que fazia a Santíssima Virgem para que faças como Ela; por isso leva o subtítulo de - Ecce Mater Tua - Aí tens a tua Mãe.
A segunda diz como era a Santíssima Virgem, como era o palácio que Deus construiu para si na terra; por isso o subtítulo é - Domus Aurea - Casa de ouro.
Lê, medita, copia. Até que se cumpra em ti o que deseja Sua Santidade Pio XII: " Da mesma maneira que todas as mães sentem um suave prazer quando vêem no rosto de seus filhos uma peculiar semelhança das suas próprias feições, assim também a nossa dulcíssima Mãe Maria, quando olha para os filhos que junto à cruz recebeu em lugar do seu, nada mais deseja e nada lhe é mais grato que ver reproduzidas as virtudes da sua alma nos seus pensamentos, nas suas palavras, nas suas ações."


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