25 de maio de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

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Perguntar-me-eis agora como podemos fortalecer em nós esta graça pascal?
Primeiro, contemplando o mistério com grande fé.Vede: quando Jesus Cristo aparece aos discípulos e ordena a Tomé, o apóstolo incrédulo, que ponha o dedo nas cicatrizes que conservou das Suas chagas, que lhe diz? «Não sejas incrédulo, mas fiel». E quando o Apóstolo O adora como seu Deus, Nosso Senhor acrescenta: Beati qui non viderunt et crediderunt: «Cres em mim,Tomé, porque me viste e tocaste; bem aventurados aqueles que creram sem verem».
A fé põe-nos em contato com Cristo; se contemplarmos este mistério com fé, Jesus Cristo produzirá em nós a graça que produzia, como ressuscitado, quando aparecia aos discípulos. Ele vive em nossas almas e, sempre vivo, opera incessantemente em nós, conforme o grau da nossa fé e a graça própria de cada um dos Seus mistérios. Canta-se na vida de Santa Madalena de Pazzi que, num Domingo de Páscoa, estando à mesa do refeitório, tinha um ar tão contente e alegre, que a noviça que a servia não pôde conter-se sem lhe perguntar o motivo. «É a beleza do meu Jesus, respondeu, que me faz tão
alegre: neste momento vejo-O nos corações de todas as minhas irmãs. - Sob que forma? - tornou a noviça. - Vejo-O em todas, respondeu a santa, ressuscitado e glorioso como a Igreja no-Lo representa neste dia».
É sobretudo pela comunhão sacramental que assimilaremos os frutos deste mistério.
Com efeito, o que é que recebemos na Eucaristia? Jesus Cristo, o Corpo e o Sangue de Cristo. Mas
notai que, se a comunhão supõe a imolação do Calvário e o do altar, que a reproduz, no entanto é a carne glorificada do Salvador que comungamos. Recebemos Cristo tal qual é agora, isto é, glorificado no mais alto dos céus e de posse, em toda a plenitude, da glória da Ressurreição.
Aquele que assim recebemos, que é realmente a verdadeira fonte de toda a santidade, não pode deixar de nos comunicar a graça da Sua «santa» Ressurreição: nisto, como em tudo, é da Sua plenitude que todos devemos receber.
Ainda hoje, Jesus Cristo, sempre vivo, repete a cada alma as palavras que pronunciava diante dos discípulos, no momento em que, por ocasião da Páscoa, ia instituir o Seu Sacramento de amor: «Ansiava ardentemente por celebrar esta Páscoa convosco». Jesus Cristo quer realizar em nós o mistério da Sua Ressurreição. Ele vive acima de tudo o que é terrestre, inteiramente entregue ao
Pai; quer, para nosso gozo, arrastar-nos consigo nesta corrente divina. Se depois de O recebermos na comunhão Lhe deixamos plena liberdade de ação, dará à nossa vida, pelas inspirações do Seu Espírito, aquela orientação estável para o Pai, que nos leva à santidade. De modo que todos os nossos pensamentos, todas as nossas aspirações, toda a nossa atividade, tudo se encaminha para a glória do nosso Pai dos céus.
Sois Vós, divino ressuscitado, que vindes a mim; Vós que, depois de terdes com os Vossos sofrimentos satisfeito pelo pecado, vencestes a morte pelo Vosso triunfo e agora, glorioso, não viveis senão para o Pai. Vinde a mim «para aniquilar a obra do demônio», para operar a destruição do pecado e das minhas infidelidades; vinde a mim para aumentar o desprendimento de tudo o que não sois Vós; vinde tornar-me participante dessa superabundância de vida perfeita, que transborda da Vossa santa Humanidade. Cantarei então convosco um hino de ação de graças ao Pai, que nesse dia Vos coroou de glória e honra como a nosso chefe e nossa cabeça.
Estas aspirações são as da Igreja numa das orações em que resume, depois da comunhão, as graças que de Deus implora para seus filhos. «Dignai-Vos, Senhor, livrar-nos de todo o vestígio do homem velho, e fazei que a participação do Vosso augusto Sacramento nos confira um novo ser".
E esta graça quer a Igreja que permaneça em nós, mesmo depois da comunhão, mesmo depois de terminadas as solenidades pascais: «Fazei, nós Vo-lo rogamos, Deus todo-poderoso, que a virtude do mistério pascal permaneça constantemente em nossas almas". É uma graça permanente que nos dá, segundo a expressão de S. Paulo, «o poder de nos renovar constantemente", de aumentar em nós a vida de Cristo, aproximando-nos cada vez mais dos traços gloriosos do nosso divino modelo.

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