1 de agosto de 2021

Teresa de Los Andes - Deus, Alegria Infinita - Diário e Cartas

APRESENTAÇÃO

Não conhecia a carmelita descalça chilena Teresa de los Andes (Juanita Femández Solar). Quem me falou primeiro dela foi o meu amigo e geral da Ordem Carmelitana frei Filipe Sainz de Baranda, e o fez com um entusiasmo contagiante. Os santos sempre despertam em mim emoções profundas e íntimas. Seus exemplos e palavras me fazem perceber que Deus é cada vez mais o amigo atencioso que caminha ao nosso lado. É o companheiro da pura cotidianidade, tantas vezes opaca devido à monotonia. O merecimento da divulgação e o conhecimento desta Carmelita Descalça nós os devemos às Monjas do Chile, orientadas e animadas com amor e competência pelo frei Marino Purroy, O.C.D., que trabalhou ardorosamente por sua beatificação.

QUEM É TERESA DE LOS ANDES?

É uma carmelita viva e transparente como a beleza dos Andes que, beijados pelo sol, refletem nas nuvens imaculadas a lumino­sidade de Deus presente na natureza. Uma jovem simpática que, com seu carinho e simplicidade, é capaz de abrandar qualquer co­ração envaidecido. Tem nos olhos uma força mística, penetrante, que parece perder-se no infinito, mas que, na verdade, sabe para onde olha e o que busca: o Deus vivo e pessoal de sua história. Esta jovem, que na vida carmelitana chamava-se Teresa de Jesus, assim como a sua coirmã Teresa de Lisieux, tomará o nome de los Andes por ter vivido no nosso mosteiro assim chamado. É a carmelita mais jovem a receber da Igreja o reconhecimento de sua santidade e aquela que viveu menos tempo na vida carmelitana. Somente onze meses. Ao longo deste tão curto espaço de tempo, conseguiu revelar toda a sua riqueza interior, deixando uma marca profunda dentro e fora da comunidade. Juanita nasce em Santiago do Chile no dia 13 de julho. Uma família de fazendeiros que entende somente de falência e dificuldades. A primeira educação recebida no lar é séria e cristã, são lançadas, no terreno bom do seu coração, sementes que irão produzir frutos abundantes. Através de seu diário, que conserva a simplicidade infantil e a profundidade de quem procura o absoluto, encontramos a descrição pormenorizada de sua infância. Suas pirraças, seus gritos, suas mentiras para se ver livre de repreensões, seus gestos de generosidade e de perdão. Uma vida de luz que as pequenas nuvens da vida não conseguem obscurecer. Sua vida é breve, nem vinte anos completos, mas rica de conteúdo. Uma jovem que ama a vida do campo, que gosta de natação. Pequenos pormenores que têm a sua importância para recuperar o sentido profundo de uma santidade humana. Um modelo vivo que deve ser apresentado aos jovens para que possam compreender que o Cristo veio para nos comunicar a plenitude da vida, a alegria plena. Gostar da vida é a primeira oração que sobe do coração e dos membros inquietos de Juanita. O seu amor pela família, particularmente pelo avô, será o caminho que a levará a descobrir Cristo como amigo. Amar não é outra coisa que a resposta à experiência do amor. É bem difícil para alguém que nunca se sentiu amado nem experimentou a ternura humana ser capaz de se deixar envolver pela delicadeza de Deus, que deseja acariciar-nos, afagar nossa cabeça para nos fazer sentir o seu amor. Ter medo do amor humano é ter medo do amor de Deus. Por outro lado, isto não é sentimentalismo, mas uma verdade que percorre toda a Palavra de Deus: "Não temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu; porque és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo" (ls 43, 1-4); "Por isso a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração. Desposar-te-ei para sempre, desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com benevolência e ternura. Desposar-te-ei com fidelidade e tu conhecerás o Senhor" (Oséias 1,16; 21,22). Juanita sente Jesus como o seu único amado, procura-o com o entusiasmo angustiante de São João da Cruz, com a calma de uma Eilsabete da Trindade. O encontro com Cristo, o Amado, em Juanita realiza-se na Eucaristia. Espera como festa sem igual a primeira Eucaristia, que será um dia sem nuvens: "Depois todos os dias comungava e passava grande tempo com Jesus. Nosso Senhor me falava depois da comunhão". O amor é diálogo, estar juntos, perceber a presença do outro como algo que preenche todos os nossos vazios, desertos e solidões. Aos quinze anos, encontramos nesta jovem sedenta de vida uma maturidade surpreendente. Percebe que completar quinze anos é uma aventura de iniciação humana, é tomar-se grande, lançar-se na construção do próprio futuro, vislumbrar, embora de longe, o nascer lento, sempre mais nítido, do amanhã. Juanita diz: "Para uma menina é a idade mais perigosa. É a entrada no mar violento do mundo. Mas Jesus tomou a direção da minha barquinha, evitando o choque com outros navios, conservou-me solitária para ele. Escondeu-me nele". O Carmelo já começa a aparecer na sua vida como ponto de referência. É uma força que ela mesma não sabe explicar nem dominar.

NOIVA DE JESUS

Aproximando-se de Deus percebe-se sempre com mais clareza que a vida é unidade, união de sentimentos, do ser. A fusão do humano com o humano gera o matrimônio e não são mais dois, mas uma só carne. A união do humano com o divino realiza a unidade do ser em que o Pai, o Filho e o Espírito tomam posse do coração humano como morada preferida. Compreende-se, na busca desta união, a predileção que os místicos têm pelo livro do Cântico dos Cânticos e pelas imagens dos esponsais presentes desde Oséias até o Apocalipse. É uma linguagem simbólica, mas nem por isso menos verdadeira. O dia oito de dezembro marca a vida de Juanita: nessa data celebrará o seu noivado com Cristo. É interessante a linguagem que usa: "Hoje pronunciaram os votos do noivado". Quem? Ela e Jesus. Os votos, único sim como resposta ao amor de Deus, por muito tempo foram apresentados como renúncia e não como doação. Oferecer-se é realizar-se plenamente. Ela percebe como as coisas humanas se relativizam sempre mais. A quem ama nada mais interessa a não ser agradar ao amado. Canta João da Cruz: "No interior da adega do amado meu, bebi; quando saía, por toda aquela várzea já nada mais sabia, e o rebanho perdi que antes seguia. Juanita se esforça para ser "mais bonita para Jesus". Uma coisa é certa aos quinze anos: já' tinha lido Teresa d'Avila e Teresinha do Menino Jesus. Leituras, sem dúvida, empenhativas, mas, para quem ama, de uma ·transparência e compreensão maravilho­sas. Quando o coração fala, tudo se torna compreensível. Teresa de los Andes, ao longo de toda a sua vida, é cântico de alegria composto de coisas simples, de flores, de passeio, nela lentamente, uma presença forte, alguém que vai invadindo toda a sua intimidade e ela se torna pura transparência dele.

AMOR SEM CARÍCIAS?

O amor precisa manifestar-se, revelar-se no dia-a-dia. São Paulo nos convida a revestir-nos dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus. O amor de Deus, eu o imagino delicado, atencioso; amor que em Cristo se faz "carne" viva e vida plena. O profeta Isaías fala de um Deus que nos acaricia, que nos carrega no colo como o pastor carrega os cordeirinhos. Jesus, ao longo do Evangelho, tem gestos carregados de profunda emoção. Madalena lhe beija os pés, João reclina a cabeça no seu peito; deixa que as crianças se aproximem dele; Maria senta-se aos seus pés e ele contempla com profundo amor e ternura a mulher adúltera. Na oração, caminhamos na fé pura; o sentimento deve ser superado, às vezes, com o sofrimento. Vale a pena apresentar o trecho de uma carta que Teresa de los Andes escreve como confissão de fé: O amor é a fusão de duas almas em uma para se aperfeiçoarem mutuamente. Poderá uma alma unir-se à outra mais perfeitamente do que Deus se une com a nossa? A alma unida a Deus se diviniza de tal maneira que chega a pensar, a desejar e a agir conforme Jesus Cristo. Há algo maior no mundo do que Deus? Há algo maior que uma alma divinizada? Não é esta a maior grandeza à qual pode aspirar o homem? É verdade que não o vemos com nossos olhos do corpo. Mas Deus toma-se visível para nós pela fé. Não o apalpamos com nossas mãos, mas o apalpamos em cada uma de suas obras. Antes, eu achava impossível chegar a enamorar-me de um Deus a quem não via, a quem não podia acariciar. Mas hoje afirmo com o coração nas mãos que Deus compensa inteiramente esse sacrifício. De tal maneira a pessoa sente esse amor, essas carícias de Nosso Senhor que parece tê-lo ao seu lado. Tão intimamente o sinto unido a mim que não posso desejar mais, salvo a visão beatifica no céu. Sinto-me cheia dele. Não há separação entre nós. Onde eu for, ele está comigo, dentro de meu pobre coração que é sua casinha, onde o hospedo. É meu céu aqui na terra. Vivo com ele apesar de estar nos passeios, ambos conversamos sem que ninguém nos surpreenda nem nos possa interromper. Se tu o conhecesses bastante, o amarias. Se estivesses com ele numa hora em oração, po­derias saber o que é o céu na terra (carta sem data).

MENSAGEM

Nos escritos desta jovem carmelita não encontramos um tratado orgânico da vida espiritual e nem tampouco uma teologia da oração. Teresa lança pérolas preciosas de oração que um experto e atento joalheiro deve colocar no lugar certo para obter um conjunto harmonioso. Cada pensamento é água-viva que jorra da fonte do coração e espera ser recolhido para matar a sede do peregrino que busca a Deus. A mensagem não é uma história interessante, marcada por reflexões, mas a cotidianidade da vida, cuja monotonia é assumida com amor e por amor. No amor a monotonia toma-se vida, presença amável e quem não é capaz de se cansar da presença do amado. Bem diz o mestre João da Cruz: "O amor não cansa nem se cansa." Teresa de los Andes com sua força cativante penetra em nosso coração e nos ensina que a santidade é saber gostar da vida, contemplar o Senhor nas maravilhas da natureza e saborear a alegria da felicidade do outro. Ela será capaz de pedir pequenas esmolas até juntar trinta pesos para comprar sapatos para Juanito, um menino pobre; para isso rifa também o seu relógio. Gestos que já não dizem muito para quem perdeu a simplicidade das crianças. Sofrer e amar, repetirá várias vezes Teresa de los Andes, um sofrimento que é amor e um amor que é sofrimento, imolação silenciosa ao Cristo. A vida reserva a cada um de nós momentos de trevas, desertos que devemos atravessar na certeza de que Deus caminha conosco e, por isso, o desânimo não pode afastar-nos de nosso ideal!
Frei Patricia Sciardini, OCD
São Paulo, 20 de outubro de 1988

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