4 de outubro de 2013

Primeira Sexta-feira de Outubro.

O Coração de Jesus, centro dos corações.

Multitudinis autem credentium erat cor unum et anima una — “Da multidão dos que criam, o coração era um e a alma uma” (Act. 4, 32).

Sumário. O Coração de Jesus é todo caridade e quer que todos os cristãos se amem mutuamente. Amar o próximo é amar a Jesus, e fazer bem ao próximo é regozijar o Coração de Jesus. Os membros da Igreja devem, pois, ter um só coração em Jesus Cristo, que é o centro dos corações. Oh! Quanto é agradável ao Coração de Jesus uma alma verdadeiramente caridosa! Ao contrário, que espinho é para o Coração de Jesus a alma que lesa a caridade!

I. O Coração de Jesus é todo caridade — Deus caritas est. Também ele quer que todos os cristãos se amem mutuamente: esta era a recomendação em que mais insistia antes de deixar este mundo: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei (1). Pode-se dizer que este é o grande mandamento do Coração de Jesus: Praeceptum Domini est — “É o preceito do Senhor”, dizia São João. Também nada fere tanto a Jesus Cristo como a violação deste preceito; aquele que falta na caridade, fere-O na pupila dos olhos, mete-Lhe um espinho no Coração.

Para evitar esta desgraça, consideremos que amar o próximo é amar a Jesus. O nosso Salvador disse a Santa Catharina de Gênova: “Minha filha, aquele que me tem amor, ama tudo o que eu amo.” A razão então que deve nos levar a amar nosso próximo é que ele é amado do Coração de Jesus. Também o apóstolo São João declara que é “mentiroso aquele que ousa dizer que ama a Deus, tendo ódio a seu irmão” (2) — D’outro lado, fazer bem ao próximo é regozijar o Coração de Jesus; porque ele prometeu considerar como feito a si o bem que fazemos ao menor dos seus irmãos, isto é, ao nosso próximo (3). Para ver, portanto, quanto se ama a Deus, basta ver quanto se ama o próximo.

No Coração de Jesus Cristo, pois, é que se reúnem os corações caridosos; Ele é o centro dos corações. É em Jesus Cristo que, como os primeiros cristãos, os fiéis são um só coração e uma só almacor unum et anima una. Com efeito, num corpo bem constituído não pode haver senão um coração; ora, a Igreja não é, conforme São Paulo, o corpo místico e espiritual de Jesus Cristo (4)? Os membros da Igreja devem, pois, ter um só coração em Jesus Cristo. A santa caridade é o fruto da oração que o Salvador fez a seu Pai na vigília da sua morte, pedindo que os seus discípulos fossem um, pela caridade, como Ele é um com seu Pai. Oh! Quanto é agradável ao Coração de Jesus a alma verdadeiramente caridosa! Ao contrário, que espinho é para o Coração de Jesus a alma que lesa a caridade!

II. O Apóstolo nos ensina em poucas palavras como é necessário conservar a caridade. “Revesti-vos”, diz ele, “como os eleitos de Deus, de entranhas de misericórdia” — Induite vos... sicut electi Dei, viscera misericordiae (5). Como a gente traz sempre consigo o vestuário e cobre-se com ele, assim em todos nossos pensamentos, palavras e ações, devemos trazer conosco a caridade, e ser inteiramente cobertos por ela.

Ó Coração do meu terno Redentor, quão longe estou de parecer convosco! Vós fostes caridade para com os vossos perseguidores, e eu sou cheio de rancor e ódio para com o meu próximo; Vós orastes com tanto amor em favor daqueles que Vos crucificavam, e eu só penso em vingar-me quando me causam algum desgosto. Perdoai-me, coração do meu Jesus; não quero ser mais o que fui no passado; dai-me a força de amar a quem me ofende, e de fazer-lhe bem. Não me abandoneis à força das minhas paixões; fazei com que nunca mais me separe de Vós.

Não o permitais, ó meu amor, eu Vos suplico pelo sangue que derramastes por mim. Pai Eterno, pelos merecimentos do Coração de Jesus, livrai-me de cair fora da vossa graça; se prevedes que ainda Vos hei de ofender, antes fazei-me morrer agora que penso estar na vossa graça. Ó Deus de amor, dai-me o vosso amor. Ó poder infinito, socorrei-me! Ó misericórdia infinita, compadecei-Vos de mim. Ó bondade infinita, atrai-me inteiramente a Vós. Eu Vos amo, à amabilidade suprema. — Ó Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim; o poder maternal que tendes sobre o seu divino Coração, constitui a minha esperança.

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1. Io. 13, 34.
2. 1 Io. 4, 20.
3. Matth. 25, 40.
4. Col. 1, 24.
5. Col. 3, 12.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 403 - 405.)

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