6 de outubro de 2013

VIGÉSIMO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES.

Objeções contra o Papa

Não é dado a todos fazer objeções sérias. Mais um homem é ignorante, desprovido de inteligência e de penetração de espírito, mais facilidade terá de fabricar objeções tolas; e todas as objeções são tolas, quando não são grosseiramente ignorantes.

O Evangelho de hoje exalta o espírito de fé... a fé do régulo que lhe mereceu a cura do filho.

Ora, a objeção é uma falta de fé... uma falta de confiança em Deus, e um excesso de fé em seu próprio espírito.

Tais objeções nada poupam, tudo passa pelo crivo da ignorância e da má fé.

Eis porque o protestantismo tem acumulado contra o Papa mil objeções tolas, que provam apenas a sua má fé e a sua supina ignorância no assunto que quer combater.

Examinemos umas duas destas objeções que incluem centenas de outras.

1. A infalibilidade do Papa é uma invenção romana.
2. Houve maus Papas, logo, todos são ruins.

Um jato de luz sobre estes dois pontos fará ruir pela base todas as demais objeções atiradas contra a Santa Sé de Roma.

I. É uma invenção romana

Dizer que a infalibilidade do Papa é uma invenção romana, é asseverar que não figura na Bíblia.

Ora, tal infalibilidade está implícita e explicitamente indicada, descrita e aplicada mais de 15 vezes no Evangelho.

Basta saber ler. Não se encontra ali a palavra infalibilidade, pela razão muito simples que o divino Mestre não falava português, mas sim aramaico, hebraico e que nestas línguas a palavra “infalível” tem necessariamente outro termo equivalente em significação, embora diferente na expressão.

Que quer dizer: Não poder faltar? (Lucas, XXII. 32) Não é ser infalível?

Que significa: Ser o fundamento da Igreja infalível? (Math. XVI. 18) Não é ser infalível?

Que exprime a palavra que o erro nunca há de prevalecer contra Pedro? (Math. XVI. 18) Não é ser infalível?

Que é que se entende por: Confirmar os outros na fé? (Luc. XXII. 32) Não é ser infalível?

Que quer dizer Jesus falando a Pedro: Apascenta os meus cordeiros e as minhas ovelhas? (João. XXI. 16) Não é ser infalível?

E assim por diante.

Há no Evangelho inúmeros textos que exprimem textualmente e sob diversos aspectos a infalibilidade do Papa. Basta querer ver... e poder compreender!

Os pobres protestantes podem torcer, desviar e massacrar os textos do Evangelho, a verdade ficará sempre a mesma, e esta verdade, num breve e lúcido silogismo, nos diz:

O Cristo é infalível... infalível deve ser aquele a quem ele transmitir este privilégio. Ora, Jesus Cristo transmitiu este privilégio a Pedro e a seus sucessores. Logo: Pedro e os Papas são infalíveis.

Negar uma destas premissas seria rasgar o texto mais luminoso do Evangelho: Assim como meu Pai me enviou, também eu vos envio a vós... Recebei o Espírito Santo (Joan. XX. 21) – Quem vos escuta a mim escuta. (Luc. X. 16)

O Papa é infalível porque é o sucessor de Pedro infalível. Esta verdade está em grandes letras no Evangelho.

O Papa é homem, bradam os protestantes, como pode ele ser infalível?

É como se alguém dissesse: O Presidente do Brasil é homem, como pode ele ser Presidente? É presidente porque foi eleito pela nação, e como tal tem nas mãos as rédeas do governo.

O Papa é homem! Perfeitamente! Que queria que ele fosse? Anjo, diabo, animal? São as espécies fora do homem.

Anjo? Mas a terra não é para eles: a pátria dos anjos é o céu.

Diabo? Deus nos livre! A terra não é deles tão pouco, apesar dos muitos representantes e emissários dele que correm neste mundo afora. A pátria deles é o inferno.

Animal? Uma espécie inferior é incapaz de governar uma espécie superior, e penso que os próprios protestantes nem quereriam um cão ou um gato como pastor.

Homem? Sim, deve ser homem, porque deve instruir e guiar homens... deve viver no meio dos homens... deve conhecer os homens a fundo, as suas fraquezas e as suas aspirações íntimas.

O Papa deve ser homem... e homem como os demais homens , pois só há uma espécie de homem. E este homem é infalível.

Sim: como o homem eleito para o cargo presidencial é Presidente sem deixar de ser homem. Ele governa, não como homem, mas como Presidente.

Não é o homem que é Presidente da República: é o homem eleito para este cargo.

Não é o homem que é infalível: mas sim o ofício próprio de um homem escolhido por Deus para governar a sua Igreja infalível.

O Presidente da República não é infalível, porque a nação que ele governa não é infalível.

O Papa é infalível, porque a Igreja que ele governa é infalível.

E porque Deus não o faria infalível?

Aquele que dá uma quase infalibilidade ao gênio, ao artista, para as coisas da terra, porque não daria uma completa infalibilidade ao seu representante, para as coisas do céu?

Devia fazê-lo... Ele o fez.

A sua autoridade soberana assim o quis e o fez, como o nosso bom senso nos diz que assim deve ser.

II. Houve maus Papas

Eu queria que provassem que os houve. Não basta repetir as calúnias inventadas pelos inimigos da religião; temos direito de exigir provas. E estas provas não existem (1)

Mas suponhamos um instante, por conveniência, que tenha havido maus Papas, que provaria isso?

Seria um argumento contra o Papado ou contra a Igreja? Absolutamente não? Seria um argumento em favor; e um argumento de primeiro valor.

Examinando a história da Igreja, notamos que ela vai sempre de progresso em progresso. Sempre ela é combatida, caluniada, perseguida, às vezes banhada no sangue de seus filhos, porém nunca foi e nunca será vencida, nunca abalada, sempre triunfante, quer nos palácios dos imperadores, quer no sangue de seus mártires.

Donde vem este eterno triunfo? Será destes maus Papas, Bispos e Padres? Mas então o milagre seria duplo. Tais elementos deviam dar-lhe a morte, em vez de dar-lhe a vida! Sendo a Igreja combatida por fora, pelos seus inimigos e dilacerada por dentro pelos seus próprios chefes, como pode ela firmar-se e progredir?

Todo reino dividido contra si será destruído, diz o Mestre divino. (Math. XII. 25)

Como é que a Igreja não perece? É o argumento de um velho professor de História Eclesiástica, que dizia: A Igreja é divina; se não o fosse, há muito tempo que os Bispos e os padres a teriam sepultado.

Ela resistiu e resiste sempre. Logo, ela é divina.

Admitindo, pois, que haja deveras maus Papas, maus Bispos e maus Padres, deve-se concluir que a Igreja combatida deste modo não poderia resistir à investida de tantos inimigos e deveria humanamente sucumbir pelo peso da divisão de dentro e dos ataques de fora.

A sua vitória constante, sem o apoio de seus filhos e de seus chefes e contra as forças coligadas da maçonaria, do protestantismo e do epicurismo, é a prova mais cabal e mais autêntica de sua divindade.

A Igreja é uma sociedade divina, composta de homens e governada por homens, elevados a uma dignidade divina, como o são o Sacerdote, o Episcopado, o Papado. Estes homens são todos chamados à santidade... e deviam ser santos; Deus, porém, não pode tirar-lhes o livre arbítrio, de modo que apesar dos cargos divinos que ocupam, os próprios Papas podem faltar aos divinos preceitos, em outros termos: – não são impecáveis.

A Igreja deixará de ser divina por isso? Absolutamente não! São Predo caiu, negando três vezes o seu divino Mestre, sem deixar por isso de ser o chefe dos Apóstolos, o primeiro Papa.

Se um magistrado deixa de cumprir o seu dever, tornando-se injusto, deixará ele por isso de ser magistrado? Ou deixará a justiça de existir? Se um Médico abusa da medicina, significa isto que a medicina não existe mais?

Deus quis que os seus representantes fossem simples homens e não anjos do céu, para mostrar mais claramente que a Igreja é a obra d’Ele e não dos homens.

As obras divinas dependem de Deus; as obras humanas dependem dos homens. A Igreja é uma obra divino-humana: divina, pela sua fundação e finalidade; humana, pelos seus componentes.

III. Conclusão

Assim caem todas as objeções inventadas contra a Igreja e contra o Papado.

A verdade, entretanto, fica sempre firme; e esta verdade é que o Papa, como sucessor legítimo de Pedro, é o doutor supremo da Igreja. Como tal ele é infalível, como era o próprio Pedro, como o é o Cristo.

A Igreja é infalível na pessoa de seu chefe. Sim, dirá talvez alguém, mas se o Papa estivesse de um lado e a Igreja do outro, que aconteceria?

Suposição absurda! Se numa carroça uma roda fosse para um lado e a outra para outro lado, que aconteceria? Impossível: as duas rodas têm o mesmo eixo.

E se no homem a cabeça quisesse ir para um lado e os pés para o outro, que aconteceria? É impossível; cabeça e pés pertencem ao mesmo corpo e são animados pela mesma alma.

Digamos a mesma coisa do Papa e da Igreja. Eles têm a mesma alma que os anima; são dirigidos pelo mesmo Espírito Santo. É de fé que a cabeça da Igreja, como tal, nunca pode ser separada, nem da Igreja docente, nem da Igreja discente, isto é, nem do Episcopado, nem dos fiéis.

A Igreja e o Papa formam uma única e mesma coisa. Ubi Petrus, ibi Ecclesia, dizia Santo Ambrósio.

Vós sois o corpo de Cristo e membro de seus membros, disse São Paulo. (1. Cor. XII. 27)

O próprio Cristo é a cabeça do corpo da Igreja. (Col. 1. 18)

Quem ama a Igreja, deve pois amar o Papa... Quem escuta a Igreja, deve escutar o Papa!

EXEMPLOS

1. Todos de joelhos

Em Abril de 1934 deu o Santo Padre audiência a 70 jornalistas, representantes de quatro mil jornais.

Nunca o Representante de Cristo se mostrará a uma reunião tão variada, pois quanto à raça, tanto havia europeus e americanos, como africanos e asiáticos; quanto à religião, ao lado dos católicos havia protestantes, judeus, maometanos e pagãos.

Reunidos na sala de audiência, ficaram esperando mais de uma hora e discutiram em voz baixa se deviam acompanhar a moda católica de se ajoelhar.

Um protestante, natural de Berlim, não gosta de dobrar os joelhos diante do Pontífice Romano; e então o árabe, inimigo do Cristianismo? E o judeu? E o japonês adorador de Buda?

Ainda não tinham chegado a um acordo, quando entrou um diplomata da corte pontifícia, que os cumprimentou sorrindo e disse: Então meus Senhores, cada um conforme o seu gosto. Era o gesto mais liberal e cavalheiresco possível: que cada um fizesse conforme lhe ditava a sua consciência, sua educação, seu modo de ver.

O Santo Padre entrou e... todos se puseram de joelhos, nenhum ficou de pé.

“E nenhum perdeu com isso uma pérola de seu diadema”, escreveu depois um jornalista protestante que esteve presente.

Admirável grandeza da dignidade papal, que mesmo a esses homens dominou e impôs tão profundo respeito!

2. Uma palavra de Brucker

Brucker é conhecido pelo repentino e o natural com que sabia responder a todas as objeções. Recolhamos mais o fato seguinte a respeito dos Bispos.

A autoridade dos Bispos é grande, mas sempre fica subordinada à do Papa.

Brucker encontrando-se um dia num salão do arrabalde S. Germano, em Paris, houve discussão entre vários presentes sobre a autoridade respectiva do Papa e dos Bispos.

Terminaram concordando que as decisões do Papa, para serem soberanas e irreformáveis, precisavam da adesão, pelo menos tácita, do Episcopado.

Brucker não havia participado da discussão; mas ouvindo a conclusão formulada, tomou a palavra.

- Senhores, disse, estou disposto a admitir a vossa conclusão, porém com a condição de fazerdes uma pequena modificação no Evangelho. Em vez de dizer: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, deveis dizer: - Vós sois um montão de pedras e sobre este montão edificarei a minha Igreja!

Todos compreenderam e tiraram a conclusão apropriada.

----------
1) Ver o nosso livro: "O Cristo, o Papa e a Igreja", capítulo V.

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 390 - 398)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.