13 de outubro de 2013

VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES.

Os Bispos na Igreja

A lição moral do Evangelho de hoje é o perdão das ofensas; a lição apologética é a organização que existe na execução das ordens do rei.

Vemos na narração a perfeita organização da hierarquia deste rei: ele tem os seus auxiliares, os administradores de seus bens, a sua justiça, os executores desta justiça.

Na Igreja encontramos a hierarquia mais bem organizada, mais completa e mais eficiente que se possa imaginar.

O Papa é o Chefe Supremo; porém ele não fica só, nem isolado. Como poderia ele alcançar todas as almas e todas as extremidades do espaço?

Ao lado do Papado, Jesus Cristo colocou o Episcopado; como a seu lado havia colocado Pedro como Chefe e os outros Apóstolos como auxiliares deste Chefe.

O Episcopado é, pois, uma instituição divina, instituição necessária para o completo funcionamento da hierarquia: O Papa, os Bispos, os Sacerdotes e os fiéis.

Vamos estudar hoje esta questão interessante, vendo o que são:

1o. Os Bispos na Igreja;
2o. Os Bispos em sua Diocese.

Veremos deste modo a dupla ligação do Episcopado: em cima com o Papa; embaixo com os Sacerdotes e os fiéis.
I. Os Bispos na Igreja

Há dois modos de contemplar a ação dos Bispos: de um lado, enquanto são inseparáveis do Papa; de outro lado enquanto são indispensáveis ao povo cristão.

Jesus Cristo os institui ao mesmo tempo que o Papa, ficando subordinados à autoridade deste último.

Depois de ter dito a Pedro: Sobre ti edificarei a minha Igreja, disse aos Apóstolos: Ide, ensinai todas as nações.

É pelo Papa que Jesus Cristo começa a sua Igreja e é pelos Bispos que Ele a faz irradiar através do mundo.

Havia Ele dito a Pedro: Tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu; e aos Apóstolos Ele diz também: Tudo o que ligardes será ligado.

São as mesmas palavras, porém ditas primeiramente a Pedro só, separado dos Apóstolos; depois aos Apóstolos unidos a Pedro.

Entre o Papa e os Apóstolos, a união é indissolúvel, assim o quis o divino Mestre.

De fato, há 19 séculos que vemos os Bispos associados ao chefe Supremo da Igreja, como colaboradores obrigados, divinamente instituídos e sempre respeitados.

O Papado, longe de eliminar o Episcopado, afirma-lhe solenemente a sua autoridade e os seus direitos, chamando-o em seu auxílio no governo das almas, especialmente pelos Concílios.

Os Bispos são inseparáveis do Papa.

Pouco importa a distância. Perdido numa choupana dos Montes Rochosos, ou nas sombrias florestas da Nigéria... gelado sob a camada de uma neve perpétua, ou queimado pelos ardores do sol, nos desertos Africanos, o Bispo-Missionário, o Vigário Apostólico, vira o seu olhar moribundo para Roma e separado do resto do mundo ele permanece em comunhão de fé, de caridade e de vida com o Pontífice Romano.

É desta união com Roma que lhes vem a força, a abnegação, o zelo incansável, unidos ao Papa os Bispos são invencíveis.

Os Bispos são também indispensáveis ao povo cristão.

São eles que, ligando à sua sede a mais humilde paróquia, a fazem entrar na órbita maravilhosa da Igreja Católica.

Povos sem sacerdotes são povos sem religião, porém, fora dos Bispos, que são os sacerdotes senão estrelas errantes?

Se se suprimisse o Episcopado, o povo cristão não passaria mais de um rebanho sem pastor. Temos uma prova sensível disso na Igreja do Oriente.

Os Bispos orientais, em séculos passados, separaram-se do Pontífice Romano e nesta separação perderam a luz e o calor do Evangelho e não possuindo mais a vida tornaram-se incapazes de comunicá-la a seus povos.

Às pulsações poderosas da vida Cristã sucedeu a atonia da morte... Eis porque o Oriente, hoje em dia, não é mais senão um simulacro de povo, uma espécie de múmia vacilante que a diplomacia enrola com tiras até que uma nação civilizada se apodere dela.

São os Bispos que salvam a fé dos povos. Eles ocupam na Igreja um lugar essencial: são inseparáveis do Papa e indispensáveis ao povo Cristão.

II. Os Bispos em sua Diocese

O Bispo é Pontífice e como tal entretém e dirige o culto público, dando a Deus sacerdotes pelo Sacramento da Ordem, a Jesus Cristo, soldados, pela Confirmação, à religião, a dignidade e o esplendor das grandes cerimônias litúrgicas.

O bispo é Doutor, e como tal propõe a seu povo as verdades evangélicas, condena as opiniões contrárias à fé que surgem em sua Diocese.

Não podendo satisfazer por si mesmo as extensas obrigações de seu cargo, é o Bispo que envia os sacerdotes para dirigirem as paróquias e semearem a verdade pela pregação do Evangelho.

O Bispo é Legislador e como tal aplica as leis da Igreja às vicissitudes dos tempos e às necessidades do lugares.

Cabe a ele conformar a sua legislação com a do soberano Pontífice e publicar editos e regulamentos particulares que dirijam os Sacerdotes e os fiéis.

O Bispo é Príncipe. Nenhuma Paróquia pode ser erigida sem o seu consentimento. É ele que designa os sacerdotes para cada paróquia dando-lhes a jurisdição para o exercício do ministério sagrado.

O Bispo é a Atalaia vigilante, que perscruta o horizonte da sua Diocese, descobre o inimigo e lança o primeiro brado de alarme ante a invasão dos lobos devoradores.

A sua fronte é cingida com a mitra de honra, como de um capacete e um estandarte de triunfo nas lutas da fé e da mora, enquanto o seu báculo, como o do pastor, congrega em redor dele as ovelhas fiéis, para conduzi-las ao único aprisco divino.

O Bispo dá a grande prova de sua autoridade, da sua solicitude paternal, na ocasião da visita Pastoral.

Nesta ocasião, ele entra em contato direto com seu povo, visita a aldeia mais pobre e mais afastada, como visita as cidades opulentas. Entra no templo rústico das aldeias cujo mais belo adorno são as virtudes do sacerdote ou vigário e a inocência do rebanho que cerca o altar.

Ora nos degraus do altar e levanta-se, fala aí ao povo reunido redizendo-lhe o que o velho vigário vem dizendo e repetindo há 10, 20 anos e mais anos às vezes.

O Bispo visita o seu povo, consola este povo, mostra-lhe o céu e depois retira-se enquanto a multidão inclina a cabeça para receber a benção de seu Pai e de seu Chefe, que vem visitá-lo em nome do Senhor.

O Bispo faz isso hoje, ele o fará amanhã e o fará até o último suspiro.

Cabe-lhe a nobilitante tarefa de confirmar a fé, de estreitar a união dos povos, de conservá-los no caminho da verdade e da virtude, são eles que fazem os povos: são os Bispos, exclamou um dia Guizot, que fizeram a França, como as abelhas fazem a sua colméia.

São os Bispos que fazem o nosso Brasil forte, unido, brioso, mostrando-lhe o seu futuro e a sua glória.

III. Conclusão

Tal é a bela e harmoniosa hierarquia da Igreja. Pedro é o chefe supremo dos Apóstolos. Os Apóstolos unidos a Pedro constituem a parte docente da Igreja divinamente instituída e organizada.

E através dos séculos esta mesma hierarquia sucede-se sem interrupção e sem sombra. Pedro é o Papa. Os Apóstolos são os Bispos. O Papa é o Bispo de Roma: é Apóstolo como os outros; é Bispo como os outros Bispos, mas é mais do que isso.

Como Pedro foi o chefe dos Apóstolos, o Papa é o chefe dos Bispos. É nele que reside a infalibilidade nele só e na corporação dos Bispos unidos a ele.

É no Papa e nos Bispos reunidos ao Papa que reside a infalibilidade da Igreja divina de Cristo.

Sempre haverá o Papa: sempre haverá Bispos na Igreja de Cristo, pois ambos são de instituição divina.

EXEMPLOS

Fidelidade ao Papa

Em 1572 a Polônia foi dominada pelos partidos políticos que iam se sucedendo, devorando-se uns aos outros.

Protegido pelo landgrave de Hesse, um adepto de Lutero, Wolodoroski chegou a dominar o país.
Apenas havia conquistado o país, mandou chamar o velho Bispo de Posen, Dom Zamoviski e lhe disse:

- Excia., sou senhor de Posen e daqui a pouco a Polônia inteira obedecerá a minha vontade. Ora, entendo ser o senhor de tudo e de todos, por isso, não posso tolerar um clero que obedeça a um Chefe que reside em Roma. Rompei os laços que vos prendem ao Papa e sereis o Papa da Polônia, a primeira e suprema autoridade religiosa do país.

- Como? Exclamou o Prelado... Queres que eu rompa os laços que me prendem ao Papa? Isto nunca! A minha razão de existir é ser filho obediente ao Papa, sem ele nada sou; sou o seu delegado para administrar uma parcela da Igreja. Jurei administrar a minha Diocese sob a autoridade do Papa; não quero ser perjuro a meu juramento, ainda que me custe a vida.

Era a sua sentença de morte.

O fanático Wolodoroski mandou chamar o chefe da polícia, deu uma ordem secreta e o Prelado foi levado ao rio Warta, cujas águas estavam geladas.

Os algozes levaram-no até o meio do rio, e um deles, tomando o machado cortou uma abertura no meio do gelo. Abriu-se um abismo debaixo de seus pés, um redemoinho d’água passava turbulento por debaixo da camada de gelo.

O Bispo compreendeu... era o seu túmulo. Prostrou-se de joelhos, recomendou-se a Deus e dando a sua pelissa forrada ao algoz lhe disse: Meu amigo, nada trouxe comigo, aceite esta pelissa, como gratificação de seus serviços, pois o senhor está me abrindo a porta do céu. Para Deus e para o Papa dou a minha vida.

Dom Zamoviski ajoelhou-se à beira da abertura e exclamou: Senhor, em vossas mãos entrego a minha alma.

Um golpe de machado na cabeça fez cair o Prelado na abertura do gelo, o seu corpo desapareceu no redemoinho das águas... os blocos de gelo fecharam a abertura e selaram o túmulo do mártir da fidelidade ao Papa.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 400 - 407)

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